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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Busca na Agência de Inteligência de Defesa, através de pedido via FOIA, não encontra correspondência entre Elizondo e o AATIP



A Agência de Inteligência de Defesa (DIA) respondeu a um pedido via FOIA que uma busca não encontrou correspondência, como e-mails ou memorandos, entre Luis Elizondo e a DIA, relativos ao Programa de Identificação Avançada de Ameaças Aeroespaciais. O pedido foi apresentado em 2018, com resposta final emitida em arquivo PDF datado de 24 de junho de 2021, e entregue segunda-feira por e-mail.


Aludindo a pedidos via FOIA enviados por vários pesquisadores, a resposta da DIA passou a afirmar que a agência está atualmente revisando todos os seus acervos do AATIP e preparando os documentos para divulgação. Após a liberação da DIA, o material será disponibilizado para visualização na Sala de Leitura da FOIA online.


O conteúdo da resposta:



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Caro Sr. Brewer,


Isso responde à sua solicitação sob a Lei de Liberdade de Informação, datada de 27 de maio de 2018. Nela, você solicitou todos os documentos relativos a toda a correspondência, como e-mails e memorandos entre Luis Elizondo e a DIA, relativos ao Programa de Identificação Avançada de Ameaças Aeroespaciais (AATIP) conforme descrito pela porta-voz do Pentágono, Susan Gough. Peço desculpas pelo atraso no processamento de sua solicitação. A DIA continua seus esforços para eliminar o acúmulo de pedidos via FOIA ainda pendentes.


Com base nas informações contidas em sua solicitação, a Agência de Inteligência de Defesa pesquisou seus sistemas de registros em busca de documentos correspondentes. Apesar de uma pesquisa completa, nenhum documento que responda à sua solicitação foi encontrado. Informamos que a DIA está atualmente conduzindo uma revisão de todos os seus acervos do AATIP e preparando esses documentos para divulgação através do site da DIA. Após a liberação da DIA, os documentos estarão disponíveis para visualização no Sala de Leitura da FOIA online, no endereço: https://www.dia.mil/FOIA/FOIA-Electronic-Reading-Room/.

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Luis Elizondo não respondeu imediatamente a uma oportunidade de comentar para possível inclusão nesta postagem do blog.


Credita-se a DIA a implantação do AATIP em 2007. O projeto foi transferido para o Gabinete do Subsecretário de Defesa de Inteligência em 2010 e foi arquivado em 2012.


Elizondo afirmou repetidamente, em meio a dúvidas e críticas, que dirigiu o AATIP e trabalhou nele por cerca de dez anos. O senador Harry Reid apoia a afirmação de que Elizondo dirigiu o projeto.


Declarações oficiais, opondo-se diretamente às suas afirmações, foram repetidamente emitidas por porta-vozes do Pentágono. Elizondo não fez nenhum favor a si mesmo ao deixar de apresentar documentação adequada, ou mesmo ao se comprometer com uma narrativa particularmente coerente.


Alguns questionam por que Elizondo, que se descreve como um profissional de contra-espionagem com vasta experiência, seria selecionado para chefiar um programa de investigação de ameaças aeroespaciais. Outros suspeitam que seu interesse por OVNIs era muito menos oficial do que normalmente retratado, e que ele encorajou o mal-entendido público por meio de escritores como Leslie Kean e George Knapp, enquanto em outras ocasiões simplesmente omitiu seletivamente um contexto mais preciso.


Em uma troca de e-mails ocorrida no início deste ano com a porta-voz do Pentágono Sue Gough, eu, Jack Brewer, cheguei a um entendimento de que a posição do DOD é que Elizondo não tinha responsabilidades atribuídas no AATIP enquanto era atribuído ao OUSDI. Sendo assim, perguntou-se se seria possível esclarecer a quem cabia a responsabilidade de dirigir o AATIP.


"A Agência de Inteligência de Defesa (DIA) administrou o AATIP", respondeu Gough. "Luis Elizondo não foi designado para a DIA."


Daniel Sheehan, um advogado com um longo histórico de advogar a visitação alienígena e abordar questões relacionadas a OVNIs, apresentou uma queixa em nome de Elizondo ao Inspetor-Geral do Departamento de Defesa. O documento supostamente incluía as afirmações de Elizondo de que uma campanha de desinformação foi empreendida contra ele. As vinganças pessoais eram as culpadas, alegou-se, pela negação oficial do DOD de sua posição e responsabilidades no AATIP.


Vários blogueiros da Internet foram notificados pelo Pentágono de que ele não tinha funções no AATIP, afirmou Elizondo na queixa ao Inspetor-Geral. Isso, continuou a queixa, resultou em blogueiros o acusando de fabricação.


Um pedido via FOIA para a queixa foi submetido em maio ao Inspetor-Geral do DOD. Ele respondeu em uma carta, datada de 2 de junho, que todos os documentos que possam ser adequados estão compilados para um inquérito policial. A liberação dos documentos, neste momento, pode interferir na investigação, acrescentou a resposta. O material pode ser solicitado e revisado novamente em uma data posterior para possível isenção de divulgação e possível liberação.



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Tradução: Tunguska Legendas

Fonte: ufotrail



segunda-feira, 14 de junho de 2021

O ESTUDO DAS FALSAS MEMÓRIAS NAS PSEUDOCIÊNCIAS

 



Por Gordon Bates*


*Gordon Bates é Psicanalista, formado em Direito, estudioso de Parapsicologia e Ufologia e apresentador de Talk Show aposentado.



RESUMO


O presente artigo pretende expor o tema das Falsas Memórias como uma explicação para alguns fenômenos chamados “anômalos”, na preferência atual do termo ao invés de “paranormais” ou “ufológicos”. Analisa-se o trato do tema pelos estudiosos da Parapsicologia e da Ufologia, na maioria advogando a ideia de que meios como a Hipnose e as manifestações psíquicas de Médiuns possam significar prova concreta da ocorrência dos fenômenos em que creem.


INTRODUÇÃO


A atuação de falsas memórias, também tratadas por falsas lembranças, está demonstrada em quantidade considerável. Elas nos consultórios psicanalíticos, quando em sessões pelos métodos tradicionais. Isto doutrinária e teoricamente ainda é considerado um pouco incipiente, ainda que aqui se pretenda repetir que ocorrem amiúde. Submetidos a técnicas como a Hipnose em sua mais famosa e cultuada forma da “Regressão de Idade” ou “Regressão de Memória”, pacientes narram fatos e dão informações que vão desde uma aleatoriedade até enredos ricos e com nexo. Após atenta análise, estas se revelam divorciadas de uma realidade objetiva, ou seja, de algo realmente vivido pelo paciente enquanto protagonista de fatos. Ao contrário, surgem da construção, da elaboração, de enredos, histórias e relatos que têm por base o que ouviram, leram e até puderam observar, porém não os tendo propriamente como protagonistas. Mas, sim, verdadeiras situações engendradas pela psique em razão de influências, induções e crenças.


Falsas memórias têm criado situações complexas com reflexos sociais, porque implicam em efeitos de ordem jurídica, como no caso de um perigoso reconhecimento de autores de crimes, que na verdade não os cometeram, em eventos que variam desde roubos ou furtos de pequena monta, ou crimes de pouca ofensa, até estupros, abusos e violência sexual em geral. Porém estes são assuntos para um trabalho melhor fundamentado por psicólogos, psiquiatras e juristas. A menção a ocorrências nessas áreas será feita aqui com a intenção de dar alguma base a raciocínio e para ilustração.


