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segunda-feira, 20 de julho de 2020

Por Dentro do Programa Secreto de OVNIs do Pentágono


O governo não consegue manter sua história sobre seu envolvimento com a pesquisa de OVNIs. Depois de uma investigação de um ano, nós abrimos os arquivos, deixamos de lado as informações irrelevantes e revelamos a verdade definitiva e surpreendente.

Sentado em um pequeno café à sombra dos antigos portões romanos em Trier, na Alemanha, falando com uma pessoa cuja credibilidade parece além de reprovação, mas que apenas concordou em falar comigo com garantias absolutas de anonimato, não posso deixar de me sentir preso em um romance de Dan Brown. O Código Da Vinci, entretanto, nunca lidou com objetos voadores não identificados.

Era sobre OVNIs? Claro”, essa pessoa sussurra com um toque de melodrama.

Depois de quase um ano investigando o interesse do governo dos EUA em OVNIs, o que acabaram de me dizer não deveria ser chocante nem revelador. Sem saberem, apenas confirmaram o que mais de uma dúzia de outras pessoas, com históricos dentro do governo e do agora extinto Bigelow Aerospace Estudos Espaciais Avançados (BAASS), já admitiram para mim.

Assim como com o fictício Robert Langdon, o caminho para entender esses programas misteriosos do governo me levou através das catacumbas de sociedades secretas informais, cujos membros, surpreendentemente, incluem profissionais de sucesso das Forças Armadas, dos setores aeroespacial, acadêmico, médico e da inteligência.

Apesar de divergirem em como eles definem exatamente o que tudo isso significa, cada um desses personagens enigmáticos compartilham uma crença comum: objetos voadores não identificados não são mito nem invenção de imaginações hiperativas. Com convicção absoluta, todos eles me disseram que os OVNIs são reais.

Agora, depois de dois anos, detalhes insuficientes e uma miríade de declarações contraditórias, a Popular Mechanics está escancarando o grande problema dos OVNIs do governo americano. O que se segue é uma fonte de informação profunda, sem precedentes, que é apenas conhecida por um grupo muito pequeno de pessoas - até agora.





Parte 1 - O Desacobertamento

Em 16 de dezembro de 2017, o New York Times revelou que o Pentágono tinha financiado secretamente uma pesquisa sobre OVNIs através do Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais, ou AATIP. Se o governo dos EUA investigar OVNIs silenciosamente não fosse o suficiente, pela primeira vez, o público também teve a chance de ver três vídeos, gravados pela Marinha dos EUA, mostrando o que foi alegado como Fenômeno Aéreo Não Identificado, ou UAP.

Em um instante, os OVNIs não estavam mais relegados aos curiosos niilistas da sociedade e, pela primeira vez em décadas, multidões do público geral de repente se encontraram olhando para os céus com expectativa.

Mas quase na mesma velocidade, orçamentos obscuros para programas sobre OVNIs vieram à tona, então, também, vieram ondas de crítica, confusão e controvérsia.

Para começar, a desordem e o debate acalorado sobre se o segundo “A” em AATIP oficialmente é de “Aeroespaciais” ou “Aéreas”, com a primeira opção “Aeroespaciais”, por fim, se provando a correta. Em adição ao caos, um outro programa conjunto, inteiramente diferente, emergiu: o Programa de Aplicação de Sistemas de Armamentos Aeroespaciais Avançados, ou AAWSAP. Por mais de dois anos, ninguém foi capaz de adequadamente explicar se o AAWSAP e o AATIP eram dois programas separados ou o mesmo com dois nomes diferentes.

Para confundir ainda mais, o porta voz do Pentágono emitiu com sucesso ondas de declarações contraditórias sobre o que o Departamento de Defesa (DoD) fez ou não fez com relação ao estudo dos OVNIs.

