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terça-feira, 17 de maio de 2022

Travis Walton, histórico do caso e novas polêmicas

 





 

Autor do texto: Leonardo Vaz Rodrigues

Desdobramentos recentes movimentaram a comunidade ufológica trazendo novamente à tona um dos casos mais icônicos da ufologia mundial, a suposta abdução de Travis Walton no ano de 1975.

A polêmica teve início com uma postagem de rede social realizada no dia 19/03/2021 por uma das principais testemunhas do caso, Mike Rogers, gerando altas suspeitas em desfavor da credibilidade da abdução.

De acordo com Robert Sheaffer, referida postagem (excluída posteriormente) continha o seguinte texto“Eu, Michael H. Rogers, de mente sã e racional, venho por meio deste notificar que não devo mais ser considerado uma testemunha da suposta abdução de Travis C. Walton em 5 de novembro de 1975”. Em resposta a vários questionamentos, houve, ainda, outros comentários feitos por Rogers: “O evento definitivamente aconteceu, de nossa perspectiva, de qualquer maneira. (…) Não estou dizendo que não aconteceu. (…) Todos nós, testemunhas, fizemos testes de polígrafo, lembre-se. Tudo o que eu disse foi ‘suposta’, como em ‘talvez tenha sido’. Tudo o que quero dizer com ‘suposta’ é que talvez não passe de ‘conversa fiada’. (…) Esperei muito tempo para dizer isso… Estou muito cansado de não colocar isso para fora. (…) Travis tentou manter em segredo de mim um novo remake do filme. Ele sempre escondeu seus segredos de mim. Isso me irritou. (…) Não acredito que Travis seja uma pessoa honesta e, portanto, não quero ter nenhuma relação com ele.”. Ainda segundo Sheaffer, em 20 de março, em troca de mensagens com Walton, Rogers ameaça ser “mais verdadeiro” e o chama de grande mentiroso.

Nos dias que se seguiram, apesar de Rogers ter anunciado tratativas de reconciliação com Travis, tudo indica a ocorrência de novas desavenças que perduram até o momento presente.

Travis Walton em foto recente (fonte: facebook)

 

Porém, a notícia mais estonteante viria no final de Abril, quando o pesquisador Ryan Gordon liberou uma entrevista em áudio, onde Rogers teria confessado a farsa. Segue uma parte da transcrição:

ROGERS: Tudo o que consigo me lembrar é que… estávamos conversando na floresta um dia, Travis e eu, e lembro de deixar uma motosserra em cima de um tronco, certo? Ele tinha uma motosserra, mas a levou com ele, porque falávamos sobre criar uma fraude com OVNI, certo?

GORDON: Sim.

ROGERS: Não sei como o OVNI chegou lá, está bem? Mas recordo que… quando eu dirigia a caminhonete e ele pulou para fora, isso foi tudo deliberado, foi tudo encenado, ok? E ele saiu correndo… e havia algo… havia algo sobre o OVNI não ser real, embora parecesse real…

GORDON: O que você está dizendo é que você e Travis, juntos, forjaram isso?

ROGERS: Sim. Quero dizer, o irmão de Travis, Duane, o ajudou.

A entrevista encontra-se em https://www.youtube.com/watch?v=vRZkesKrElc

Após a repercussão do áudio, Rogers repudiou a suposta confissão a Gordon em sua rede social, sugerindo alguma espécie de manipulação digital e, nos meses subsequentes, continuou postando regularmente fotos e comentários sobre o caso, enquanto alguns ufólogos saíam em defesa da abdução, especulando sobre uma possível perturbação mental de Rogers.

Em entrevista recente com o pesquisador Kevin Randle, Rogers alega novamente uma manipulação por parte de Gordon: http://kevinrandle.blogspot.com/2021/09/x-zone-broadcast-network-mike-rogers.html?m=1

Mike Rogers atualmente (fonte: facebook)

 

A partir disso, uma nova e complexa teoria sobre o engendramento da farsa foi concebida, apontando que o OVNI se tratava de uma Torre de vigilância e que o verdadeiro local da abdução foi incorretamente informado para os pesquisadores. Os detalhes dessa versão podem ser encontrados aqui: https://canaljoaomarcelo.blogspot.com/2021/08/o-caso-travis-walton-fogo-no-ceu.html?m=1

Veremos mais adiante que, anteriormente a essa controvérsia, em uma entrevista realizada em janeiro deste ano (2021), Walton já havia incluído outros detalhes inéditos e significativos ao caso que, dependendo do ponto de vista adotado, podem ser acrescentados ao grande rol de pontos favoráveis ou desfavoráveis da história.

RELEMBRANDO O CASO

Travis Walton fazia parte de uma equipe de sete lenhadores, chefiada por Mike Rogers, que trabalhava na poda de árvores da Floresta Nacional Apache-Sitgreaves, numa região chamada Turkey Springs, no estado do Arizona. Segundo a obra “Fogo no Céu”, do próprio Walton, o evento ufológico ocorreu no crepúsculo do dia 05 de Novembro de 1975, nos seguintes termos:

Após o encerramento de mais um dia de expediente por volta das 18h10, os homens entraram na caminhonete para retornar à cidade de Snowflake onde residiam. Mike Rogers no volante, um colega ao seu lado, Travis no assento do passageiro junto à porta direita e, no banco de trás, os demais quatro integrantes da equipe. No caminho de casa, ainda na floresta, o grupo avistou uma luz amarelada irradiando por entre a copa das árvores há uns 100 metros adiante do veículo. Instigados pela curiosidade, subiram o morro no sentido da luminosidade e, numa clareira, avistaram um objeto metálico em formato de disco a menos de 30 metros de distância que pairava silenciosamente a 5 metros do chão.

A leve iluminação da nave clareava o ambiente suavemente com um brilho fosco, as delimitações do objeto eram visivelmente definidas, com um diâmetro estimado de cinco a sete metros e com dois metros e meio a três de espessura. O disco não fazia movimentos e permanecia silencioso, lembrava a junção de duas assadeiras de torta, colocadas uma de frente para a outra, com uma cúpula acima e linhas prateadas mais escuras que dividiam a parte luminosa, não havendo antenas, janelas nem outros detalhes significativos.

Em meio a perplexidade de todos, Walton é tomado pelo impulso de sair da caminhonete e de se aproximar ainda mais da nave, apesar dos gritos de protestos de seus colegas para não o fazer. Ao chegar a dois metros do ponto central do objeto, já envolto daquela iluminação dourada, ele notou “uma estranha mistura de sons mecânicos, graves e agudos. Havia um bip intermitente, alto e penetrante recoberto por um ronco baixo de máquina pesada.”

Após um vislumbre do objeto, este subitamente começou a vibrar e a balançar em seu próprio eixo, aumentando seus ruídos. Surpreendido, Travis procura se proteger encolhendo-se atrás de troncos e, em seguida, se levanta novamente numa tentativa de se afastar do local. Nesse momento, é atingido por um raio azul-esverdeado emitido pela parte inferior do objeto, sentindo-se golpeado na cabeça e no peito como se tivesse sido eletrocutado, perdendo a consciência instantaneamente.

Ato contínuo, nas palavras de Walton, “Os homens no carro viram meu corpo arcar-se para trás, meus braços e pernas esticados, enquanto a força do golpe erguia-me no ar. Fui içado de costas três metros para cima. Eles viram meu ombro direito atingir o chão pedregoso da área. Meu corpo aterrissou suavemente e permaneceu imóvel, estirado no chão.”

