“Por que normalizamos a especulação sobre
bases alienígenas na Lua, mas difamamos uma pessoa tentando explicar
ocorrências estranhas com explicações fundamentadas?”, tuitou recentemente o
usuário Inquiring Josh.
Por que, de fato. O tema OVNI tem uma
história longa e problemática em tratar alegações extremas como a norma.
Conversas casuais sobre bases alienígenas são geralmente discutidas com não
muito mais que uma erguida de sobrancelha. É comum. Como Inquiring Josh
sugere, a situação se reforça por uma recusa tipicamente irrefletida daquelas
explicações possíveis e muito menos extraordinárias para a maioria das
histórias fantásticas geralmente ouvidas.
Deep
Prasad é um jovem entusiasta de OVNIs que tem crescido em popularidade. Ele
promove uma crença confiante de que os OVNIs estão aqui – e em abundância - e
ele alega ter passado por um evento semelhante à abdução. Essas são crenças
bastante comuns no grande esquema das coisas sobre os OVNIs, para aqueles
familiarizados com conferências, encontros, sites populares e todo o resto que
conhecemos bem.
Em seu artigo recente, Vivemos em um
Parque de Diversões Alienígena, Prasad expressa crenças como as implícitas
no título. Ele também declarou que há evidências tangíveis de bases
alienígenas. Ele também declarou que há várias estruturas alienígenas gigantescas
no lado escuro da Lua, acrescentando que membros chave da NASA e do
Departamento de Defesa têm conhecimento delas, assim como altos oficiais na
Rússia e China.
Prasad declarou em um artigo que ele informou
ao vice comandante da NORAD a como detectar e rastrear OVNIs hipersônicos. O
artigo foi recentemente editado, entretanto, e agora declara que ele informou a
“uma proeminente Organização Americana de Defesa Aeroespacial”. Não fica claro
porque “Organização de Defesa Aeroespacial” foi escrito em letras maiúsculas,
já que não é um nome próprio ou nome de agência.
Prasad recebeu um e-mail perguntando se ele
se importaria de comentar sobre a edição e esclarecer quem foi informado na
verdade. Ele não respondeu imediatamente. A edição é indicada nas imagens
abaixo, antes e depois.
A porção da subcultura OVNI disposta a, de
forma espontânea, ignorar questões óbvias dando lugar à aceitação crédula de
material inteiramente não fundamentado é mais que surpreendente. Minhas
observações diretas e pessoais nessa área contribuíram significativamente para
o meu interesse e escrita sobre o tema. Eu me deparei com tantos incidentes que
tenho certeza hoje que esqueci de muitos mais do que me lembro.
O tweet de Inquiring Josh me lembra de
uma pessoa no meio ufológico que nunca realmente apareceu em meu material
escrito, certamente não da maneira que a princípio pareceu possível. A saga
dele acabou se tornando muito complicada e problemática.
A pessoa atingiu certo grau de notoriedade na
comunidade ufológica e estava no radar de alguns pesquisadores importantes. Eu
me correspondi com ela por e-mail e telefone por um tempo, periodicamente
encontrando a pessoa. Eu achei suas experiências alegadas difíceis de serem
aceitas por várias razões.
Durante um encontro em um local público, o
indivíduo estava particularmente desconfiado de que as pessoas ao redor estavam
tentando nos ouvir. Eu não compartilhei da suspeita. A pessoa me falou de
supostos encontros com alienígenas e experiências extremamente subjetivas
durante essas interações, mas uma das coisas mais proeminentes sobre esse
encontro específico era a preocupação dela com as agências de inteligência
estarem ativamente interessadas em nossa conversa. A sugestão, para ser viável,
teria que ser baseada em uma interceptação da agência em nossos e-mails e
chamadas telefônicas para se saber onde concordamos de nos encontrar e,
subsequentemente, deslocar ou colocar um agente entre os empregados do local,
como na suposição da pessoa. Eu tinha vários questionamentos sobre isso.
Deveria novamente ser notado que, no grande esquema da cultura OVNI, a premissa
geral é normalmente uma convicção de uma forma ou outra.
