Autor do texto: Leonardo Vaz Rodrigues
Desdobramentos
recentes movimentaram a comunidade ufológica trazendo novamente à tona um dos
casos mais icônicos da ufologia mundial, a suposta abdução de Travis Walton no
ano de 1975.
A polêmica teve
início com uma postagem de rede social realizada no dia 19/03/2021 por uma das
principais testemunhas do caso, Mike Rogers, gerando altas suspeitas em
desfavor da credibilidade da abdução.
De acordo com Robert
Sheaffer, referida postagem (excluída posteriormente) continha o seguinte texto: “Eu,
Michael H. Rogers, de mente sã e racional, venho por meio deste notificar que
não devo mais ser considerado uma testemunha da suposta abdução de Travis C.
Walton em 5 de novembro de 1975”. Em resposta a vários questionamentos, houve,
ainda, outros comentários feitos por Rogers: “O evento definitivamente
aconteceu, de nossa perspectiva, de qualquer maneira. (…) Não estou dizendo que
não aconteceu. (…) Todos nós, testemunhas, fizemos testes de polígrafo,
lembre-se. Tudo o que eu disse foi ‘suposta’, como em ‘talvez tenha sido’. Tudo
o que quero dizer com ‘suposta’ é que talvez não passe de ‘conversa fiada’. (…)
Esperei muito tempo para dizer isso… Estou muito cansado de não colocar isso
para fora. (…) Travis tentou manter em segredo de mim um novo remake do filme.
Ele sempre escondeu seus segredos de mim. Isso me irritou. (…) Não acredito que
Travis seja uma pessoa honesta e, portanto, não quero ter nenhuma relação com
ele.”. Ainda segundo Sheaffer, em 20 de março, em troca de mensagens com
Walton, Rogers ameaça ser “mais verdadeiro” e o chama de grande mentiroso.
Nos dias que se
seguiram, apesar de Rogers ter anunciado tratativas de reconciliação com
Travis, tudo indica a ocorrência de novas desavenças que perduram até o momento
presente.
Travis Walton em foto recente (fonte: facebook)
Porém, a notícia mais estonteante viria no final de Abril, quando o
pesquisador Ryan Gordon liberou uma entrevista em áudio, onde Rogers teria
confessado a farsa. Segue uma parte da transcrição:
ROGERS: Tudo o que
consigo me lembrar é que… estávamos conversando na floresta um dia, Travis e
eu, e lembro de deixar uma motosserra em cima de um tronco, certo? Ele tinha
uma motosserra, mas a levou com ele, porque falávamos sobre criar uma fraude
com OVNI, certo?
GORDON: Sim.
ROGERS: Não sei como
o OVNI chegou lá, está bem? Mas recordo que… quando eu dirigia a caminhonete e
ele pulou para fora, isso foi tudo deliberado, foi tudo encenado, ok? E ele
saiu correndo… e havia algo… havia algo sobre o OVNI não ser real, embora
parecesse real…
GORDON: O que você
está dizendo é que você e Travis, juntos, forjaram isso?
ROGERS: Sim. Quero
dizer, o irmão de Travis, Duane, o ajudou.
A entrevista
encontra-se em https://www.youtube.com/watch?v=vRZkesKrElc
Após a repercussão
do áudio, Rogers repudiou a suposta confissão a Gordon em sua rede social,
sugerindo alguma espécie de manipulação digital e, nos meses subsequentes,
continuou postando regularmente fotos e comentários sobre o caso, enquanto alguns
ufólogos saíam em defesa da abdução, especulando sobre uma possível perturbação
mental de Rogers.
Em entrevista
recente com o pesquisador Kevin Randle, Rogers alega novamente uma manipulação
por parte de Gordon: http://kevinrandle.blogspot.com/2021/09/x-zone-broadcast-network-mike-rogers.html?m=1
Mike Rogers atualmente (fonte: facebook)
A partir disso, uma nova e complexa teoria sobre o engendramento da
farsa foi concebida, apontando que o OVNI se tratava de uma Torre de vigilância
e que o verdadeiro local da abdução foi incorretamente informado para os
pesquisadores. Os detalhes dessa versão podem ser encontrados aqui: https://canaljoaomarcelo.blogspot.com/2021/08/o-caso-travis-walton-fogo-no-ceu.html?m=1
Veremos mais
adiante que, anteriormente a essa controvérsia, em uma entrevista realizada em
janeiro deste ano (2021), Walton já havia incluído outros detalhes inéditos e
significativos ao caso que, dependendo do ponto de vista adotado, podem ser
acrescentados ao grande rol de pontos favoráveis ou desfavoráveis da história.
RELEMBRANDO O CASO
Travis Walton fazia
parte de uma equipe de sete lenhadores, chefiada por Mike Rogers, que
trabalhava na poda de árvores da Floresta Nacional Apache-Sitgreaves, numa
região chamada Turkey Springs, no estado do Arizona. Segundo a obra “Fogo no
Céu”, do próprio Walton, o evento ufológico ocorreu no crepúsculo do dia 05 de
Novembro de 1975, nos seguintes termos:
Após o encerramento
de mais um dia de expediente por volta das 18h10, os homens entraram na caminhonete
para retornar à cidade de Snowflake onde residiam. Mike Rogers no volante, um
colega ao seu lado, Travis no assento do passageiro junto à porta direita e, no
banco de trás, os demais quatro integrantes da equipe. No caminho de casa,
ainda na floresta, o grupo avistou uma luz amarelada irradiando por entre a
copa das árvores há uns 100 metros adiante do veículo. Instigados pela
curiosidade, subiram o morro no sentido da luminosidade e, numa clareira,
avistaram um objeto metálico em formato de disco a menos de 30 metros de
distância que pairava silenciosamente a 5 metros do chão.
A leve iluminação
da nave clareava o ambiente suavemente com um brilho fosco, as delimitações do
objeto eram visivelmente definidas, com um diâmetro estimado de cinco a sete
metros e com dois metros e meio a três de espessura. O disco não fazia
movimentos e permanecia silencioso, lembrava a junção de duas assadeiras de
torta, colocadas uma de frente para a outra, com uma cúpula acima e linhas
prateadas mais escuras que dividiam a parte luminosa, não havendo antenas,
janelas nem outros detalhes significativos.
Em meio a
perplexidade de todos, Walton é tomado pelo impulso de sair da caminhonete e de
se aproximar ainda mais da nave, apesar dos gritos de protestos de seus colegas
para não o fazer. Ao chegar a dois metros do ponto central do objeto, já
envolto daquela iluminação dourada, ele notou “uma estranha mistura de sons
mecânicos, graves e agudos. Havia um bip intermitente, alto e penetrante
recoberto por um ronco baixo de máquina pesada.”
Após um vislumbre
do objeto, este subitamente começou a vibrar e a balançar em seu próprio eixo,
aumentando seus ruídos. Surpreendido, Travis procura se proteger encolhendo-se
atrás de troncos e, em seguida, se levanta novamente numa tentativa de se
afastar do local. Nesse momento, é atingido por um raio azul-esverdeado emitido
pela parte inferior do objeto, sentindo-se golpeado na cabeça e no peito como
se tivesse sido eletrocutado, perdendo a consciência instantaneamente.
Ato contínuo, nas palavras
de Walton, “Os homens no carro viram meu corpo arcar-se para trás, meus braços
e pernas esticados, enquanto a força do golpe erguia-me no ar. Fui içado de
costas três metros para cima. Eles viram meu ombro direito atingir o chão
pedregoso da área. Meu corpo aterrissou suavemente e permaneceu imóvel,
estirado no chão.”