Num acesso de pavor, seus colegas impetuosamente partiram em retirada abandonando Travis a sua própria sorte. Momentos depois, tranquilizados em perceber que o objeto não os seguia, retomaram certo discernimento, decidindo voltar em socorro do colega. Porém, o corpo de Travis não jazia mais naquele local, malgrado a busca realizada no perímetro da clareira.  

Conversando sobre como deveriam proceder diante do desaparecimento de Travis, eles decidiram comunicar a polícia da localidade, ainda que fossem alvo de uma quase certa desconfiança. O telefonema foi feito às 19h35 e as autoridades que atenderam a ocorrência resolveram retornar ao local do desaparecimento para uma nova busca naquela mesma noite.

Novamente a busca restou infrutífera, história que se repetiria pelos próximos 4 dias até 09 de novembro.

Foram mobilizadas equipes de apoio que contavam com o auxílio de um alto contingente de homens, chegando a um montante de cinquenta pessoas, incluindo o pessoal de busca e resgate do Condado, o Serviço Florestal dos Estados Unidos, a polícia local e alguns civis. Houve, igualmente, uso de veículos apropriados para percorrerem aquele tipo de terreno irregular, homens a cavalo e até mesmo helicópteros e aviões sobrevoando a região na esperança de que a vista aérea facilitasse a localização de Walton.

Nesse ínterim, o grupo de lenhadores estava sob uma forte suspeita de homicídio, considerando que era muito mais natural pensar que o sumiço de Walton vinculado com a história do UFO era, na realidade, uma fachada para a ocultação de seu assassinato.

Querendo tirar o peso de tal acusação, eles comentaram que estariam dispostos a, inclusive, passar pelo detector de mentiras para provarem sua inocência. Sugestão que logo foi acatada pelo delegado Marlin Gillespie, uma das figuras centrais do caso. Então, no dia 10 de Novembro, os seis lenhadores se dirigiram para o fórum da cidade vizinha onde efetuaram o teste do polígrafo que durou cerca de 13 horas.

 Ao final, o resultado preliminar surpreendeu até mesmo o examinador, Cy Gilson, que, perplexo, notou que cinco dos homens haviam passado com êxito pelo teste, sendo que apenas uma das avaliações teve um desfecho inconclusivo pois, por desconfiança e nervosismo, um dos examinados (Allen Dalis) interrompeu o procedimento precocemente, abandonando o teste em seguida. Dias depois, Gilson oficialmente reportaria: ”Esses exames de polígrafo provam que esses cinco homens viram algum objeto que eles acreditam ser um UFO e que Travis Walton não foi ferido ou assassinado por nenhum desses homens, naquela quarta-feira (05/11/75). Se um UFO real não existia e o UFO é uma farsa humana, cinco destes homens não tinham conhecimento prévio da farsa. Tal determinação não pode ser feita do sexto homem, cujos resultados foram inconclusivos.”

A equipe de lenhadores (fonte: https://www.ovnihoje.com/)

 

Contudo o fato mais inesperado ainda aconteceria por volta da meia noite daquele mesmo dia, após cinco dias e seis horas desaparecido, Travis Walton recobra a consciência vendo-se deitado de bruços em um acostamento de uma estrada próxima a cidade de Heber, a aproximadamente 16 quilômetros do sítio da abdução. Acordado pelo ar frio, ele se deparou com um UFO de 12 a 13 metros de diâmetro a 10 metros de distância que logo subiu aos céus em alta velocidade.

Sentindo-se fraco, consegue chegar até uma cabine telefônica de um posto de gasolina em Heber, ligando para seu cunhado que logo foi buscá-lo junto ao seu irmão, Duane Walton.

Travis imaginou que, desde o avistamento do UFO na floresta até aquele momento, havia transcorrido apenas umas duas horas e se surpreendeu quando seu irmão noticiou seu desaparecimento de quase uma semana. Em sua memória, no intervalo entre ter sido golpeado pelo UFO e o despertar na estrada, restava somente a lembrança de uma experiência de poucas horas a bordo da nave.

O relato dessa vivência no interior do UFO veio a público pela primeira vez no dia 22 de Novembro, em uma entrevista concedida junto à emissora Kool de Phoenix. Walton aduziu que, quando recobrou a consciência depois de ser atingido pelo raio, deu-se conta de estar deitado sobre uma espécie de mesa, de frente para uma luz que incidia do teto. Sentindo uma dor indescritível, chegou a pensar que estivesse em um hospital, percebendo um aparelho sob seu peito. Notou dois homens inclinados sobre ele, mas não eram humanos, tinham feições subdesenvolvidas, estatura mais baixa, sem qualquer tipo de pelos e vestiam um macacão laranja amarronzado. Assustado, começou a se debater chegando a empurrar com facilidade um deles sobre o outro com o antebraço. Nesse momento pôde ver que havia mais um ser à esquerda.

O ambiente era quente e a respiração dificultosa. Recostou-se num dos cantos do local, onde havia uma estrutura parecida com uma bancada, ali se encontravam alguns objetos. Agarrou um deles para uma tentativa de defesa, algo semelhante a um tubo de vidro transparente. Logo após, os seres saíram rapidamente por uma abertura que dava para um corredor estreito, curvo e pouco iluminado.

Reconstituição artística dos pequenos seres (fonte: https://www.megacurioso.com.br/)

 

Walton permaneceu naquela sala por alguns minutos com medo de que eles retornassem. A seguir resolveu se dirigir para esse mesmo corredor, porém tomando o sentido inverso dos seres. Chegou em outra sala que contava apenas com uma cadeira desocupada em seu centro. Neste local pode perceber que, apesar de haver paredes, ao mesmo tempo conseguia visualizar as estrelas. Sentou-se na cadeira, que possuía controles e botões, porém teve receio em tocá-los (em seu livro, porém, relata que os tocou de fato). Nesse instante verificou a presença de alguém na entrada da sala, era um ser de fisionomia bem diversa daqueles primeiros. Possuía notáveis semelhanças com nós humanos, exceto que usava um tipo de capacete transparente.

Ainda bem desorientado, Walton busca articular algumas perguntas para o ser que, sem responder, o toma pelo braço e se dirige para fora daquele ambiente. Após cruzarem a porta do que identificou como uma câmara pressurizada, descem por uma rampa chegando a um ambiente externo maior, porém ainda fechado. Nesse lugar mais parecido com um grande hangar, visualiza mais duas naves menores de formato oval.

Ao fim, é conduzido a uma cadeira em outro aposento com a presença de mais três pessoas semelhantes a esse último ser. Elas posicionam no rosto de Walton algo análogo a uma máscara de oxigênio que, prontamente, o faz perder a consciência. Quando novamente desperta, encontra-se deitado no pavimento da estrada.


Arte por Mike Rogers (fonte: facebook)

 

Basicamente esses são os pontos principais do caso de abdução que muitos pesquisadores consideram como o mais expressivo e inconteste da história da ufologia.

O fato de o incidente contar com seis testemunhas diretas que corroboravam o avistamento do UFO, seria suficiente para aumentar enormemente sua credibilidade. Outro elemento que alegadamente pesava em favor do caso, era de que praticamente todos os envolvidos haviam passado em testes de polígrafos, negando a versão de que se tratava de um embuste e reafirmando a realidade do avistamento ufológico. Ademais, nomes consagrados da pesquisa ufológica como Allen Hynek e Jacques Vallée se manifestaram favoravelmente em apoio à história de Walton.