Inicialmente, o Pentágono disse que o AATIP tinha sim investigado OVNIs sob a liderança de Luis Elizondo, um ex-membro sênior do Gabinete do Subsecretário de Defesa da Inteligência (OUSDI). Eventualmente, em uma reversão completa de posições oficiais, a nova pessoa designada pelo Pentágono para assuntos de OVNIs, a Planejadora Estratégica Sênior e Porta-Voz Susan Gough, recentemente falou para a The Black Vault que “nem o AAWSAP nem o AATIP se relacionam à OVNIs”, “Elizondo não era o diretor do AATIP”, e ele não “assumia responsabilidades” dentro do programa.

Para algum consolo dos que acreditam em OVNIs, o DoD tem consistentemente estado disposto a dizer que eles consideram que os curiosos objetos que aparecem nos vídeos de 2017 são UAPs inexplicados. O que exatamente isso significa, entretanto, tem estado aberto a interpretação e debate.

Depois de meses de entrevistas conduzidas e divulgação de material antes sigiloso, a Popular Mechanics está revelando aqui que o governo dos EUA tem mesmo um interesse inegável em OVNIs.

Dado, é claro, que ninguém diz isso em voz alta.



Sede da Bigelow Aerospace em Las Vegas, Nevada.

Parte 2 - As Sementes

O caminho para se realmente entender os problemas atuais do Pentágono com OVNIs não começou em 2008 com a Agência de Defesa de Inteligência (DIA) e o AAWSAP, mas uma década antes e uns 3 mil quilômetros da capital da nação, aos pés de um empreendedor bilionário de Nevada.




Robert T. Bigelow, o dono da Budget Suites of America e fundador da companhia de tecnologia espacial Bigelow Aerospace, nunca  foi tímido em bradar seu interesse em OVNIs. Em uma entrevista de 2017, Bigelow disse ao programa 60 Minutes, da rede CBS, que ele estava “absolutamente convencido” de que alienígenas existiam antes de declarar apaixonadamente “eu não me importo!” quando perguntado se era arriscado dizer publicamente que ele acreditava em OVNIs e alienígenas.

Em 1995, quatro anos antes de iniciar sua startup aeroespacial, Bigelow fundou o Instituto Nacional para Descobertas Científicas (NIDS). No site da organização, o NIDS se descreve como “um instituto de ciência de financiamento privado, engajado na pesquisa de fenômenos aéreos, mutilações de animais e outros fenômenos anômalos relacionados”.

Antes de se desmantelar em 2004, o NIDS conduziu pesquisas sobre vários tópicos paranormais, como encontros com criptídeos, mutilações de gado e especialmente OVNIs. A pesquisa mais reconhecida do grupo foi a investigação de um local alegadamente paranormal em Utah, de propriedade de Bigelow, chamado Rancho Skinwalker, que, mais tarde, desempenharia um papel importante no interesse da DIA em OVNIs.

Em uma entrevista de 2018 para a revista New York, o ex-senador de Nevada, Harry Reid, contou um caso curioso sobre uma carta que Bigelow recebeu de um oficial sênior de uma agência de segurança nacional. “Estou interessado em falar com você, sr. Bigelow. Tenho interesse no que você está trabalhando. Quero ir ao seu rancho em Utah”, Reid recontou.

Depois de verificar o autor da carta, Reid o descreveu como “um cientista muito discreto” que solicitava uma visita ao rancho de Bigelow. Em uma palestra na UFO MegaCon, em 2019, o repórter do canal KLAS Las Vegas, George Knapp, contou ao público que esse evento ocorreu em 2007, e alegou que a pessoa, descrita por Knapp como um “cientista da DIA”, teve uma “experiência” enquanto visitava o local paranormal.

Em uma entrevista com o pesquisador Joe Murgia, o ex-contratado da AAWSAP e astrofísico Eric Davis compartilhou o que colegas contaram a ele da experiência do cientista da DIA:

“Na sala do trailer de observação do antigo NIDS, um objeto tridimensional apareceu em pleno ar, diante dele, e mudou de forma como uma figura de variação topológica. Passou de um formato de pretzel para Fita de Möbius. Era tridimensional e multicolorido. Então, desapareceu.”