Num acesso de
pavor, seus colegas impetuosamente partiram em retirada abandonando Travis a
sua própria sorte. Momentos depois, tranquilizados em perceber que o objeto não
os seguia, retomaram certo discernimento, decidindo voltar em socorro do
colega. Porém, o corpo de Travis não jazia mais naquele local, malgrado a busca
realizada no perímetro da clareira.
Conversando sobre
como deveriam proceder diante do desaparecimento de Travis, eles decidiram
comunicar a polícia da localidade, ainda que fossem alvo de uma quase certa
desconfiança. O telefonema foi feito às 19h35 e as autoridades que atenderam a
ocorrência resolveram retornar ao local do desaparecimento para uma nova busca
naquela mesma noite.
Novamente a busca
restou infrutífera, história que se repetiria pelos próximos 4 dias até 09 de
novembro.
Foram mobilizadas
equipes de apoio que contavam com o auxílio de um alto contingente de homens,
chegando a um montante de cinquenta pessoas, incluindo o pessoal de busca e
resgate do Condado, o Serviço Florestal dos Estados Unidos, a polícia local e
alguns civis. Houve, igualmente, uso de veículos apropriados para percorrerem
aquele tipo de terreno irregular, homens a cavalo e até mesmo helicópteros e
aviões sobrevoando a região na esperança de que a vista aérea facilitasse a
localização de Walton.
Nesse ínterim, o
grupo de lenhadores estava sob uma forte suspeita de homicídio, considerando
que era muito mais natural pensar que o sumiço de Walton vinculado com a
história do UFO era, na realidade, uma fachada para a ocultação de seu
assassinato.
Querendo tirar o
peso de tal acusação, eles comentaram que estariam dispostos a, inclusive,
passar pelo detector de mentiras para provarem sua inocência. Sugestão que logo
foi acatada pelo delegado Marlin Gillespie, uma das figuras centrais do caso.
Então, no dia 10 de Novembro, os seis lenhadores se dirigiram para o fórum da
cidade vizinha onde efetuaram o teste do polígrafo que durou cerca de 13 horas.
Ao final, o
resultado preliminar surpreendeu até mesmo o examinador, Cy Gilson, que,
perplexo, notou que cinco dos homens haviam passado com êxito pelo teste, sendo
que apenas uma das avaliações teve um desfecho inconclusivo pois, por desconfiança
e nervosismo, um dos examinados (Allen Dalis) interrompeu o procedimento
precocemente, abandonando o teste em seguida. Dias depois, Gilson oficialmente
reportaria: ”Esses exames de polígrafo provam que esses cinco homens viram
algum objeto que eles acreditam ser um UFO e que Travis Walton não foi ferido
ou assassinado por nenhum desses homens, naquela quarta-feira (05/11/75). Se um
UFO real não existia e o UFO é uma farsa humana, cinco destes homens não tinham
conhecimento prévio da farsa. Tal determinação não pode ser feita do sexto
homem, cujos resultados foram inconclusivos.”
A equipe de lenhadores (fonte: https://www.ovnihoje.com/)
Contudo o fato mais inesperado ainda aconteceria por volta da meia noite
daquele mesmo dia, após cinco dias e seis horas desaparecido, Travis Walton
recobra a consciência vendo-se deitado de bruços em um acostamento de uma
estrada próxima a cidade de Heber, a aproximadamente 16 quilômetros do sítio da
abdução. Acordado pelo ar frio, ele se deparou com um UFO de 12 a 13 metros de
diâmetro a 10 metros de distância que logo subiu aos céus em alta velocidade.
Sentindo-se fraco,
consegue chegar até uma cabine telefônica de um posto de gasolina em Heber,
ligando para seu cunhado que logo foi buscá-lo junto ao seu irmão, Duane
Walton.
Travis imaginou
que, desde o avistamento do UFO na floresta até aquele momento, havia
transcorrido apenas umas duas horas e se surpreendeu quando seu irmão noticiou
seu desaparecimento de quase uma semana. Em sua memória, no intervalo entre ter
sido golpeado pelo UFO e o despertar na estrada, restava somente a lembrança de
uma experiência de poucas horas a bordo da nave.
O relato dessa
vivência no interior do UFO veio a público pela primeira vez no dia 22 de
Novembro, em uma entrevista concedida junto à emissora Kool de Phoenix. Walton
aduziu que, quando recobrou a consciência depois de ser atingido pelo raio,
deu-se conta de estar deitado sobre uma espécie de mesa, de frente para uma luz
que incidia do teto. Sentindo uma dor indescritível, chegou a pensar que
estivesse em um hospital, percebendo um aparelho sob seu peito. Notou dois homens
inclinados sobre ele, mas não eram humanos, tinham feições subdesenvolvidas,
estatura mais baixa, sem qualquer tipo de pelos e vestiam um macacão laranja
amarronzado. Assustado, começou a se debater chegando a empurrar com facilidade
um deles sobre o outro com o antebraço. Nesse momento pôde ver que havia mais
um ser à esquerda.
O ambiente era
quente e a respiração dificultosa. Recostou-se num dos cantos do local, onde
havia uma estrutura parecida com uma bancada, ali se encontravam alguns
objetos. Agarrou um deles para uma tentativa de defesa, algo semelhante a um
tubo de vidro transparente. Logo após, os seres saíram rapidamente por uma
abertura que dava para um corredor estreito, curvo e pouco iluminado.
Reconstituição artística dos pequenos
seres (fonte: https://www.megacurioso.com.br/)
Walton permaneceu naquela sala por alguns minutos com medo de que eles
retornassem. A seguir resolveu se dirigir para esse mesmo corredor, porém
tomando o sentido inverso dos seres. Chegou em outra sala que contava apenas
com uma cadeira desocupada em seu centro. Neste local pode perceber que, apesar
de haver paredes, ao mesmo tempo conseguia visualizar as estrelas. Sentou-se na
cadeira, que possuía controles e botões, porém teve receio em tocá-los (em seu
livro, porém, relata que os tocou de fato). Nesse instante verificou a presença
de alguém na entrada da sala, era um ser de fisionomia bem diversa daqueles
primeiros. Possuía notáveis semelhanças com nós humanos, exceto que usava um
tipo de capacete transparente.
Ainda bem
desorientado, Walton busca articular algumas perguntas para o ser que, sem
responder, o toma pelo braço e se dirige para fora daquele ambiente. Após
cruzarem a porta do que identificou como uma câmara pressurizada, descem por
uma rampa chegando a um ambiente externo maior, porém ainda fechado. Nesse
lugar mais parecido com um grande hangar, visualiza mais duas naves menores de
formato oval.
Ao fim, é conduzido
a uma cadeira em outro aposento com a presença de mais três pessoas semelhantes
a esse último ser. Elas posicionam no rosto de Walton algo análogo a uma
máscara de oxigênio que, prontamente, o faz perder a consciência. Quando
novamente desperta, encontra-se deitado no pavimento da estrada.
Arte por Mike Rogers (fonte: facebook)
Basicamente esses são os pontos principais do caso de abdução que muitos
pesquisadores consideram como o mais expressivo e inconteste da história da
ufologia.
O fato de o
incidente contar com seis testemunhas diretas que corroboravam o avistamento do
UFO, seria suficiente para aumentar enormemente sua credibilidade. Outro
elemento que alegadamente pesava em favor do caso, era de que praticamente
todos os envolvidos haviam passado em testes de polígrafos, negando a versão de
que se tratava de um embuste e reafirmando a realidade do avistamento
ufológico. Ademais, nomes consagrados da pesquisa ufológica como Allen Hynek e
Jacques Vallée se manifestaram favoravelmente em apoio à história de Walton.
