A Integridade da Pesquisa Ufológica

A lógica sugere que explicações que exigem pelo menos certo número de cenários hipotéticos são geralmente as mais plausíveis. Quando se elegem possiblidades, as apostas vão na direção dos modelos menos complexos e mais prováveis.

No meio ufológico, frequentemente perdemos de vista as explicações mais prováveis. Parte do motivo pode ser porque muito tempo é dedicado a imaginar o extraordinário. Tendemos a acreditar no que ouvimos mais, não importando quantas vezes o que ouvimos é corretamente concebido como suposição. É difícil manter as coisas em perspectiva quando um anúncio de 15 segundos é seguido por um podcast de uma hora de especulação. As suposições são levadas adiante, mesmo quando fornecidas através de fontes como filmes de ficção e programas de televisão.

Nós geralmente suspeitamos da existência de agendas ocultas – conspirações, se você quiser chamar assim – dentro do gênero OVNI porque pode ser difícil aceitar que pesquisadores e organizações selecionados são tão incompetentes e ingênuos quanto parecem ser. Os divulgadores dos Slides de Roswell realmente pensam que os nativos americanos mumificados foram visitantes das estrelas que caíram aqui? O Dr. Steven Greer realmente acredita que o esqueleto do Atacama é um alienígena, e ele e o Dr. Garry Nolan honestamente não entendem as implicações éticas que poderiam surgir com eles tratando disso? Robert Bigelow e uma equipe de consultores acreditam que há mérito científico em contratar “seguranças” para, alegadamente, interagir com supostos fenômenos de voz e conduzir práticas similares a ocultismo? (O último cenário foi aparentemente financiado por nossos impostos.)

Todos eles podem sinceramente fazer tão maus julgamentos? Tais questões sensatas proliferam.

(Corpo mumificado de uma criança de dois anos)

A infame placa de identificação dos Slides de Roswell

Nós devemos considerar que, de uma perspectiva de avaliação da integridade da pesquisa, respostas para as questões acima não fazem realmente muita diferença. A integridade da pesquisa é enfraquecida quando investigadores falham em respeitar e aderir a protocolos e códigos de ética universalmente reconhecidos. Não importa quais sejam suas agendas, a pesquisa deles não é confiável se eles incorporarem múltiplos cenários hipotéticos para formar seus argumentos. Nós realmente não precisamos saber o que motiva pessoalmente David Jacobs e se ele é um incompetente inconsciente, como parece ser, para identificar corretamente suas falhas éticas e a qualidade ruim resultante da sua pesquisa. Isso significa que não descobrimos nada de valor, pelo menos não sobre supostas experiências paranormais de tal material e estamos em risco de absorver e expor outros a informações incorretas. Enquanto isso, pessoas são prejudicadas e se ofendem, de forma justificada, no processo de tais exemplos como citados até agora.

Paul Carr é um engenheiro de sistemas de naves espaciais que promove vários podcasts sobre ciência. Em resposta ao pedido para comentar sobre a integridade de pesquisa, Carr respondeu que ele considera que as virtudes da pesquisa ufológica incluem paciência, humildade, integridade e ceticismo. Carr dirige o Investigações de Fenômenos Aéreos (API), um grupo de pesquisa ufológica com um histórico de compromissos com investigações baseadas em evidências e tratamento ético de testemunhas de OVNIs. Ele diz que os dois caminham juntos.

“A pesquisa ufológica lida primeiramente com memórias humanas”, Carr declarou, “e se tornou claro para nós da API que enquanto o tratamento ético das testemunhas e uma abordagem aberta, honesta e cuidadosa ao coletar e analisar dados não são a mesma coisa, os dois são membros de um corpo de práticas de pesquisa saudável. O que quer que ameace corromper um também ameaça corromper o outro. Abuso intencional dos fatos e justificações falaciosas rapidamente se transformam em abuso de pessoas inocentes. Isso não é algo que apenas acontece em organizações. É uma escolha que eles fazem.

