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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Como Um Homem Fez O Mundo Acreditar Em OVNIs

 

 


Crítica do livro de Mark O'Connell

“The Close Encounters Man” [O Homem dos Contatos Imediatos]

 

O Dr. J. Allen Hynek (1910-1986) foi astrônomo e professor de astronomia, mas hoje é mais lembrado como um especialista em OVNIs por causa de seu papel como consultor científico do Projeto Blue Book, da Força Aérea dos Estados Unidos. Ele viveu no centro da controvérsia dos OVNIs durante grande parte de sua vida profissional e parecia gostar disso. Ele escreveu vários livros sobre OVNIs e cunhou o agora onipresente termo "Contatos Imediatos". Mas quanto à alegação de que Hynek "fez o mundo acreditar em OVNIs", eu não iria tão longe.

 


 

O'Connell, um roteirista que também ensina técnicas de escrita na DePaul University em Chicago, escreveu uma biografia de Hynek com pesquisas sólidas. Com base nos próprios escritos de Hynek, seus documentos nos arquivos da Northwestern University e entrevistas com colegas e parentes ainda vivos de Hynek, O'Connell reuniu um relato impressionante e muito legível da vida e carreira de um homem incomum e fascinante, a única biografia de Hynek que conheço.

 


Li o livro com um interesse maior do que o normal, porque fui aluno de Hynek quando estive na Northwestern de 1967 a 1972 e passei a conhecê-lo muito bem. Tivemos várias discussões sobre OVNIs. Tentei convencê-lo, com base em exemplos históricos de "extraordinários delírios populares", que confiar no tipo de testemunho ocular, que ele considerava tão impressionante, já levou investigadores ao erro. Talvez o exemplo mais revelador tenha sido a tentativa de Joseph Glanvill (1636 - 1680), um empirista e membro da prestigiosa Royal Society de Londres, de documentar a realidade da bruxaria em bases puramente empíricas:

 

Temos o testemunho de milhares de testemunhas oculares e auditivas, e não apenas dos facilmente enganáveis ​​e vulgares, mas de discernidores sábios e sérios; e isso, quando nenhum interesse poderia obrigá-los a concordar igualmente em uma mentira comum. (capítulo 7 do livro de 1998, UFO Sightings)

 

Como Hynek costumava dizer, pessoas críveis relatando coisas incríveis.



 

Estive no Geraldo Rivera Special, em 1976, com Hynek e Travis Walton

Lemos sobre o início da carreira de Hynek no Observatório Yerkes e na Universidade Estadual de Ohio, cuja localização, perto da Base Aérea de Wright-Patterson, fez dela um lugar natural para o Projeto Blue Book da Força Aérea dos EUA buscar conhecimento sobre astronomia. Como muitos avistamentos do Blue Book receberam considerável publicidade, Hynek se tornou uma figura familiar na TV, explicando e comentando sobre tais avistamentos. Ao que tudo indica, Hynek gostava disso.

 

A associação de Hynek com o Projeto Blue Book continuou enquanto ele estava na Northwestern, onde basicamente montou um departamento de astronomia do nada, contratando professores e estabelecendo cursos. Karl Henize (1926-1993), astrônomo e astronauta, precedeu Hynek, mas foi chamado em 1967 para treinamento de astronauta. Henize não foi ao espaço até a missão STS-51 do Spacelab 2, no Challenger, em 1985. Henize não teve muita utilidade para as teorias sobre OVNIs de Hynek. Encontrei Henize uma ou duas vezes durante uma pausa em seu treinamento de astronauta, quando ele voltou para Evanston. O livro não menciona Henize, que morreu de insuficiência respiratória relacionada à altitude ao tentar escalar o Monte Everest aos 66 anos.

 

Hynek, por fim, fundou o que era para ser uma organização científica, o Centro de Estudos de OVNIs (CUFOS). Ao contrário de organizações ufológicas como NICAP ou MUFON, CUFOS deveria consistir em pesquisadores especialistas, que finalmente colocariam o estudo de OVNIs em bases sólidas. O CUFOS publicou vários artigos por muitos anos, mas, de alguma forma, nada mudou muito na ufologia.

 

O'Connell nos conta uma parte importante da história de Hynek, que eu acho que nunca foi publicada antes, sobre a mudança de Hynek para o Arizona e o que aconteceu lá. Hynek se aposentou da Northwestern em 1978 e passou a maior parte do tempo trabalhando no CUFOS. No verão de 1984, ele foi persuadido a se mudar para a região de Phoenix por dois empresários de mineração de ouro, Tina Choate e Brian Myers, que prometeram a Hynek o apoio financeiro de um rico empresário britânico, Geoffrey Kaye. Como era de se esperar, o negócio nunca funcionou como prometido. Kaye só se comprometeu a pagar fundos iniciais por alguns meses, dinheiro insuficiente para administrar uma organização de pesquisa ufológica, embora tenha permitido que Hynek operasse em sua "espetacular hacienda ao sol". Pior ainda, Myers e Kaye tinham sua própria agenda OVNI para promover, e incluía material sensacionalista e não científico, como a fraude de contato com OVNIs de Billy Meier. Hynek e seus apoiadores logo se desentenderam. A essa altura, a saúde de Hynek estava começando a piorar e ele faleceu em abril de 1986.



O painel de ufologia que eu moderei na Conferência CSICOP de 1984,

na Universidade de Stanford: Hynek, Sheaffer, Andrew Fraknoi, Philip J. Klass, Roger Culver

 

Cada declaração factual que O'Connell faz sobre Hynek e suas atividades está correta, até onde eu sei. Mas aqui é onde eu discordo das interpretações de O'Connell:

 

O'Connell tem muito entusiasmo pelos casos "clássicos" de OVNIs que estão amplamente desacreditados hoje. Ele começa com um relato aparentemente favorável sobre a história da "espaçonave acidentada" de Aurora, Texas, de 1897. Embora ele deixe escapar que o caso é considerado por muitos como uma farsa, por que distrair o leitor com isso? Também ouvimos relatos que parecem favoráveis ​​sobre o acidente de avião do Capitão Mantell, enquanto ele perseguia um disco voador, o filme de Newhouse, os avistamentos de radar na capital Washington, Betty e Barney Hill (ele chama o mapa Fish de "inexplicado"!), o caso do helicóptero Coyne, Pascagoula, etc., todos os grandes clássicos. Tudo isso me faz pensar que O'Connell está muito desinformado sobre o que tem acontecido na ufologia desde os dias de Hynek. Ele parece não estar ciente de quaisquer críticas céticas a qualquer um desses casos, e nem mesmo menciona o arqui-cético Philip J. Klass, que enfrentou Hynek em várias ocasiões (e que Hynek recusou resolutamente as ofertas de debate). O'Connell dá muita importância a uma suposta rivalidade entre Hynek e Carl Sagan, que honestamente é exagerada.

Hynek não teve uma "carreira brilhante, mas amplamente ignorada como astrofísico". Na verdade, Hynek às vezes era alvo de piadas entre os astrônomos, algumas das quais chegaram até mim. (Para uma imagem mais realista das relações de Hynek com seus colegas, consulte o interessante artigo de John Franch na edição de janeiro/fevereiro de 2013 da Skeptical Inquirer, "The Secret Life of J. Allen Hynek" [A Vida Secreta de J. Allen Hynek]) Hynek lecionou apenas cursos de astronomia de primeiro e segundo anos na Northwestern, para os quais era qualificado e bastante eficaz. Na verdade, quando me sentei para codificar certos cálculos para a versão inicial do meu programa de astronomia em tempo real RTGUI, trabalhei diretamente com as anotações que fiz na aula de Introdução à Astronomia de Hynek. Codifiquei os algoritmos que Hynek nos deu. No entanto, Hynek não lecionou nenhum curso de astronomia de nível de graduação, ou cursos para veteranos.

 

Uma avaliação mais sóbria de sua carreira foi feita pelo próprio Hynek em uma entrevista publicada no The New Scientist, em 17 de maio de 1973:

 

"Quando revejo a minha carreira, fiz muito pouco que era original. Parece que tive a capacidade de ver o valor de uma ideia e de reunir outras pessoas para fazer algo a respeito. Nunca lancei novas teorias; nunca fiz nenhuma descoberta notável. Acho que não sou muito inovador."

 

Hynek era ingênuo. O'Connell nos informa sobre o fascínio de Hynek pelo Rosacrucianismo, uma doutrina metafísica antiga e absurda, bem como pela mística "ciência espiritual" de Rudolf Steiner. Ambos parecem estranhamente deslocados para um pensador científico do final do século XX. Hynek também se encontrou várias vezes com Michel e Françoise Gauquelin, que tentavam alicerçar a astrologia em uma base científica. Jacques Vallée escreve em seu "Forbidden Science" (Vol. 1 p. 341): "Ontem, Hynek voltou para ver os Gauquelins e discutir astrologia e destino". No entanto, Hynek era consistente em denunciar afirmações absurdas sobre astrologia.