Contudo, como veremos adiante, contrariamente ao que normalmente se supõe, havia também muitas manifestações contrárias à validade do caso. Grandes organizações ufológicas como Nicap e Mufon chegaram a publicar pareceres negativos apontando possíveis fraudes no incidente.

Antes de adentrarmos propriamente nas controvérsias que envolvem o caso, seria prudente tentarmos compreender mais a fundo o contexto que circunda toda a história.

CONTEXTO E DETALHES DO CASO

Segundo consta no livro Fogo no Céu, Travis Walton, na época com 22 anos de idade, era morador da cidade de Snowflake no Estado do Arizona. Rodeada por montanhas, tratava-se de uma cidade pequena com pouco mais de 2.500 pessoas.

Mike Rogers, 28 anos, era considerado seu melhor amigo desde os tempos de colégio, muito tempo antes da suposta abdução. Ambos gostavam de frequentar aulas de artes marciais e já haviam trabalhado juntos em outros contratos de corte de árvores semelhantes ao de Turkey Springs.

Rogers era um lenhador com certa experiência no ramo, já participava de licitações junto ao serviço florestal desde seus 19 anos. Suas equipes de trabalho sempre contavam com uma rotatividade de pessoas, ainda que, eventualmente, alguns membros fossem mantidos por períodos maiores.

Para o contrato de Turkey Springs, Rogers contou com o seguinte time de homens: Kenneth (Ken) Perterson, 25 anos, um amigo de muitos anos. Allen Dalis, 21 anos, membro remanescente de outros contratos. John Goulette, 21 anos, que igualmente já havia trabalhado para Rogers em outras ocasiões. Dwayne Smith, 21 anos, apresentado para a equipe por Goulette, era o mais inexperiente no ramo. E Steve Pierce, de 17 anos, que estava com o grupo há poucas semanas.

Seus testemunhos foram registrados pelo National Enquirer de 16/12/1975:

Dwayne Smith “Era uma espaçonave, não há dúvidas, e Travis foi em direção a ela. Ele saiu da caminhonete, caminhou até lá e desapareceu.”

Ken Peterson “Eu vi uma luz azulada vir da máquina e Travis voou, como se tivesse tocado um fio quente.”

Allen Dalis “Aquilo soltou um raio azul e a última coisa que vimos de Travis foi sua silhueta delineada, braços estendidos. Não podíamos acreditar no que estava acontecendo, o horrou era inacreditável.”

John Goulette “Eu sei o que vi e não era nada dessa Terra.

Steve Pierce “Eu estava com medo assim como os outros quando vimos o UFO. Pairava, balançando ligeiramente a 22 metros (25 jardas) de nós e emitiu aquela luz amarelada.”

Mike Rogers “Estávamos todos assustados! Não conseguimos pensar em nenhuma outra explicação, exceto que Travis tinha sido levado pelo disco.”

    Travis e Mike Rogers (fonte: facebook)

 

Outra figura não menos essencial do caso foi Duane Walton, o irmão mais velho de Travis. Ele foi responsável por poupá-lo do assédio insistente dos repórteres, após seu reaparecimento. Inicialmente, escondendo o irmão até mesmo do delegado Marlin Gillespie que já suspeitava de seu retorno devido ao informe da telefonista que atendeu a ligação da madrugada do dia 10. Vale lembrar que, desde a notícia do desaparecimento, Snowflake recebeu uma quantidade imensa de jornalistas de todas as partes do mundo.

Nesse primeiro momento, Duane entrou em contato com o ufólogo William Spaulding, do grupo ufológico Ground Saucer Watch (GSW), pois já haviam conversado anteriormente naqueles dias que foram realizadas buscas na floresta. Na oportunidade, Spaulding o orientou, caso Travis retornasse, para que, entre outras coisas, separasse suas roupas, bem como recolhesse a urina em apartado para um eventual exame laboratorial futuro.

Agora Duane o procurava para novas orientações, sobretudo para um encaminhamento médico. Spaulding os aconselhou a se dirigirem ao consultório do doutor Lester Steward, também ligado ao GSW, em Phoenix, para a realização dos referidos exames. Porém, diante da alta suspeita dos irmãos em relação às credenciais médicas de Steward, decidiram rejeitar as propostas de Spaulding, aceitando, por sua vez, a ajuda da Aerial Phenomena Research Organization (APRO) de Jim e Coral Lorenzen que prosseguiu com as investigações do caso. A APRO também contou com o apoio financeiro do jornal National Enquirer para o rateio de algumas despesas, em troca da divulgação exclusiva da história.

Segundo Walton, essa preterição fez com que Spaulding começasse a repudiar o caso publicamente como uma farsa, em oposição à recepção favorável anteriormente assumida.

Coral Lorenzen entrou em contato com dois médicos da organização para realizarem os exames físicos, Doutores Joseph Saults e Howard Kandell. E, posteriormente, apresentou o Dr. James Harder, professor de engenharia da Universidade da California, que faria uma sessão de hipnose regressiva em Walton no dia 15 de Novembro presenciada por várias pessoas da equipe da APRO e do National Enquirer, incluindo outros médicos além dos já citados, como os psiquiatras Jean Rosenbaum e Warren Gorman.

PRINCIPAIS ACUSAÇÕES E O CONTRADITÓRIO DE WALTON

Como foi dito, a legitimidade do caso estava longe de ser uma unanimidade, Walton sofria duras acusações de perpetração de fraude, principalmente do pesquisador cético Philip Klass. Nessa perspectiva, um dos pontos mais chamativos do livro de Walton é justamente seu caráter contra argumentativo em relação aos seus detratores. Ao citado Klass, por exemplo, Walton dedica um capítulo inteiro (organizado no livro como anexo) que conta com mais de 100 páginas.


Philip Klass (fonte: wikipedia)

O próprio Travis admite que na primeira edição do livro lançada em 1978 com o título “The Walton Experience” houve uma grande omissão em relação a isso, o que foi corrigido nesta segunda edição de 1996. Explica também que resolveu expor publicamente sua história com livros e participações em eventos justamente para esclarecer o que de fato teria lhe ocorrido, sem correr o risco de distorcerem sua história, o que ocasionalmente era feito pela mídia na época.

Portanto, a seguir elencaremos as principais acusações de Philip Klass, que simbolicamente representará todos os opositores do caso e, na sequência, buscaremos as respostas de Walton para cada um dos itens imputados. Ao fim, faremos uma breve análise das alegações com o propósito de chegarmos a uma síntese, se possível:

1ª acusação: Ausência de evidências físicas na localidade e falta de hematomas no corpo de Walton.

Klass questiona a alegação de que Travis tenha sido arremessado a três metros de distância após ser golpeado por uma força explosiva oriunda do UFO, pois, se tal fato realmente tivesse ocorrido, certamente restariam resquícios de sangue em suas roupas, assim como eventuais lesões nas partes do corpo que foram atingidas. Walton apenas relata um ponto avermelhado na região de seu cotovelo, o qual não tinha ideia de como havia surgido. O local onde o UFO pairava também não apresentava nenhum sinal de calor intenso nem outra prova física de qualquer natureza.

