Pages

segunda-feira, 27 de junho de 2022

BREVES REFLEXÕES ACERCA DO COTIDIANO DA UFOLOGIA

 

BREVES REFLEXÕES ACERCA DO COTIDIANO DA UFOLOGIA

Crônica de Gordon Bates*

O Autor é humorista, apresentador de Talk Show, ufólogo e senador romano reencarnado, que fora expulso do anfiteatro por apoiar a plebe que ficava fazendo micagem por detrás da cerca.




              Momentos históricos vivemos na Ufologia. Algo realmente “bombástico” está para acontecer. Ou a tão propalada e aguardada revelação sobre visitas extraterrestres se aproxima, ou cientistas vão assumir de vez que viver de falar mal de ufologia e afins dá inúmeros “likes” e muito dinheiro, ou um sem número de gente vai obrigar a lei a retornar às internações compulsórias para tratamento.

              O cotidiano da Ufologia, caracterizado pelas afirmações de cunho exclusivamente crédulo, eternas esperanças de que no ano-que-vem tudo será revelado, e de histórias inverídicas de que governos e forças armadas dobram-se às exigências de ufólogos, nos últimos meses tem sido marcado pela perplexidade. Perplexidade de quem assiste. De camarote ou dali mesmo da arquibancada. Porque um dos atrativos da Ufologia é a graça, a beleza, o lado infantil, de espetáculos populares.

              O mundo ilusório da Ufologia vai desde frases que se sustentam em “provas incontestáveis”, como se isto existisse, até o atual fascínio pela divulgação, do Pentágono, de objetos filmados pela Marinha, que desenvolvem velocidades estonteantes, mais do que estonteados ficam certos ufólogos com esse tipo de revelação. Ou seja, ufólogos, políticos, alguns da Imprensa e até militares, deslumbram-se em razão de um mero efeito ótico, quando objeto filmado é fixado desde a aeronave e isto faz com que o mar abaixo esteja sendo cruzado por uma rapidez que nenhum aparelho terrestre conseguiria. Ou diante aquele vídeo cuja luz focada não passa do formato dado pelo sistema de lentes da filmadora, que a fez parecer um tipo de “pirâmide” passando no céu. E as já convincentes explicações dadas tecnicamente, não tão divulgadas quanto as estarrecidas impressões de deslumbrados, ficam em segundo plano.

              Porém os ufólogos evoluem, fazendo jus aqui a um conceito mais aceitável de evolução em termos de movimento, que de fato é pra baixo, pra cima, para a esquerda, para a direita, não apenas ascendente como creem certas correntes religiosas. Enquanto as ciências vão para cima, ufólogos fazem verdadeiras manobras erráticas na linha de sua evolução de pensamento. Tal como os objetos que dizem pesquisar. Sobem pouco quando provocados, mas depois seguem em sua longa jornada de queda. Aliás, isto marcou muito o interesse pelo fenômeno de fato existente – as hipóteses de origem nem são para este texto. Então os que desejam ser encarados sem escárnio, preferem agora chamá-lo de UAP e não mais de UFO. UAP é Unidentified Aerial Phenomena, ou Fenômenos Aéreos Não Identificados. Mais abrangente, não se negue.

              Para ufólogos, isto pouco importa. Importante é continuar evoluindo no estudo, de maneira bem característica. É só ver. Não bastassem os vídeos do Pentágono, novo momento histórico ocorreu em Junho de 2022. O Dia Mundial da Ufologia, 24, vem a calhar com uma crença de cunho religioso, pois que os ETs, sem dúvida, têm sido tão cultuados na ufologia quanto os Santos na Religião. Se São João inspira as agradáveis e gastronômicas festas juninas, neste histórico 2022 levou a Ufologia ao Senado da República. Vários outros podem muito bem ser associados ao tema. Santo Antonio teria sido um extraterrestre que veio à Terra para impulsionar o desenvolvimento genético e por esta razão é exatamente chamado de Santo Casamenteiro. Não julgue o caro leitor que haja exagero em uma brincadeira respeitosa dessas. É exatamente assim que raciocina, que pensa, que interpreta, a Ufologia, notadamente em sua corrente chamada Ufoarqueologia. Consulte Zecharia Sitchin para saber de supostos Anunnakis, de um Nibiru gigantesco que, se verdadeiro fosse, já teria feito nosso Sistema Solar vivar cacos. Ou um Daniken, só para fazer “pito pitô” para os arqueólogos.