O que se pretende é mostrar o tema como um aspecto geralmente desprezado pelos estudiosos de áreas consideradas pseudociências, vale dizer, Ufologia e Parapsicologia. Essas áreas foram alcunhadas de “ciências paralelas”, por caminharem em suas acepções ao lado dos sistemas de psicologia e de ciências como a astronomia e todas as muitas que se possam relacionar com os supostos fenômenos relatados em seus registros e arquivos.


O método é essencialmente o bibliográfico, para oferecer material aos estudiosos que não conhecem o suficiente sobre essa temática que ainda não é tratada com maior constância. As falsas memórias ou falsas lembranças serão apresentadas como alternativa plausível para explicação do comportamento e dos quadros apresentados por pessoas que sugerem ter sido protagonistas de abduções por seres desconhecidos, eventos em geral envolvendo UFOs e epicentros de fenômenos conhecidos como paranormais.



A HIPNOSE – TÉCNICA SUPERESTIMADA POR ESTUDIOSOS


Quem é afeto a Ufologia e a Parapsicologia vê a Hipnose tratada como método infalível na busca de uma verdade objetiva. O fascínio que deu sustentação a muitos entusiastas do tema é o mesmo que lhes apresentou a Hipnose como verdadeira descoberta de um tesouro passível de meio de prova em termos metodológicos. Mas não é e nunca foi.


A Hipnose, desde a passagem por uma fase mística representada por praticantes como o Padre Gassner na Alemanha, Franz Anton Mesmer na Áustria, Marquês de Puysegur na França, todos no Século XVIII, tem sido vista por certas correntes como uma espécie de “força” ou de “energia” (este, um termo que serve genericamente para tantas ideias místico-religiosas, mas sem qualquer característica ou especificação) que sai do hipnotizador e influencia o paciente. Mas se trata unicamente de técnica, que se utiliza de meios para a sugestão de quem se submete, que no fundo tem a imaginação como colaboração nos resultados.


Quando a partir do Século XIX alguns estudos deram ensejo à fase de visão científica da Hipnose, caso do Abade Faria na França, James Braid no Reino Unido, Breuer e o próprio Freud, em Viena, alguns mitos foram sendo desfeitos, tais como a “energia” emanada do hipnotizador, as fantasiosas teorias de um “magnetismo animal” do mesmerismo e, principalmente, as manifestações durante o transe que insinuariam o recalque de informações e de eventos sobrenaturais e extraordinários em geral, jogados ao esquecimento por algum fator traumático. Obviamente esta crença inspirou-se nos conhecimentos da psicologia e da psicanálise, tal como ocorre com tudo o que pertence ao campo das pseudociências; ou seja, a utilização de teorias e acepções científicas, para tentativa de referendar o que pertence apenas ao campo da crença.


Em uma melhor filtragem de nosso interesse, surgem exatamente as abduções por alienígenas, em que pacientes alegam ter sido subjugados por seres desconhecidos, geralmente durante o sono, por vezes levados ao interior de naves interplanetárias e submetidos a exames físicos, implantes e outros atos invasivos. Conforme o paciente narre um enredo com coerência, com começo, meio e fim, durante a Regressão de Memória, a certeza de que esta técnica seja infalível , unida à crença na plena probabilidade de alienígenas fazerem constantes incursões na Terra para sequestrar (e até raptar!) seres humanos, elevou a Hipnose aos píncaros da valorização como método, como meio. Isto pertence às ideias dos ufólogos, quer enquanto estudiosos como tais, quer como psicanalistas, médicos, psicólogos e até psiquiatras que acabam por se dedicar à ufologia, amplamente, ainda que alguns o neguem.


No Brasil não é diferente. Há psicanalistas, psicólogos e leigos cujas atividades são de ufólogos e parapsicólogos, especializados na chamada TVP – Terapia de Vidas Passadas (que leva o paciente a “outras vidas” de seu passado) e dedicados ao tratamento de abduzidos. Em meio a tais, destacam-se os leigos, porque são eles os que mais anunciam sem constrangimentos ou impedimentos de ordem profissional e ética que a Hipnose regressiva seja infalível. Ou que proporcione “prova irrefutável” (termo absurdo, não pragmático e antijurídico) nos seus dizeres, de que somos visitados por extraterrestres.


Dentre esses leigos em psicologia e em quaisquer áreas da saúde mental, ufólogos brasileiros demonstram ainda agir como na fase supersticiosa da Hipnose, demonstrando uma completa falta de condições para lidarem com pacientes, que submetem deixando seu fascínio superar riscos. Esses riscos são compreendidos se lermos sobre as pesquisas de Breuer e de Freud com a Hipnose e técnicas similares. Era usada no trato de pacientes que apresentavam graves e complexos sintomas, visando tratamento de traumas e a descoberta das razões de vários transtornos. Inclusive psicóticos. O que faria, digamos, um hipnotizador leigo diante de um surto manifestado por seu “paciente”, durante ou logo após a sessão hipnótica? A resposta talvez seja óbvia.


Decorrente dos vários fatores de ordem psíquica, a Hipnose regressiva não passa de um modo pelo qual o paciente elabora enredos, une fatos vividos aleatoriamente mas que têm influência psicológica e emocional, cria situações existentes apenas em sua capacidade mental e manifesta mecanismos como Condensação, Dramatização e outros cuja complexidade não serão tratados como deveriam. É interessante saber que, na Condensação, a psique torna em um único enredo o encadeamento e a associação de diversos outros, apresentando em um sonho de conteúdo lacônico, o chamado conteúdo manifesto, latente. Contudo alguns preferem afirmar que seja uma abdução por alienígenas.


Estudiosos poderiam alegar que esses mecanismos, por serem relacionados ao sonho, não podem ser utilizados para explicação de casos supostamente ufológicos. Mas nada o impede. O transe hipnótico não é sono propriamente dito. Mas propicia o “mergulho” nas mesmas sendas da psique. E quando as abduções são narradas até mesmo sem o auxílio da Hipnose, a correlação com o que se sabe em psicanálise e outras áreas é patente.



LEMBRANÇAS NO SENTIDO LITERAL


Alguém sob hipnose ou em momentos de circunspecção, quando reza, ora ou, mais apropriadamente, faz prece, manifesta conhecimentos supostamente não adquiridos, fala em idiomas que jamais aprendeu e dá mensagens montadas em um estilo que contrasta com seu nível intelectual. Nessas ocasiões tais pessoas contatam espíritos ou entidades divinas, expõem verdadeiros sermões e discursos sobre temas que não pertencem à sua carga cultural, emitem palavras e frases em línguas que lhes são estranhas ou mesmo em línguas desconhecidas. Mais claramente, entram em transe mediúnico ou em comunicação com outros planos, apresentam o fenômeno da Prosopopese1, da Xenoglossia2 ou da Glossolália3 e, mais interessante, protagonizam eventos de suas vidas passadas.


