BREVES REFLEXÕES ACERCA DO
COTIDIANO DA UFOLOGIA
Crônica de Gordon Bates*
O Autor é humorista, apresentador de Talk Show, ufólogo e senador
romano reencarnado, que fora expulso do anfiteatro por apoiar a plebe que
ficava fazendo micagem por detrás da cerca.
Momentos
históricos vivemos na Ufologia. Algo realmente “bombástico” está para
acontecer. Ou a tão propalada e aguardada revelação sobre visitas
extraterrestres se aproxima, ou cientistas vão assumir de vez que viver de
falar mal de ufologia e afins dá inúmeros “likes” e muito dinheiro, ou um sem
número de gente vai obrigar a lei a retornar às internações compulsórias para
tratamento.
O
cotidiano da Ufologia, caracterizado pelas afirmações de cunho exclusivamente
crédulo, eternas esperanças de que no ano-que-vem tudo será revelado, e de
histórias inverídicas de que governos e forças armadas dobram-se às exigências
de ufólogos, nos últimos meses tem sido marcado pela perplexidade. Perplexidade
de quem assiste. De camarote ou dali mesmo da arquibancada. Porque um dos
atrativos da Ufologia é a graça, a beleza, o lado infantil, de espetáculos populares.
O
mundo ilusório da Ufologia vai desde frases que se sustentam em “provas
incontestáveis”, como se isto existisse, até o atual fascínio pela divulgação,
do Pentágono, de objetos filmados pela Marinha, que desenvolvem velocidades
estonteantes, mais do que estonteados ficam certos ufólogos com esse tipo de
revelação. Ou seja, ufólogos, políticos, alguns da Imprensa e até militares,
deslumbram-se em razão de um mero efeito ótico, quando objeto filmado é fixado
desde a aeronave e isto faz com que o mar abaixo esteja sendo cruzado por uma
rapidez que nenhum aparelho terrestre conseguiria. Ou diante aquele vídeo cuja
luz focada não passa do formato dado pelo sistema de lentes da filmadora, que a
fez parecer um tipo de “pirâmide” passando no céu. E as já convincentes
explicações dadas tecnicamente, não tão divulgadas quanto as estarrecidas
impressões de deslumbrados, ficam em segundo plano.
Porém
os ufólogos evoluem, fazendo jus aqui a um conceito mais aceitável de evolução
em termos de movimento, que de fato é pra baixo, pra cima, para a esquerda,
para a direita, não apenas ascendente como creem certas correntes religiosas.
Enquanto as ciências vão para cima, ufólogos fazem verdadeiras manobras
erráticas na linha de sua evolução de pensamento. Tal como os objetos que dizem
pesquisar. Sobem pouco quando provocados, mas depois seguem em sua longa
jornada de queda. Aliás, isto marcou muito o interesse pelo fenômeno de fato
existente – as hipóteses de origem nem são para este texto. Então os que
desejam ser encarados sem escárnio, preferem agora chamá-lo de UAP e não mais
de UFO. UAP é Unidentified Aerial Phenomena, ou Fenômenos Aéreos Não
Identificados. Mais abrangente, não se negue.
Para
ufólogos, isto pouco importa. Importante é continuar evoluindo no estudo, de
maneira bem característica. É só ver. Não bastassem os vídeos do Pentágono,
novo momento histórico ocorreu em Junho de 2022. O Dia Mundial da Ufologia, 24,
vem a calhar com uma crença de cunho religioso, pois que os ETs, sem dúvida,
têm sido tão cultuados na ufologia quanto os Santos na Religião. Se São João
inspira as agradáveis e gastronômicas festas juninas, neste histórico 2022
levou a Ufologia ao Senado da República. Vários outros podem muito bem ser
associados ao tema. Santo Antonio teria sido um extraterrestre que veio à Terra
para impulsionar o desenvolvimento genético e por esta razão é exatamente
chamado de Santo Casamenteiro. Não julgue o caro leitor que haja exagero em uma
brincadeira respeitosa dessas. É exatamente assim que raciocina, que pensa, que
interpreta, a Ufologia, notadamente em sua corrente chamada Ufoarqueologia.
Consulte Zecharia Sitchin para saber de supostos Anunnakis, de um Nibiru
gigantesco que, se verdadeiro fosse, já teria feito nosso Sistema Solar vivar
cacos. Ou um Daniken, só para fazer “pito pitô” para os arqueólogos.