Contudo, como
veremos adiante, contrariamente ao que normalmente se supõe, havia também
muitas manifestações contrárias à validade do caso. Grandes organizações
ufológicas como Nicap e Mufon chegaram a publicar pareceres negativos apontando
possíveis fraudes no incidente.
Antes de
adentrarmos propriamente nas controvérsias que envolvem o caso, seria prudente
tentarmos compreender mais a fundo o contexto que circunda toda a história.
CONTEXTO E DETALHES
DO CASO
Segundo consta no
livro Fogo no Céu, Travis Walton, na época com 22 anos de idade, era morador da
cidade de Snowflake no Estado do Arizona. Rodeada por montanhas, tratava-se de
uma cidade pequena com pouco mais de 2.500 pessoas.
Mike Rogers, 28
anos, era considerado seu melhor amigo desde os tempos de colégio, muito tempo
antes da suposta abdução. Ambos gostavam de frequentar aulas de artes marciais
e já haviam trabalhado juntos em outros contratos de corte de árvores
semelhantes ao de Turkey Springs.
Rogers era um
lenhador com certa experiência no ramo, já participava de licitações junto ao
serviço florestal desde seus 19 anos. Suas equipes de trabalho sempre contavam
com uma rotatividade de pessoas, ainda que, eventualmente, alguns membros
fossem mantidos por períodos maiores.
Para o contrato de
Turkey Springs, Rogers contou com o seguinte time de homens: Kenneth (Ken)
Perterson, 25 anos, um amigo de muitos anos. Allen Dalis, 21 anos, membro
remanescente de outros contratos. John Goulette, 21 anos, que igualmente já
havia trabalhado para Rogers em outras ocasiões. Dwayne Smith, 21 anos,
apresentado para a equipe por Goulette, era o mais inexperiente no ramo. E
Steve Pierce, de 17 anos, que estava com o grupo há poucas semanas.
Seus testemunhos
foram registrados pelo National Enquirer de 16/12/1975:
Dwayne Smith “Era
uma espaçonave, não há dúvidas, e Travis foi em direção a ela. Ele saiu da
caminhonete, caminhou até lá e desapareceu.”
Ken Peterson “Eu vi
uma luz azulada vir da máquina e Travis voou, como se tivesse tocado um fio
quente.”
Allen Dalis “Aquilo
soltou um raio azul e a última coisa que vimos de Travis foi sua silhueta
delineada, braços estendidos. Não podíamos acreditar no que estava acontecendo,
o horrou era inacreditável.”
John Goulette “Eu
sei o que vi e não era nada dessa Terra.
Steve Pierce “Eu
estava com medo assim como os outros quando vimos o UFO. Pairava, balançando
ligeiramente a 22 metros (25 jardas) de nós e emitiu aquela luz amarelada.”
Mike Rogers
“Estávamos todos assustados! Não conseguimos pensar em nenhuma outra
explicação, exceto que Travis tinha sido levado pelo disco.”
Outra figura não menos essencial do caso foi Duane Walton, o irmão mais
velho de Travis. Ele foi responsável por poupá-lo do assédio insistente dos
repórteres, após seu reaparecimento. Inicialmente, escondendo o irmão até mesmo
do delegado Marlin Gillespie que já suspeitava de seu retorno devido ao informe
da telefonista que atendeu a ligação da madrugada do dia 10. Vale lembrar que,
desde a notícia do desaparecimento, Snowflake recebeu uma quantidade imensa de
jornalistas de todas as partes do mundo.
Nesse primeiro
momento, Duane entrou em contato com o ufólogo William Spaulding, do grupo
ufológico Ground Saucer Watch (GSW), pois já haviam conversado anteriormente
naqueles dias que foram realizadas buscas na floresta. Na oportunidade,
Spaulding o orientou, caso Travis retornasse, para que, entre outras coisas,
separasse suas roupas, bem como recolhesse a urina em apartado para um eventual
exame laboratorial futuro.
Agora Duane o
procurava para novas orientações, sobretudo para um encaminhamento médico.
Spaulding os aconselhou a se dirigirem ao consultório do doutor Lester Steward,
também ligado ao GSW, em Phoenix, para a realização dos referidos exames.
Porém, diante da alta suspeita dos irmãos em relação às credenciais médicas de
Steward, decidiram rejeitar as propostas de Spaulding, aceitando, por sua vez,
a ajuda da Aerial Phenomena Research Organization (APRO) de Jim e Coral
Lorenzen que prosseguiu com as investigações do caso. A APRO também contou com
o apoio financeiro do jornal National Enquirer para o rateio de algumas
despesas, em troca da divulgação exclusiva da história.
Segundo Walton,
essa preterição fez com que Spaulding começasse a repudiar o caso publicamente
como uma farsa, em oposição à recepção favorável anteriormente assumida.
Coral Lorenzen
entrou em contato com dois médicos da organização para realizarem os exames
físicos, Doutores Joseph Saults e Howard Kandell. E, posteriormente, apresentou
o Dr. James Harder, professor de engenharia da Universidade da California, que
faria uma sessão de hipnose regressiva em Walton no dia 15 de Novembro
presenciada por várias pessoas da equipe da APRO e do National Enquirer,
incluindo outros médicos além dos já citados, como os psiquiatras Jean
Rosenbaum e Warren Gorman.
PRINCIPAIS
ACUSAÇÕES E O CONTRADITÓRIO DE WALTON
Como foi dito, a
legitimidade do caso estava longe de ser uma unanimidade, Walton sofria duras
acusações de perpetração de fraude, principalmente do pesquisador cético Philip
Klass. Nessa perspectiva, um dos pontos mais chamativos do livro de Walton é justamente
seu caráter contra argumentativo em relação aos seus detratores. Ao citado
Klass, por exemplo, Walton dedica um capítulo inteiro (organizado no livro como
anexo) que conta com mais de 100 páginas.
Philip Klass (fonte: wikipedia)
O próprio Travis admite que na primeira edição do livro lançada em 1978
com o título “The Walton Experience” houve uma grande omissão em relação a
isso, o que foi corrigido nesta segunda edição de 1996. Explica também que
resolveu expor publicamente sua história com livros e participações em eventos
justamente para esclarecer o que de fato teria lhe ocorrido, sem correr o risco
de distorcerem sua história, o que ocasionalmente era feito pela mídia na
época.
Portanto, a seguir
elencaremos as principais acusações de Philip Klass, que simbolicamente
representará todos os opositores do caso e, na sequência, buscaremos as
respostas de Walton para cada um dos itens imputados. Ao fim, faremos uma breve
análise das alegações com o propósito de chegarmos a uma síntese, se possível:
1ª acusação: Ausência de
evidências físicas na localidade e falta de hematomas no corpo de Walton.
Klass questiona a
alegação de que Travis tenha sido arremessado a três metros de distância após
ser golpeado por uma força explosiva oriunda do UFO, pois, se tal fato
realmente tivesse ocorrido, certamente restariam resquícios de sangue em suas
roupas, assim como eventuais lesões nas partes do corpo que foram atingidas.
Walton apenas relata um ponto avermelhado na região de seu cotovelo, o qual não
tinha ideia de como havia surgido. O local onde o UFO pairava também não
apresentava nenhum sinal de calor intenso nem outra prova física de qualquer
natureza.
Resposta de Walton: Travis aduz que
hematomas são menos frequentes em jovens que praticam exercícios de alto impacto,
contexto em que se encaixava. Seu trabalho de lenhador também exigia certo
porte físico e não era raro ser atingido por galhos e pequenas árvores. Klass
se contradiz quando enfatiza a força de sua queda ao chão porque, no parágrafo
seguinte de seu texto, afirma que haveria pilhas de madeira próximas do local
onde o UFO pairava, fato que poderia amenizar uma eventual lesão.