As ocorrências com idiomas ou fatos mostram realmente lembranças? Certamente que sim. O problema está em onde residem tais lembranças. Se na mente (leia-se cérebro) ou se no espírito (leia-se consciência sobrevivente e independente do corpo físico). Lembrança é formada por informações, situações, fatos e ideias que já chegaram à consciência. Isto é o que há na memória. Pois que não se pode admitir algo que seja resgatável pela lembrança, sem que tenha passado pelos sentidos físicos, vale dizer, por meio da percepção. Em uma linguagem menos apurada, os fatos são vividos conscientemente, gravam-se no pré-consciente (ou subconsciente) e suas sensações permanecem no inconsciente; caso se atente para a Teoria Topográfica anteriormente sugerida por Freud4


Portanto em sentido pragmático, as mencionadas manifestações são lembranças, invariavelmente, de um cérebro, isto é, contidas na memória que não se instala sem que seja no corpo (cérebro ou, conforme pesquisas em andamento, em diversos outros complexos celulares). Porque não se admite corpo que não seja físico, as ocorrências anômalas dos tipos relacionados são atuações tipicamente da psique, da mente humana. Ainda que se evoquem estudos não confirmados por institutos de renome ou não publicados com aceitação ampla pelo meio acadêmico, que mostrariam conhecimentos excessivamente profundos e alheios a um cérebro desprovido de informações organizadas e de conhecimento científico. Na realidade tais memórias são constituídas por passagens rápidas a certos lugares, audiência de pessoas que se comunicam em idiomas incomuns ao meio e atenção despertada por cenas e situações específicas. Tudo que permanece no subconsciente e que, sob circunstâncias especiais, se manifesta com maior ou menor evidência. Até a sensação chamada “DeJa vu” pode assim ser entendida, vez que é uma aparente memória que provoca na pessoa a sensação de já ter visto ou vivenciado alguma coisa ou situação desconhecidas. A Parapsicologia adotou o termo Paramnésia. O “Deja Vu” comporta também razões de ordem puramente orgânica, neurofisiológica, de exclusiva competência dos especialistas.


Não se pretende olvidar que haja lembranças verdadeiras, o que é óbvio. Mas até estas podem parecer “anomalias” de ordem psíquica. Tal como quando são mostradas


1 Prosopopese é uma espécie de mudança da “personalidade psicológica” espontânea ou provocada no caso de pessoas que manifestam “duplas personalidades”.

2 Xenoglossia trata de supostas línguas estranhas, em que a pessoa exprime palavras, frases por vezes completas e raramente pensamentos inteiros. Caso de idiomas realmente existentes.

3 Glossolália é a aparente língua estranha, que não passa de sons esparsos, misturados, fenômeno de caráter “histérico” que não constitui qualquer idioma, nem mesmo palavras ou frases.

4 A Teoria Topográfica de Freud denominava três situações que são o Consciente, o Sub ou Pré- Consciente e o Inconsciente. Aconselha-se a busca de melhor estudo sobre esta e a Teoria Estrutural (Id, Superego e Ego).


de forma incomum e surpreendente, como é o caso do analfabeto que escreve ou fala palavras aleatórias (“Glossolália”), ou do indivíduo pouco culto que discursa ou escreve sobre temas que aparentemente nunca lhe chegaram ao conhecimento. Sabe-se de célebres líderes espirituais que eram leitores ávidos, autodidatas dotados de notável capacidade de entendimento e compreensão. O que também acontece nos casos de exposição de idiomas não aprendidos, quando esta se dá por frases ou exposições completas, coerentes, como na “Xenoglossia”.


Conquanto se constituem como lembranças propriamente ditas, porém por memória adquirida durante a vida, aliás desde a infância, não servem à segura comprovação de vidas passadas ou de interferência de “consciências” apartadas da pessoa que as expõe.


ELABORAÇÃO DE EVENTOS


Por outro lado a mente, como sabido, é capaz de criar situações não realmente vivenciadas na “vida normal”, em termos objetivos, o que, isso sim, é fartamente demonstrado por técnicas diversas, entre elas a Hipnose. A impressão que se tem, portanto, é a de que se tratam de “lembranças” não realmente constantes da memória construída pela participação ativa da pessoa nos próprios fatos. A Hipnose serve portanto, quando muito, para demonstrar que a pessoa esteja sendo sincera em sua narrativa de um evento que para ela, apenas subjetivamente, foi real, concreto. Desde que esteja realmente hipnotizada a um nível de transe que os hipnotizadores conhecem fartamente, que vai desde um simples relaxamento a um estado semelhante ao sono profundo, do tipo “REM”. Também compete ao hipnotizador aplicar os devidos testes para se certificar de que o sujeito esteja realmente hipnotizado. Alguns poderiam imaginar se é possível a pessoa fingir estar hipnotizada para tentar provar a realidade que viveu e tem isto por meta, a todo custo. A resposta é sim, mas não enganará a um hipnotizador experiente.


Este é portanto um bom momento para uma breve menção à questão da boa-fé ou da má-fé de alguns abduzidos, alguns que se dizem contatados de alienígenas, ou intermediários entre um mundo de “espiritualidade” (que já se tornou sinônimo de um plano além da matéria habitado por espíritos) e o mundo material. Pessoas têm razões de ordens diversas para fingir, para inventar, para teatralizar, bem como possuem fortes motivos para acreditarem estar realmente em tais situações “anômalas”. Das primeiras razões, que sem pecado podemos chamar de fraudulentas, não se encontram somente os que pretendem fazer fortuna com suas invencionices de ordem místico-religiosa. Muitas pessoas também o fazem com o fito de simples fama ou para se sentirem importantes, numa espécie de compensação para suas frustrações, por exemplo. Bom repetir, também estes estão agindo conscientemente, ou melhor, cientes de que seus “fenômenos” ou alegações não são verdadeiros.


Obviamente que os que agem de boa-fé estão em uma espécie de zona cinzenta para nossa classificação, como acabamos de ver. Pessoas que se sentem arautos de seres estranhos ou espirituais, quando o fazem pela comentada necessidade de ordem psicológica, não podem ser simplesmente classificadas de enganadoras no pior sentido do termo, de desonestas. Como quer que seja, para uma pesquisa minimamente exitosa, há de se ver se alguém está ou não submisso a uma técnica como a Hipnose. O que desejávamos mesmo, sob tais aspectos, era deixar patente algo que ufólogos e parapsicólogos – os da linha mais extasiada, maravilhada – precisam conhecer. Nem sempre uma narrativa consciente da inexistência de uma realidade é apresentada com má-fé. É necessidade. E, por parte dos que acreditam firmemente, sendo sinceros, a Hipnose bem aplicada em seus testes de suscetibilidade ou de profundidade de transe cuidarão daquilo que se possa aferir de sinceridade. E nada mais, bom frisar, porque a Hipnose nada prova quanto a uma realidade objetiva, qual seja, se a pessoa foi realmente abduzida ou se de fato contata com seres espirituais.


Com maior clareza: o que é narrado por pessoas sinceras, porém sem qualquer indício de realidade objetiva, não é necessariamente mentira. Mentira é um termo que requer o componente da má-fé, ou seja, a finalidade de enganar, de lucrar, sabendo-se que a coisa seja irreal. Estudiosos dessas áreas dizem que, se não possuímos provas de que realmente casos célebres ocorreram, isto significaria que suas inúmeras testemunhas são mentirosas, ou taxadas como tais. Não, em absoluto. Há de se tomar cuidado com termos, com palavras, principalmente com seu significado e papel em um contexto. Alguém comentou pela Internet que, se o famoso caso do Colégio Westall, na Austrália, em 1966, vem recebendo explicações “quer dizer então que aquelas crianças estavam mentindo”. Absurdo de interpretação, que significa ausência completa de capacidade de entendimento de quem assim diz. Em outra ocasião, assisti a uma reportagem de TV em que uma das testemunhas do rumoroso Caso Varginha depunha, mais de vinte anos depois do acontecido, com ares de ufanismo (é um senhor trabalhador mas desprovido de estudos), reclamando ao repórter porque alguém lhe dissera – “O senhor sabe que andam dizendo que o que o senhor viu é um mito?”. Isto foi por ocasião da publicação do livro de C.Reis e U.Rodrigues, este último o primeiro ufólogo do Caso Varginha, cujo título é exatamente “A Desconstrução de um Mito”, destinado a mostrar viéses, ideias e acepções de uma ufologia crente unicamente em sua preferência de origem extraterrestre dos UFOs. Ou seja, quem tentara inculcar na mente do referido senhor, de forma desastrada, uma espécie de revolta ou inconformismo, bem como a própria testemunha, nem faziam ideia do significado daquilo que estavam dizendo ou entendendo.