 

Outro indicador de credulidade foi a maneira como Hynek se lançou no negócio promocional de OVNIs no Arizona. Um homem prudente teria verificado tudo e garantido sólidos arranjos financeiros antes de aceitar o negócio e, essencialmente, se tornar uma celebridade para ser comercializada. Mas talvez o exemplo mais embaraçoso da credulidade de Hynek seja seu endosso de várias fotos de OVNIs, claramente falsas, criadas em 1974 por um menino de onze anos em um subúrbio de Chicago, com a ajuda de seu amigo de dez anos. Isso foi transmitido em um documentário da NBC-TV, "UFOs: Do You Believe?", em 15 de dezembro de 1974. As seis fotos mostram um objeto obviamente plano e bidimensional, provavelmente pintado no negativo. Infelizmente, os negativos foram "perdidos acidentalmente" pelo menino. Hynek investigou pessoalmente e não encontrou "nenhuma razão para acreditar que eles estavam trapaceando ou mentindo". Ele concluiu que o menino teve "uma verdadeira experiência OVNI". (A história completa está no capítulo 9 do meu livro de 1981, The UFO Verdict)

 

Hynek não "fez o mundo acreditar em OVNIs". Antes de haver o CUFOS, houve o NICAP, liderado durante seu apogeu pelo extravagante Major Donald E. Keyhoe, autor de "Flying Saucers from Outer Space" [Discos Voadores do Espaço Sideral] e outros livros emocionantes. Antes do NICAP, veio o contatado George Adamski (e vários outros), que recebeu grande publicidade por causa de suas afirmações de que era amigo de visitantes de outros planetas. Antes de Adamski, houve Frank Scully, cujo livro de 1950, "Behind the Flying Saucers" [Por Trás dos Discos Voadores], enganou muita gente sobre um boato da queda de um disco voador. Hynek, obviamente, desempenhou um papel em fazer com que grande parte do público levasse os OVNIs a sério, mas ele certamente não foi o único, ou mesmo o principal, atuante.

 

Mas, no final, a tentativa de Hynek de convencer seus colegas científicos de que os OVNIs representam um grande mistério acabou em fracasso. Muita atenção foi dada à carta de Hynek publicada na revista Science de 21 de outubro de 1966, "UFOs Merit Scientific Study" [Os OVNIs Merecem um Estudo Científico], na qual ele escreveu:

 

"Comecei a sentir que há uma tendência na ciência do século 20 de esquecer que haverá uma ciência do século 21 e, de fato, uma ciência do século 30, de cujo ponto de vista nosso conhecimento do universo pode parecer muito diferente do que nos parece agora. Sofremos, talvez, de provincianismo temporal, uma forma de arrogância que sempre irritou a posteridade."

 

A resposta à carta de Hynek, na revista Science, por William Markowitz, "Physics and Metaphysics of Unidentified Flying Objects" [Física e Metafísica dos Objetos Voadores Não Identificados], de 15 de setembro de 1967, apontou explicitamente alguns casos da inconsistência de Hynek em suas alegações sobre OVNIs, e concluiu:

 

"Podemos reconciliar relatos de OVNIs com controle extraterrestre atribuindo várias propriedades mágicas a seres extraterrestres. Estes incluem 'teletransporte' (o movimento instantâneo de corpos materiais entre planetas e estrelas), a criação de 'campos de força' para impulsionar espaçonaves e propulsão sem reação. O último desses permitiria que um homem se erguesse pelas botas. Qualquer pessoa é livre para aceitar essas propriedades mágicas, mas eu não aceito."

 

Markowitz não é mencionado no livro.

 

O verdadeiro problema era que Hynek acreditava firmemente que poderia determinar se uma pessoa está mentindo e se ela é confiável, simplesmente falando com ela e a olhando nos olhos. Eu o ouvi dizer isso em mais de uma ocasião. Tenho certeza de que qualquer professor de psicologia pode explicar como isso é completamente errado. Isso levou Hynek a confiar demais no valor do depoimento de uma testemunha ocular e a ignorar preocupações críticas como a Navalha de Occam.

 

No entanto, se você ignorar o entusiasmo de O'Connell por casos antigos de OVNIs, bem como alguns pequenos erros (a APRO estava sediada em Tucson, não em Phoenix; a Nova Herculis 1934 estava longe de ser brilhante o suficiente para ser vista durante o dia), eu recomendo muito sua biografia de Hynek e sua fascinante excursão pela história dos OVNIs.



 

Este balão vazio nos diz algo sobre a

tendência de Hynek à teatralidade

 

 

 

 

 

Tradução: Tunguska Legendas

 

Fonte: badufos


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

LSD, uma Prostituta e um Famoso Encontro Alienígena

  



 

Hoje, as coisas ficam muito polêmicas: Antônio Villas Boas foi um jovem brasileiro que afirmou ter feito sexo enlouquecidamente, no final de 1957, com uma garota safada de outro mundo, mas isso depois de ter sido abduzido e praticamente jogado em um OVNI. A história, entretanto, pode não ter sido tudo o que parecia ser. Na verdade, pode ter sido algo ainda mais estranho. Foi no final dos anos 70 que o pesquisador de OVNIs, Rich Reynolds, trocou correspondência com um homem chamado Bosco Nedelcovic. Ele - Nedelcovic - tinha contatos secretos com o mundo da espionagem e inteligência e passou certo tempo trabalhando na América do Sul. Nedelcovic afirmou que o incidente de Villas Boas estava longe de ser o que aparentava. Ele disse algo incrível a Rich: que Villas Boas não passou de uma cobaia inconsciente em um novo e bizarro experimento. Nedelcovic explicou: o OVNI que Villas Boas viu sobre a propriedade de sua família era, na verdade, um helicóptero. Não só isso, Villas Boas foi, supostamente, atingido por algo que alterou a mente e rapidamente o colocou em um estado alterado, depois que o piloto do helicóptero o sobrevoou a baixa altitude. Quanto à garota das estrelas, foi dito que ela era na verdade uma prostituta, uma garota contratada para levar Villas Boas ao contato mais imediato de todos. Mas, disse Nedelcovic, era tudo um ardil: um evento alucinante idealizado para forjar um incidente com OVNI.

Rich Reynolds, que se aprofundou nessa teoria intrigante, diz: "Segundo a história de Nedelcovic, depois que Villas Boas foi submetido a várias drogas, a parte da mulher foi literalmente encenada. Então, pode ter havido uma mulher real. Mas, no caso de Villas Boas, pode ter sido induzido por manipulação. Consegui ver a CIA empregando pessoas com aparência e características asiáticas. É possível que alguém criasse um cenário dessa forma". Pode ter sido exatamente isso o que aconteceu. Como sabemos disso? Leia. Isso coloca o caso Villas Boas sob uma perspectiva muito diferente - e controversa. E, além disso, faz muito sentido.

 

Foi em 31 de agosto de 1977 que o Scranton Times, com sede na Pensilvânia, publicou um artigo com uma manchete decididamente chamativa: "CIA usou prostitutas para administrar drogas". Um trecho específico da reportagem revela que, nos anos 50, a CIA "abriu casas de prostituição em São Francisco e na cidade de Nova York com o suposto objetivo de observar secretamente como clientes masculinos desavisados ​​reagiriam a doses de LSD e outras drogas que estavam sendo administradas a eles sem o seu conhecimento". A história, porém, não termina aí. O Scranton Times continuou com suas revelações: "Conforme detalhado em uma audiência de um subcomitê do Senado sobre os experimentos de drogas e alucinantes da CIA nos anos 50, um agente da CIA observava por trás de um espelho bidirecional enquanto prostitutas davam secretamente a seus clientes compostos químicos que a agência estava testando. Isso parece uma cena de sexo pervertido em um estúdio de cinema pornográfico, em vez de uma operação de espionagem séria. No entanto, nos disseram que isso aconteceu".

 



 

Uma prostituta gostosa e algo de natureza alucinógena: quando você combina esses dois componentes, não é de se admirar que Villas Boas tenha achado que tinha acertado na loteria alienígena. Outra coisa sobre a situação de Villas Boas: Nedolcovic revelou a Rich Reynolds que a equipe que conduziu o experimento estava especificamente "participando de novas formas de teste psicológico que acabariam sendo usados ​​em contextos militares". Deve-se notar que esse "teste psicológico" parece muito com o que ocorreu com Villas Boas em 1957. E, é claro, não devemos esquecer a época do incidente. Os anos 50 - mais do que quaisquer outros - foram os anos em que a CIA estava profundamente envolvida em seu programa MK-Ultra de "controle da mente". Você pode discordar, mas sugiro que, quando olhamos para a história de Villas Boas de uma forma imparcial (e sem nenhuma das besteiras de "Eu Quero Acreditar" de Fox Mulder), temos a verdade sobre o que realmente aconteceu com Antônio Villas Boas. Tudo o que precisamos fazer agora é provar isso. Isso pode não ser tão fácil, a menos que algo apareça por meio da Lei de Liberdade de Informação. Afinal, o que é mais provável: um jovem fez sexo com uma alienígena gostosa, ou Villas Boas foi alvo de um estranho experimento com drogas no auge da pesquisa de controle da mente? Eu fico com a última opção.