Resposta de Walton: Travis aduz que hematomas são menos frequentes em jovens que praticam exercícios de alto impacto, contexto em que se encaixava. Seu trabalho de lenhador também exigia certo porte físico e não era raro ser atingido por galhos e pequenas árvores. Klass se contradiz quando enfatiza a força de sua queda ao chão porque, no parágrafo seguinte de seu texto, afirma que haveria pilhas de madeira próximas do local onde o UFO pairava, fato que poderia amenizar uma eventual lesão.

Num debate com Klass no programa Larry King da CNN no ano de 1993, Walton afirma, ainda, que seria impossível determinar ao certo a natureza daquele feixe de luz que o atingiu, sendo também inconcebível prever qualquer tipo de consequência física que ele pudesse acarretar.

Em relação a falta de evidências físicas no local do avistamento, Travis costuma citar em suas entrevistas medições que indicam alterações nos níveis de radiação e de ozônio, além de um estudo que concluiu que houve um crescimento anormal das árvores naquele perímetro. Cita, igualmente, que houve vários relatos de apagões e falhas nos sinais de TV das cidades próximas no horário do incidente.

Síntese: De fato, a argumentação de Walton sobre esses pontos controversos parece ser mais consistente do que as alegações de Klass, principalmente diante da escassez de outras informações que possibilitariam uma análise pormenorizada da cena.

A narração do momento que o UFO supostamente teria emitido referido raio, igualmente, não é tão clara. Às vezes temos a impressão de que Travis teria ficado suspenso no ar por alguns segundos com os membros esticados e, logo após, arremessado para longe. Também pareceria lógico ele estar virado de costas para o UFO nesse instante, já que estava em fuga retornando ao veículo. Contudo, pela totalidade dos relatos tanto de Walton como das demais testemunhas, parece ser mais confiável supor que, após ser atingido pelo raio, ele simplesmente tenha sido imediatamente jogado alguns poucos metros para trás. E que, por relatar ter sido golpeado na cabeça e no peito, ainda estava de frente para o objeto.  

Ademais, como observou John Harney, podemos desconsiderar a acusação de ferimentos, ponderando que em uma semana tais hematomas seriam normalmente curados espontaneamente.

Não foi encontrada uma fonte confiável em relação às medições de radiação, ozônio e falhas elétricas na vizinhança. Segundo Rogers, nos dias de buscas na floresta, um funcionário que parecia trabalhar junto ao serviço florestal, mas que não foi identificado, circulava pela localidade com um contador Geiger e teria detectado alterações no nível de radiação quando apontou o aparelho para os capacetes dos lenhadores. Enquanto as alterações de ozônio teriam sido realizadas pelo referido ufólogo William Spalding num primeiro momento de suas pesquisas, o que é corroborado por Stanton Friedman.

No artigo “The Travis Walton abduction”, Raymond Jordan afirma que “houve relatos de interferências em televisões na área de Heber por volta de 18h00 às 18h30 daquela noite.”

Sobre o crescimento anormal das árvores, trata-se de estudo apresentado pelo próprio Rogers, respaldado por Ben Hansen, investigador de paranormalidade e ex-agente do FBI. Este último nos aponta duas pesquisas acadêmicas a despeito de resíduos radioativos em Chernobyl que semelhantemente indicam um crescimento anormal da vegetação atingida pela radioatividade.

Tem-se notícia de outro estudo no terreno da abdução realizado pela empresa Frontier Analysis Limited em 2017, onde fora notado, dentre outros aspectos, a presença do elemento ferro em graus incomuns.

2ª acusação: Enquanto Walton permanecia desaparecido, sua mãe, seu irmão e Mike Rogers visivelmente demonstraram pouca preocupação com o fato. Essa argumentação está intimamente ligada a uma outra acusação, que segue.

3ª acusação: Que a família Walton era aficionada por UFOs de longa data.

Klass se apega a vários episódios ocorridos durante as investigações: primeiramente na reação da mãe, Mary Kellett, no instante em que recebeu a notícia do sumiço do filho comunicada por Rogers, acompanhado do subdelegado Ken Coplan na própria madrugada do dia 05 para o dia 06. Segundo Klass, Coplan lhe teria dito que “Quando Rogers contou à mãe o que tinha acontecido, ela não agiu muito surpresa. Ela disse: ‘Bem, é assim que essas coisas acontecem.’ Então a senhora Kellett começou a contar sobre Duane vendo um UFO vários anos antes no rancho. E disse que outro UFO veio e que, tanto ela, quanto Duane, o viram.” A seguir, os três se dirigiram para a casa da irmã de Walton, a senhorita Neff. “Coplan disse que a senhora Kellett anunciou calmamente que ‘Travis havia sumido’, e, quando sua filha perguntou como, a mãe respondeu: ‘um disco voador o pegou.’ Coplan me falou que estava surpreso também com o modo calmo que a senhorita Neff recebeu a notícia da abdução do irmão.”

Ainda de acordo com o que Coplan teria relatado a Klass, no final da tarde “a senhora Kellett finalmente veio e disse: ‘Eu não acho que há qualquer utilidade em procurá-lo. Ele não está por aqui. Eu não acho que ele está nesta Terra.”

Em segundo lugar, é citada uma entrevista concedida por Rogers e Duane Walton para o ufólogo Fred Sylvanus no dia 08, momento em que as buscas estavam sendo realizadas na floresta. Surpreendentemente, os dois não teriam expressado a menor preocupação com o bem-estar de Travis, conforme a transcrição de Klass:

“SYLVANUS: Pode nos contar alguma coisa a mais, Duane?

DUANE: Não, exceto que eu não acredito que ele esteja ferido ou machucado de alguma forma. Ele voltará cedo ou tarde, assim que eles terminarem o que estão fazendo.

SYLVANUS: Você sente que ele voltará?

DUANE: Claro. Não sinto nenhum medo por ele, absolutamente. Apenas um pequeno arrependimento por eu não estar experenciando a mesma coisa. É Isso.

SYLVANUS: Você sente falta dele e sente que ele voltará.

DUANE: Ele nem está desaparecido. Ele sabe onde está, e eu sei onde ele está.

SYLVANUS: (Muito surpreso) Você sabe onde ele está? Bem, onde você acha que ele está?

DUANE: Não nesta Terra.

SYLVANUS: Você acha que ele não está na Terra?

DUANE: Certamente que não. É ridículo para o Homem assumir que ele é a única sociedade civilizada tecnológica no universo… É ridículo. Os povos (dos UFOs) não estão aqui para fazerem guerra ou eles já nos teriam destruído a muito tempo.

SYLVANUS: Algum de vocês já leu bastante sobre discos voadores?

ROGERS: Um pouco.

SYLVANUS: E você, Duane?

DUANE: Tanto quanto qualquer um.

SYLVANUS: Bem, alguns leem bastante outros um pouco.

ROGERS: Não sou um fã, pelo menos não era até agora.

DUANE: Eu não sigo esse assunto como faço com tantas outras coisas. Mas está lá. Eu sei que isso (UFOs) é real. Não é um fenômeno natural. Eu convivo com isso há dez ou doze anos. Eu os tenho visto o tempo todo. Não é novidade para mim. Não é uma surpresa.

DUANE: Eu e Travis discutimos isso muitas, muitas vezes longamente e ambos dissemos que, se algum dia víssemos um UFO de perto, iríamos imediatamente ficar tão diretamente sob o objeto quanto fisicamente possível.

SYLVANUS: Se você visse um, iria para debaixo dele?