É certo que a Hipnose vem sendo desenvolvida nas últimas décadas, como método de aguçamento da sensibilidade e, ao mesmo tempo, maior concentração do sujeito com o fito de recordação. Na Justiça é usada em alguns países para identificação de autores de crimes e maior caracterização dos cenários em que estes ocorreram. Há realmente um valor nisto, que, bom repetir, consiste no maior aguçamento da memória em razão da focalização do hipnotizado durante o transe. Mas há um viés perigoso, que tem sido ao mesmo tempo objeto de alerta dos mais diversos especialistas das áreas médica e de saúde mental em geral. É o que vem sendo tratado no presente tópico. As pessoas não apenas elaboram cenas e eventos, como podem perfeitamente associar pessoas, ou características físicas e fisionômicas de pessoas, a esses acontecimentos. Ou quando esses ocorrem efetivamente.


Para VIDOLIN (s/d), a Hipnose é utilizada na Medicina Legal com sucesso, - principalmente porque permite que uma vítima, durante seu depoimento sob Hipnose, narre o fato dissociada do seu conteúdo emocional. Então a vítima não revive o sofrimento desnecessariamente e isto permitiria maior precisão do relato. É surpreendente uma afirmação desse tipo. É em razão dessa linha de entendimento que a Hipnose continua a ser mal entendida como uma técnica infalível ainda hoje. Citado estudioso prossegue afirmando que durante o transe é possível a recuperação de detalhes muito maiores, o que é coerente com a capacidade de o transe permitir o maior foco no suposto evento. Porém não elimina a hipótese bem concreta de um hipnotizado montar seu relato enriquecido de detalhes distanciados da realidade.


As implicações de ordem jurídica, por outro lado, são absurdamente fartas. E contrárias à utilização. Sem entrar tecnicamente na questão jurídico-legal apropriada a um artigo sobre essa área, podem-se relacionar algumas questões inclusive contrárias à Constituição Federal. Que são – ausência de total liberdade nas declarações, vez que o sujeito está psicologicamente submisso aos efeitos da técnica; objetivamente, um depoimento prestado sem as condições normais, mormente de consciência, vez que a Hipnose bem aplicada significa um estado alterado dessa consciência; viabilidade de o sujeito elaborar, criar, expor quase que similarmente ao sonho, situações, cenas e pessoas; o sujeito ser interrogado sempre através do hipnotizador, mesmo que este passe a audiência do hipnotizado para terceiros, tais como o juiz, o promotor ou o advogado. Mas principalmente pela plena possibilidade de a narrativa ser dada mediante uma influência inclusive indireta, que acarreta a elaboração até aqui referida. É a isto que se dá o nome nos dias de hoje, mais apropriadamente, de FALSAS LEMBRANÇAS.


MITOS DA HIPNOSE CONTINUAM PERENES


Aliás, como tudo o que é perene, continuam. Ademais todo mito é perene. A Hipnose prossegue mesmo com a evolução científica engendrada por psicólogos, psicanalistas e outros profissionais e institutos. Seus mitos são os mesmos. Enganos sobre essa técnica não mudaram, e ainda se vê estudioso acreditando que o que não seja percebido pode ser gravado nos recônditos da consciência. Daí dão à Hipnose mais valor, afirmando que seja capaz de trazer a lume detalhes que em estado normal de consciência a pessoa não resgataria de suas memórias. Não há evidência disto. Como antes comentado, o que não passa pelos sentidos não vai à memória. E há coisas que, mesmo estando sujeitas à observação ou a afetarem os órgãos do sentido, não são percebidas. Bom repetir, não há percepção sempre. Porque perceber é notar, é registrar, ao menos por um mínimo de atenção despertada. Seja pela visão ou, pela audição ou pelo tato, que são os sentidos de maior interesse para esta discussão.


Uma experiência levada a efeito por hipnotizadores, para constatação de percepção mais acurada, é a contagem do número de postes de luz existentes em algum itinerário cumprido pelo hipnotizado. Por exemplo, quantos postes há entre a residência e a empresa em que trabalha, exatamente por ser um trajeto comumente tomado. Não há um registro seguro, discutido academicamente, que demonstre resultado de acerto. Pelo simples fato de que, quando o experimento é aplicado a uma pessoa que não tem interesse por observar ou contar postes, a memória não retém. Aliás isto é óbvio – há inúmeros objetos, cenas e pessoas que, mesmo sendo avistados e por vezes com constância, não têm o condão de nos chamar a atenção ou não nos despertam interesse por um mínimo de observação. Portanto repete-se que não há memória sem percepção, porque não há percepção se não passa pelos sentidos, e se passa não desperta atenção ou interesse.


Desprovidos de fundamento concreto, portanto, os usos diversos da Hipnose para obtenção de certos detalhes, até porque pode por outro lado haver a exposição de detalhes em suposta memória, quando estes são também o produto da elaboração psíquica.


Pode parecer que tais ilações não sejam de interesse do foco do presente trabalho. Parece, porque são de interesse. O de mostrar que a Hipnose não é, nunca foi, método de comprovação “incontestável” (sic) de uma realidade objetiva.


Segundo o mesmo VIDOLIN (s/d), a maioria dos estudiosos da Hipnose é desse entendimento. E diz, “Argumenta-se que a habilidade do paciente fantasiar em hipnose está ampliada, e que é possível, com sugestões vagas e incompletas, levar estes mesmos pacientes a experimentar vidas cheias de sentimentos e detalhes, nas condições, lugares e épocas em que o hipnotizador sugerir. Estes colegas interpretam esses relatos como sonhos cujo conteúdo deve ser analisado e utilizado na terapia, mas não como prova da existência de reencarnação. A própria elaboração dessas estórias poderia trazer benefício, como em reorganizar e entender sentimentos, trazer à tona material inconsciente ou apontar soluções”. Admitindo-se portanto que a Hipnose possa ser útil como técnica terapêutica – o que não é incorporado pela ortodoxia da Psicanálise freudiana – isto não quer dizer que sirva à comprovação de uma realidade objetiva.


Ao contrário, pode servir de construção de histórias fictícias, fantasiosas literalmente, o que se evidencia através de testes de transes até leves, como a provocação de alucinações através de induções hipnóticas ou pós-hipnóticas. Trata-se de experiências em que o indivíduo é levado a ver objetos ou pessoas que não sejam reais e, ao inverso, deixarem de enxergar o que existe no ambiente ou próximo.