De acordo com Reid, o que quer que aconteceu em Skinwalker foi o suficiente para convencer a DIA a investigar seriamente o fenômeno paranormal e os OVNIs. “Algo deve ser feito sobre isso. Alguém deveria estudar isso”. Eu estava convencido de que ele estava certo”, Reid disse à New York.

Em uma entrevista para a Popular Mechanics, Hal Puthoff, um ex-subcontratado do AATIP, confirma a visita do cientista, mas ele não tinha certeza do grau de importância que isso teve na origem do AAWSAP.


“Reid está certo de que, no começo, havia um cientista da DIA que expressou interesse ao ouvir sobre o Rancho Skinwalker e fez uma visita,” disse Puthoff. “O grau em que isso influenciou na iniciação do programa AAWSAP, ou se era apenas uma questão menor, eu não sei”.

Enquanto não sabemos o quanto foi vital a visita ao Skinwalker na formação dos estudos da DIA sobre OVNIs, sabemos que o AAWSAP e o AATIP já estavam tomando forma quase um ano antes do financiamento ser estabelecido e da solicitação ter sido requerida.

Piloto da Marinha, o comandante David Fravor se tornou indiscutivelmente o rosto dos famosos encontros com OVNIs do porta-aviões Nimitz, mas, na verdade, o tenente-coronel Douglas “Cheeks” Kurth foi o primeiro a ser indicado a investigar os estranhos contatos aéreos que os operadores de radar registram em novembro de 2004.

Em seu perfil do LinkedIn, Kurth indica que trabalhou como gerente de programa para a Bigelow Aerospace Estudos Espaciais Avançados (BAASS) até junho de 2013. Curiosamente, Kurth começou a trabalhar para o BAASS em dezembro de 2007, um mês antes de Bigelow fundar oficialmente sua companhia em janeiro de 2008. Isso pode ser porque os arquivos estaduais de Nevada mostram que o BAASS era tecnicamente uma subsidiária de outro negócio de Bigelow: Serviços Internacionais de Equipamentos Espaciais (ISHS). De acordo com o Escritório da Secretaria Estadual de Nevada, o ISHS foi incorporado em 31 de outubro de 2007.




Puthoff, que entrou no BAASS em 2008, disse à Popular Mechanics que sabia que Kurth estava envolvido nos eventos do Nimitz em 2004, mas que não acreditava que o BAASS recrutou Kurth especificamente por causa disso. “Eu acho que foi por causa de sua experiência que ele quis se juntar ao BAASS”, diz Puthoff, que, mais tarde, fundou e agora gerencia o instituto de pesquisa de conceitos avançados, a Earthtech International.

Puthoff diz que acredita que a DIA expressou uma necessidade para o que se tornaria o AAWSAP em 2007, mas ele não tem certeza se a organização fez algum pedido formal. “Eu acredito que, em 2007, tudo era informal - discussões, cartas, e-mails - mas não tenho certeza”, ele diz.

De qualquer maneira, aproximadamente seis meses depois do início do BAASS, com o apoio dos senadores Ted Stevens e Daniel Inouye, Reid organizou um contrato de financiamento para o AATIP e o AAWSAP pela Lei de Apropriações Suplementares de julho de 2008. “Seria dinheiro obscuro, não teríamos um grande debate no Senado sobre isso”, Reid disse à New York. “O propósito disso era estudar fenômenos aéreos. O dinheiro foi concedido e uma diretiva foi dada ao Pentágono para colocar isso em execução, o que eles fizeram”.

Em 18 de agosto de 2008, o braço contratado da DIA emitiu uma ordem/solicitação/contrato para itens comerciais para o AAWSAP. Quando a licitação foi fechada, três semanas mais tarde, em 5 de setembro, como único licitante, o BAASS recebeu 10 milhões de dólares pela garantia do primeiro ano, de uma opção de 5 anos, pelo contrato.