Num debate com
Klass no programa Larry King da CNN no ano de 1993, Walton afirma, ainda, que
seria impossível determinar ao certo a natureza daquele feixe de luz que o
atingiu, sendo também inconcebível prever qualquer tipo de consequência física
que ele pudesse acarretar.
Em relação a falta
de evidências físicas no local do avistamento, Travis costuma citar em suas
entrevistas medições que indicam alterações nos níveis de radiação e de ozônio,
além de um estudo que concluiu que houve um crescimento anormal das árvores
naquele perímetro. Cita, igualmente, que houve vários relatos de apagões e
falhas nos sinais de TV das cidades próximas no horário do incidente.
Síntese: De fato, a
argumentação de Walton sobre esses pontos controversos parece ser mais
consistente do que as alegações de Klass, principalmente diante da escassez de
outras informações que possibilitariam uma análise pormenorizada da cena.
A narração do
momento que o UFO supostamente teria emitido referido raio, igualmente, não é
tão clara. Às vezes temos a impressão de que Travis teria ficado suspenso no ar
por alguns segundos com os membros esticados e, logo após, arremessado para
longe. Também pareceria lógico ele estar virado de costas para o UFO nesse
instante, já que estava em fuga retornando ao veículo. Contudo, pela totalidade
dos relatos tanto de Walton como das demais testemunhas, parece ser mais
confiável supor que, após ser atingido pelo raio, ele simplesmente tenha sido
imediatamente jogado alguns poucos metros para trás. E que, por relatar ter
sido golpeado na cabeça e no peito, ainda estava de frente para o
objeto.
Ademais, como
observou John Harney, podemos desconsiderar a acusação de ferimentos,
ponderando que em uma semana tais hematomas seriam normalmente curados
espontaneamente.
Não foi encontrada
uma fonte confiável em relação às medições de radiação, ozônio e falhas
elétricas na vizinhança. Segundo Rogers, nos dias de buscas na floresta, um
funcionário que parecia trabalhar junto ao serviço florestal, mas que não foi
identificado, circulava pela localidade com um contador Geiger e teria
detectado alterações no nível de radiação quando apontou o aparelho para os
capacetes dos lenhadores. Enquanto as alterações de ozônio teriam sido
realizadas pelo referido ufólogo William Spalding num primeiro momento de suas
pesquisas, o que é corroborado por Stanton Friedman.
No artigo “The
Travis Walton abduction”, Raymond Jordan afirma que “houve relatos de
interferências em televisões na área de Heber por volta de 18h00 às 18h30
daquela noite.”
Sobre o crescimento
anormal das árvores, trata-se de estudo apresentado pelo próprio Rogers,
respaldado por Ben Hansen, investigador de paranormalidade e ex-agente do FBI.
Este último nos aponta duas pesquisas acadêmicas a despeito de resíduos
radioativos em Chernobyl que semelhantemente indicam um crescimento anormal da
vegetação atingida pela radioatividade.
Tem-se notícia de
outro estudo no terreno da abdução realizado pela empresa Frontier Analysis
Limited em 2017, onde fora notado, dentre outros aspectos, a presença do elemento
ferro em graus incomuns.
2ª acusação: Enquanto Walton
permanecia desaparecido, sua mãe, seu irmão e Mike Rogers visivelmente
demonstraram pouca preocupação com o fato. Essa argumentação está intimamente
ligada a uma outra acusação, que segue.
3ª acusação: Que a família
Walton era aficionada por UFOs de longa data.
Klass se apega a
vários episódios ocorridos durante as investigações: primeiramente na reação da
mãe, Mary Kellett, no instante em que recebeu a notícia do sumiço do filho
comunicada por Rogers, acompanhado do subdelegado Ken Coplan na própria
madrugada do dia 05 para o dia 06. Segundo Klass, Coplan lhe teria dito que
“Quando Rogers contou à mãe o que tinha acontecido, ela não agiu muito
surpresa. Ela disse: ‘Bem, é assim que essas coisas acontecem.’ Então a senhora
Kellett começou a contar sobre Duane vendo um UFO vários anos antes no rancho.
E disse que outro UFO veio e que, tanto ela, quanto Duane, o viram.” A seguir,
os três se dirigiram para a casa da irmã de Walton, a senhorita Neff. “Coplan
disse que a senhora Kellett anunciou calmamente que ‘Travis havia sumido’, e,
quando sua filha perguntou como, a mãe respondeu: ‘um disco voador o pegou.’
Coplan me falou que estava surpreso também com o modo calmo que a senhorita
Neff recebeu a notícia da abdução do irmão.”
Ainda de acordo com
o que Coplan teria relatado a Klass, no final da tarde “a senhora Kellett
finalmente veio e disse: ‘Eu não acho que há qualquer utilidade em procurá-lo.
Ele não está por aqui. Eu não acho que ele está nesta Terra.”
Em segundo lugar, é
citada uma entrevista concedida por Rogers e Duane Walton para o ufólogo Fred
Sylvanus no dia 08, momento em que as buscas estavam sendo realizadas na
floresta. Surpreendentemente, os dois não teriam expressado a menor preocupação
com o bem-estar de Travis, conforme a transcrição de Klass:
“SYLVANUS: Pode nos
contar alguma coisa a mais, Duane?
DUANE: Não, exceto
que eu não acredito que ele esteja ferido ou machucado de alguma forma. Ele
voltará cedo ou tarde, assim que eles terminarem o que estão fazendo.
SYLVANUS: Você
sente que ele voltará?
DUANE: Claro. Não
sinto nenhum medo por ele, absolutamente. Apenas um pequeno arrependimento por
eu não estar experenciando a mesma coisa. É Isso.
SYLVANUS: Você
sente falta dele e sente que ele voltará.
DUANE: Ele nem está
desaparecido. Ele sabe onde está, e eu sei onde ele está.
SYLVANUS: (Muito
surpreso) Você sabe onde ele está? Bem, onde você acha que ele está?
DUANE: Não nesta
Terra.
SYLVANUS: Você acha
que ele não está na Terra?
DUANE: Certamente
que não. É ridículo para o Homem assumir que ele é a única sociedade civilizada
tecnológica no universo… É ridículo. Os povos (dos UFOs) não estão aqui para
fazerem guerra ou eles já nos teriam destruído a muito tempo.
SYLVANUS: Algum de
vocês já leu bastante sobre discos voadores?
ROGERS: Um pouco.
SYLVANUS: E você,
Duane?
DUANE: Tanto quanto
qualquer um.
SYLVANUS: Bem,
alguns leem bastante outros um pouco.
ROGERS: Não sou um
fã, pelo menos não era até agora.
DUANE: Eu não sigo
esse assunto como faço com tantas outras coisas. Mas está lá. Eu sei que isso
(UFOs) é real. Não é um fenômeno natural. Eu convivo com isso há dez ou doze
anos. Eu os tenho visto o tempo todo. Não é novidade para mim. Não é uma
surpresa.
DUANE: Eu e Travis
discutimos isso muitas, muitas vezes longamente e ambos dissemos que, se algum
dia víssemos um UFO de perto, iríamos imediatamente ficar tão diretamente sob o
objeto quanto fisicamente possível.
SYLVANUS: Se você
visse um, iria para debaixo dele?
DUANE: Nós
discutimos isso várias vezes. Seria uma oportunidade boa demais para ser
deixada para trás e, quem quer que fosse deixado no chão, se um de nós não
entrasse, para tentar convencer quem estava na nave a voltar e pegar o outro.