DUANE: Nós discutimos isso várias vezes. Seria uma oportunidade boa demais para ser deixada para trás e, quem quer que fosse deixado no chão, se um de nós não entrasse, para tentar convencer quem estava na nave a voltar e pegar o outro. Mas ele (Travis) agiu exatamente como dissemos que faríamos, e ele foi direto para o objeto. E ele recebeu os benefícios por isso.

SYLVANUS: É o que você espera. Mais alguma coisa que gostaria de acrescentar?

DUANE: Nada além de que não temo por sua vida. Ele não está em perigo. Irá retornar cedo ou tarde, quando eles estiverem preparados, ou quando ele estiver.

SYLVANUS: Você sabe que ele está definitivamente…

DUANE: (Interrompendo) Tendo a experiência da vida dele! Não acredito que esteja em perigo, de forma alguma, ele voltará. Tudo que posso dizer é que eu gostaria de estar com ele.

SYLVANUS: Pode me dar algum fundamento para essa impressão? Não estou tentando ridicularizar, não me entenda mal.

DUANE: Ah não. Todos em minha família…

ROGERS: (Interrompendo) Consideravam a ideia há tempos.

DUANE: (Continuando) Nós prestamos muita atenção nisso. Nós convivemos com isso (UFOs) por dez anos. Com o fato de que eles estão aqui e que os vemos regularmente. E eles não matam pessoas. Eles não matam pessoas! Não é por isso que estão aqui… Simplesmente ele se foi e está tendo a experiência da vida dele. E tudo que eu gostaria é de estar lá, a qualquer custo.”

Resposta de Walton: Ele e Rogers alegam que Duane e a mãe de Travis estavam, sim, bastante aflitos com o desaparecimento. Que seus comentários aparentemente despreocupados eram para se autoconvencerem de que Travis estava seguro. Walton salienta que sua mãe era uma pessoa emocionalmente forte, já que criou sozinha seus seis filhos, portanto, acostumada com os percalços do destino. E que os comentários do subdelegado Coplan não expressam a realidade dos fatos. O próprio Philip Klass confirmaria, de forma contraditóra, que Rogers e Duane, em 08/11, foram questionar o delegado Gillespie a respeito da paralisação das buscas.

Por outro lado, há a assunção de que sua família comentava sobre o tema ufologia antes da abdução. Ele mesmo assume ter visto um UFO anteriormente e que seu irmão também chegou a presenciar um outro, tendo com ele, inclusive, a seguinte conversa, conforme relatado no livro “Fogo no Céu”: “Se eles levarem você, faça eles voltarem e me levar também.”

Síntese: Talvez seja impossível determinar ao certo se realmente houve uma despreocupação com o sumiço de Travis, aqui temos a oposição da palavra de um contra a do outro. Contudo, as acusações de que a família Walton seria interessada em UFOs parece proceder, ainda que não se chegue a caracterizar um extremo fanatismo.

Apesar de aduzir que o discurso do irmão visava reassegurar um sentimento de tranquilidade quanto ao seu bem-estar, Walton não nega as respostas que Duane deu para Sylvanus, concordando até que houve um certo exagero por parte do irmão. Travis não raramente também costuma assentir que ele e sua família sempre nutriram interesse sobre o assunto.

4ª acusação: Houve outras farsas anteriores perpetradas pela família de Walton.

A mãe de Walton passava alguns meses do ano no rancho localizado na cidade de Heber, de propriedade da família Gibson, que o cedia generosamente de forma gratuita. Segundo Klass, os Gibsons foram vítimas de inúmeras brincadeiras e trotes realizados pela senhora Kellett, chegando a receber notícias falsas sobre mortes de vacas e acidentes com tanques de água.

Resposta de Walton: Não foram encontradas alegações opostas sobre esse item em particular.

                                           

Travis Walton (fonte: https://www.megacurioso.com.br/)

 

5ª acusação: Vários fatores controvertidos a respeito dos exames de polígrafo.

Travis não compareceu ao exame oficial de polígrafo previamente acordado com o delegado Gillespie a ser realizado no dia 14. Logo depois, num primeiro teste particular patrocinado pela APRO e pelo National Enquirer, Travis teria falhado, resultado que foi omitido da pesquisa oficial divulgada para a imprensa.

Houve êxito em um teste de polígrafo posterior, porém Klass coloca em xeque a competência e a escolha do respectivo examinador.

Resposta de Walton: A justificativa para o não comparecimento ao teste de polígrafo acordado se deu pela falta de privacidade. A princípio, o combinado era que o teste fosse feito em completo sigilo, pois Travis ainda estaria se recuperando do ocorrido, sem condições de enfrentar o assédio de repórteres, porém houve a notícia de que a impressa já estava no local antes mesmo do horário estabelecido.

Nesse mesmo sentido, os médicos da APRO explicaram que os resultados do teste de polígrafo são determinados pelo estresse da pessoa examinada, logo seria altamente contraindicado que Travis fizesse o teste naqueles primeiros dias. Porém, um teste particular acabou sendo realizado com resultado negativo e, pelo parecer médico, descartado da pesquisa da APRO.

Síntese: Como bem salientou John Harney, que considera o caso uma farsa, “Um dos aspectos mais estranhos do caso é a obsessão, tanto por céticos quanto por crentes, com testes de polígrafo em testemunhas e membros da família de Walton. A regra neste caso era aparentemente que se o examinador do polígrafo não produzisse os resultados desejados, ele não era bom.”

O meio científico parece estar longe de reconhecer os resultados do polígrafo como uma prova confiável. Em síntese, o teste detectaria múltiplas reações fisiológicas do examinado diante de um questionamento, pressupondo uma alteração psicofísica significativa no caso de respostas inverídicas. Acontece que é lógico supor que pessoas diferentes reajam de formas particulares a um mesmo evento, sendo impossível determinar de antemão uma resposta psicológica uniforme. Alguém com um bom autocontrole eventualmente passará impune pelo polígrafo, enquanto um indivíduo ansioso poderá provocar uma punição irreal para si mesmo. O teste também desconsidera indícios de psicopatia, onde há um relevante e evidente rebaixamento da empatia e da comiseração.

Mesmo considerando a validade do teste, teríamos outra vulnerabilidade evidente: ele detecta o que o indivíduo considera como verdade. Então, para validar o teste, basta que exista a crença no fato, ainda que ele não tenha ocorrido na realidade.

De qualquer forma, uma absoluta desconsideração aos testes do polígrafo também não parece ser razoável, pois muitas pessoas o têm em alta conta, desconhecendo seus detalhes técnicos. Nesse caso em particular, Walton e os demais seis lenhadores, assim como sua mãe e irmão passaram tranquilamente nos exames e, a simples disposição ao teste, indica ao menos uma boa fé perante a acusação de falsidade.

6ª acusação: A teoria do contrato.

O contrato de Rogers para a poda das árvores da região de Turkey Springs estava seriamente atrasado. Além do mais, Rogers subestimou a dificuldade do serviço, apresentando uma oferta baixa no momento da licitação. Portanto, naquele momento era por demais oneroso seguir com o contratado, sendo mais vantajoso forçar uma eventual rescisão por motivo de força maior, o que, ao mesmo tempo, traria o benefício de não ficar marcado negativamente para novas contratações junto ao serviço florestal.

Nessa hipótese de rescisão, dependendo da oferta do contratante que daria continuidade ao trabalho, Rogers possivelmente receberia um montante considerável, por volta de U$ 2.600,00, e estaria livre para procurar por novos contratos de valores mais elevados.