SIMILITUDE DO VIVIDO NO TRANSE HIPNÓTICO COM OS SONHOS


A similaridade do transe hipnótico com o sono oferece esse ponto – o que a pessoa experimenta e expõe verbalmente possui características de um sonho. E sonhos são o grande material da análise psicanalítica. Como tais, também servem à avaliação de uma experiência de abdução. O mito de que a Hipnose traz invariavelmente à tona do consciente uma experiência real objetiva, é obliterada pela plena probabilidade de se tratar de uma mera elaboração do paciente. Ainda que por vezes rica em detalhes e complexa à análise. LOPES (2012) destaca que realmente o sonho não passa de conteúdo inconsciente trazido ao consciente. Daí porque quando ufólogos se espantam pelo fato de a pessoa “não se lembrar conscientemente” de uma experiência de abdução, quando esta é trazida à


lembrança pela Hipnose, isto sirva de perplexidade e espanto, ao mesmo tempo parecendo “provar” que tal experiência tenha sido real. Mesmo assim muitos ufólogos, inclusive alguns de formação científica, ainda duvidam disto, argumentando, ou melhor, indagando, por que afinal um abduzido elaboraria uma história, e que não haveria razão para isto. Engano primário, por óbvio. Ora, os sonhos são um fenômeno regressivo por excelência, diz LOPES (2021) citando Silva e Sanches. Todo sonho – e portanto aqui se acresce uma experiência psíquica de abdução – precisa ser interpretado para que lhe seja conferido um sentido, conforme ele também cita Ferza. E o texto mais significativo do mencionado artigo, para o presente estudo, é: “Segundo Martins (2003), a linguagem dos sonhos possui suas particularidades que, ao longo dos séculos, mostra-se como um grupo de eventos comuns de uma época radicados na vivência dos povos. Possibilitou ainda, um aprofundamento dos níveis mais ocultos da mente, tornando possível a abordagem de variados sintomas, produtos de um ambiente capaz de oprimir e colocar em risco valores naturais de cada ser. Sonhar é mais do que um simples produto do dia-a-dia. É revelar-se diante do enigma invisível, mas possível de compreensão”.


Realmente o basilar pensamento de Freud sofreu notável ampliação e atualmente tem-se que os sonhos são manifestações do Inconsciente em suas particularidades, o que se reflete durante o sono (sem embargos, também no similar transe hipnótico profundo) como o que se conhece por Elaboração Onírica. Sendo ou não um sonho vivido em razão de uma elaboração onírica, ele é um enredo intrincado que disfarça desejos, notadamente pelas acepções freudianas clássicas. Isto pode ocasionar até sonhos de terror, em razão de conhecida censura interna da psique, situações vividas por mecanismos internos como as já mencionadas condensação e a dramatização. Nem é necessário dizer do uso, pela psique, das crenças, do que provoca espanto, do que fascina ou amedronta, em geral, o hipnotizado, o que permite admitir claramente que a era atual da tecnologia e da astronáutica influenciam um enredo de abdução. Mesmo naqueles que pouco ou nada se interessam pelo tema relacionado a UFOs e similares. É importante compreender que há nessas experiências de cunho psíquico, o que ocorre nos sonhos, que são o seu Conteúdo Manifesto e seu Conteúdo Latente5, conceitos basilares que podem ser buscados nos compêndios de psicanálise.


Eis assim um outro mito da Hipnose, esclarecido de forma resumida – o que possa parecer estranho, espantoso, por vezes coincidente com a época atual mesmo para alguém pouco dotado de informação e cultura, é apenas o que a psique do hipnotizado apresenta, sempre de sua realidade estritamente subjetiva.


Já tratada, linhas anteriores, a condensação, resta que a dramatização é a relação direta da psique com as representações teatrais. Segundo ANDRADE (2012), “ No sonho transformamos ideias em imagens e construímos com elas uma situação. A criatividade dramática no trabalho do sonho como no brincar da criança é produtiva e abre novas perspectivas”.



5 Em linhas gerais, Conteúdo Manifesto é o que o paciente narra, enquanto o Conteúdo Latente é o que verdadeiramente alimenta o sonho, diz-se de ordem psicológica, que o analista visa descobrir.



Por inferência, o experimento da Regressão de Memória ou Regressão de Idade consiste em procurar tais fatores endopsíquicos que constroem as situações narradas, notadamente a influência de traumas. Elas podem trazer situações disfarçadas pelos mecanismos mencionados e, plenamente possível nos dias atuais, revestidas da influência da era tecnológica, gerando a presença de seres alienígenas no produto da elaboração. O problema da Regressão é um inconveniente e perigoso viés interpretativo, quando o experimentador intenta descobrir detalhes de uma abdução legítima (que ocorre nas crenças de certa linha da ufologia). É o viés de confirmação gerado pelo próprio experimentador, em seu afã de provar um sequestro por alienígenas, projetando-o na pessoa do experimentado, o paciente, o hipnotizado. Assim o estudioso é quem cria, no fundo, o enredo, influenciando direta ou indiretamente a pessoa, para que esta efetive tal criação. Portanto uma interação que não passa de um “rapport”6 entre experimentado e experimentador, bastante conhecido na psicanálise, em que podem ocorrer as situações de transferência7 ou de resistência. Só que no caso da abdução influenciada pela crença do próprio pesquisador, essa interação não apenas se transforma, mas deforma completamente uma realidade interior buscada no paciente, como é a finalidade da psicanálise. Pode-se pois dizer que seja um momento em que uma pseudociência, a ufologia, se utiliza de uma técnica, ainda que não propriamente incorporada aos sistemas científicos da saúde psíquica, como se esta fosse absolutamente garantida aos seus propósitos.

Da mesma forma, a Regressão serve aos postulados religiosos de certas correntes, como se pode ver nos dizeres de MENDONÇA JR. (2008). Para ele, “Regressão de memória é o processo provocado ou espontâneo, por meio do qual, o espírito encarnado ou desencarnado fica em condições de relembrar o passado, da vida atual ou em existências anteriores, sejam elas recentes ou remotas”. Deduzindo-se que, se por um lado para psicanalistas que aplicam a Hipnose o passado psíquico gera a situação psíquica atual, sendo esse passado evidentemente da vida do paciente, por outro os que adotam a crença na reencarnação consideram tais fatores passados ocorridos em vidas anteriores. Neste último caso, podendo-se também deduzir que se admite memória ou lembrança sem um cérebro – ou, teoricamente, sem células – que a retenha, tratando as lembranças como registros que sobrevivem às múltiplas estadas do espírito no mundo que habita em um outro “plano”. Memória e lembrança sem corpo, portanto. Razões pelas quais tal assunto se inclui no presente artigo sobre falsas lembranças.


Mesmo tentando evitar a mistura de instâncias de raciocínio e exemplificação, é inevitável que neste ponto se pense também na chamada “EQM”, ou Experiência de Quase Morte, principalmente em razão das sensações narradas por pacientes, que têm notável similaridade com os relatos de abdução. E, se falamos em Sonhos, também aqui o encaixe é perfeito – os chamados Sonhos Lúcidos.





6 Rapport, em linhas gerais, são técnicas de interação e empatia entre paciente e analista ou psicólogo.

7 Sobre Transferência e Resistência, v. ROUDINESCO &PLON (1977), Pág.766 e 659.


As EQM encontram explicações nos fundamentos dos Sonhos Lúcidos. Estudiosos de pseudociências, ou mesmo cientistas entusiastas da realidade externa de uma abdução ou de uma dualidade humana (corpo e espírito) costumam usar as coincidências das narrativas como evidências do que defendem. Isto é, se muitas pessoas relatam sensações, situações e até cenas idênticas, então é total a probabilidade de estarem contando sobre algo real. Não é argumento forte, no entanto. Ao contrário, os sinais e sintomas mostrados pelo ser humano, principalmente pelo seu mundo psíquico, são praticamente padronizados, no sentido de ocorrerem com características certas. Dentre as situações, acha-se o famoso “túnel de luz” observado por pessoas que estiveram à beira da morte ou em momentos de paralisação cerebral. E as cenas também se repetem – elas se veem deitadas, nas macas ou nas suas camas, geralmente observando-se a si mesmas de cima, certas de que se deslocaram em espírito e assim observando seus corpos de fora deles. Outras sensações como a de levitação acompanham esses momentos e o paciente começa a enxergar pessoas que não se encontram no recinto. Desde já é interessante notar – as pessoas avistadas, que na verdade não estão ali, não são apenas mortas. Alguns veem também pessoas vivas, não presentes, o que é sintomático.