Em 13 de setembro de 2008, a Bigelow Aerospace começou a listar oportunidades de carreira com o BAASS em 14 disciplinas diferentes relacionadas às ciências aeroespaciais e de pesquisa.

Inexistente na solicitação do AAWSAP está qualquer linguagem relacionada a OVNIs ou UAPs. Ao invés disso, como originalmente descrito na Lei de Apropriações Suplementares de julho, o “foco primário é em tecnologias revolucionárias e aplicações que criem descontinuidades nas correntes tecnologias evolutivas. O foco não são extrapolações da tecnologia aeroespacial atual”.

Em entrevistas antigas, Reid indicou que partes interessadas na DIA acharam prudente evitar qualquer linguagem que pudesse fazer alguém perceber que o foco por trás do programa AATIP eram OVNIs. De acordo com Reid, um representante da DIA disse a ele: “O que vou fazer é preparar algo para você que qualquer um pode olhar e querer, é estritamente ciência”.

Em diversas ocasiões nos últimos dois anos, o governo e ex-contratados usaram os termos AATIP e AAWSAP quase intercaladamente. Isso causou muita confusão sobre se o AATIP e o AAWSAP eram dois programas separados ou a mesma atividade sob nomes diferentes. Em uma declaração recente, a porta voz do Pentágono Susan Gough disse ao pesquisador de longa data, John Greenewald: “(AATIP) era o nome geral do programa. (AAWSAP) era o nome do contrato que a DIA atribuiu para a produção de relatórios técnicos sob o AATIP”.



Enquanto todas as fontes associadas com o programa confirmam a declaração de Gough com a Popular Mechanics - AAWSAP era o contrato componente de um programa maior batizado de AATIP - eles descartam a ideia mais tarde expressada por Gough de que “nem o AATIP ou o AAWSAP eram relacionados à OVNIs”.

A evidência coletada aqui sugere enormemente que o governo estava de fato estudando OVNIs e não, como o Pentágono disse, “investigando sistemas de aplicações de armas espaciais estrangeiras avançadas, com projeções de tecnologias futuras pelos últimos 40 anos, para criar o centro de excelência em tecnologias aeroespaciais avançadas”.


Relatório de Dez Meses do BAASS

Parte 3 - O Relatório

Em julho de 2009, o BAASS providenciou um relatório completo para a DIA na conclusão da opção do primeiro ano do contrato do AAWSAP. A página 494, “Relatório de Dez Meses”, como é chamado, está repleta de planos estratégicos, resumos de projetos, tabelas de dados, mapas, descrições de campos de efeito biológico, características físicas, métodos de detecção, capacidades teóricas, entrevistas de testemunhas, fotografias e sinopses de casos - cada um inteiramente explícito sobre fenômenos aéreos inexplicáveis.

Através do relatório, “o responsável” é mencionado, entretanto, a DIA nunca é explicitamente citada.

As primeiras páginas listam os nomes de cada contratado trabalhando com o BAASS, com passes de segurança apropriados para ter acesso ao programa. Entre dúzias de nomes credenciados, alguns dos listados são bem conhecidos da comunidade ufológica, incluindo Puthoff, Davis, Jacques Vallée e Colm Kelleher. Apesar das opiniões existentes sobre o fenômeno OVNI, o grande volume de conteúdo no Relatório de Dez Meses do BAASS é surpreendente.

Alguns dos conteúdos notáveis do Relatório de Dez Meses do BAASS incluem:

·        Visão geral dos esforços da Divisão de Física do BAASS para conduzir pesquisa em veículos aeroespaciais avançados, incluindo o desenvolvimento da padronização de medidas de efeitos físicos e assinaturas associadas com UAPs.

·        Visão geral da pesquisa do BAASS para medição e coleta dos efeitos em organismos biológicos dos UAPs.