Resposta de Walton: Travis, assim como Klass, argumenta extensamente sobre a questão do contrato de Turkey Springs. Ao contrário do que foi dito na acusação, tratava-se de um contrato bem lucrativo pois Mike Rogers rebaixou o preço por hectare justamente para ganhar a licitação da concorrência. Ainda assim, o valor estava bem acima do que normalmente o serviço florestal ofertava.

Atrasos contratuais eram rotineiros nesse tipo de serviço e, frequentemente, se pedia uma prorrogação que ao final não se tornava onerosa para nenhuma das partes. Em último caso, se realmente Rogers quisesse rescindir o contrato por qualquer tipo de motivo, não precisaria apelar usando de uma manobra tão espetaculosa como foi a história com o UFO, simplesmente bastaria entrar em contato com o Serviço Florestal comunicando suas intenções.

Síntese: Talvez a teoria do contrato tenha sido a que mais perdeu força entre os detratores do caso no decorrer dos anos.

Rogers já havia participado de licitações e, após o ocorrido, permaneceu no mesmo ramo entrando em outros contratos junto ao serviço florestal. Outrossim, o valor que acabou recebendo decorrente da rescisão tornou-se irrisório quando dividido entre todos os membros da equipe. E, se fosse o caso, Rogers seria o único interessado em encerrar antecipadamente o contrato, portanto não faria sentido o envolvimento dos demais numa suposta farsa.

Justamente por todo esse histórico, fica difícil imaginar que uma história enganosa que ganhou proporções mundiais e que envolveu um número elevado de pessoas permanecesse ilesa durante tantos anos por motivações banais.

7ª acusação: Mike Rogers teria se inspirado no filme “The UFO Incident” para engendrar a farsa com o disco voador.

Televisionado pelo canal NBC duas semanas antes da ocorrência na floresta, o filme dramatiza a famosa abdução do casal Hill nos anos 60, quando retornavam de viagem do Canadá para sua casa em New Hampshire, sendo capturados por criaturas estranhas e forçosamente submetidos a procedimentos médicos a bordo do UFO.

Resposta de Walton: Apenas Rogers admitiu ter assistido os minutos iniciais do filme, Walton não possuía um televisor na época e os demais colegas também não o teriam assistido. Segundo Walton, se seu amigo intencionava esconder alguma coisa, teria negado qualquer referência ao filme.

Walton minimiza a declaração dos estudiosos quando julgam que programas e notícias ufológicas influenciam os relatos das testemunhas, a sugestionabilidade de um assunto tão marginal não chegaria a tal ponto.

Síntese: A matéria do jornal “The San Antonio Star”, de 01/08/1976, noticia que “Walton admitiu em determinado momento, mas depois negou que assistiu o especial de duas horas da NBC, The UFO Incident, transmitido em 20 de Outubro.”

De fato, trata-se de uma coincidência interessante que o filme tenha sido televisionado apenas algumas semanas antes do ocorrido. O caso Hill, como sabemos, popularizou o fenômeno das abduções a partir de sua publicação em 1965, trazendo todos os paradigmas que nos são conhecidos atualmente, lapso temporal, supostos procedimentos médicos forçados, tour pela nave, amnésia etc.

É evidente que os dois casos são muito similares (inclusive no início do filme logo se fala do som de bipe também presente no relato de Walton) e, costumeiramente, os pesquisadores efetuam essa espécie de correlação entre os casos da literatura ufológica. Contudo, a similitude pode ser usada para duas finalidades opostas dependendo da conveniência de cada um, os crédulos dirão que ela representa um padrão do fenômeno, servindo para corroborá-lo; os céticos, por seu turno, argumentarão que esse fator exerce uma função indutora e influente para a criação de fantasias.

Num comparativo com a literatura, um outro pesquisador do caso, o ufólogo Karl Pflock, que também entende que tudo não passaria de uma farsa, aponta um paralelo curioso entre a história de Walton com a obra de ficção científica “Universe”, do autor Robert A. Heinlein, publicada primeiramente no ano de 1941. Em sua opinião, haveria similaridades demais para ser uma simples coincidência (há uma comparação pormenorizada entre as histórias no link sobre a recente teoria lançada por Ryan Gordon).

8ª acusação: A opinião particular dos médicos presentes na sessão de hipnose.

O psiquiatra Jean Rosenbaum teria confirmado que Travis e seus familiares eram fascinados por histórias ufológicas, segundo pode constatar pelo contato que travou com Walton.

A despeito do próprio desaparecimento, o Dr. Rosenbaum e o Dr. Gorman concluíram que Travis realmente acreditava na história da abdução, mas que isso era fruto de uma crise mental severa que culminou com a combinação de imaginação, amnésia e psicose transitória. O fator precipitante do surto foi o complicado histórico familiar de Walton que havia ganhado um novo capítulo recentemente.

Travis passava por um momento de fragilidade psicológica pela morte do pai no ano anterior. Este havia abandonado a família quando Travis contava poucos meses de idade. Posteriormente, o segundo casamento de sua mãe foi interrompido por um novo abandono do cônjuge. E, segundo consta, seu verdadeiro pai havia tentado uma reaproximação por duas vezes antes de sua morte.

Por sua vez, o Dr. Kandell corroborava a ideia de que a família Walton tinha notório interesse em UFOs e acrescentou um detalhe curioso decorrente do resultado do exame de urina de Walton. A amostra não mostrou uso prévio de drogas, mas, conforme explicação do médico, se uma pessoa permanece sem alimento durante um ou dois dias, o corpo naturalmente inicia um processo de eliminação da própria gordura, nesse caso expeliria através da urina uma substância chamada acetona, fato não confirmado pelo resultado final.

Resposta de Walton: Travis entende aqui, assim como em relação a muitos que opinam em desfavor do caso, que se trata de uma opinião simplista e superficial de pessoas que julgam o caso sem examinar todos seus pormenores.

Síntese: Novamente nos parece que a razão está do lado de Walton nessa questão.

Não há notícias até o momento de nenhum histórico psiquiátrico desabonador de Travis e, apesar da qualificação médica dos envolvidos, para se chegar oficialmente a um diagnóstico tão complexo como esse, é necessária uma avaliação mais aprofundada, o que não aconteceu. Por outro lado, se considerarmos que houve de fato manifestação do fenômeno, certamente que Walton ficaria num estado psicológico abalado por vários dias e, nesse caso, não seria sensato considerar que ele padecia de algum tipo de psicopatologia.

Ademais, acusações desse tipo perdem a validade diante do testemunho dos demais lenhadores, pelo menos até a parte do avistamento do UFO. E, mesmo supondo que a parte da abdução propriamente dita seja fruto de alucinação ou até mesmo invenção, teríamos que elaborar uma boa explicação que se encaixe em todo o complexo contexto da história.

Após ter sido devolvido pelos abdutores, Travis alega ter reaparecido com uma barba de uma semana, ter perdido por volta de cinco quilos e sentir muita sede. Qualquer argumentação nesse sentido, se recebeu ou não alimentação e hidratação nesse período, de que forma isso teria se realizado, parece ser pura especulação.

9ª acusação: Havia interesse na oferta financeira oferecida pelo jornal National Enquirer.

Anualmente, o tablóide National Enquirer oferecia um prêmio de 100 mil dólares para qualquer pessoa que apresentasse provas positivas da existência de UFOs, avaliadas previamente por um painel de cientistas do próprio periódico. Segundo Klass, como a família Walton era interessada no assunto e o respectivo jornal era popularmente conhecido, provavelmente estavam cientes do prêmio.