 

 

 

 

 

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Tradução: Tunguska Legendas

 

Fonte:

                                                              mysterious universe

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Criando Memórias Falsas

 

Criando Memórias Falsas

 


 

Elizabeth F. Loftus

 

Em 1986 Nadean Cool, uma ajudante de enfermagem em Wisconsin, procurou ajuda terapêutica de um psiquiatra para auxiliá-la a superar um evento traumático experimentado pela sua filha. Durante a terapia, o psiquiatra usou hipnose e outras técnicas sugestivas para trazer à tona recordações de abuso que Cool supostamente teria experimentado. No processo, Cool foi convencida de que tinha memórias reprimidas de ter estado em um culto satânico, de comer os bebês, de ser estuprada, de ter sexo com animais e de ser forçada a assistir o assassinato da sua amiga de oito anos. Ela chegou a acreditar que teve mais de 120 personalidades — crianças, adultos, anjos e até mesmo um pato — tudo isso porque lhe foi dito que ela havia passado por um severo abuso sexual e físico na infância. O psiquiatra também executou exorcismos nela, um dos quais durou cinco horas e incluiu o uso de água benta e gritos para Satanás deixar o seu corpo.

 

Quando Cool percebeu finalmente que aquelas falsas recordações foram implantadas, ela processou o psiquiatra por negligência profissional. Depois de cinco semanas de julgamento, o caso dela foi resolvido fora do tribunal por 2,4 milhões de dólares em março de 1997. Nadean Cool não é a única paciente a desenvolver falsas recordações como resultado de uma terapia questionável. Em 1992, no Missouri, um conselheiro de igreja ajudou Beth Rutherford a se lembrar, durante terapia, que o seu pai, um clérigo, a tinha estuprado regularmente dos sete aos catorze anos e que a sua mãe às vezes o ajudava segurando-a. Sob a direção do terapeuta, Rutherford desenvolveu recordações de seu pai engravidando-a duas vezes e forçando-a a abortar o feto ela mesma com um cabide. O pai teve que resignar do posto de clérigo quando as alegações se tornaram públicas. Mais tarde um exame médico da filha revelou, porém, que ela ainda era virgem aos 22 anos e nunca tinha estado grávida. A filha processou o terapeuta e recebeu 1 milhão de dólares de indenização em 1996.

 

Aproximadamente um ano antes, dois júris apresentaram veredictos desfavoráveis a um psiquiatra de Minnesota, o qual foi acusado de implantar falsas recordações pelos seus ex-pacientes Vynnette Hamanne e Elizabeth Carlson que submetidos à hipnose e ao amytal sódico(1), e depois de serem mal informados sobre os funcionamentos da memória, vieram a se lembrar de horroroso abuso por membros da família. Os jurados compensaram Hammane com 2.67 milhões e Carlson com 2.5 milhões de dólares pelos seus sofrimentos.

 

Em todos os quatro casos, as mulheres desenvolveram recordações sobre abuso infantil na terapia e posteriormente negaram a sua autenticidade. Como nós podemos determinar se recordações de abuso infantil são verdadeiras ou falsas? Sem corroboração, é muito difícil de diferenciar entre falsas e verdadeiras recordações. Também, nestes casos, algumas recordações eram contrárias à evidência física, como memórias explícitas e detalhadas de estupro e aborto quando o exame médico confirmava virgindade. Como é possível que pessoas adquiram falsas recordações tão elaboradas e seguras? Um número crescente de investigações demonstra que, sob circunstâncias adequadas, falsas recordações podem ser instiladas com bastante facilidade em algumas pessoas.

 

 

Minha própria pesquisa em distorção de memória remonta aos primórdios de 1970, quando iniciei os estudos do “efeito da informação incorreta”. Estes estudos mostram que, quando as pessoas que testemunham um evento são posteriormente expostas a informação nova e enganosa sobre ele, as suas recordações frequentemente se tornam distorcidas. Em um exemplo, participantes viram um acidente de automóvel simulado em um cruzamento com um sinal de Pare. Depois do ocorrido, metade dos participantes recebeu uma sugestão de que o sinal de tráfego era um sinal de passagem preferencial. Quando perguntados posteriormente que sinal de tráfego eles se lembravam de ter visto no cruzamento, os que haviam sido sugestionados tendiam a afirmar que tinham visto um sinal de passagem preferencial. Aqueles que não tinham recebido a falsa informação eram muito mais precisos na lembrança do sinal de tráfego.

 

Meus estudantes e eu administramos até agora mais de 200 experiências envolvendo mais de 20,000 indivíduos que documentam como a exposição à informação enganosa induz à distorção de memória. Nestes estudos, pessoas “recordaram” um celeiro digno de nota numa cena bucólica que não continha nenhum edifício; vidro quebrado e gravadores de fita que não estavam nas cenas que viram; um veículo branco em vez de azul na cena de um crime; e Minnie Mouse quando eles na verdade viram Mickey Mouse. Considerados em conjunto, estes estudos mostram que a informação enganosa pode mudar a memória de um indivíduo de um modo previsível e às vezes muito poderoso.

 

A informação enganosa tem o potencial de invadir nossas recordações quando falamos com outras pessoas, quando somos interrogados sugestivamente ou quando lemos ou vemos a cobertura da mídia sobre algum evento que podemos ter vivenciado nós mesmos. Depois de mais de duas décadas explorando o poder da informação enganosa, pesquisadores aprenderam muita coisa sobre as condições que fazem as pessoas suscetíveis à modificação da memória. As recordações são mais facilmente modificadas, por exemplo, quando a passagem de tempo permite o enfraquecimento da memória original.

 

Memórias infantis falsas

 

 

Uma coisa é mudar um detalhe ou dois numa memória intacta, mas outra totalmente diferente é implantar uma memória falsa de um evento que nunca aconteceu. Para estudar a memória falsa, eu e meus estudantes tivemos de achar um modo de implantar uma pseudomemória que não causasse em nossos participantes tensão emocional imprópria, tanto no processo de criá-la quanto na revelação de que eles tinham sido enganados intencionalmente. Nós quisemos ainda tentar implantar uma memória que seria pelo menos ligeiramente traumática se a experiência tivesse ocorrido de fato.

 

 

Eu e minha parceira de pesquisa, Jacqueline E. Pickrell, concordamos em tentar implantar uma memória específica de estar perdido em um shopping center ou em uma grande loja de departamentos ao redor dos cinco anos. Aqui está como fizemos isto. Nós perguntamos para nossos participantes, 24 indivíduos dos 18 aos 53 anos, para tentarem se lembrar de eventos de infância que tinham sido contados a nós por um pai, um irmão mais velho ou outro parente próximo. Nós preparamos uma brochura para cada participante contendo estórias de um parágrafo sobre três eventos que haviam acontecido de fato a ele ou a ela e um



 

 

que não havia. Nós construímos o falso evento sobre um possível passeio ao shopping usando informação provida por um parente, o qual verificou também se o participante não havia estado, de fato, perdido aos cinco anos. O enredo de “perdido no shopping” incluiu os seguintes elementos: perdido durante um período prolongado, choro, ajuda e consolo por uma mulher idosa e, finalmente, a reunião com a família.

 

Depois de ler cada história da brochura, os participantes

 

escreveram sobre o que eles se lembravam do evento. Se eles não se lembrassem dele, eram instruídos a escrever “eu não me lembro disto”. Em duas entrevistas seguidas, nós falamos aos participantes que estávamos interessados em examinar quão detalhadamente eles podiam se lembrar e comparar as recordações deles com as dos seus parentes. Os parágrafos sobre o evento não foram lidos literalmente a eles, em vez disso foram fornecidos trechos para sugerir a lembrança. Os participantes recordaram aproximadamente 49 dos 72 eventos verdadeiros (68%) logo depois da leitura inicial da brochura e também em cada uma das duas entrevistas seguidas. Depois de lerem a brochura, sete dos 24 participantes (29%) lembraram-se tanto parcialmente como totalmente do falso evento construído para eles, e nas duas entrevistas seguidas seis participantes (25%) continuaram afirmando que eles se lembravam do evento fictício. Estatisticamente, havia algumas diferenças entre as verdadeiras e as falsas recordações: participantes usaram mais palavras para descrever as verdadeiras recordações, e eles avaliaram as verdadeiras recordações como estando um pouco mais claras. Mas se um espectador fosse observar muitos de nossos participantes descreverem um evento, seria realmente difícil para ele dizer se a estória era uma recordação verdadeira ou falsa. Claro que estar perdido, por mais assustador, não é o mesmo que ser molestado. Mas o estudo de “perdido no shopping” não é sobre experiências reais de estar perdido; é sobre implantar falsas memórias de estar perdido. O modelo mostra um modo de instilar falsas recordações e dá um passo em direção ao entendimento de como isto poderia acontecer no mundo real. Além disso, o estudo fornece evidência de que as pessoas podem ser conduzidas a se lembrarem do seu passado de modos diferentes, e elas podem até mesmo ser persuadidas a se “lembrar” de eventos completos que nunca aconteceram.