Atualmente,
na Ufologia “de raiz” (claro, a expressão do modismo caminha ao lado dos
ufólogos), tudo é do mesmo jeito. O momento histórico levou ao Senado o que
deveria, no entendimento do grande público, ter sido uma Audiência Pública,
para discussão sobre o fenômeno Óvni. Perdão, UAP. Deveria, conforme as claras
insinuações feitas por extasiados ufólogos que ajudaram a realizá-la. Tudo
levava a crer, propositalmente, no sentido da grande importância que teria uma
audiência pública, que se destina a analisar a importância do tema para a
sociedade, para a comunidade, para o Estado, enfim para a Nação. Mas cingiu-se
a uma Sessão Especial comemorativa do dia 24 de Junho, não com vistas a São
João, mas ao dia Mundial da Ufologia.
Foi
portanto histórico, sob dois sentidos – o assunto sendo tratado no Senado
Federal. Ainda que não pelo Senado Federal. Em segundo lugar, porque os
ufólogos firmaram oficialmente, já que falavam daquela importante Tribuna, sua
eterna, constante e habitual postura, que atravessou o tempo e ao que tudo
indica permanecerá. Histórico portanto.
Foi
impressionante assistir a ufólogos declarando expressamente, ou melhor
repetindo, que a Ufologia é pura ciência, o que deve ter arrancado risos de
cientistas. E a razão é que de vez em quando tenta alguma análise de solo, bem
como de fotografias e filmes. Ainda bem que ao menos isto ocorra, porém com
certos exageros, tais como elaborar laudos com forma e aparência de documento
técnico, para meramente falar de diferenças de campos eletromagnéticos nas
regiões dos belos Agroglifos, no que diz respeito às suas variações de
magnetismo remanescente após intervenções humanas. E ao mesmo tempo falarem, em
plena Tribuna do Senado Federal, que já está provada a existência de seres
extraterrestres! E sua visita à Terra também...?
A
Ufologia deve ser científica, mas ao mesmo tempo que fala em necessárias análises
laboratoriais, leva em conta que certas ocorrências possam ser provocadas por
“Elementais”, por “Seres Interdimensionais”, por “Demônios” (sim, há ufólogos
que admitem essa ideia) ao invés de extraterrestres. Que diferença! Não é de
espantar que certos ufólogos não resistem colocar-se pessoalmente em confusão
com o próprio fenômeno. Com psicólogos e psicanalistas a palavra para que
possivelmente confirmem essa notável fusão. Ufólogos assim não titubeiam em
publicar que em suas pesquisas sentiam que algo estranho os impulsionava.
Quando criticados ainda que muito superficialmente em razão de tal subjetividade
inconveniente à credibilidade, percebendo a própria ingenuidade passam a
arranjar desculpas um pouco menos cobiçosas. Eles teriam percebido tal interação
entre o fenômeno e sua pessoa, porque ao tentar registrar em fotografia o
Objeto, que antes vinha em trajetória errática e rápida, parece ter assumido
uma simpática pose para ser fotografado.
Beleza.
Mais belo ainda é ver que há ufólogos coerentes, justiça seja feita. Haja o
exemplo dos que, diante de uma indagação inesperada a respeito da sonhada
credibilidade da ufologia perante a Ciência, entendem ser esta incompetente
para lidar com ele. Ou seja, que o método científico não se aplica à pesquisa do
fenômeno UFO, Óvni, UAP ou seja lá o que for. Que suposição se pode fazer
quanto a tal competência? Para que então as religiões dele se ocupem? As
correntes esotéricas, talvez? Se assim for, parece não haver necessidade de se
fazer qualquer pesquisa, porque crença não requer provas. E nem provas no
sentido jurídico se confundem com evidências no sentido científico, ainda que
haja similitude conceitual. Este é outro sofisma feito por ufólogos de boas
credenciais técnico-científicas.
Assim
vai passando o tempo e o cotidiano da Ufologia permanece em sua trilha de
contradições, incoerências e, sobretudo, de extrema coragem. Porque é preciso
ter coragem para se fazerem certas afirmações em público. O que se viu no
Senado foi um elementar congresso de ufologia, tal como os que ocorrem
eventualmente em várias localidades, destinados a atrair adeptos para uma
heroica e orgulhosa Ufologia. Contudo devemos manter as esperanças.