Mas ele (Travis) agiu exatamente como dissemos que faríamos, e ele foi direto
para o objeto. E ele recebeu os benefícios por isso.
SYLVANUS: É o que
você espera. Mais alguma coisa que gostaria de acrescentar?
DUANE: Nada além de
que não temo por sua vida. Ele não está em perigo. Irá retornar cedo ou tarde,
quando eles estiverem preparados, ou quando ele estiver.
SYLVANUS: Você sabe
que ele está definitivamente…
DUANE:
(Interrompendo) Tendo a experiência da vida dele! Não acredito que esteja em
perigo, de forma alguma, ele voltará. Tudo que posso dizer é que eu gostaria de
estar com ele.
SYLVANUS: Pode me
dar algum fundamento para essa impressão? Não estou tentando ridicularizar, não
me entenda mal.
DUANE: Ah não.
Todos em minha família…
ROGERS:
(Interrompendo) Consideravam a ideia há tempos.
DUANE:
(Continuando) Nós prestamos muita atenção nisso. Nós convivemos com isso (UFOs)
por dez anos. Com o fato de que eles estão aqui e que os vemos regularmente. E
eles não matam pessoas. Eles não matam pessoas! Não é por isso que estão aqui…
Simplesmente ele se foi e está tendo a experiência da vida dele. E tudo que eu
gostaria é de estar lá, a qualquer custo.”
Resposta de Walton: Ele e Rogers
alegam que Duane e a mãe de Travis estavam, sim, bastante aflitos com o
desaparecimento. Que seus comentários aparentemente despreocupados eram para se
autoconvencerem de que Travis estava seguro. Walton salienta que sua mãe era
uma pessoa emocionalmente forte, já que criou sozinha seus seis filhos,
portanto, acostumada com os percalços do destino. E que os comentários do
subdelegado Coplan não expressam a realidade dos fatos. O próprio Philip Klass
confirmaria, de forma contraditóra, que Rogers e Duane, em 08/11, foram
questionar o delegado Gillespie a respeito da paralisação das buscas.
Por outro lado, há
a assunção de que sua família comentava sobre o tema ufologia antes da abdução.
Ele mesmo assume ter visto um UFO anteriormente e que seu irmão também chegou a
presenciar um outro, tendo com ele, inclusive, a seguinte conversa, conforme
relatado no livro “Fogo no Céu”: “Se eles levarem você, faça eles voltarem e me
levar também.”
Síntese: Talvez seja
impossível determinar ao certo se realmente houve uma despreocupação com o
sumiço de Travis, aqui temos a oposição da palavra de um contra a do outro.
Contudo, as acusações de que a família Walton seria interessada em UFOs parece
proceder, ainda que não se chegue a caracterizar um extremo fanatismo.
Apesar de aduzir
que o discurso do irmão visava reassegurar um sentimento de tranquilidade
quanto ao seu bem-estar, Walton não nega as respostas que Duane deu para
Sylvanus, concordando até que houve um certo exagero por parte do irmão. Travis
não raramente também costuma assentir que ele e sua família sempre nutriram
interesse sobre o assunto.
4ª acusação: Houve outras
farsas anteriores perpetradas pela família de Walton.
A mãe de Walton
passava alguns meses do ano no rancho localizado na cidade de Heber, de
propriedade da família Gibson, que o cedia generosamente de forma gratuita.
Segundo Klass, os Gibsons foram vítimas de inúmeras brincadeiras e trotes
realizados pela senhora Kellett, chegando a receber notícias falsas sobre
mortes de vacas e acidentes com tanques de água.
Resposta de Walton: Não foram
encontradas alegações opostas sobre esse item em particular.
Travis Walton (fonte: https://www.megacurioso.com.br/)
5ª acusação: Vários fatores controvertidos a respeito dos exames de polígrafo.
Travis não
compareceu ao exame oficial de polígrafo previamente acordado com o delegado
Gillespie a ser realizado no dia 14. Logo depois, num primeiro teste particular
patrocinado pela APRO e pelo National Enquirer, Travis teria falhado, resultado
que foi omitido da pesquisa oficial divulgada para a imprensa.
Houve êxito em um
teste de polígrafo posterior, porém Klass coloca em xeque a competência e a
escolha do respectivo examinador.
Resposta de Walton: A justificativa
para o não comparecimento ao teste de polígrafo acordado se deu pela falta de
privacidade. A princípio, o combinado era que o teste fosse feito em completo
sigilo, pois Travis ainda estaria se recuperando do ocorrido, sem condições de
enfrentar o assédio de repórteres, porém houve a notícia de que a impressa já
estava no local antes mesmo do horário estabelecido.
Nesse mesmo
sentido, os médicos da APRO explicaram que os resultados do teste de polígrafo
são determinados pelo estresse da pessoa examinada, logo seria altamente
contraindicado que Travis fizesse o teste naqueles primeiros dias. Porém, um
teste particular acabou sendo realizado com resultado negativo e, pelo parecer
médico, descartado da pesquisa da APRO.
Síntese: Como bem
salientou John Harney, que considera o caso uma farsa, “Um dos aspectos mais
estranhos do caso é a obsessão, tanto por céticos quanto por crentes, com
testes de polígrafo em testemunhas e membros da família de Walton. A regra
neste caso era aparentemente que se o examinador do polígrafo não produzisse os
resultados desejados, ele não era bom.”
O meio científico
parece estar longe de reconhecer os resultados do polígrafo como uma prova
confiável. Em síntese, o teste detectaria múltiplas reações fisiológicas do
examinado diante de um questionamento, pressupondo uma alteração psicofísica
significativa no caso de respostas inverídicas. Acontece que é lógico supor que
pessoas diferentes reajam de formas particulares a um mesmo evento, sendo
impossível determinar de antemão uma resposta psicológica uniforme. Alguém com
um bom autocontrole eventualmente passará impune pelo polígrafo, enquanto um
indivíduo ansioso poderá provocar uma punição irreal para si mesmo. O teste
também desconsidera indícios de psicopatia, onde há um relevante e evidente
rebaixamento da empatia e da comiseração.
Mesmo considerando
a validade do teste, teríamos outra vulnerabilidade evidente: ele detecta o que
o indivíduo considera como verdade. Então, para validar o teste, basta que
exista a crença no fato, ainda que ele não tenha ocorrido na realidade.
De qualquer forma,
uma absoluta desconsideração aos testes do polígrafo também não parece ser
razoável, pois muitas pessoas o têm em alta conta, desconhecendo seus detalhes
técnicos. Nesse caso em particular, Walton e os demais seis lenhadores, assim
como sua mãe e irmão passaram tranquilamente nos exames e, a simples disposição
ao teste, indica ao menos uma boa fé perante a acusação de falsidade.
6ª acusação: A teoria do
contrato.
O contrato de
Rogers para a poda das árvores da região de Turkey Springs estava seriamente
atrasado. Além do mais, Rogers subestimou a dificuldade do serviço,
apresentando uma oferta baixa no momento da licitação. Portanto, naquele
momento era por demais oneroso seguir com o contratado, sendo mais vantajoso
forçar uma eventual rescisão por motivo de força maior, o que, ao mesmo tempo,
traria o benefício de não ficar marcado negativamente para novas contratações
junto ao serviço florestal.
Nessa hipótese de
rescisão, dependendo da oferta do contratante que daria continuidade ao
trabalho, Rogers possivelmente receberia um montante considerável, por volta de
U$ 2.600,00, e estaria livre para procurar por novos contratos de valores mais
elevados.