              Atualmente, na Ufologia “de raiz” (claro, a expressão do modismo caminha ao lado dos ufólogos), tudo é do mesmo jeito. O momento histórico levou ao Senado o que deveria, no entendimento do grande público, ter sido uma Audiência Pública, para discussão sobre o fenômeno Óvni. Perdão, UAP. Deveria, conforme as claras insinuações feitas por extasiados ufólogos que ajudaram a realizá-la. Tudo levava a crer, propositalmente, no sentido da grande importância que teria uma audiência pública, que se destina a analisar a importância do tema para a sociedade, para a comunidade, para o Estado, enfim para a Nação. Mas cingiu-se a uma Sessão Especial comemorativa do dia 24 de Junho, não com vistas a São João, mas ao dia Mundial da Ufologia.

              Foi portanto histórico, sob dois sentidos – o assunto sendo tratado no Senado Federal. Ainda que não pelo Senado Federal. Em segundo lugar, porque os ufólogos firmaram oficialmente, já que falavam daquela importante Tribuna, sua eterna, constante e habitual postura, que atravessou o tempo e ao que tudo indica permanecerá. Histórico portanto.

              Foi impressionante assistir a ufólogos declarando expressamente, ou melhor repetindo, que a Ufologia é pura ciência, o que deve ter arrancado risos de cientistas. E a razão é que de vez em quando tenta alguma análise de solo, bem como de fotografias e filmes. Ainda bem que ao menos isto ocorra, porém com certos exageros, tais como elaborar laudos com forma e aparência de documento técnico, para meramente falar de diferenças de campos eletromagnéticos nas regiões dos belos Agroglifos, no que diz respeito às suas variações de magnetismo remanescente após intervenções humanas. E ao mesmo tempo falarem, em plena Tribuna do Senado Federal, que já está provada a existência de seres extraterrestres! E sua visita à Terra também...?

              A Ufologia deve ser científica, mas ao mesmo tempo que fala em necessárias análises laboratoriais, leva em conta que certas ocorrências possam ser provocadas por “Elementais”, por “Seres Interdimensionais”, por “Demônios” (sim, há ufólogos que admitem essa ideia) ao invés de extraterrestres. Que diferença! Não é de espantar que certos ufólogos não resistem colocar-se pessoalmente em confusão com o próprio fenômeno. Com psicólogos e psicanalistas a palavra para que possivelmente confirmem essa notável fusão. Ufólogos assim não titubeiam em publicar que em suas pesquisas sentiam que algo estranho os impulsionava. Quando criticados ainda que muito superficialmente em razão de tal subjetividade inconveniente à credibilidade, percebendo a própria ingenuidade passam a arranjar desculpas um pouco menos cobiçosas. Eles teriam percebido tal interação entre o fenômeno e sua pessoa, porque ao tentar registrar em fotografia o Objeto, que antes vinha em trajetória errática e rápida, parece ter assumido uma simpática pose para ser fotografado.

              Beleza. Mais belo ainda é ver que há ufólogos coerentes, justiça seja feita. Haja o exemplo dos que, diante de uma indagação inesperada a respeito da sonhada credibilidade da ufologia perante a Ciência, entendem ser esta incompetente para lidar com ele. Ou seja, que o método científico não se aplica à pesquisa do fenômeno UFO, Óvni, UAP ou seja lá o que for. Que suposição se pode fazer quanto a tal competência? Para que então as religiões dele se ocupem? As correntes esotéricas, talvez? Se assim for, parece não haver necessidade de se fazer qualquer pesquisa, porque crença não requer provas. E nem provas no sentido jurídico se confundem com evidências no sentido científico, ainda que haja similitude conceitual. Este é outro sofisma feito por ufólogos de boas credenciais técnico-científicas.

              Assim vai passando o tempo e o cotidiano da Ufologia permanece em sua trilha de contradições, incoerências e, sobretudo, de extrema coragem. Porque é preciso ter coragem para se fazerem certas afirmações em público. O que se viu no Senado foi um elementar congresso de ufologia, tal como os que ocorrem eventualmente em várias localidades, destinados a atrair adeptos para uma heroica e orgulhosa Ufologia. Contudo devemos manter as esperanças.