As neurociências vêm se ocupando desse tipo de caso, o que demonstra maior interesse dos meios científicos para com fenômenos hoje classificados de anômalos, ainda que nada do que vêm concluindo corrobore as crenças místico-religiosas de certas linhas, ao contrário do que estas afirmam. Entusiastas acreditam que, pelo fato de cientistas ou institutos, mesmo os de renome e credibilidade, ocuparem-se desses estudos, prova o que é objeto de suas crenças. Por exemplo, que haja um espírito no ser humano, que sobrevive independentemente do corpo. Mero fruto do entusiasmo em excesso, que aliás é costumeiro em certos autores através dos tempos, que citam cientistas dedicados parcialmente a tais fatos como se isto corroborasse as crenças. São vários os exemplos e pode-se apenas mencionar, no campo da Ufologia para maior especificidade neste artigo, Carl Sagan. Sagan, divulgador da Ciência e ícone da Astronomia contemporânea, produziu na Década de 1980 a série televisiva “Cosmos”, de enorme sucesso. Nela, inevitáveis ilações e ideias teóricas a respeito da possibilidade da vida extraterrestre (antiga Exobiologia, de que Sagan foi considerado a maior autoridade, atualmente tida por Astrobiologia) foram tratadas. Por isto, ufólogos de todo o mundo passaram a ter Sagan como espécie de herói salvador de suas aceitações. Ledo engano. Representante na verdade de uma linha contrária à pseudociência, contra os postulados adotados por ufólogos e parapsicólogos, foi ele quem tornou célebre tal termo – pseudociência, para enquadrar Ufologia, Parapsicologia e outras. Professor da Universidade de Cornell, foi um arauto do ceticismo. Realmente promoveu a busca por inteligência extraterrestre (por meio do projeto SETI8), um dos idealizadores da mensagem colocada a bordo da sonda espacial Pioneer 109. É dele a frase inspirada na linha adotada por Laplace, “Afirmações extraordinárias requerem evidências



8 Projeto SETI tem como objetivo a busca de sinais inteligentes emitidos por civilizações extraterrestres, com base no Radiobservatório de Arecibo, em Porto Rico, atualmente envolvendo uma rede mundial de computadores para ampliação dos campos monitorados.

9 A sonda espacial Pioneer 10 teve como primeiro objetivo a observação do espaço profundo, além do Sistema Solar. Foi a primeira a conter a bordo uma placa com desenhos, sinais e diagramas para decifração de possíveis civilizações inteligentes.


extraordinárias”, que faz inferência de que não há qualquer evidência do que afirmam ufólogos e estudiosos do paranormal. Nesta linha a obra de maior destaque na autoria de Carl Sagan é “O Mundo Assombrado pelos Demônios – a Ciência Vista Como uma Vela no Escuro”. Por tudo isto, uma das mais notáveis demonstrações da ingenuidade com que pensam e trabalham ufólogos, ocorreu quando, há alguns anos, autores e palestrantes que dominam essa linha no Brasil resolveram fundar uma espécie de entidade que aglomeraria e até gerenciaria as atividades de Ufologia. Intentaram dar a ela o nome de “Instituto Carl Sagan”, o que provocou de imediato forte reação de céticos, tendo chegada a ideia até a viúva de Carl Sagan, que teria reagido com perplexidade. Quando caíram na realidade, após mostrarem que sequer sabiam da liderança do nome de Sagan nos meios do ceticismo científico, os idealizadores voltaram atrás e deram outro nome ao seu instituto, de cuja existência aliás nem mais se pode ter certeza.


Tendo sido necessárias essas informações, pode-se voltar à questão das EQM e dos Sonhos Lúcidos, cujos fundamentos também se ligam às abduções. Nas Experiências de Quase Morte ocorre uma espécie de confusão entre os Estados de Consciência, que se alteram. Esses momentos fazem com que o Estado REM suplante do estado de Vigília ou mesmo o de Não-REM e cause as visões e sensações descritas na EQM. É que esses “estados” do sono são, em linguagem mais clara, de plena consciência ou Vigília, quando estamos acordados e em atividades normais, de “semi-consciência” quando em sono “leve” ou “quase dormindo”, e um estado preferido popularmente como de total inconsciência10. Quando o cérebro gera por razões diversas alterações e invasões desses níveis, os efeitos psíquicos ocorrem, tais como visões de cenas, de pessoas, de luzes. No entanto, para que isto ocorra deve haver razões orgânicas, como durante parada cardíaca, em que o fluxo sanguíneo no cérebro diminui sensivelmente. Ou mesmo quando de desmaios, com alterações da pressão sanguínea.


GENESTRETI (2011) cita Kevin Nelson, que é um neurologista especializado nesses estudos e dá a seguinte explicação para as visões de luzes e para a sensação de levitar: “Se o fluxo sanguíneo está diminuindo na região da cabeça, diminui também nos olhos, deixando a visão borrada nas bordas e criando a impressão de que há um túnel com luzes. Já quanto às experiências extracorpóreas, sabe-se que ao ‘desligar’ a região temporopariental do cérebro, ligada à percepção espacial, podemos tirar a pessoa do seu corpo. Essa é a mesma área do cérebro que é ‘desligada’ durante o REM”.


Nelson menciona as alucinações como comparáveis aos Sonhos Lúcidos, porque ocorrem estando consciente a pessoa, quando ocorre a mencionada “invasão” do Estado REM. São considerados Sonhos Lúcidos aqueles em que a pessoa não se engana quanto à realidade vivida, pois está tendo ciência de que se trata de um sonho e por vezes até controla o enredo deste. Por oportuno, são chamados também de “sonhos- fora-do-corpo”. Pode-se pois imaginar o quanto desses sonhos permanece à lembrança e assim são um claro gerador de Falsas Lembranças. Bem como a visão de túneis de luz



10 Para compreensão de termos mais utilizados nas áreas de saúde mental, o sono subdivide-se em Estado NREM ou Não REM e em Estado REM (“Rapid Eyes Movement”), que portanto classificam os seus níveis de profundidade.


vão para a memória durante a alteração cerebral, e também as imagens das cenas, das pessoas vivas ou mortas etc.


ABUSOS E OUTRAS EXPERIÊNCIAS TRAUMÁTICAS

Que traumas provocam alterações psíquicas, recalques de lembranças de experiências sofríveis e negativas, é pacífico. Mas nem todo trauma aparentemente ocorrido realmente o foi. Ou mais propriamente, outros fatores geram efeitos de ordem psíquica de suposta origem traumática. Vale dizer, nem sempre os eventos geradores de sintomas, ou no caso de lembranças, realmente aconteceram, não tendo sido fatos propriamente ditos. E assim falsas memórias também são constituídas.


LOFTUS (s/d) considera concreta a possibilidade de uma pessoa implantar falsa memória em outra, principalmente se são da mesma família. Isto se dá com a corroboração de um evento por uma outra pessoa, podendo ser uma poderosa maneira de se induzir a uma falsa memória. Ao tratar de casos policiais ou judiciais de supostos autores de crimes, diz que “De fato, apenas afirmar ter visto uma pessoa fazendo algo errado já é o suficiente para conduzi-la a uma falsa confissão” (Pág.6). Todo um contexto em que alguém seja levado a crer ter cometido um ato ilícito, inclusive com pressão de ordem psicológica e emocional, ambiente constrangedor como o policial, levam a confissões de atos não cometidos, principalmente se houver quem diga ter assistido o indivíduo praticando o ato, mesmo que isto tenha sido uma declaração inverídica. Continua a autora, “Estas descobertas mostram que uma falsa evidência incriminante pode induzir as pessoas a aceitarem a culpa por um crime que não cometeram e até mesmo a desenvolver recordações para apoiar os seus sentimentos de culpa”.