Resposta de Walton: Travis, assim
como Klass, argumenta extensamente sobre a questão do contrato de Turkey
Springs. Ao contrário do que foi dito na acusação, tratava-se de um contrato
bem lucrativo pois Mike Rogers rebaixou o preço por hectare justamente para
ganhar a licitação da concorrência. Ainda assim, o valor estava bem acima do
que normalmente o serviço florestal ofertava.
Atrasos contratuais
eram rotineiros nesse tipo de serviço e, frequentemente, se pedia uma
prorrogação que ao final não se tornava onerosa para nenhuma das partes. Em último
caso, se realmente Rogers quisesse rescindir o contrato por qualquer tipo de
motivo, não precisaria apelar usando de uma manobra tão espetaculosa como foi a
história com o UFO, simplesmente bastaria entrar em contato com o Serviço
Florestal comunicando suas intenções.
Síntese: Talvez a teoria
do contrato tenha sido a que mais perdeu força entre os detratores do caso no
decorrer dos anos.
Rogers já havia
participado de licitações e, após o ocorrido, permaneceu no mesmo ramo entrando
em outros contratos junto ao serviço florestal. Outrossim, o valor que acabou
recebendo decorrente da rescisão tornou-se irrisório quando dividido entre
todos os membros da equipe. E, se fosse o caso, Rogers seria o único
interessado em encerrar antecipadamente o contrato, portanto não faria sentido
o envolvimento dos demais numa suposta farsa.
Justamente por todo
esse histórico, fica difícil imaginar que uma história enganosa que ganhou
proporções mundiais e que envolveu um número elevado de pessoas permanecesse
ilesa durante tantos anos por motivações banais.
7ª acusação: Mike Rogers teria
se inspirado no filme “The UFO Incident” para engendrar a farsa com o disco
voador.
Televisionado pelo
canal NBC duas semanas antes da ocorrência na floresta, o filme dramatiza a
famosa abdução do casal Hill nos anos 60, quando retornavam de viagem do Canadá
para sua casa em New Hampshire, sendo capturados por criaturas estranhas e
forçosamente submetidos a procedimentos médicos a bordo do UFO.
Resposta de Walton: Apenas Rogers
admitiu ter assistido os minutos iniciais do filme, Walton não possuía um
televisor na época e os demais colegas também não o teriam assistido. Segundo Walton,
se seu amigo intencionava esconder alguma coisa, teria negado qualquer
referência ao filme.
Walton minimiza a
declaração dos estudiosos quando julgam que programas e notícias ufológicas
influenciam os relatos das testemunhas, a sugestionabilidade de um assunto tão
marginal não chegaria a tal ponto.
Síntese: A matéria do
jornal “The San Antonio Star”, de 01/08/1976, noticia que “Walton admitiu em
determinado momento, mas depois negou que assistiu o especial de duas horas da
NBC, The UFO Incident, transmitido em 20 de Outubro.”
De fato, trata-se
de uma coincidência interessante que o filme tenha sido televisionado apenas
algumas semanas antes do ocorrido. O caso Hill, como sabemos, popularizou o
fenômeno das abduções a partir de sua publicação em 1965, trazendo todos os
paradigmas que nos são conhecidos atualmente, lapso temporal, supostos procedimentos
médicos forçados, tour pela nave, amnésia etc.
É evidente que os
dois casos são muito similares (inclusive no início do filme logo se fala do
som de bipe também presente no relato de Walton) e, costumeiramente, os
pesquisadores efetuam essa espécie de correlação entre os casos da literatura
ufológica. Contudo, a similitude pode ser usada para duas finalidades opostas
dependendo da conveniência de cada um, os crédulos dirão que ela representa um
padrão do fenômeno, servindo para corroborá-lo; os céticos, por seu turno,
argumentarão que esse fator exerce uma função indutora e influente para a
criação de fantasias.
Num comparativo com
a literatura, um outro pesquisador do caso, o ufólogo Karl Pflock, que também
entende que tudo não passaria de uma farsa, aponta um paralelo curioso entre a
história de Walton com a obra de ficção científica “Universe”, do autor Robert
A. Heinlein, publicada primeiramente no ano de 1941. Em sua opinião, haveria
similaridades demais para ser uma simples coincidência (há uma comparação
pormenorizada entre as histórias no link sobre a recente teoria lançada por
Ryan Gordon).
8ª acusação: A opinião
particular dos médicos presentes na sessão de hipnose.
O psiquiatra Jean
Rosenbaum teria confirmado que Travis e seus familiares eram fascinados por
histórias ufológicas, segundo pode constatar pelo contato que travou com
Walton.
A despeito do
próprio desaparecimento, o Dr. Rosenbaum e o Dr. Gorman concluíram que Travis
realmente acreditava na história da abdução, mas que isso era fruto de uma
crise mental severa que culminou com a combinação de imaginação, amnésia e
psicose transitória. O fator precipitante do surto foi o complicado histórico
familiar de Walton que havia ganhado um novo capítulo recentemente.
Travis passava por
um momento de fragilidade psicológica pela morte do pai no ano anterior. Este
havia abandonado a família quando Travis contava poucos meses de idade.
Posteriormente, o segundo casamento de sua mãe foi interrompido por um novo
abandono do cônjuge. E, segundo consta, seu verdadeiro pai havia tentado uma
reaproximação por duas vezes antes de sua morte.
Por sua vez, o Dr.
Kandell corroborava a ideia de que a família Walton tinha notório interesse em
UFOs e acrescentou um detalhe curioso decorrente do resultado do exame de urina
de Walton. A amostra não mostrou uso prévio de drogas, mas, conforme explicação
do médico, se uma pessoa permanece sem alimento durante um ou dois dias, o
corpo naturalmente inicia um processo de eliminação da própria gordura, nesse
caso expeliria através da urina uma substância chamada acetona, fato não
confirmado pelo resultado final.
Resposta de Walton: Travis entende
aqui, assim como em relação a muitos que opinam em desfavor do caso, que se
trata de uma opinião simplista e superficial de pessoas que julgam o caso sem
examinar todos seus pormenores.
Síntese: Novamente nos
parece que a razão está do lado de Walton nessa questão.
Não há notícias até
o momento de nenhum histórico psiquiátrico desabonador de Travis e, apesar da
qualificação médica dos envolvidos, para se chegar oficialmente a um
diagnóstico tão complexo como esse, é necessária uma avaliação mais
aprofundada, o que não aconteceu. Por outro lado, se considerarmos que houve de
fato manifestação do fenômeno, certamente que Walton ficaria num estado
psicológico abalado por vários dias e, nesse caso, não seria sensato considerar
que ele padecia de algum tipo de psicopatologia.
Ademais, acusações
desse tipo perdem a validade diante do testemunho dos demais lenhadores, pelo
menos até a parte do avistamento do UFO. E, mesmo supondo que a parte da
abdução propriamente dita seja fruto de alucinação ou até mesmo invenção,
teríamos que elaborar uma boa explicação que se encaixe em todo o complexo
contexto da história.
Após ter sido
devolvido pelos abdutores, Travis alega ter reaparecido com uma barba de uma
semana, ter perdido por volta de cinco quilos e sentir muita sede. Qualquer
argumentação nesse sentido, se recebeu ou não alimentação e hidratação nesse
período, de que forma isso teria se realizado, parece ser pura especulação.
9ª acusação: Havia interesse
na oferta financeira oferecida pelo jornal National Enquirer.
Anualmente, o
tablóide National Enquirer oferecia um prêmio de 100 mil dólares para qualquer
pessoa que apresentasse provas positivas da existência de UFOs, avaliadas
previamente por um painel de cientistas do próprio periódico. Segundo Klass,
como a família Walton era interessada no assunto e o respectivo jornal era
popularmente conhecido, provavelmente estavam cientes do prêmio.