“Não é que não cometemos erros – nós cometemos. O melhor marcador de integridade é o que você faz e como você muda depois que um erro é cometido.”

Portão de entrada do Rancho Skinwalker

Talvez Robert Bigelow e suas várias equipes reunidas através dos anos foram injustamente sobrecarregadas com teorias da conspiração. É possível que eles sejam tão ingênuos quanto parecem ser e querem que acreditemos. 

Recursos substanciais foram derramados no rancho de Utah. Alegações de criaturas extraordinárias, portais para outras dimensões e vários acontecimentos sensacionais, que em sua vasta maioria supostamente desafiam qualquer tipo de documentação significativa, se tornaram material de lendas. Talvez os pesquisadores de credencial envolvidos sinceramente não entendem os problemas inerentes em esperar que os outros aceitem suas alegações não verificadas. Talvez eles estejam verdadeiramente cegos pela crença.

A inocência catastrófica de ignorância alegada encontra grandes problemas quando questões de consentimento total surgem. Esse não foi apenas o caso do Rancho Skinwalker, onde antigos seguranças expressaram preocupações sobre seus envolvimentos aparentemente involuntários em pesquisas financiadas pelo estado, mas foi um componente chave do infame Caso Carpenter também.

Talvez John Carpenter, Robert Bigelow, John Alexander, John Schuessler e outros estavam realmente inconscientes do campo minado ético de abastecer secretamente o Instituto Nacional de Descoberta Científica de Bigelow (NIDS) com informações discutidas entre terapeutas e clientes. Dados e gravações de sessões de hipnose de alguns dos 140 arquivos de casos foram obtidos por mais ou menos 100 dólares cada. Talvez algumas das pessoas envolvidas em facilitar e encobrir as transações não pareceram analisar publicamente as circunstâncias e objeções assim como outras opções possíveis. Obviamente não, devido às suas posturas em sua maioria silenciosas e aversivas sobre a questão.

Talvez alguns deles honestamente acreditavam que o potencial de ganhos da pesquisa compensava os compromissos e as desonestidades. Talvez eles honestamente não entenderam e superestimaram o mínimo valor científico de uma coleção de relatos de hipnose induzida sobre abduções alienígenas. Tais erros são ampliados quando as partes alegam estar conduzindo estudos científicos, como era o caso.

Tais cenários, apesar de seu motivo e intenção, atingem perigosamente o limite do território de ciência maluca. Códigos de ética são feitos, em parte, para deter pesquisadores atingidos por ilusões de auto importância de sacrificar o bem estar humano durante uma pesquisa que, incorretamente, persegue descobertas históricas. Isso escapa amplamente ao gênero OVNI e particularmente no segmento a favor da hipnose. Praticamente qualquer coisa parece valer o custo de perseguir a ideia da abdução alienígena que constantemente permanece fora de alcance.

“A importância da ética na integridade da pesquisa é o que cria o terreno sob o qual seu trabalho é construído”, explicou o Dr. Christopher Cogswell, que tem um doutorado em Engenharia Química e co-apresenta um podcast popular que explora tópicos fronteiriços a partir de perspectivas sensatas. “Se o solo não é estável, então tudo o que você cria ou diz é construído sobre fundação instável, que pode facilmente ser derrubado pelo primeiro olhar crítico em seus métodos e história. Não há  problema em errar ou cometer um erro, somos todos humanos. Mas, continuar apesar da evidência de má condução, erro, ou prática não ética, torna todo o seu corpo de trabalho suspeito e visto através dessa lente.”

Pentágono

Nós poderíamos conduzir nossa linha de considerações para seu próximo passo cronológico, o Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais (AATIP) e a resultante To The Stars Academy (TTSA). Talvez profissionais da inteligência, assim como Lue Elizondo e Christopher Mellon, estejam apenas muito entusiasmados sobre a questão dos OVNIs e não entendem a natureza problemática de tentar converter filmes em provas do extraordinário. Talvez Elizondo fosse simplesmente muito inexperiente em investigação ufológica para analisar adequadamente um caso extremamente questionável que ele e o aparentemente ultra crédulo Tom DeLonge destacaram na TV a cabo. Talvez apenas haja muitas histórias de OVNIs para Elizondo conhecer, e talvez simplesmente nunca ocorreu a ele ter comprovantes seguros que poderiam responder a questões sobre seu histórico antes de ele entrar na TTSA e começar a fazer alegações sobre as quais, aparentemente, ele não estava preparado para responder adequadamente quando questionado.