O mais interessante do processo de formação de falsas lembranças é que este combina recordações verdadeiras com lembranças irreais. Essas últimas têm origem em sugestões vindas dos outros, o que deixa o presente artigo em situação de conforto para repetir a hipótese de ausência de evidência de uma realidade objetiva em casos de abdução e, claro, até de simples alegados avistamentos de discos voadores. Prossegue LOFTUS (s/d), “Durante o processo, os indivíduos podem esquecer a fonte da informação. Este é um exemplo clássico de confusão sobre a origem da informação na qual o conteúdo e a proveniência da informação estão dissociados”. Vale a pena repetir – o conteúdo e a proveniência da informação estão dissociados, o que leva ufólogos a reconsiderar a originalidade de certos depoimentos. O autor deste artigo estudou o caso de um abduzido que forneceu notáveis detalhes de seu evento, através do uso da Hipnose. Inclusive coerência com relação a datas, locais, cenas e pessoas. Descobriu-se posteriormente que ele convivera com um colega que, tempos antes, contava no ambiente em que conviviam que fora abduzido, com todos aqueles mesmos detalhes e circunstâncias. Colega e história deste que, importante destacar, não foram mencionados pelo abduzido. Ao contrário, entrevistas posteriores mostraram que ele parecia não saber do que tinha sido relatado pelo colega, ainda que todas as outras pessoas de lá soubessem perfeitamente disto. Má-fé com o intuito de “roubar” para si o evento do colega? Nada indica isto. Ao contrário, circunstâncias de ordem psíquica e eventos durante a vida do abduzido indicaram que se tratava exatamente da confusão do conteúdo com a fonte da informação.


Neste sentido, o site Diário da Saúde traz referências a estudos neurocientíficos. Segundo CHIODO (2019), estudiosos ficam conhecendo várias maneiras com que falsas memórias se formam e uma equipe de cientistas descobriu que muitas lembranças na verdade são de fatos e atos envolvendo outras pessoas e não aquela que recorda. A constatação se deu em experimentos que tinham um foco principal diverso, mas acabou ocupando maior atenção dos cientistas em razão de ter sido surpreendente. "Nós ficamos estupefatos," declara Gerald Echterhoff, da Jacobs University Bremen, citado por Chiodo. Ele realizou o estudo com Isabel Lindner, da Universidade de Colônia, Patrick Davidson, da Universidade de Ottawa, e Matthias Brand, da Universidade de Duisburg- Essen. Declarou ainda que "É bom ter uma dúvida ou um ceticismo bem informado sobre o desempenho da sua memória, de forma que você não acredite facilmente em tudo o que vem à sua mente como se fosse algo verdadeiro e certo".


LOFTUS (s/c) faz questão de ressaltar que o fato de se poder implantar falsas recordações não implica que todas as lembranças surgidas após algum processo voluntário ou involuntário possam ser necessariamente falsas e não desmente recordações a exemplo das advindas de traumas recorrentes. “Sem corroboração, há muito pouco que possa ser feito para ajudar até mesmo o mais experiente observador a diferenciar as verdadeiras recordações daquelas que foram sugestivamente implantadas”. Fatores complicadores, então, estarão presentes. Porém a existência de falsas memórias neutraliza totalmente uma desejada evidência de uma abdução por alienígenas. Ou de fenômenos anômalos elevados à alcunha de paranormais.


Podem-se ainda relacionar a supostas abduções e a eventos tidos por sobrenaturais, os conhecidos por Abusos Satânicos, que o Departamento Britânico de Saúde, em relatório de 1994, deu por não provado qualquer deles, explicando-os da seguinte maneira, conforme SAGAN (1997)

A campanha cristã evangélica contra os novos movimentos religiosos tem sido uma influência poderosa que estimula a identificação do abuso satânico. Importância igual, se não maior, para a divulgação da ideia de abuso satânico na Grã Bretanha, têm os “especialistas” norte-americanos e britânicos. Podem ter pouca ou nenhuma qualificação como profissionais, mas atribuem suas habilidades à ‘experiência de casos’.

O citado autor entende que parece haver uma credulidade marcante disseminada nos meios policial e judicial a respeito dessas práticas ritualísticas, crença essa que influencia as investigações e até as conclusões que não correspondem à realidade. A diversidade de crença religiosa entre agentes públicos pode gerar desconfiança e crença em práticas demoníacas de muitas correntes de outros credos. Alerta ainda que falsas lembranças podem ser geradas por interrogatórios repetitivos e por interferência do experimentador. Pessoas consideram as mais diversas modalidades de religiões como práticas satanistas, e até o Catolicismo e o Islamismo entram nessa relação. Rituais, práticas mediúnicas como canalizações, magia, astrologia etc, também. No Brasil foram famosas as difamações do Boneco do Fofão e das músicas da Xuxa há poucas décadas, em razão desse tipo de crendice.


Há correntes defendendo que abduções podem ser, por outro lado, o resultado de abusos sexuais ocorridos notadamente na infância, em enredos transformados e adaptados na recordação atual. À parte tudo isso, considere-se ainda que recordações equivocadas, lembranças e ideias, reelaboradas na atualidade – alguns chamam a isto de reelaboração retrospectiva - , são comumente ocorrentes. Como quer que seja, as abduções parecem ser construídas em razão de “...altos níveis de sugestionabilidade, capacidade imaginativa, sensibilidade a dicas e expectativas, e o elemento de contágio [...]”, segundo Fred H. Frankel, , professor de Psiquiatria na Escola de Medicina de Harvard, entrevistado por SAGAN (1977).

GARDNER (2002) comenta que pessoas diversas, dentre elas professores e pais sofreram condenações a prisão e perderam seus cargos e carreiras com base em falsas lembranças provocadas por terapeutas fanáticos. Também DAWKINS (2007) valoriza o trabalho de Elizabeth Loftus, alertado para o fato de que as vítimas sugestionadas por terapeutas, investigadores e outros, apresentam falsas lembranças que, para elas, são tão reais quanto as verdadeiras. O que também acontece com as próprias testemunhas. “Trata-se de uma coisa tão contra-intuitiva que os júris são facilmente influenciados pelo depoimento sincero, mas falsos, das testemunhas”.



A INFLUÊNCIA DO PESQUISADOR

Realmente Elizabeth Loftus defende a tese e se apoia em experimentos de uma “reestruturação mnemônica dirigida”. Isto serve à implantação de memórias falsas tanto durante regressão de idade em hipnotizados quanto em pessoas submetidas a outros procedimentos para lembrança. Com encorajamento para recriação de experiências infantis, em que as pessoas as imaginam, a maioria dos participantes eram suscetíveis a esses tipos de implantação de memória, quando passaram a relatar as recordações infantis. Portanto, até em não hipnotizados esse tipo de lembrança pode ser implantado, independentemente de seu nível de senso crítico. Nem é preciso frisar, então, que ufólogos e seu conhecido afã de provar a vinda de extraterrestres à Terra podem influenciar, e efetivamente influenciam, testemunhas de avistamentos de Óvnis e outros tipos de casos ufológicos. Levam as pessoas a construírem formas dos supostos objetos, cores, sensações outras durante a experiência e a comparações diversas, quando ingenuamente apresentam a elas modelos, desenhos ou narrativas de terceiros. São recorrentes as perguntas do tipo “foi isto o que você viu?” (exibindo desenhos, fotografias e até bonecos de massa de modelar!); ou, diante de dificuldades de uma testemunha por encontrar comparações para prestar sua narrativa, “o objeto parecia um vagão de trem?”. Tal como já presenciado pelo autor deste trabalho.