Resposta de Walton: Não foram
encontradas alegações opostas sobre esse item em particular.
Síntese: O National
Enquirer, na publicação de 13/07/1976, concedeu o prêmio de cinco mil dólares
para o caso ufológico mais extraordinário do ano de 1975 para a história de
Walton, que ficou com 2.500 dólares, sendo o restante do valor dividido entre
os demais colegas.
A título de
informação, vale a pena esclarecer que o National Enquirer se trata de um
tablóide sensacionalista daqueles que vulgarmente expõem a intimidade de
celebridades e exploram teorias conspiratórias.
Prêmio do National Enquirer
(fonte: https://www.megacurioso.com.br/)
10ª acusação: Steve Pierce, um dos lenhadores, sugeriu que todo o incidente foi uma
farsa.
Em 1978, no livro
recém publicado sobre o caso, “Ultimate Encounter”, do pesquisador Bill Barry,
Klass tem notícia de que Steve Pierce estaria confrontando Rogers no sentido de
repudiar o caso. “O livro de Barry cita Rogers dizendo: ‘Steve disse a mim e a
Travis que havia recebido uma oferta de dez mil dólares apenas para assinar uma
negação. Ele disse que estava pensando em aceitar… Então eu disse a ele: você
gastará o dinheiro sozinho e ficará machucado.’’’ Klass entende a fala de
Rogers como uma ameaça, caso Pierce aceite o suborno e altere a história. Bill
Barry sugere que o ofertante seria o próprio Philip Klass que, por sua vez,
nega o envolvimento. No entanto, após saber do ocorrido, Klass contacta Pierce
e angaria novas informações sobre o caso.
Pierce diz que a
equipe costumava trabalhar até às 16h00, mas que no dia do incidente o horário
do expediente foi estendido em duas horas, até o dia escurecer. Afirma ainda
que Travis não teria trabalhado nesse dia, sob a alegação de que estava doente.
E que Rogers se ausentou do local de trabalho por umas duas horas no período da
tarde. Klass acrescenta “Quando eu disse a Pierce que acreditava que a história
da abdução pelo UFO era uma farsa, ele respondeu: ‘Eu também. Se eu pudesse
provar que era uma farsa, eu certamente o faria.’”
Karl Pflock cita a
transcrição de uma entrevista por telefone de Klass para Pierce que nunca veio
a público:
“KLASS: O que você
viu?
PIERCE: Ah… Bem, eu
pensei que era algo que um caçador de cervos armou. Porque era a temporada dos
cervos, então ele podia ver, você sabe. Bem, eu não conseguia ver o fundo, o
topo ou os lados, tudo que eu conseguia ver era a frente daquilo. Não dava para
saber se tinha um fundo, uma parte traseira ou alguma coisa. Era… Ah, eu não
consigo dizer que cor era.”
Resposta de Walton: Walton contraria
genericamente todas as alegações de Klass. Travis tece inúmeras recriminações
contra ele no sentido de falsificação deliberada de provas e demais vícios
tendenciosos de pesquisa. Acusa-o, ainda, de estar a serviço da CIA ou outra
organização governamental para fins de desinformação e Stanton Friedman, no
documentário “Travis – The True Story of Travis Walton”, sugere que a CIA possa
ter usado Klass para tal objetivo.
Síntese: Steve Pierce e
John Goulette são os dois lenhadores que mais apareceram nos últimos anos dando
seus testemunhos em simpósios ufológicos, programas e transmissões de internet,
por vezes em conjunto com Travis Walton. Em nenhuma dessas ocasiões Pierce
sugere fraude, pelo contrário, costuma dar credibilidade à história de Walton,
confirmando o avistamento do UFO. Apenas opina diversamente sobre o que teria
ocorrido com Walton após seu desaparecimento, para ele a ocorrência se tratou
de um experimento de controle mental, talvez até mesmo sem o envolvimento de
seres alienígenas.
Confirma também o
suposto suborno de Philip Klass para desmentir o caso, porém nos parece que tal
acusação tem base apenas na suposição, já que a proposta foi oferecida por
terceiros e não diretamente pelo próprio Klass.
Curiosamente, em
25/01/2016, Pierce posta em seu canal de Youtube um relato de abdução que ele
mesmo teria sofrido na rota 666, dirigindo-se para o Novo México, omitindo
qualquer citação a esse respeito em suas manifestações posteriores.
Em comentário sobre
seu artigo “Archive Documents Show Klass Did Not Try to Bride Travis Walton
Witness”, Robert Sheaffer, além de absolver Klass do suborno, aduz que Pierce
acreditava realmente que tudo se tratava de farsa e que ele “decidiu
recentemente que seria uma jogada inteligente se juntar a Travis em ‘sua coisa’
e, assim, compartilhar alguns dos benefícios que isso proporcionaria.”
NOVAS REVELAÇÕES DE
WALTON
Em participação no
Podcast “The Joe Rogan Experience” de 19 de Janeiro desse ano (2021), Walton
surpreendentemente revela outras experiências com o fenômeno UFO. Em 2014
avistou, na presença da namorada e do filho, um UFO triangular “que se movia
mais rápido do que uma aeronave” e que teria pairado sobre eles, partindo em
ângulo reto para os céus em seguida. Segundo o que diz, tal objeto fora visto
por várias outras testemunhas naquele dia.
Relutantemente
concordou em falar sobre outro evento mais impressionante ocorrido na infância.
Após despertar de um sonho durante a noite, viu um ser perto da cama, ele era
pálido, com grandes olhos, sem cabelos e trajes pretos, descrição similar que
daria posteriormente aos primeiros seres descritos a bordo do UFO em 1975.
Walton menciona
também outras experiências incomuns, do tipo sensitivas, que entende ter
ligações com o fenômeno.
EPÍLOGO
As recentes
declarações de Mike Rogers talvez apontem finalmente para uma solução
definitiva do caso. Contudo sabemos que na casuística ufológica, mesmo quando
são apresentadas versões denegatórias, as histórias costumam persistir com sua
aura enigmática e inconclusiva. De qualquer modo, qualquer tipo de versão, de
sua autenticidade ou falsidade, depende da ponderação de vários elementos
complexos para se formar, ao final, uma narrativa concisa.
Vários autores
teorizaram sobre uma possível farsa, para John Harney, o caso de Walton gera um
problema para os céticos porque envolve outras seis testemunhas que
presenciaram o UFO. Klass teria presumido que necessariamente todos teriam
participado do embuste, nesse caso não necessita existir explicação para o
objeto na floresta, porque ele nunca teria existido, porém a problemática
recairia sobre o comportamento crível dos participantes.
Karl Pflock, apesar
de minimizar a atuação deles como sinônimo de prova segura, pensa que seria
improvável que todos os seis lenhadores pudessem estar envolvidos na fraude e
“ainda assim, parecer tão convincentes, sem falar em terem mantido fielmente
suas histórias sob o escrutínio que receberam.” De fato, o vice delegado Chuck
Ellison, o primeiro a ter contato com as testemunhas depois do sequestro,
relata que alguns dos homens estavam chorando naquele momento e, num especial
para o canal Sci Fi, eles demonstram muita emoção ao relembrarem do episódio.