Entretanto, apenas porque é comum, não
deveria necessariamente significar que é
para ser levada adiante. Eu também tenho muitas dúvidas sobre a integridade dos
pesquisadores que estavam, aparentemente, encorajando a pessoa. Com certeza, o
indivíduo se comportou da mesma maneira perto deles, senão de forma mais
questionável, apesar que nenhuma informação publicada refletisse qualquer preocupação
sobre as más interpretações ou as percepções altamente subjetivas. Bastante
pelo contrário, na verdade. A pessoa que eu conheci como errática e confusa foi
descrita como sensata e confiável. A razão primária de eu nunca ter escrito
sobre a pessoa e seu caso foi que eu pensei que traria mais dano emocional a ela
do que beneficiaria a classe ufológica coletiva, particularmente considerando
que qualquer um que empregasse o mínimo de pensamento crítico reconheceria que
os investigadores envolvidos estavam fazendo trabalho abaixo do padrão de
qualquer forma.
Talvez os investigadores estejam
frequentemente satisfeitos em omitir a menção ao que nega seus argumentos,
enquanto promovem o que os apoia. Vários investigadores parecem deixar coisas
problemáticas porque eles querem que o resto do material pareça mais confiável.
É óbvio que a confiabilidade de tal trabalho é alvo de sério questionamento.
Alguns desses acontecimentos na ufologia são descaradamente antiéticos - no
mínimo.
Hopkins e
Jacobs em uma palestra da Intruders Foundation
Eu dei suporte ao trabalho de Emma Woods,
Carol Rainey, Jeremy Vaeni, Jeff Ritzmann e vários outros sobre os eventos envolvendo
quem Rainey chamou de “os sacerdotes da alta estranheza,” Budd Hopkins e David
Jacobs. A dupla defensora da hipnose facilitou o enfraquecimento da pesquisa
ética, mas, no contexto dessa postagem, eu me lembro do quanto era normal falar
sobre alienígenas nos círculos de pessoas como Hopkins e Jacobs. A extensões
incríveis, na verdade. A presença e as atividades de seres não humanos eram
tomadas como certas, assim como objetivamente reais. A única questão era
quantas criaturas tinham passado pela vida de cada um de nós.
Um dos cenários mais espantosos, revelados do
grupo mencionado acima, envolveu David Jacobs e seus objetos de estudo, por
falta de um termo melhor, “Elizabeth” e “Brian”. Woods conheceu essas pessoas e
as ajudou a preencher os detalhes e contexto (assim como esclarecer suas
próprias interações infames com Jacobs).
Eu explorei uma entrevista que Vaeni e
Ritzman conduziram com Brian, que tinha feito sessões de hipnose de mensagens
instantâneas com Elizabeth. Essa atividade incrível resultou da prática de
Jacobs de fazer o mesmo. Jacobs, em dado momento, declarou publicamente que um
híbrido entre humano e extraterrestre deu uma mensagem a ele na casa de
Elizabeth, enquanto os híbridos a tomaram (Elizabeth) sem defesa. Ele alegou
que acreditava que isso estava mesmo acontecendo e estava entre as coisas mais
aterrorizantes que aconteceram a ele (eu entrevistei Jacobs pessoalmente e
perguntei sobre a alegação, e achei suas declarações um insulto à
inteligência). Aqui está um pequeno exemplo do comportamento de culto no tema
OVNI e sua normalização, facilitada por Jacobs, em The Greys Have Been
Framed, páginas 66 e 67:
Brian explicou que ele fez umas 18 sessões
com Elizabeth em 2007. As sessões duraram horas, assim como as conversas de
telefone entre eles.
A confiança dele em Elizabeth começou a se
desfazer seriamente, Brian explicou, quando as “conversas híbridas” que
ocorriam com Jacobs começaram a surgir com ele também, e o conteúdo ficou cada
vez mais ridículo. Parecia que Elizabeth supostamente caía sob o controle dos
híbridos, deixando a hipnose com Brian, que trocava perguntas e respostas com
os visitantes indesejados. Elizabeth estava supostamente passiva e sem lembrança
consciente das ocorrências. Essencialmente, Brian teria que aceitar que os
híbridos tinham tomado o controle enquanto ele conduzia hipnose com a mulher,
ou justamente por ele estar fazendo isso, e os híbridos estavam sendo ameaçados
porque sua existência estava se tornando abertamente conhecida, enquanto
Elizabeth dizia: “O que aconteceu?”. Brian contou a Vaeni e Ritzmann que ele
incentivou fortemente Elizabeth a usar uma webcam, o que ela sempre recusou por
uma razão ou outra.
Durante interações que supostamente não
envolviam híbridos, Elizabeth aparentemente encorajava Brian a usar um
pseudônimo quando em hipnose com os híbridos por razões, de acordo com Brian,
que ela sugeriu incluírem a segurança pessoal de Brian. Comentando sobre essas
identidades secretas e os vários pseudônimos recomendados e empregados, Emma
explicou que Brian fingiu para os supostos híbridos ser um doutor que vivia na
Áustria.