Conforme a capacidade de convencimento que possuem certas pessoas, para influenciarem outras e então incutir-lhes ideias e situações irreais, porém com fortes fatores de realidade para essas últimas, a implantação de memórias pode ocorrer sem qualquer alteração do comentado estado de consciência. Palavras, tons de voz, a destreza para exploração de preferências, tendências por crenças, e até desejos são em termos, teoricamente, manipuláveis. Na prática isto ocorre amiúde, bastando que saibamos que o método não passa de formas de sugestão, ou seja, modos de influenciar alguém e induzi-lo a um ato ou a uma declaração. Aqui cabe seguramente a afirmação obtida desde primórdios do Século XIX, de que a Hipnose nada tem a ver com suposta “energia”, “fluído” (sic) ou força emanada do hipnotizador para dominar o hipnotizado. Se há um poder que vem do hipnotizador, certamente este se chama capacidade de sugestionar.

Durante a Regressão de Memória, então, o efeito é mais garantido. Daí que as palavras, os termos, as frases, utilizadas pelo experimentador – e aqui novamente se deve enfatizar a atuação de ufólogos – são determinantes da narrativa do paciente, do experimentado, geralmente um abduzido. Uma só palavra, colocada em momento cabível da Regressão, pode gerar todo um rico enredo, que vai desde a aproximação de um imaginário disco voador, até a ida a bordo deste, à força, com todos os detalhes de fatos que tanto são conhecidos nos meios da ufologia. Hipnotizadores aconselham o não uso de certas palavras, tanto na indução do transe quanto durante este, para se evitar uma influência no hipnotizado, que pode retirar da narrativa a autenticidade e a originalidade. A falta de habilidade neste sentido faz com que o estudioso cometa erros insuperáveis, quando lemos por exemplo a sequência de passos a serem aplicados na Regressão, quando o experimentador, sabedor de certo trauma ou ocorrência marcante, passada em certa idade do paciente, já tenta conduzi-lo exatamente àquela época. Grande erro. A Regressão naturalmente, e geralmente, leva o paciente a épocas de sua vida de extrema importância, seja de um resultado negativo ou positivo, em termos emocionais. Por vezes dá-se exatamente o inverso, quando a psique evita o reviver de eventos recalcados, portanto escondidos. Induzir a certas épocas é, sabe-se, provocar até a fuga de situações assim, ou seja, provocar uma ação contrária ao que deveria ter sido objeto da psique. Se a Regressão, por exemplo, é aplicada com o fito direto de se dissecar um suposto caso de abdução, e esta não tenha ocorrido de fato ou se trate apenas de um enredo elaborado como anteriormente comentado, pode alimentar este último ou até gerar uma terceira história advinda da sugestão provocada pela própria finalidade.

“Volte, regrida, observe algo que tenha acontecido quando você estava com 30 anos e passava por aquela estrada” é um desses exemplos carregados de ingenuidade e força de invalidar qualquer Regressão. Não que aqui se advogue a ideia de que uma Regressão possa revelar uma abdução verdadeira, porque a técnica é tão influente que a torna inválida. Nem tampouco, importante frisar, que isto prove a inexistência de uma abdução, o que seria até de raciocínio errôneo que fere a própria dialética. Autores céticos frisam tal procedimento arriscado de vários célebres estudiosos de ufologia que, à parte de suas notáveis credenciais em áreas de saúde, deixam seu afã de demonstrar acontecimentos extraordinários superar o bom senso.

Identicamente desaconselhável é induzir o paciente a regredir, sugerindo o tempo todo que, em algum momento de seu passado algo estranho, incomum, extraordinário, acontecera. Longe de forçar a ida da pessoa a essa data ou época, tem o poder de fazer com que a mente crie, instantaneamente, o enredo almejado. Até estudiosos dos mais “clássicos”, a exemplo de Bernstein, utilizaram-se desta técnica concretamente falha. É citado por DA SILVA (1968) quando este reproduz a sequência de sugestões utilizada por ele, e vêm sendo até hoje aplicadas pelos que acreditam na efetividade da TVP – Terapia de Vidas Passadas, para o reviver de traumas acontecidos em outras vidas. A simples observação de tais palavras fala por si, dispensando maiores comentários: “[...] Daqui a pouco vou dirigir-lhe a palavra. Entrementes, sua mente voltará a tempos passados, até ver uma cena e, por mais estranho que pareça, até que você se veja em algum outro lugar, em outra época”.



CONCLUSÃO


Foi feita uma abordagem superficial do tema das falsas memórias, com a finalidade de enfatizar que a investigações, principalmente a ufológica, devem se pautar em conceitos indispensáveis, constituídos por áreas científicas. Assim, é uma contribuição a mais para a discussão a respeito da validade e eficácia da Hipnose, com o método da regressão de memória, que não são técnicas indicadas à comprovação de casos ufológicos, dentre eles os de abdução, e parapsicológicos. As falsas memórias são o fator complicador para a confiabilidade da Hipnose no resgate de alegados eventos. Quando se trata de um evento pressupostamente traumático, como uma abdução ou mesmo uma visão de um objeto tido por estranho, como um Óvni, aí então a memória se forma de maneira complexa e reconhecidamente deformada. IRIGONHÊ (2014) faz alerta desse tipo, quando se trata de investigação policial ou processo judicial: “O segundo princípio essencial de Loftus e Steblay consiste na construção da memória (memory construction). Trata-se da noção de que um evento experienciado é adquirido e codificado pela memória de forma incompleta e, posteriormente, recordado através de um processo construtivo que preenche as lacunas deixadas pela memória verdadeira com informações estranhas ao evento original”.


Como então superar tais falhas é questão que pode ser resolvida simplesmente pela eliminação da confiança excessiva em técnicas como a hipnose regressiva, com o fito de provar um caso ou mesmo de retirar da memória do protagonista detalhes dito canalizados ao esquecimento. Porque, no final das contas, restará apenas o depoimento da própria pessoa, o que por si só é fraco em termos de prova, ainda mais revestido dos vieses de confirmação dos próprios estudiosos. Além de uma sugestão singela como esta, reconhece-se, o mais indicado é ter em mente o pensamento clássico de Bertrand Russell em “Aparência e Realidade”: “Há algum conhecimento tão certo que nenhum homem razoável possa dele duvidar? Esta questão, que à primeira vista parece fácil, é na realidade uma das mais difíceis que se podem fazer. Quando tivermos compreendido as dificuldades com que se defronta uma resposta clara e segura, estaremos bem lançados no estudo da filosofia — uma vez que a filosofia é apenas a tentativa de responder a estas questões fundamentais, não descuidadamente e dogmaticamente, como fazemos na vida quotidiana e mesmo nas ciências, mas criticamente, após termos explorado tudo o que torna estas questões embaraçosas e termos compreendido toda a vagueza e confusão que subjazem às nossas ideias vulgares”.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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IRIGONHÊ, Márcia de Moura. A Falibilidade do Testemunho: Considerações sobre o Reconhecimento de Pessoas na Esfera Criminal à Luz das Falsas Memórias. TCC, Curso de Graduação em Direito. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2014. Pág. 62.


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