Resposta de Walton: Não foram encontradas alegações opostas sobre esse item em particular.

Síntese: O National Enquirer, na publicação de 13/07/1976, concedeu o prêmio de cinco mil dólares para o caso ufológico mais extraordinário do ano de 1975 para a história de Walton, que ficou com 2.500 dólares, sendo o restante do valor dividido entre os demais colegas.

A título de informação, vale a pena esclarecer que o National Enquirer se trata de um tablóide sensacionalista daqueles que vulgarmente expõem a intimidade de celebridades e exploram teorias conspiratórias.

                                    

Prêmio do National Enquirer (fonte: https://www.megacurioso.com.br/)

 

10ª acusação: Steve Pierce, um dos lenhadores, sugeriu que todo o incidente foi uma farsa.

Em 1978, no livro recém publicado sobre o caso, “Ultimate Encounter”, do pesquisador Bill Barry, Klass tem notícia de que Steve Pierce estaria confrontando Rogers no sentido de repudiar o caso. “O livro de Barry cita Rogers dizendo: ‘Steve disse a mim e a Travis que havia recebido uma oferta de dez mil dólares apenas para assinar uma negação. Ele disse que estava pensando em aceitar… Então eu disse a ele: você gastará o dinheiro sozinho e ficará machucado.’’’ Klass entende a fala de Rogers como uma ameaça, caso Pierce aceite o suborno e altere a história. Bill Barry sugere que o ofertante seria o próprio Philip Klass que, por sua vez, nega o envolvimento. No entanto, após saber do ocorrido, Klass contacta Pierce e angaria novas informações sobre o caso.

Pierce diz que a equipe costumava trabalhar até às 16h00, mas que no dia do incidente o horário do expediente foi estendido em duas horas, até o dia escurecer. Afirma ainda que Travis não teria trabalhado nesse dia, sob a alegação de que estava doente. E que Rogers se ausentou do local de trabalho por umas duas horas no período da tarde. Klass acrescenta “Quando eu disse a Pierce que acreditava que a história da abdução pelo UFO era uma farsa, ele respondeu: ‘Eu também. Se eu pudesse provar que era uma farsa, eu certamente o faria.’”

Karl Pflock cita a transcrição de uma entrevista por telefone de Klass para Pierce que nunca veio a público:

“KLASS: O que você viu?

PIERCE: Ah… Bem, eu pensei que era algo que um caçador de cervos armou. Porque era a temporada dos cervos, então ele podia ver, você sabe. Bem, eu não conseguia ver o fundo, o topo ou os lados, tudo que eu conseguia ver era a frente daquilo. Não dava para saber se tinha um fundo, uma parte traseira ou alguma coisa. Era… Ah, eu não consigo dizer que cor era.”

Resposta de Walton: Walton contraria genericamente todas as alegações de Klass. Travis tece inúmeras recriminações contra ele no sentido de falsificação deliberada de provas e demais vícios tendenciosos de pesquisa. Acusa-o, ainda, de estar a serviço da CIA ou outra organização governamental para fins de desinformação e Stanton Friedman, no documentário “Travis – The True Story of Travis Walton”, sugere que a CIA possa ter usado Klass para tal objetivo.

Síntese: Steve Pierce e John Goulette são os dois lenhadores que mais apareceram nos últimos anos dando seus testemunhos em simpósios ufológicos, programas e transmissões de internet, por vezes em conjunto com Travis Walton. Em nenhuma dessas ocasiões Pierce sugere fraude, pelo contrário, costuma dar credibilidade à história de Walton, confirmando o avistamento do UFO. Apenas opina diversamente sobre o que teria ocorrido com Walton após seu desaparecimento, para ele a ocorrência se tratou de um experimento de controle mental, talvez até mesmo sem o envolvimento de seres alienígenas.

Confirma também o suposto suborno de Philip Klass para desmentir o caso, porém nos parece que tal acusação tem base apenas na suposição, já que a proposta foi oferecida por terceiros e não diretamente pelo próprio Klass.

Curiosamente, em 25/01/2016, Pierce posta em seu canal de Youtube um relato de abdução que ele mesmo teria sofrido na rota 666, dirigindo-se para o Novo México, omitindo qualquer citação a esse respeito em suas manifestações posteriores.

Em comentário sobre seu artigo “Archive Documents Show Klass Did Not Try to Bride Travis Walton Witness”, Robert Sheaffer, além de absolver Klass do suborno, aduz que Pierce acreditava realmente que tudo se tratava de farsa e que ele “decidiu recentemente que seria uma jogada inteligente se juntar a Travis em ‘sua coisa’ e, assim, compartilhar alguns dos benefícios que isso proporcionaria.”

NOVAS REVELAÇÕES DE WALTON

Em participação no Podcast “The Joe Rogan Experience” de 19 de Janeiro desse ano (2021), Walton surpreendentemente revela outras experiências com o fenômeno UFO. Em 2014 avistou, na presença da namorada e do filho, um UFO triangular “que se movia mais rápido do que uma aeronave” e que teria pairado sobre eles, partindo em ângulo reto para os céus em seguida. Segundo o que diz, tal objeto fora visto por várias outras testemunhas naquele dia.

Relutantemente concordou em falar sobre outro evento mais impressionante ocorrido na infância. Após despertar de um sonho durante a noite, viu um ser perto da cama, ele era pálido, com grandes olhos, sem cabelos e trajes pretos, descrição similar que daria posteriormente aos primeiros seres descritos a bordo do UFO em 1975.

Walton menciona também outras experiências incomuns, do tipo sensitivas, que entende ter ligações com o fenômeno.

EPÍLOGO

As recentes declarações de Mike Rogers talvez apontem finalmente para uma solução definitiva do caso. Contudo sabemos que na casuística ufológica, mesmo quando são apresentadas versões denegatórias, as histórias costumam persistir com sua aura enigmática e inconclusiva. De qualquer modo, qualquer tipo de versão, de sua autenticidade ou falsidade, depende da ponderação de vários elementos complexos para se formar, ao final, uma narrativa concisa.

Vários autores teorizaram sobre uma possível farsa, para John Harney, o caso de Walton gera um problema para os céticos porque envolve outras seis testemunhas que presenciaram o UFO. Klass teria presumido que necessariamente todos teriam participado do embuste, nesse caso não necessita existir explicação para o objeto na floresta, porque ele nunca teria existido, porém a problemática recairia sobre o comportamento crível dos participantes.

Karl Pflock, apesar de minimizar a atuação deles como sinônimo de prova segura, pensa que seria improvável que todos os seis lenhadores pudessem estar envolvidos na fraude e “ainda assim, parecer tão convincentes, sem falar em terem mantido fielmente suas histórias sob o escrutínio que receberam.” De fato, o vice delegado Chuck Ellison, o primeiro a ter contato com as testemunhas depois do sequestro, relata que alguns dos homens estavam chorando naquele momento e, num especial para o canal Sci Fi, eles demonstram muita emoção ao relembrarem do episódio.