 

Estudos em outros laboratórios usando um procedimento experimental semelhante produziram resultados análogos. Por exemplo, Ira Hyman, Troy H. Husband e F. James Billing da Western Washington University pediram para estudantes de faculdade que recordassem experiências de infância que haviam sido contadas pelos seus pais. Os pesquisadores disseram aos estudantes que o estudo era a respeito de como as pessoas se lembram das mesmas experiências de modo diferente. Além de eventos reais reportados pelos pais, foi dado a cada participante um evento falso, seja uma hospitalização à noite devido a uma febre alta e a uma possível infecção de ouvido, ou uma festa de aniversário com pizza e palhaço que supostamente aconteceram aos cinco anos. Os pais confirmaram que nenhum desses eventos ocorreu de verdade.

 

 

Hyman descobriu que os estudantes recordaram completa ou parcialmente 84% dos eventos verdadeiros na primeira entrevista e 88% na segunda entrevista. Nenhum dos participantes recordou o evento falso durante a primeira entrevista, mas 20% disseram na segunda entrevista que se lembravam de algo sobre o evento falso. Um participante que foi exposto à história da hospitalização de emergência mais tarde se lembrou de um médico, de uma enfermeira e de um amigo da igreja que veio visitá-lo no hospital. Em um outro estudo Hyman apresentou, junto com eventos verdadeiros, diferentes eventos falsos, como derramar acidentalmente uma tigela de ponche nos pais da noiva numa recepção de casamento ou ter que abandonar um supermercado quando o sistema de irrigação contra fogo ativou-se acidentalmente. Novamente, nenhum dos participantes recordou o falso evento durante a primeira entrevista, mas 18 % se lembraram de algo a respeito na segunda entrevista. Por exemplo, durante a primeira entrevista, um participante, quando perguntado a respeito do casamento fictício, declarou: “eu não tenho nenhuma ideia. Eu nunca ouvi isso antes”. Na segunda entrevista, o participante disse: “era um casamento ao ar livre, e eu acho que estávamos correndo e derrubamos alguma coisa como uma tigela de ponche ou algo parecido e fizemos uma grande bagunça e, é claro, fomos repreendidos por isto”.

 

Inflação da Imaginação

 

 

A descoberta de que uma sugestão externa pode conduzir à construção de falsas recordações infantis nos ajuda a entender o processo pelo qual as falsas recordações surgem. É natural querer saber se esta pesquisa é aplicável em situações reais como a de ser interrogado por um oficial da lei ou na psicoterapia. Embora uma sugestão enfática pode não acontecer habitualmente em um interrogatório policial ou na terapia, a sugestão na forma de um exercício imagético às vezes o faz. Por exemplo, quando tentando obter uma confissão, oficiais da lei podem pedir para um suspeito que imagine ter participado de um ato criminoso, e alguns profissionais de saúde mental encorajam os pacientes a imaginar eventos infantis como um modo de recuperar memórias supostamente escondidas.



 

 

Pesquisas           de psicólogos clínicos revelam que 11% deles instruem seus clientes “a deixarem a imaginação correr solta” e 22% dizem para seus clientes “darem rédea livre à imaginação”. A terapeuta Wendy Maltz, autora de um livro popular sobre abuso sexual infantil, defende que se dê a seguinte recomendação ao paciente: “Gaste tempo imaginando que você foi abusado sexualmente, sem se preocupar que a exatidão prove qualquer coisa, ou ter que fazer suas ideias terem sentido. Pergunte a si mesmo estas questões: Que hora do dia é agora? Onde você está? Em um lugar fechado ou ao ar livre? Que coisas estão acontecendo? Há uma ou mais pessoas com você?” Maltz adicionalmente recomenda que os terapeutas continuem fazendo perguntas como “Quem teria sido o

 

 

 

provável responsável? Quando você foi mais vulnerável ao abuso sexual em sua vida?”

 

 

O uso crescente de tais exercícios de imaginação conduziu a mim e a vários colegas a se perguntarem sobre as suas consequências. O que acontece quando as pessoas imaginam experiências infantis que não aconteceram? Imaginar um acontecimento na infância aumenta a convicção de que realmente aconteceu? Para explorar isto, nós projetamos um procedimento de três fases. Nós primeiro pedimos aos participantes que indicassem a probabilidade de que certos eventos aconteceram a eles durante a infância. A lista contém 40 eventos, cada um classificado numa escala variando de “definitivamente não aconteceu” a “sem dúvida aconteceu”. Duas semanas mais tarde pedimos aos participantes que imaginassem ter vivenciado alguns destes eventos. Foi pedido a diferentes indivíduos que imaginassem diferentes eventos. Algum tempo depois foi pedido aos participantes que respondessem à lista original de 40 eventos infantis novamente, indicando quão provavelmente estes eventos realmente aconteceram a eles. Considere um dos exercícios de imaginação: é dito aos participantes que imaginem brincar dentro de casa depois da escola, ouvindo então um ruído estranho do lado de fora, correndo para a janela, tropeçando, caindo, e alcançando e quebrando a janela com as suas mãos. Além disso, nós perguntamos aos participantes coisas como “No que você tropeçou? Como você se sentia?”. Em um estudo, 24% dos participantes que imaginaram a cena da janela quebrada relataram mais tarde um aumento de confiança de que o evento havia acontecido, enquanto entre aqueles aos quais não foi pedido para imaginar o incidente apenas 12% relataram um aumento na probabilidade de que havia ocorrido. Nós descobrimos este efeito da “inflação da imaginação” em cada um dos oito eventos que os participantes imaginaram a nosso pedido. Várias explicações possíveis vêm à mente. Uma óbvia é a de que o ato de imaginar simplesmente faz o evento parecer mais familiar e essa familiaridade é relacionada erroneamente às recordações de infância em vez de ser relacionada ao ato de imaginar. Tal confusão de fonte, quando uma pessoa não se lembra da fonte de informação, pode ser especialmente intensa para as distantes experiências da infância.

 

Os estudos de Lyn Giff e de Henry L. Roediger III da Universidade de Washington sobre recentes experiências, em vez de experiências infantis, conectam de forma mais direta as ações imaginadas à construção da falsa memória. Durante a sessão inicial, os pesquisadores instruíram os participantes a imaginar a ação proposta, ou apenas escutá-la, sem fazer mais nada. As ações eram simples: bata na mesa, erga o grampeador, quebre um palito, cruze seus dedos e rode seus olhos. Durante a segunda sessão, foi pedido aos participantes que imaginassem algumas das ações que eles não haviam executado anteriormente. Durante a sessão final, eles responderam perguntas sobre quais ações eles executaram de fato durante a sessão inicial. Os pesquisadores descobriram que quanto mais os participantes imaginavam uma ação não executada, mais provável era que eles se lembrassem de tê-la executado.

 

Recordações Impossíveis

 

 

É             altamente improvável que um adulto possa se recordar de lembranças incidentais verdadeiras do primeiro ano de vida, em parte porque o hipocampo, que desempenha um importante papel na criação de recordações, não amadureceu o bastante para formar e armazenar recordações duradouras que possam ser recuperadas na fase adulta.



