sábado, 18 de julho de 2020

Entrevista com produtor do documentário Investigações de Húlvio B. Aleixo: Alto Rio das Velhas

Bernardo Simbalista Antunes, à época estudante da Universidade Federal Fluminense, produziu em 2006 um documentário de curta-metragem sobre Húlvio Aleixo. A produção conta ainda com uma entrevista histórica gravada na casa do pesquisador e inserida como extra no DVD.




Húlvio iniciou suas pesquisas em 1952 e criou o CICOANI (Centro de Investigação Civil de Objetos Aéreos Não Identificados) em 1954. Percorreu 96.000 Km em suas pesquisas e entrevistou centenas de pessoas em dezenas de cidades.

Bernardo, como você descobriu que o ufólogo Húlvio Aleixo era seu tio-avô?

Eu lembro vagamente de meus pais há muito tempo, na infância comentar sobre um parente que investigava seriamente a questão, evitando o sensacionalismo. Mais tarde eu já na faculdade em conversa com um tio meu, o assunto ufologia veio à tona. E então ele revelou que o meu tio avô, chamado Húlvio, passou muitos anos investigando casos de Minas Gerais e tinha uma teoria toda diferente sobre o fenômeno. Naquela ocasião mencionei que um documentário sobre ele seria
interessante.

A partir desta descoberta é que teve a ideia de produzir o documentário: Investigações de Húlvio B. Aleixo: Alto Rio das Velhas?

Sim, a partir daí veio a ideia mas não foi algo definitivo. Até porque fazer um documentário demanda tempo e energia, ainda mais por se tratar de outra cidade, outro estado. Como você sabe, moro no Rio. Tempos depois em uma visita a minha avó em Belo Horizonte resolvi ligar para o Húlvio, explicando a minha intenção de conhece-lo melhor para um possível documentário. Fui então a casa dele e quando ele me apresentou seu arquivo, vi que tinha algo forte. E ali decidi fazer o documentário.

Como a Universidade Federal Fluminense recebeu o projeto do documentário?

O Departamento de Cinema e Video da minha faculdade, responsável por receber os projetos dos alunos, tem uma postura bastante livre. Basta apresentar o projeto e agendar a saída de equipamentos. Pelo menos era assim na época em que estudei lá. Já quando apresentei o projeto à minha professora de documentário lembro de seu entusiasmo. Talvez porque fosse um tema incomum.

Conte-nos a experiência de levar Húlvio Aleixo a São Vicente para locações da
produção?

Essa experiência foi fundamental para a construção do filme. Hulvio tem uma ligação muito forte com o interior. A maioria dos casos que ele investigou aconteceu ali na região. Ele passou muitos anos viajando e conhecendo personagens. A cidade de São Vicente foi ideia do próprio Hulvio pois era foco importante de casos e também não era uma cidade muito distante de Belo Horizonte. Ele já estava adoentado naquela época, muito debilitado. Mesmo assim fez questão de ir. Rever um pouco o caminho que costumava fazer. Foi bonito da parte dele. E sem dúvida nenhuma enriquecedor para gente e para o filme.

Qual a sua impressão ouvindo o relato das testemunhas?

Alguns relatos são bem convincentes como a da Maria Lucia. Sua voz embargava quando ela relatava e seu coração acelerava. Alguma coisa realmente ela viu. Nós, da cidade grande temos a tendência a fazer pouco das falas dos interioranos, chamados de ingênuos muitas vezes. Mas posso dizer que são pessoas inteligentes e que não são facilmente enganáveis. Alguns relatos impressionam também pelo detalhes.

O que achou do caso de Santo Antonio do Pequenininho em que um contato de 3º grau ensejou uma interpretação religiosa?

Eu achei curioso aquela fala pois um mesmo fenômeno adquiriu diferentes
interpretações. Mas confesso que não conheço o caso a fundo para opinar melhor. 

Para você o árduo trabalho de pesquisa feito por Húlvio Aleixo durante 5 décadas teve o devido reconhecimento?

Não creio que teve. Ele acumulou um acervo realmente impressionante de casos. Fitas gravadas, e também desenhos dos objetos avistados pelas pessoas. Creio que representa um acervo de casos ufológicos, da oralidade também, muito rico de Minas Gerais. E desconheço se há algo similar em outro lugar do mundo. Merecia no mínimo fazer parte de um museu e ter o nome de Hulvio registrado, sem dúvida.