Talvez pagar 35 mil dólares pelos fragmentos de Art vai se provar como algo brilhante. Talvez a coleção do grupo de supostas ligas metálicas, fragmentos de UAP, ou qualquer que seja a designação atual, vai levar a descobertas que mudarão paradigmas. E, se não, talvez tudo isso aconteceu por outras razões que nem o pessoal da TTSA pode saber.

Um problema óbvio com o AATIP é que ele é composto por Robert Bigelow e alguns de seus membros perpétuos. Isso não é necessariamente algo negativo em si, mas de uma perspectiva de integridade da pesquisa, é prudente questionar a efetividade do trabalho de investigadores que passaram décadas aparentemente mais dedicados a acreditar do que em protocolos que passaram pelo teste do tempo. Esse é o caso, de qualquer forma, se nós acreditarmos que suas indiscrições passadas, como já descritas, resultaram inteiramente de simples erros. De novo, não importa de um ponto de vista da integridade da pesquisa se eles são incompetentes ou têm outros motivos quando o resultado cronicamente não produz nada de valor científico significativo.

Como pode ter sido o caso com questões em torno da equipe de segurança em Skinwalker e os assuntos de exploração de hipnose de John Carpenter, talvez foram maus julgamentos e falta de visão que contribuíram para o acobertamento facilitado por Bigelow do financiamento do DIA para a MUFON. Talvez Bigelow, Schuessler e nenhuma das partes envolvidas perceberam a natureza problemática do financiamento da agência de inteligência para uma organização ufológica enquanto escondiam o fato do resto dos membros do governo e do público em geral.

               Alguns dos integrantes da banda da Visão Remota.

                          E NIDS. E Skinwalker. E BAASS. E AATIP. E TTSA.

Isso não é sobre as pessoas que podem possivelmente terem sido influenciadas por falsas memórias ou má identificação de uma aeronave exótica. Não estamos discutindo sobre indivíduos que experimentaram algum tipo de evento(s) que eles não entenderam e saíram à procura de respostas. Estamos falando sobre cientistas com credenciais e profissionais da inteligência que, em alguns casos, concordam com crenças irresponsavelmente não fundamentadas e metodologias de pesquisa falhas, às vezes sob a incumbência de financiamento garantido pelo governo dos Estados Unidos.

Parece mais que claro para esse escritor que, se nós dermos a todas essas pessoas o benefício da dúvida e as interpretarmos literalmente, nós deveríamos esperar examinar detalhadamente as opiniões delas e ter suas alegações de pesquisa minuciosamente verificadas antes de aceitá-las completamente. Tais investigadores, aparentemente, no melhor caso, sofrem de episódios espantosamente recorrentes de mau julgamento.

A boa notícia é que não temos que confiar em personalidades e popularidade como ferramentas para analisar pesquisas. O mérito ou falta dele deveria ser auto evidente.

O fato que sempre permanece é que algumas declarações, ainda a serem provadas, se mostraram como corretas, apesar de ainda não terem sido estabelecidas. Apenas porque o futuro pode mostrar que algo é correto, isso de forma alguma significa que você deveria, atualmente, isentá-lo de uma checagem sensata dos fatos. É assim que descobrimos o que é verdade.

É importante que saibamos a diferença entre fatos e alegações feitas por investigadores, os responsabilizemos, e nos comprometamos em respeitar padrões éticos e melhores práticas reconhecidas pela comunidade de pesquisa profissional. A integridade da pesquisa ufológica, e em último caso, o que as pessoas acreditam estar voando por aí, depende disso.

Tradução: Pamylla Oliveira
Revisão: Tunguska Legendas