 

 

Um procedimento para implantar “recordações impossíveis” sobre experiências que ocorrem logo após o nascimento foi desenvolvido pelo falecido Nicholas Spanos e seus colegas da Universidade de Carleton. Pessoas foram levadas a acreditar que elas tinham habilidades de exploração visual e de movimento ocular bastante coordenados provavelmente porque nasceram em hospitais que penduravam móbiles coloridos oscilantes em cima dos berços das crianças. Para confirmar se eles tiveram tal experiência,

 

metade dos participantes foi submetida à hipnose e conduzida até o dia posterior ao nascimento e então foram questionadas sobre o que se lembravam. A outra metade do grupo participou de um procedimento de “reestruturação mnemônica dirigida” que usou regressão de idade, assim como um vívido encorajamento para se recriar as experiências infantis imaginando-as. Spanos e seus colegas de trabalho descobriram que a vasta maioria dos participantes era suscetível a estes procedimentos de implante de memória. Tanto os participantes hipnóticos quanto os

 

dirigidos relataram recordações infantis. Surpreendentemente, o grupo dirigido recordou um pouco mais (95% contra 70%). Ambos os grupos se

 

lembravam do móbile colorido numa taxa relativamente alta (56% do grupo dirigido e 46% do hipnótico). Muitos participantes que não se lembravam do móbile, se recordavam de outras coisas, como médicos, enfermeiras, luzes brilhantes, berços e máscaras. Também, em ambos os grupos, daqueles que relataram recordações de infância, 49% sentiam que as recordações eram reais contra 16% que reivindicavam que elas eram apenas fantasias. Estas descobertas confirmam estudos prévios de que muitas pessoas podem ser levadas a construir falsas recordações complexas, vívidas e detalhadas por meio de um procedimento bastante simples. A hipnose claramente não é necessária.

 

Como as falsas memórias se formam

 

 

No estudo de perdido-no-shopping, a implantação da falsa memória aconteceu quando outra pessoa, normalmente um membro da família, afirmou que o incidente aconteceu. A corroboração de um evento por uma outra pessoa pode ser uma técnica poderosa para induzir a uma falsa memória. De fato, apenas afirmar ter visto uma pessoa fazendo algo errado já é o suficiente para conduzi-la a uma falsa confissão.

 

 

Este efeito foi demonstrado em um estudo de Saul M. Kassin e seus colegas da Williams College que investigaram as reações de indivíduos acusados falsamente de danificar um computador apertando a tecla errada. Os participantes inocentes inicialmente negaram a acusação, mas quando uma pessoa associada ao experimento disse que havia visto eles executarem a ação, muitos participantes assinaram uma confissão, absorveram a culpa pelo ato e continuaram a confabular detalhes que fossem consistentes com aquela convicção. Estas descobertas mostram que uma falsa evidência incriminante pode induzir as pessoas a

 

 

aceitarem a culpa por um crime que não cometeram e até mesmo a desenvolver recordações para apoiar os seus sentimentos de culpa.

 

As pesquisas estão começando a nos dar uma compreensão de como falsas recordações de experiências emocionalmente envolventes e completas são criadas em adultos. Primeiro, há uma exigência social para que os indivíduos se lembrem; por exemplo, num estudo para trazer à tona as recordações, os pesquisadores costumam exercer um pouco de pressão nos participantes. Segundo, a construção de memórias pelo processo de imaginar os eventos pode ser explicitamente encorajada quando as pessoas estão tendo dificuldades em se lembrar. E, finalmente, os indivíduos podem ser encorajados a não pensar se as suas construções são reais ou não. A elaboração de falsas recordações é mais provável de acontecer quando estes fatores externos estão presentes, seja num ambiente experimental, terapêutico, ou durante as atividades cotidianas.

 

Falsas recordações são construídas combinando-se recordações verdadeiras com o conteúdo das sugestões recebidas de outros. Durante o processo, os indivíduos podem esquecer a fonte da informação. Este é um exemplo clássico de confusão sobre a origem da informação na qual o conteúdo e a proveniência da informação estão dissociados.

 

Está claro que não é porque nós podemos implantar falsas recordações de infância em alguns indivíduos que todas as recordações que surgirem após a sugestão serão necessariamente falsas. Dizendo de outro modo, embora o trabalho experimental na criação de falsas recordações possa levantar dúvidas sobre a validade de recordações remotas, como um trauma recorrente, de nenhuma maneira os desmente. Sem corroboração, há muito pouco que possa ser feito para ajudar até mesmo o mais experiente observador a diferenciar as verdadeiras recordações daquelas que foram sugestivamente implantadas.

 

Os mecanismos precisos pelos quais esses tipos de falsas memórias são construídos aguardam por novas pesquisas. Nós ainda temos muito a aprender sobre o grau de confiança e as características das falsas memórias criadas desta maneira, e nós precisamos descobrir que tipos de indivíduos são particularmente suscetíveis a estas formas de sugestão e que tipos são resistentes.

 

Enquanto continuamos este trabalho, é importante prestar atenção à advertência contida nos dados já obtidos: profissionais de saúde mental e outros devem estar atentos sobre quão enormemente podem influenciar a lembrança de eventos e da urgente necessidade de se manter a moderação em situações nas quais a imaginação é usada como um auxílio para recuperar memórias presumivelmente perdidas.

 

Leitura Complementar

 

 

 

THE MYTH OF REPRESSED MEMORY. Elizabeth F Loftus and Katherine Ketcham. St. Martin’s Press, 1994.

 

 

THE SOCIAL PSYCHOLOGY OF FALSE CONFESSIONS: COMPLIANCE, INTER NALIZATION, AND CONFABULATION. Saul M. Kassin and Katherine L. Kiechel in Psychological Science, Vol. 7, NO. 3, pages 12S-128; May 1996.

 

IMAGINATION INFLATION: IMAGINING A CHILDHOOD EVENT INFLATES CONFIDENCE THAT IT OCCURRED. Maryanne Carry, Charles G. Manning, Elizabeth F. Loftus and Steven J. Sherman in Psychonomic Bulletin and Review, Vol. 3, NO. 2, pages 208-214; June 1996.

 

REMEMBERING OUR PAST: STUDIES IN AUTOBIOGRAPHICAL MEMORY. Edited by David C.

 

Rubin. Cambridge University Press, 1996.

 

SEARCHING FOR MEMORY: THE BRAIN, THE MIND, AND THE PAST.  Daniel L. Schacter.

 

BasicBooks, 1996.

 

 

 

A autora: Elizabeth F. Loftusé professora de psicologia e professora auxiliar de Direito na Universidade de Washington. Ela recebeu o Ph.D em psicologia da Universidade de Stanford em 1970. Sua pesquisa concentra-se em memória humana, depoimento de testemunha ocular e procedimentos de Tribunal. Loftus publicou 18 livros e mais de 250 artigos científicos e serviu como especialista ou assessora em testemunhas em centenas de julgamentos, inclusive no caso de molestamento na pré-escola McMartin(2). Seu livro Eyewitness Testimony ganhou o National Media Award da Fundação Psicológica Americana. Ela recebeu doutorados honorários da Universidade de Miami, Universidade de Leiden e da Faculdade John Jay de Justiça Criminal. Loftus foi eleita presidenta da Sociedade Psicológica Americana recentemente.

 

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Estudo Científico Propõe Hipótese Alternativa Para As Luzes De Hessdalen

 

Relatório sobre Fenômenos Aéreos

Observados Perto de Hessdalen

em 20 de Setembro de 2007:

Uma Hipótese Alternativa é Proposta

 

Christophe Spitzer Isbert e Gilles Fernandez, Ph. D.




Copyright sciencenter.no  - Bjørn Gitle Hauge - bjorn.g.hauge@hiof.no

 

 

 

Nota de direitos autorais: Este documento é produzido para fins de pesquisa privada e a distribuição não implica nenhuma licença para reproduzir. Todos os textos e/ou imagens originais foram registrados em 2014 pelos autores, e, além do "uso justo", a permissão deve ser solicitada para reprodução total ou parcial. Outras imagens permanecem como propriedade intelectual de seus criadores que, sempre que possível, são creditadas no texto.

 

 

 

 

Junho de 2014


 

Conteúdo

 

Vale de Hessdalen, Noruega.................................................................................2

Resumo.................................................................................................................3

Seção 1: Resumo das Observações.......................................................................4

Foto...................................................................................................................4

Informações Complementares.......................................................................... 5

Vídeo...................................................................................................................... 6

Seção 2: Reconstrução da Geometria do Avistamento.........................................7

Seção 3: Uma Hipótese Alternativa é Proposta...................................................19

Informações Básicas sobre Sinalizadores Infravermelhos...............................19

Comparação de Vídeo......................................................................................28

Comparação de Tempos de Queima.................................................................30

Algumas Palavras Sobre o Espectro Óptico.....................................................32

Conclusões...........................................................................................................33

Agradecimentos...................................................................................................35


Vale de Hessdalen, Noruega


                                       Wikipédia

 

                                              Google


Hessdalen é um pequeno vale na região central da Noruega. No final de 1981 a 1981 a 1984, os moradores do vale ficaram preocupados e alarmados com luzes estranhas e inexplicáveis que apareceram em muitos locais ao longo do vale. Centenas de luzes foram observadas. No auge da atividade, havia cerca de 20 relatos por semana. (Fonte: http://www.hessdalen.org/index_e.shtml).


 

 

 

  Relatório sobre Fenômenos Aéreos

Observados Perto de Hessdalen

em 20 de Setembro de 2007:

Uma Hipótese Alternativa é Proposta

 

Christophe Spitzer Isbert  e Gilles Fernandez, Ph. D.