Sabemos que Húlvio era professor da PUC Minas. Como o meio acadêmico encarava suas pesquisas ufológicas?

Não posso opinar especificamente sobre isso pois foi uma questão que não
abordamos. Acho até que teria sido uma boa. Mas Húlvio relatou que durante sua trajetória muitos não o levaram a sério. Há um depoimento dele que está no extra do DVD que fala um pouco disso. Há preconceito na sociedade e creio que a academia não devia fugir disso.

No seu documentário Húlvio Aleixo afirma que os pilotos dos ufos não são da terra, mas não provém de outros planetas. A maioria dos ufólogos discorda dessa posição. Qual sua opinião?

Acho que é uma teoria bastante incomum, do que conheço da ufologia. Pelo menos nunca tinha ouvido falar antes. Eu lembro de Hulvio relatar que uma revista de ufologia publicou sua teoria mas editou esse item que para ele era o mais importante. Coloquei na integra esse item para fazer jus ao seu pensamento. Ele era uma pessoa muito culta. Lia muita filosofia, teologia, como também astronomia, ciência em geral. E creio que ele tem uma fundamentação forte disso. Para ele eram seres incorpóreos que viajavam pelo cosmos. O mais comum é pensarmos que vem de outros planetas, já que nós habitamos um. E também naquelas figuras clássicas dos filmes, humanoides verdes. Mas dá o que pensar sua teoria. Infelizmente não possuo
conhecimento para opinar mais.

Húlvio diz no documentário que os ETs tem um exército de seres incorpóreos e
infiltrados em nossa sociedade, se organizando para um ataque em massa. Para ele os seres seriam hostis e a maioria dos ufólogos pensa o contrário. O que você acha?

Nesse ponto eu tendo a concordar com Hulvio. Se pegarmos a história da humanidade que é o que a gente tem como parâmetro, um povo quando “descobre” o outro tem a tendência a entrar conflito, entrar em disputa querendo dominar o outro. Muito sangue foi derramado até que entrássemos em uma espécie de acordo. Mesmo assim até hoje isso é problemático.

Vamos imaginar que nós chegássemos em um planeta. Veríamos seres estranhos. Não saberíamos como lidar. Se eles vão nos atacar. Se são perigosos. Se transmitem doenças. A tendência é primeiro observa-los. Estudá-los. E em seguida, havendo brecha, domina-los por uma questão de segurança. No futuro esse mesmo seres se não fizermos nada podem chegar ao nosso planeta e ser catastrófico. Então ataca-se preventivamente. Além disso naquele ambiente devem tem recursos naturais que podem ser benéficos a terra. Acho extremamente provável que a humanidade, capitaneada por uma NASA da vida, pense exatamente dessa forma descrita quando descobrir um planeta habitado. Se nós somos assim por que os extra-terrestres seriam diferentes? Considerando que eles não são piores nem melhores que a gente acho que eles são hostis sim.

Como foi a recepção a sua produção? Você é mineiro e tem em mente outras
produções abordando temáticas ufológicas, como o caso varginha?

Penso que de modo geral as pessoas que assistiram foram afetadas pela figura
singular que é Hulvio B. Aleixo. Não é comum encontrar alguém que se dedique tão intensamente a uma causa. Como diz Hulvio as pessoas procuram maneirar aquilo que pensa e sente em razão da ocupação de suas vidas. E acho que isso toca sim as pessoas que assistiram. Falando mais do alcance da produção, não foi um documentário muito visto. Em parte pelas dificuldades naturais de um curta metragem. E mesmo os festivais de cinema em que inscrevi o filme, em sua grande maioria, não o selecionaram. Então a sua exibição ficou muito restrita. Sobre ser mineiro sim, nasci em Minas. Moro no Rio desde muito cedo, mas as raízes ficam. E claro que elas refletiram na minha escolha pelo documentário. Mas agora neste momento não tenho em vista nenhum documentário sobre o tema. Talvez no futuro. Me interesso por filmes de disco voadores, como os de ficção cientifica em geral. Então é possível. 

Quem quiser adquirir o DVD da produção como deve proceder?

Podem entrar em contato mandando um email para: ber.sim@gmail.com

Agradecimentos a Bernardo Simbalista Antunes

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