·        Menção ao Rancho Skinwalker, em Utah, como um “possível laboratório para estudo de outras inteligências e possível fenômeno interdimensional”.

·        Planos estratégicos para organizar uma série de fóruns de debates intelectuais, direcionados para audiências exteriores, pertinente ao “potencial desacobertamento de uma presença extraterrestre”.

·        Planos para criar um “programa médico para efeitos fisiológicos dos UAPs”.

·        Requisição dos arquivos do Projeto Blue Book que não foram tornados públicos.

·        Menção ao Programa BAASS, batizado de “Projeto Northern Tier”, o qual envolvia documentos protegidos relacionados a instâncias onde dúzias de OVNIs sobrevoaram espaços aéreos restritos de instalações que mantinham armas nucleares.

·        Um possível UAP pousando, relatado para o BAASS pela Mutual UFO Network (MUFON) e  sua equipe STAR (investigadores de campo de resposta rápida fundada pelo BAASS em março de 2009).

·        Bancos de dados de projetos relacionados a materiais de UAPs, compilados através de várias parcerias, e o intento de expandir esses bancos de dados por coordenação com governos estrangeiros.

·        Sumários de múltiplos eventos com UAPs nos EUA e em países estrangeiros.

·        Fotografias de UAPs providenciadas por várias fontes, incluindo governos estrangeiros.



Foto da página 317 do Relatório de Dez Meses do BAASS

De capa a capa, o relatório do BAASS faz referências ao novo termo do governo para OVNIs: UAPs. Entretanto, em nenhum lugar, a Popular Mechanics encontrou qualquer referência a sistemas (terrestres) de armas aeroespaciais avançadas ou inovações tecnológicas baseadas nas tendências industriais atuais.

Fontes disseram à Popular Mechanics que o Relatório de Dez Meses do BAASS era apenas uma amostra dos materiais que a organização fornecia à DIA. “Relatórios mensais estavam sendo enviados ao Pentágono, em adição às atualizações anuais do programa, que eram todas sobre UAPs e fenômenos anômalos”, diz um ex-contratado do BAASS.

Chris Bartel, um oficial de segurança e investigador do BAASS (mais tarde Bigelow Aerospace) de 2010 a 2018, confirmou os relatos dos ex-empregados do BAASS e AATIP para a Popular Mechanics. Ele disse que, de fato, se deparou com alguns eventos paranormais bastante dramáticos enquanto trabalhava no Rancho Skinwalker, e disse que também ouviu boatos sobre o BAASS estar interessado em estudar atividade paranormal na esperança de que isso pudesse levar à pesquisa tecnológica. Entretanto, Bartel disse que ele não sabia de nada sobre o AAWSAP ou o AATIP até outono passado. “Eu estava meio de fora, para dizer o mínimo”, disse.

Apesar de não saber de qualquer contrato formal com a DIA, Bartel confirma que relatórios gerados sobre eventos paranormais no rancho estavam sendo enviados para Bigelow e o Pentágono regularmente. (“Eu odeio pensar que minhas experiências lá eram, de alguma forma, manipuladas por forças externas criadas por pessoas”, Bartel disse. “Eu realmente acredito que o rancho estava sobre terra sagrada nativa.”)

Alguns sugeriram que os eventos “paranormais” associados com o Rancho Skinwalker, ou com o AAWSAP, poderiam ter relação com testes de armas altamente avançadas e secretas. Enquanto Bartel diz que é possível que armas fossem testadas, nada que ele observava era consistente com suas experiências de testes ultrassecretos.

Puthoff também diz que ele não viu evidência de que o BAASS estava envolvido com testes de armas durante sua permanência na organização - “uma declaração que estou certo de que Bigelow iria apoiar”, ele disse. (Bigelow não pode ser encontrado para comentar.)








Parte 4 - Os Segredos

As revelações no relatório do BAASS levantam a pergunta: por que o governo agora está insistindo em nunca ter estudado OVNIs e por que esses documentos não estão sendo discutidos ou disponíveis através dos pedidos pela Lei de Liberdade da Informação (FOIA)?