 

 

 

Resumo

 

Este documento descreve e analisa um evento luminoso visto durante o Acampamento de Ciências de 2007 por vários observadores, na noite de 20 de setembro de  2007, às 21h58 Hora Local (CET UTC+01:00 *Verão DST CEST +02:00). Este evento foi fotografado por membros do Projeto Hessdalen/Science Camp 2007 e filmado por, provavelmente, um professor/supervisor. À luz das informações coletadas nas mídias sociais/internet que serão apresentadas aqui, vamos propor uma hipótese alternativa em oposição ao que foi apelidado de "Fenômeno de Hessdalen". Reunir e apresentar dados bastante verificáveis foi uma de nossas  tarefas  para fazer duas perguntas simples: a hipótese alternativa  corresponde aos dados apresentados neste documento? Também parece ser o mais econômico  em  relação  ao Princípio da Parcimônia? Outro grande interesse dessa hipótese reside em sua refutabilidade, mas  este  artigo  também  levanta algumas  questões/pontos interessantes e,  provavelmente,  oferece  algumas   dicas sobre  o que deve  ser  feito  em   futuras  campanhas  para  um  melhor  estudo  e  identificação  do    fenômeno,  usando  uma triagem mais rígida para ajudar a discriminar falsos positivos de  forma mais eficiente.


 

Seção 1: Resumo das Observações

 

Foto



 

 

Figura 1: Foto do Fenômeno com espectros, 20/09/2007

 

 

Horário: 21h58 LT (CET UTC+01:00 *Verão DST CEST +02:00)

Coordenadas geográficas aproximadas dos observadores: 62°49'33.49"N 11°12'49.97"L

Altitude aproximada dos observadores: 900 m

Tipo de câmera: NIKON D80 / 50mm f 2,5 / 30 seg. de exposição / 1600 ASA

Grade óptica: Desconhecida

Processamento da imagem: Software IRIS e "Visual Spec"

Crédito da foto:  Bjørn Gitle Hauge

 

 

 

Informações Complementares

 

 

- Esse Acampamento de Ciências foi um sucesso. O tempo melhorou muito durante a semana, e os grandes avistamentos aconteceram na quinta-feira à noite. Começou por volta das 21h30. A foto abaixo foi tirada às 21h58, do Monte Rognefjell em direção ao monte Finnsåhøgda, a oeste-sudoeste. O tempo de exposição é de 30 segundos. Fonte: http://www.hessdalen.org/sc-eng/2007.shtml

 

- Na imprensa (abaixo): http://www.hessdalen.org/sc-eng/2007.shtml

 

- Artigo científico sobre as observações: Análise Espectral Óptica das Luzes da Terra

 

 

Transcrição do vídeo (18:00) https://www.youtube.com/watch?v=kU9sUqEQelU

 

"Sim, esta foto espetacular foi tirada da Montanha Rogne, aproximadamente 1.000 metros de altitude, sentido oeste. O evento começou, então temos muitos clarões no vale, depois algumas luzes enormes que, de repente, apareceram e se moveram com uma velocidade muito alta, no sentido norte e sul no vale, e um acontecimento espetacular ocorreu um minuto antes das 10 da noite.

Então, apareceu uma grande luz que se moveu muito rapidamente para norte e sul, e nos permitiu essa foto impressionante que, possivelmente, é a melhor foto já tirada do Fenômeno de Hessdalen. O tempo de exposição foi de 30  segundos,  então vemos que o Fenômeno de Hessdalen muda no início para cá, e se move para baixo, depois sobe novamente. A distância aqui é de aproximadamente 10 a 15 km, a distância que coberta. A câmera tem uma enorme teleobjetiva na frente da lente, então a grade faz aparecer esse espectro óptico aqui.

O que nos surpreende sobre esse espectro é que ele é contínuo, as cores se sobrepõem aqui, e não vemos linhas ou pontos que nos dão um sinal de que é gás queimando. Isso parece um espectro óptico de um objeto sólido, porque bandas ópticas moleculares têm  linhas muito estreitas."

 

Transcrição do vídeo (37:51) https://www.youtube.com/watch?v=Vc9eWfJOqQA

 

"Não há nada assim, não é? Esse foi o dia mais importante, e essa é a melhor foto de OVNI que já tiramos, e acho que se notar todos os movimentos diferentes, ele não se move de forma direta. Esse é o espectro óptico. Esse arco-íris contém os elementos químicos contidos dentro do Fenômeno de Hessdalen, do que ele é feito. Podemos ver, analisando o espectro, se esse é um objeto sólido ou não, como um plasma ou gás. À primeira vista, não dá para ter certeza, mas parece um objeto sólido. Sim, parece um objeto sólido, como metal."

 

 
 
Vídeo



 

https://www.youtube.com/watch?v=Btptc0wyeQI

 

Não se pode dizer muito sobre o único vídeo deste evento sem especular, já que não sabemos quem e onde foi filmado, nem sabemos qual equipamento foi usado. A pessoa que está filmando o evento é, provavelmente, um supervisor/professor, já que sua voz soa de alguém mais velho e mais perto do microfone. Um breve currículo sobre o Acampamento de Ciências de 2007 pode ser encontrado aqui: http://www.hessdalen.org/sc-eng/2007.shtml

 

 

Transcrição do vídeo :

 

"Meu Deus! Merda! Alguém tire fotos. Estou filmando! Um monte de  arco-íris? Meu Deus, acabou de queimar. Alguém gravou isso? Sim, eu filmei. Ela simplesmente se dividiu em diferentes... Não sei. Você gravou? Sim, gravei."

 

 

Link do vídeo: http://www.dailymotion.com/video/x76lx9_ovni-hessdalen_tech

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Seção 2: Reconstrução da Geometria do Avistamento

 

Em uma era de acesso quase ilimitado para informar através de vários meios que não estavam disponíveis até recentemente, achamos curioso, mas não ficamos surpresos, ao perceber que este documento promove o uso da internet e do software. Alguns chamarão isso de um trabalho de ufólogo de poltrona.  Os dois coautores estão "bem" com isso. Vamos ficar um pouco "nerd" nesta seção, preservando um certo grau de precisão e rigor.

 

O método utilizado para identificar e geolocalizar aproximadamente os diferentes campos utilizados pelo Acampamento de Ciências de 2007 é muito simples.  Usamos a transparência óptica encontrada no software GIMP para obter uma combinação geométrica do terreno e das características físicas, combinando um mapa fornecido no relatório oficial do Acampamento de Ciências de 2007 com uma imagem de satélite. Esse método é aproximado por várias razões, e que não discutiremos aqui, mas como não conhecemos as coordenadas geográficas reais, foi nossa única solução.

 

Uma vez em escala, as coordenadas geográficas aproximadas podem ser recuperadas e usadas em outras reconstruções ou simulações, comparações e estimativas astronômicas.

 







Crédito: Acampamento de Ciências de 2007                        Crédito: Acampamento de Ciências de 2007 e Google  Earth


O Campo de Observação Rogne foi onde a foto e o espectro foram obtidos. Finsa  é onde outro campo de observação está localizado e uma luz de referência para calibrar os instrumentos foi instalada. Só nos concentraremos nesses dois, já que o "Fenômeno de Hessdalen" foi fotografado de Rogne sentido Finsa, na direção oeste-sudoeste, como visto no mapa. O mapa também indica a altitude aproximada dos diferentes locais, usando o sistema métrico.



 


 

Figura 2: Foto tirada do Ponto de Observação e Acampamento Rogne para dar uma melhor sensação visual do local, do entorno e da flora. Hessdalen pode ser visto no fundo do vale. O fotógrafo apontava a câmera para o sul.

Fonte: http://www.itacomm.net/ph/2007_hauge.pdf


 



 

Figura 3: Reconstituição aérea dos pontos de interesse vistos no mapa,

utilizando o mesmo método.


O método usado para geolocalizar pode ter alguns limites, uma vez que a altitude exibida no Google Earth para o Acampamento Rogne não corresponde exatamente à do mapa. Mas, como um adendo, deve-se acrescentar que não sabemos como a altitude exibida no mapa foi obtida, nem sabemos como as posições exibidas no mapa foram obtidas.

 

A altitude e as coordenadas geográficas, exibidas abaixo na imagem do Google Earth, não refletem as coordenadas reais que obtivemos, uma vez que o cursor do Google Earth não está no ícone do Acampamento Rogne. As coordenadas reais em uso para todas as reconstruções e simulações feitas aqui para o Acampamento Rogne são as seguintes:  62°49'33. 49"N / 11°12'49.97"E. (Altitude no Google Earth: 824m / Altitude no Stellarium: 900m).