Harney prossegue supondo outra versão de que apenas Rogers, Walton e alguma terceira pessoa (provavelmente o irmão de Travis) sabiam da farsa, nessa hipótese o problema anterior desaparece e incide em outro lugar. Aqui os farsantes teriam que lidar com a logística do engodo, engendrando um objeto que convencesse os demais de que se tratava realmente de um disco voador, o que não parece ser tarefa fácil também. Os lenhadores relatam que o UFO “era muito bonito”, fato que enfraqueceria a explicação dada por Santon Flake, outra autoridade da cidade, de que o objeto armado por Travis e seu irmão era uma jangada inflável iluminada ou algo semelhante. A atual versão da “torre de vigilância” se encaixa nesse cenário e pode se adequar bem para suprimir todas essas falhas, mas, por outro lado, só ganharia força significativa se Rogers mantiver sua confissão, fato não confirmado até o momento.

Montagem do UFO avistado em relação à caminhonete, publicada na rede social de Mike Rogers (fonte: facebook)

 

Segundo disse Allen Hynek na época dos fatos, a história de Walton “Se ajusta a um padrão. Se esse fosse o único caso registrado, então eu teria que dizer: é impossível que eu acredite. Mas no Centro de Estudos de UFOs, temos cerca de duas dúzias de casos de abdução semelhantes atualmente sendo estudados. Há algo acontecendo.”

Jacques Vallée, por sua vez, após se encontrar com Rogers e Walton, afirmou estar “convencido de que eles estão dizendo a verdade, como eles a experimentaram, embora eu não esteja apto a tomar os dados hipnóticos literalmente, por razões que expliquei detalhadamente em trabalhos anteriores.”

O comentário de Vallée nos traz para outro ponto importante do caso, a questão da hipnose. Nesse aspecto, talvez seja interessante que se faça a separação dos casos de abdução em três grupos: as que são recordadas conscientemente (caso Villas Boas), as que são lembradas inteiramente sob hipnose (visitações de dormitórios), e um terceiro grupo, as mistas (casal Hill), onde uma parte das lembranças se mantém consciente e a outra é resgatada com hipnose. Nesse último grupo, num grande número de casos, as testemunhas apresentam uma lembrança consciente apenas do UFO, sendo que a interação com seres geralmente é hipnoticamente relembrada. A narrativa de Vallée nos dá a entender que esse foi justamente o caso de Travis.

Umas das críticas atuais quanto ao uso da hipnose é de que não se trataria de uma técnica confiável para relembrar a realidade dos fatos, opinião que o próprio Vallée compartilha, pelo menos parcialmente. E é interessante notar o comentário que ele tece sobre o hipnotizador de Travis, James Harder, que já era seu conhecido no meio ufológico, quando o qualifica de “crédulo em extraterrestres hardcore”.

Entretanto, Walton claramente desmente essa tese quando escreve que “Durante a hipnose, não me lembrei de nenhum fato que já não tivesse me lembrado antes.”

Outra menção significativa do livro Revelations de Vallée, é a associação que ele faz da abdução de Walton com o caso que investigou na cidade francesa de Pontoise, ocorrido em 1979. Os dois episódios teriam contextos bens semelhantes, o caso Pontoise envolveu o desaparecimento de um homem por sete dias, supostamente abduzido de dentro de seu veículo, na presença de outras testemunhas.

Ao final da pesquisa, Vallée descarta em absoluto a hipótese de abdução, restando fortes indícios de que se referia a um experimento sociológico governamental, envolvendo fins militares, científicos e políticos. Segundo seu informante, o homem desaparecido foi dopado e submetido a um estado mental alterado de alta sugestionabilidade.

Travis atualmente parece ter chegado numa síntese de suas especulações sobre a abdução. Costuma mencionar que o raio disparado pela espaçonave era decorrente de um mecanismo próprio da mesma que o atingiu involuntariamente. Diante disso, os seres tiverem a postura benevolente de trazê-lo a bordo da nave para restaurar sua saúde física, que poderia estar seriamente comprometida. Em resumo, não teria sido uma abdução premeditada pelos seres.

Estranhamente tal teoria não foi concebida em seu livro, onde há várias especulações distintas. Ali, Walton notoriamente considera viável que tudo não tenha passado de uma experiência governamental/militar: “Admito achar esta explicação mais facilmente aceitável do que suas alternativas. A presença daqueles indivíduos de aparência humana chamou-me a atenção como algo divergente das atividades puramente extraterrestres. (…) Desde então, certas coisas aconteceram sugerindo uma poderosa influência humana por trás de tudo.” Em seguida diz: “Talvez toda a minha memória consciente sobre o ocorrido naqueles cinco dias seja uma memória implantada e não algo que realmente tenha acontecido. Um evento subsequente envolvendo a inteligência militar, o qual não narrarei ainda, também se encaixa neste cenário.”

O desentendimento recente com Mike Rogers não parece trazer novos elementos para uma melhor análise, mesmo porque desavenças frequentes entre os dois já foram reportadas no livro. Eles se tornaram cunhados posteriormente e sempre travaram uma íntima amizade, Rogers se uniu em várias ocasiões junto a Travis para defender publicamente a veracidade da história e, inclusive, é o ilustrador de vários desenhos reconstitutivos do caso. Portanto, talvez essa atual confissão tenha um simples propósito difamatório, feita num momento de exaltação de nervos. Cumpre ressaltar que aparentemente Rogers parece um pouco confuso no depoimento, dando a entender que não soube exatamente os detalhes da farsa, algo muito questionável quando olhamos para todo o contexto da história.

Um ponto relevante parece ser exatamente esses novos relatos de Travis com o fenômeno UFO. Com essas informações, o incidente de 1975 já seria o terceiro contato travado com o fenômeno.

Se adotarmos uma visão científica rígida, esses elementos podem desabonar grandemente o caso, se considerarmos, igualmente, que estamos lidando com um fenômeno extremamente raro. Dificilmente podemos conceber que uma mesma pessoa passe por várias experiências desse tipo durante a vida.

Isso nos remete naturalmente ao que se convencionou em chamar de síndrome do contatado, onde, após uma experiência ufológica, o indivíduo passa a relatar contatos frequentes com UFOs e até mesmo com seres extraterrestres, tornando-se um verdadeiro fanático sobre o tema, exatamente uma das acusações que pesam sobre Walton.

Casos assim acabam gerando uma grande problemática para seus defensores, na medida em que demandam extensas justificativas. Certamente uma visão mística acabaria com qualquer contradição lógica das histórias. Por outro lado, se quisermos adotar uma postura científica que valide a manifestação do fenômeno UFO, teríamos que lançar mão de uma teoria que gere um vínculo necessário entre determinados indivíduos e o fenômeno, algo que inexiste até o momento, por sinal. Porém não devemos fechar os olhos para a alta quantidade de casos que indicam eventos paranormais correlacionados aos fenômenos ufológicos.

Alternativamente, há o caminho de simplesmente reconhecermos nossa ignorância em relação ao tema, nos limitando a especulações mais ou menos precisas e acrescentando os dados à casuística. Nessa circunstância, contudo, a pesquisa sobre a natureza intrínseca do fenômeno necessariamente se desvigora.

E então, qual o seu veredito?

 

Referências:

Friedman, Stanton; Marden, Kathleen: Fact, Fiction, and Flying Saucers

Klass, Philip: UFOs: The Public Deceived

Vallée, Jacques: Revelations

Walton, Travis: Fogo no Céu

http://magoniamagazine.blogspot.com/

https://badufos.blogspot.com/

https://ufo.com.br/

Podcast “The Joe Rogan Experience”

Youtube: Canal João Marcelo

https://canaljoaomarcelo.blogspot.com/

Documentário “Travis – The True Story of Travis Walton”

Paranormal Witness, episodio 9, temp. 2 – Syfy Channel

Revista Fortean Times