Harney prossegue
supondo outra versão de que apenas Rogers, Walton e alguma terceira pessoa
(provavelmente o irmão de Travis) sabiam da farsa, nessa hipótese o problema
anterior desaparece e incide em outro lugar. Aqui os farsantes teriam que lidar
com a logística do engodo, engendrando um objeto que convencesse os demais de
que se tratava realmente de um disco voador, o que não parece ser tarefa fácil
também. Os lenhadores relatam que o UFO “era muito bonito”, fato que
enfraqueceria a explicação dada por Santon Flake, outra autoridade da cidade,
de que o objeto armado por Travis e seu irmão era uma jangada inflável
iluminada ou algo semelhante. A atual versão da “torre de vigilância” se
encaixa nesse cenário e pode se adequar bem para suprimir todas essas falhas,
mas, por outro lado, só ganharia força significativa se Rogers mantiver sua
confissão, fato não confirmado até o momento.
Montagem do UFO avistado em relação à
caminhonete, publicada na rede social de Mike Rogers (fonte: facebook)
Segundo disse Allen Hynek na época dos fatos, a história de Walton “Se
ajusta a um padrão. Se esse fosse o único caso registrado, então eu teria que
dizer: é impossível que eu acredite. Mas no Centro de Estudos de UFOs, temos
cerca de duas dúzias de casos de abdução semelhantes atualmente sendo
estudados. Há algo acontecendo.”
Jacques Vallée, por
sua vez, após se encontrar com Rogers e Walton, afirmou estar “convencido de
que eles estão dizendo a verdade, como eles a experimentaram, embora eu não
esteja apto a tomar os dados hipnóticos literalmente, por razões que expliquei
detalhadamente em trabalhos anteriores.”
O comentário de
Vallée nos traz para outro ponto importante do caso, a questão da hipnose.
Nesse aspecto, talvez seja interessante que se faça a separação dos casos de
abdução em três grupos: as que são recordadas conscientemente (caso Villas
Boas), as que são lembradas inteiramente sob hipnose (visitações de
dormitórios), e um terceiro grupo, as mistas (casal Hill), onde uma parte das
lembranças se mantém consciente e a outra é resgatada com hipnose. Nesse último
grupo, num grande número de casos, as testemunhas apresentam uma lembrança
consciente apenas do UFO, sendo que a interação com seres geralmente é
hipnoticamente relembrada. A narrativa de Vallée nos dá a entender que esse foi
justamente o caso de Travis.
Umas das críticas
atuais quanto ao uso da hipnose é de que não se trataria de uma técnica
confiável para relembrar a realidade dos fatos, opinião que o próprio Vallée
compartilha, pelo menos parcialmente. E é interessante notar o comentário que
ele tece sobre o hipnotizador de Travis, James Harder, que já era seu conhecido
no meio ufológico, quando o qualifica de “crédulo em extraterrestres hardcore”.
Entretanto, Walton
claramente desmente essa tese quando escreve que “Durante a hipnose, não me
lembrei de nenhum fato que já não tivesse me lembrado antes.”
Outra menção
significativa do livro Revelations de Vallée, é a associação que ele faz da
abdução de Walton com o caso que investigou na cidade francesa de Pontoise,
ocorrido em 1979. Os dois episódios teriam contextos bens semelhantes, o caso
Pontoise envolveu o desaparecimento de um homem por sete dias, supostamente
abduzido de dentro de seu veículo, na presença de outras testemunhas.
Ao final da
pesquisa, Vallée descarta em absoluto a hipótese de abdução, restando fortes
indícios de que se referia a um experimento sociológico governamental,
envolvendo fins militares, científicos e políticos. Segundo seu informante, o
homem desaparecido foi dopado e submetido a um estado mental alterado de alta
sugestionabilidade.
Travis atualmente
parece ter chegado numa síntese de suas especulações sobre a abdução. Costuma
mencionar que o raio disparado pela espaçonave era decorrente de um mecanismo
próprio da mesma que o atingiu involuntariamente. Diante disso, os seres
tiverem a postura benevolente de trazê-lo a bordo da nave para restaurar sua
saúde física, que poderia estar seriamente comprometida. Em resumo, não teria
sido uma abdução premeditada pelos seres.
Estranhamente tal
teoria não foi concebida em seu livro, onde há várias especulações distintas.
Ali, Walton notoriamente considera viável que tudo não tenha passado de uma
experiência governamental/militar: “Admito achar esta explicação mais
facilmente aceitável do que suas alternativas. A presença daqueles indivíduos
de aparência humana chamou-me a atenção como algo divergente das atividades
puramente extraterrestres. (…) Desde então, certas coisas aconteceram sugerindo
uma poderosa influência humana por trás de tudo.” Em seguida diz: “Talvez toda
a minha memória consciente sobre o ocorrido naqueles cinco dias seja uma
memória implantada e não algo que realmente tenha acontecido. Um evento
subsequente envolvendo a inteligência militar, o qual não narrarei ainda,
também se encaixa neste cenário.”
O desentendimento
recente com Mike Rogers não parece trazer novos elementos para uma melhor
análise, mesmo porque desavenças frequentes entre os dois já foram reportadas
no livro. Eles se tornaram cunhados posteriormente e sempre travaram uma íntima
amizade, Rogers se uniu em várias ocasiões junto a Travis para defender
publicamente a veracidade da história e, inclusive, é o ilustrador de vários
desenhos reconstitutivos do caso. Portanto, talvez essa atual confissão tenha
um simples propósito difamatório, feita num momento de exaltação de nervos.
Cumpre ressaltar que aparentemente Rogers parece um pouco confuso no
depoimento, dando a entender que não soube exatamente os detalhes da farsa,
algo muito questionável quando olhamos para todo o contexto da história.
Um ponto relevante
parece ser exatamente esses novos relatos de Travis com o fenômeno UFO. Com
essas informações, o incidente de 1975 já seria o terceiro contato travado com
o fenômeno.
Se adotarmos uma
visão científica rígida, esses elementos podem desabonar grandemente o caso, se
considerarmos, igualmente, que estamos lidando com um fenômeno extremamente
raro. Dificilmente podemos conceber que uma mesma pessoa passe por várias experiências
desse tipo durante a vida.
Isso nos remete
naturalmente ao que se convencionou em chamar de síndrome do contatado, onde,
após uma experiência ufológica, o indivíduo passa a relatar contatos frequentes
com UFOs e até mesmo com seres extraterrestres, tornando-se um verdadeiro
fanático sobre o tema, exatamente uma das acusações que pesam sobre Walton.
Casos assim acabam
gerando uma grande problemática para seus defensores, na medida em que demandam
extensas justificativas. Certamente uma visão mística acabaria com qualquer
contradição lógica das histórias. Por outro lado, se quisermos adotar uma
postura científica que valide a manifestação do fenômeno UFO, teríamos que
lançar mão de uma teoria que gere um vínculo necessário entre determinados
indivíduos e o fenômeno, algo que inexiste até o momento, por sinal. Porém não
devemos fechar os olhos para a alta quantidade de casos que indicam eventos
paranormais correlacionados aos fenômenos ufológicos.
Alternativamente,
há o caminho de simplesmente reconhecermos nossa ignorância em relação ao tema,
nos limitando a especulações mais ou menos precisas e acrescentando os dados à
casuística. Nessa circunstância, contudo, a pesquisa sobre a natureza
intrínseca do fenômeno necessariamente se desvigora.
E então, qual o seu
veredito?
Referências:
Friedman, Stanton; Marden, Kathleen: Fact, Fiction, and Flying Saucers
Klass, Philip: UFOs: The Public Deceived
Vallée, Jacques:
Revelations
Walton, Travis:
Fogo no Céu
http://magoniamagazine.blogspot.com/
Podcast “The Joe Rogan Experience”
Youtube: Canal João
Marcelo
https://canaljoaomarcelo.blogspot.com/
Documentário “Travis – The True Story of Travis Walton”
Paranormal Witness, episodio 9, temp. 2 – Syfy Channel
Revista Fortean
Times