 




 

Figura 4: Reconstituição pelo Google Earth


 

 


 


Figura 5: Acampamento Rogne, sentido oeste-sudoeste. O retângulo pontilhado representa o campo de visão aproximado exibido na foto.  O Acampamento Finsa e a luz de referência também são exibidas. A distância entre os dois locais é de aproximadamente 5 km.


 

 



 

 

Figura 6: Área ampliada. O método usado para sobrepor exatamente a foto e a imagem do Google Earth é o mesmo usado antes, ou seja, usando a opção de transparência e as características geométricas do terreno para ter uma combinação perfeita, colocando tudo em escala. Nenhuma outra opção foi usada. As sombras visíveis sobre os topos das montanhas são as nuvens visíveis na foto. Deve-se especificar que uma bússola melhor do que a originalmente encontrada no Google Earth foi adicionada.


Usamos Google Earth para encontrar o azimute aproximado do avistamento, mas não foi e não pudemos ser de muita ajuda para descobrir a altura angular do fenômeno. Esses dados são importantes  no que diz respeito à hipótese que apresentaremos neste documento. Um  mapa estelar & comparison é fornecido no artigo científico (abaixo) sobre este evento, mas como você verá, nenhuma correspondência foi obtida por algum motivo desconhecido:

 




 

Figura 7: Análise espectral óptica das luzes da Terra


O aplicativo Stellarium foi usado com estas configurações:

 

Data: 20 de setembro de 2007

Horário (LT):  21h58m30s

Coordenadas Geográficas:  62°49'33.49"N 11°12'49.97"E

Altitude: 900 metros

 

 




 

Figura 8:  Reconstituição no Stellarium. O retângulo na parte inferior deste mapa estelar exibe o campo de visão aproximado da foto.


Não foram utilizadas distorções para localizar o campo de visão, apenas o tamanho (escala) da foto foi modificado para criar essa imagem. A combinação não é perfeita, mas boa o suficiente para obter um azimute aproximado e a altura angular.

 




 

Figura 9: Foto + Reconstituição composta do Stellarium


Agora podemos afirmar que o evento foi fotografado a uma altura angular aproximada de +5° e o azimute aproximado está entre 247° e 257°. Ao comparar com o Google Earth com uma bússola melhor do que a originalmente fornecida no Google Earth, sabemos com certeza que essa reconstituição é válida. O aplicativo Stellarium  não só nos ajudou a encontrar a altura angular, mas também nos permitiu obter uma leitura muito mais precisa do azimute: 

 

 




 

Figura 10: Reconstituição composta do Stellarium

 

 

Muitas coisas foram ditas por várias pessoas sobre a foto e que a câmera se moveu durante o tempo de exposição de 30 segundos. Houve contato com a câmera durante a exposição, portanto o operador tremeu a câmera.


 

Yed Prior (δ Oph / δ Ophiuch) e sua imagem fantasma foram usadas como  referencial:



 


 

Delineamento da trilha oscilante causada pelo tremor:





Trilha oscilante extraída para comparação com o Fenômeno de Hessdalen:



 

 


O comprimento e a forma geral da trilha, quando comparados com o Fenômeno de Hessdalen, são facilmente verificados. Agora,  podemos afirmar que o azimuth determinado antes não representa o movimento/deslocamento real do fenômeno, mas reflete o tremor da câmera. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Seção 3: Uma Hipótese Alternativa É Proposta

 

 

Informações Básicas Sobre Sinalizadores Infravermelhos

 

Nesta seção, forneceremos informações muito básicas relacionadas aos sinalizadores de aeronaves (contramedidas infravermelhas), o que sabemos sobre eles, o que é sigiloso sobre eles e, por último, mas não menos importante, vamos analisar os arredores do Vale de Hessdalen e os vários locais das Áreas de Treinamento Militar em relação à sua posição, mas também no que diz respeito à geometria do avistamento em geral. Uma comparação do vídeo do Campo de Ciências de 2007 e um vídeo de sinalizadores de aeronaves também serão apresentados.

 

Um sinalizador (isca) é uma contramedida infravermelha aérea usada por um avião ou helicóptero para combater um míssil terra-ar infravermelho ("busca de calor") ou míssil ar-ar. As chamas normalmente possuem uma composição pirotécnica baseada em magnésio ou outro metal de queima quente, com temperatura de queima igual ou superior ao escapamento do motor. O objetivo é fazer com que o míssil guiado por infravermelho busque a assinatura de calor do  sinalizador em vez dos motores da aeronave. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Flare_(contramedida)

 

Este tipo de dispositivo também é chamado de IRCM bem como Contramedidas Infravermelhas. Basicamente, o que eles fazem é confundir o sistema de orientação infravermelha para que os mísseis percam seus alvos. Calor e deslocamento são apenas dois aspectos que tais sistemas de mísseis procurarão. Há mais, mas não há necessidade de se desenvolver mais, já que essas informações não são necessárias para validar ou refutar nossa hipótese, mas também é muito difícil de encontrar por razões estratégicas.

 

O que realmente precisa ser enfatizado é que, pelo menos nos EUA, seus tempos de queima são mantidos em segredo.

 

Fonte: http://www.globalsecurity.org/military/systems/aircraft/systems/flares.htm

 

Mas, dependendo dos produtos químicos encontrados nas chamas do sinalizador, os tempos de queima também serão afetados pela altitude (oxigênio). Uma regra geral da pesquisa documental anterior determina que a maioria dos tempos máximos de queima dos sinalizadores será de cerca de 10 segundos, como verá neste exemplo (Figura 11). Como não sabemos quais sinalizadores foram usados,  não  focaremos em um tipo/modelo específico.

 




 

Figura 11: Taxas de queima de sinalização.


 

Estimativas de áreas de treinamento militar e distâncias

 

 




 

Figura 12: Captura de tela da capa do documento que usamos para localizar áreas de treinamento militar na parte sul da Noruega. Este PDF pode ser baixado aqui: Operações Civis/Militares na Noruega AVINOR – THE COMP


O círculo vermelho representa a Estação Aérea de Ørland [I ATA: OLA, ICAO: ENOL]; em norueguês: Ørland Hovedflystasjon. Está situada na foz do Trondheimsfjord, no município de Ørland, no centro da Noruega. Ørland é operada pela Força Aérea Real Norueguesa e é uma importante base aérea não só para a Noruega, mas também para a OTAN. A estação aérea é a base de caças F-16, helicópteros de busca e salvamento Westland Sea King e um local para aeronaves E-3A Sentry AWACS. Realiza muitos exercícios da OTAN.

 

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Ørland_Main_Air_Station

 

As áreas verdes representam as Áreas de Treinamento.

 

 




 

Figura 13: Áreas de Treinamento Sul.


 

 



 

Figura 14: Ampliação do mesmo mapa.

O ponto preto representa a localização aproximada do Vale de Hessdalen.



 


Figura 15: Gráfico aeronáutico da área de interesse.

Fonte: https://www.ippc.no/ippc/index.jsp

 

 

 




 

Figura 16: Imagem de satélite da área de interesse (Google Earth)


Agora, tudo o que era necessário era sobrepor ambas as imagens para obter um mapa caseiro:




 

Figura 18:

Área Verde Escura = Área de Treinamento de preocupação.

Triângulo Verde Claro = Azimuth de observação do

"Fenômeno de Hessdalen" (247° até 257°) recuperado da foto.

 

 

Deve-se notar que as luzes observadas a partir de Rogne, na direção oeste-sudoeste e acima da linha do cume, podem ser vistas a grande distância, uma vez que não há obstáculos naturais no caminho.


Jatos de caça como o F-16AM e o BM, usados pela Força Aérea Real Norueguesa (RNoAF) normalmente voam até mais ou menos 50.000 pés (15.240 metros), ou cerca de 9 milhas em linha reta para cima. Não usaremos esta altitude, pois supomos que aconteceu durante uma missão de treinamento a uma altitude muito menor. Mas assumir 4 milhas (21.210 pés ou 6.437 metros) é uma aposta bastante segura.

 

Se assumirmos que está pelo menos 6.437 metros acima do solo, então tudo o que precisamos fazer para descobrir a que distância está, é saber o ângulo de elevação. Nós sabemos,  e é  aproximadamente 5°.

 

Altura = distância * tangente (ângulo).

 

Como sabemos a altura, então podemos calcular a distância = altura * (1/tangente (ângulo)) ou 4*(1/tangente(5)) = 45,72

 

 

 

Ângulo      1/Tangente (Ângulo)        Altura              Milhas         Km

 


 

  5                        11,43                             4                      45,72                73,57

 


 

 

 

As colunas "Milhas" e "Km" dizem o quão longe horizontalmente o avião estaria dos observadores. Isso é tudo o que precisamos em nosso caso para descobrir se este caça poderia estar na área de treinamento. A resposta a esta pergunta é visível na Figura 18.