“Isso aconteceu porque o Dr. Jacobs fez algo semelhante”,
Emma continuou. “O Dr. Jacobs fingia ser várias outras pessoas para os
híbridos, incluindo uma especialista em MPD chamada Aloha Norton. Ele também
usou pseudônimos quando se comunicava com Elizabeth e eu, e nos pediu para usar
pseudônimos quando nos comunicássemos com ele, para quando os alienígenas e os
híbridos lessem nossas mentes. Esses pseudônimos incluíam a opção de ele ser alguém
chamado Lucille Scott, David Jacobsen e por aí vai. Ele também nos enviava e-mails
em código, e nos pediu para fazer a mesma coisa. Então, Brian fingia ser uma
pessoa diferente baseado no precedente do Dr. Jacobs.”
Acredite ou não, essa na verdade está bem
longe de ser a pior das ações exploratórias de Jacobs. Entretanto, vamos nos
livrar da perplexidade e dos cérebros atordoados produzidos por esse material e
seguir em frente.
É assustadoramente mais fácil que muitos de
nós gostemos de pensar que nos tornamos enraizados em crenças questionáveis e nos
círculos sociais relacionados, a um passo por vez. Ninguém acordou um dia e
decidiu ser doutrinado por lunáticos ou trapaceiros. Isso acontece pela
aceitação ampla, às vezes através de uma vontade culpada, de ouvir os “dois
lados”, combinado com o que é geralmente uma desconfiança válida e sensata da
autoridade. Os grupos em si são geralmente propícios a cultivar dependência por
promoverem apoio e empatia para questões normalmente rejeitadas pela família e
outros círculos sociais tradicionais. É também digno de nota que uma
desconfiança sensata da autoridade não deveria evoluir irracionalmente para a
aceitação sem críticas de qualquer trama remota. Só porque o MKULTRA existiu de
verdade, isso não significa necessariamente que a CIA está ouvindo através de
uma garçonete oferecendo bebidas.
Eu mesmo já me encontrei profundamente
envolvido com pessoas que mantinham crenças extremamente fronteiriças. Eu
entendo como chegamos lá, e eu entendo como parece haver núcleos de verdade em
algumas das narrativas. Também pode haver vislumbres de fenômenos desconhecidos
atualmente e tramas encobertas de agências de inteligência para serem descobertas
se escondendo dentro do mundo ufológico.
Dito isso, e gosto de pensar que eu aprendi a
exercitar uma disposição para buscar informação de múltiplas fontes de
qualidade, não se apoie demais em apenas um relato de testemunha. Eu classifico
as fontes e suas credibilidades como apropriado. Fazer isso pode nos ajudar a
desenvolver e implementar um entendimento saudável e funcional do processo de
investigação. Isso vem como resultado de estender uma mente aberta para o
trabalho daqueles que questionam comboios de OVNIs, assim como estendemos
aqueles que os conduzem. Também é importante no familiarizarmos com tais
tópicos como objetos voadores não identificados, sintomas de trauma emocional e
vários tipos semelhantes de material não relacionado a OVNIs, mas ainda
relevantes. Isso deveria ser feito em proporções generosas ao nos submetermos a
histórias questionáveis em circulação constante na TV a cabo e na internet.
Isso nos traz de volta para o tweet de Inquiring Josh.
Por mais irracional que isso seja, o mundo ufológico
tende, sim, a aceitar e a até mesmo celebrar afirmações de que há grandes
estruturas alienígenas na Lua em um piscar de olhos, enquanto põe esforço
resistente a debates sensatos. Difamar aqueles que aplicam ceticismo saudável
às histórias é um erro. Não é apenas um ataque a esses indivíduos, mas ao
pensamento crítico que eles representam. É um papel importante no processo de
investigação, pois o único caminho para reconhecer genuinamente um possível
fenômeno desconhecido passa diretamente através da revisão crítica das
evidências. Não há como contornar isso; as evidências precisam ser publicadas,
e precisam ser submetidas a revisão crítica. Aqueles que falham em aceitar isso,
estão condenados a habitar em uma câmara que ecoa afirmações fantásticas e sem
fundamento.
Tradução: Pamylla Oliveira
Artigo original:
https://ufotrail.blogspot.com/2020/05/normalizing-fantastic-and-resisting.html
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