 

Ainda temos uma combinação a uma altitude mais baixa (2,5 milhas /4 km).

 

 

 

 

Ângulo      1/Tangente (Ângulo)             Altura              Milhas           Km

 


 

 

             5                         11,43                                  2,5                     28,5              45,8

 



 

 


 

 

Figura 18: Por favor, veja tabelas anteriores.


 

Comparação de vídeo

 

Escolhemos este vídeo específico porque foi filmado por um grupo chamado Nellis Spotters, e as distâncias envolvidas são desconhecidas, mas não pequenas. Algumas informações sobre ele estão disponíveis, o que o torna mais interessante do que a maioria dos vídeos aleatórios de sinalizadores encontrados na internet. Logo quando o vídeo começa, você notará uma sequência de lançamento muito comparável ao vídeo do Fenômeno de Hessdalen.

 

Pelo que entendemos deles (ambos os vídeos), a mesma sequência é visível no vídeo dos sinalizadores, mas o caça a jato estava voando na direção oposta. Isso pode ser deduzido pela sequência de liberação e queima sendo na direção oposta.

 

 

 

 

Vídeo dos sinalizadores: http://www.youtube.com/watch?v=c5hunxT7MEU

 

 

Vídeo de Hessdalen:  http://www.dailymotion.com/video/x76lx9


Para mostrar o que acabamos de explicar acima, extraímos quadros de ambos os vídeos para mostrar o que consideramos ser a sequência cronológica (de cima para baixo) de lançamento para ambos os vídeos:



 


 

Figura 19: Comparação entre quadros extraídos do vídeo de Hessdalen

e o vídeo dos sinalizadores.


 

Comparação de Tempos de Queima

 

Apenas dois tempos de queima puderam ser extraídos do Vídeo de Hessdalen. O grupo de luzes vistas no final dele dura 9,6 segundos. Apresentaremos tempos de gravação do Vídeo de Sinalizadores mencionado anteriormente e os compararemos com os do Vídeo de Hessdalen.

 

 

 

Vídeo de Hessdalen                                                  Sinalizadores - EUA

 

0:00:06.80:00:12.2=  5.4s                                              0:00:05.0 0:00:11.5 =  6.5s

0:00:08.90:00:15.2=  6.3s                                              0:00:32.7 0:00:38.5 =  5.8s

0:00:34.40:00:40.3=  5.9s

0:00:36.40:00:42.5=  6.1s

0:00:38.50:00:44.8=  6.3s

 

 

 

Não temos nenhuma indicação neste vídeo de que qualquer uma das luzes gravadas em Hessdalen durou menos do que 5,4 segundos ou 6,3 segundos, já que a câmera de vídeo estava fora de foco ou algumas luzes apareceram antes de serem filmadas e outras foram liberadas em uma sequência, portanto, impossibilitando a estimativa de sua duração individual. Mas sabemos que a última sequência durou 9,6 segundos no total. Os sinalizadores gravados neste vídeo exibem diferentes tempos de queima. O mesmo pode ser dito sobre as luzes de Hessdalen gravadas em 2007. Também podemos notar que ambos os grupos exibem durações quase semelhantes. Como nota à parte, mesmo que não seja crucial para a compreensão de nossa hipótese, deve-se notar que outro evento luminoso (seguindo a figura) foi registrado às 21h56 LT (CET UTC+01:00 *Verão DST CEST +02:00) dois minutos antes do evento "principal" e em um setor angular bastante semelhante (azimute e altura angular). Isso sugere que os sinalizadores podem ter sido visíveis antes das 21h58 LT.


 

 



 

Figura 20: Copyright sciencenter.no - Bjørn Gitle Hauge - bjorn.g.hauge@hiof.no


 

Algumas Palavras sobre o Espectro Óptico

 

Este documento não discutirá este assunto específico. O que poderia ser dito em relação à hipótese alternativa é que, se o espectro tivesse sido de maior resolução, poderia ter sido extremamente útil para identificar linhas espectrais produzidas por sinalizadores a fim de validar cientificamente essa hipótese. Para uma revisão técnica do tema específico e recomendações gerais sobre campanhas de observação passadas e futuras em Hessdalen ou em outros lugares, siga este link: Investigação Científica sobre Fenômenos Luminosos Atmosféricos Anômalos: Lacunas de Pesquisas Anteriores e Novos Objetivos Metodológicos, de Massimo Teodorani, Ph.D.

 

 


 

Conclusões

 

Algumas instituições internacionais de pesquisa estão preocupadas com o que os leigos podem chamar de OVNIs e alguns cientistas podem definir como UAPs. O Projeto HESSDALEN é um deles. Neste caso específico e localização, o termo HP, sendo "Fenômeno de Hessdalen", substitui o termo UAP.

 

Independentemente desse fato, ambos assumem um valor científico e instrumental da investigação, a fim de não apenas detectar falsos positivos,  mas selecionar e estudar aqueles de interesse.

 

Nosso principal objetivo neste documento era mostrar que leigos, usando software livre e localizados a alguns milhares de quilômetros de distância, poderiam propor uma hipótese alternativa baseada no que consideraríamos ser um cenário de caso (sinalizadores) de  interesse.

 

Essa hipótese poderia ser refutada se os contatos adequados com a RNoAF  pudessem ser organizados para verificar se a área de treinamento estava  em uso.

Espero que a RnoAF colabore para este caso e, no futuro, quando necessário, também com o Projeto Hessdalen, se já não for o caso.

 

Uma vez que sabemos que o Vale de Hessdalen está parcialmente cercado por espaços aéreos de treinamento militar, novas verificações devem ser feitas com observações anteriores e os dados subsequentes que foram obtidos deles.

 

Como conclusão pessoal, eu diria que separar artefatos e falsos positivos de possíveis eventos físicos não é apenas uma das etapas do processo de análise, mas também uma prioridade máxima. A hipótese dos sinalizadores era, e talvez ainda seja, uma hipótese simples para testar e validar, ou descartar, dependendo do tipo e valor das informações dadas pela RnoAF.

 

Vou deixar as últimas palavras com meu coautor Gilles Fernandez.

 

Um olhar atento aos vídeos e fotos publicados como evidência, desde os anos 80, quando o Fenômeno de Hessdalen começou a ser investigado de forma científica ou para-científica, mostra uma ampla gama de características e propriedades: o "fenômeno" parece variar de um avistamento para outro, de um vídeo para outro, de uma foto para outra. Eles consistem em luzes de muitas formas e cores, relatadas tanto no céu quanto perto do chão, movimentos muitas vezes erráticos, assim como ocasionais, e longas ou curtas durações (M. Teodorani, em Journal of Scientific Exploration, Vol. 18, Nº2, pp. 217-251, 2004). Alguns avistamentos, fotos e vídeos foram convencionalmente comprovados aqui ou ali. Para outros, bons candidatos (mundanos) e pistas foram propostos. Com base nisso, uma pergunta se justifica: esse"fenômeno" deve ser sociopsicológico, totalmente ou em grande parte, e um amálgama de estímulos prosaicos e interpretações (legítimas) erradas, agrupadas incorretamente sob um corpo anomalístico chamado "Fenômeno de Hessdalen" e auto-reforçado, consciente ou não, por um pequeno grupo? Não posso responder a esta pergunta, nem é o que se pretendia neste documento.

 

A dinâmica de pequenos grupos da psicologia social funcionaria esquematicamente aqui assim: o peso do mito poderia levar alguns indivíduos cheios de expectativas sinceras a se iludirem a acreditar que há um fenômeno físico naquele local.

 

Existem muitos estímulos mundanos, especialmente à noite, que terão características legitimamente incomuns para esses observadores imersos em um ambiente ou cultura local de UAPs, e esperando observar ou gravar algo incomum. Pesquisadores in situ, convidados, estudantes, "Hessdalen Safari", locais, etc, veem esses eventos, então suas observações são adicionadas ao corpo, apesar de serem ou podem ser alarmes falsos. O fenômeno poderia ser psicossocial,  totalmente ou em parte, e se alimentaria por retroação. Se essas variáveis sociopsicológicas foram negligenciadas e potencialmente estão em jogo aqui, seríamos justificados em recomendar a participação e a integração de outros cientistas para fornecer verificações e contrapontos.

 

A investigação do fenômeno deve incluir cientistas especializados em ciências cognitivas, humanas, sociais e, também, em ciências forenses (especialmente fotografia) na equipe de Hessdalen dedicada ao estudo desse "fenômeno", a fim de examinar, suprimir, validar ou minimizar a contaminação sociopsicológica.


Agradecimentos

 

 

Nossos mais calorosos agradecimentos a Kenneth Adler, Harry Sevi e Massimo  Teodorani por seus conselhos e sugestões, assim como para Curt C. e "J.P.".

 

 

 

 

 

 

 

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Tradução PT-BR: Tunguska Legendas