Pessoas que trabalharam no programa AATIP dizem que a incerteza e a confusão atuais foram arquitetadas, e envolvem um jogo vertiginoso que é inteiramente consistente com o que ocorre com os orçamentos obscuros dos programas de inteligência. “Estamos lidando com algo que vai no íntimo do segredo do governo e nas coisas que eles não querem discutir e manter escondidas”, um ex-contratado do AATIP disse à Popular Mechanics.

Fontes dizem que a chave para entender as atuais negações sobre os estudos de OVNIs no AATIP vem de uma frase estampada em cada página do Relatório de Dez Meses do BAASS, obtido pela Popular Mechanics:

“A informação é propriedade e não pode ser disseminada ou usada sem consentimento prévio e por escrito do gerente operacional do BAASS.”



De acordo com vários ex-contratados do AATIP, o “produto” sendo produzido para a DIA eram relatórios técnicos sobre tecnologias aeroespaciais exóticas e potencialmente “revolucionárias”, e a maneira de determinar em que áreas essas revoluções radicais aéreas poderiam emergir era através da pesquisa de OVNIs.

Em troca, não apenas a DIA iria concordar com relatórios técnicos, mas iria também ganhar acesso à extensa pesquisa que o BAASS estava reunindo sobre OVNIs. Enquanto a DIA tinha acesso aos volumes de dados sobre OVNIs, os materiais eram na verdade propriedade comercial do BAASS, como uma subsidiária da Bigelow Aerospace.

A ideia de usar um projeto de pesquisa aeroespacial como um acobertamento de um programa secreto de OVNIs pode parecer inescrupulosa. “Mas tudo isso soa muito familiar”, Neil Gordon, um investigador do Projeto de Fiscalização do Governo, disse à Popular Mechanics.

Gordon, cuja área de especialização é a má conduta em contabilidade e contratos federais de contratadas e privatização governamental, diz que gerenciar o programa “com transações confidenciais” através do AATIP é consistente com como o DoD lida com programas que quer manter secretos. “Se é certo ou não, isso é outra história”, Gordon disse, “mas tudo soa muito comum em como os programas de orçamento obscuro funcionam”.

A DIA pode ter tido acesso extensivo aos materiais de OVNIs, mas porque todo os dados tecnicamente pertencem ao BAASS, sob a Lei de Espionagem Econômica, de 1996, revelar ou liberar materiais de propriedade dada ao governo de forma confidencial é um crime federal. Essencialmente, o programa de OVNIs da DIA foi organizado para driblar pedidos do FOIA e evitar ter que discutir os OVNIs publicamente.

Preocupada por dar à Popular Mechanics acesso ao Relatório de Dez Meses do BAASS de 2009, a pessoa que disponibilizou esses materiais o fez sob a garantia de anonimato. É importante notar que essa pessoa não é um atual empregado do governo nem está envolvido com o BAASS ou o contrato do AAWSAP.

“Infelizmente, a tentativa do governo de fugir do FOIA ao subcontratar suas responsabilidades não é nada novo”, Josh Budray, um advogado especializado no FOIA e em casos da Primeira Emenda, disse à Popular Mechanics. “Tanto o estatuto federal quanto o do FOIA lutam para eliminar tais jogos óbvios - evitar transparência e obrigações de abertura ao subcontratar funções - mas se eles têm sucesso ao fazer isso, é outra história”.

Davis, o astrofísico e ex-contratado do AAWSAP, diz que seu trabalho no programa AATIP era inteiramente consistente com todos os programas de inteligência tecnológica com os quais ele tinha trabalhado antes nos últimos 30 anos ou mais. “De fato, a ciência é aplicada, mas agora não há dados suficientes sobre os UAPs para fazer de sua pesquisa um empreendimento científico”, ele disse.

Puthoff, enquanto isso, diz que o BAASS produziu “pilhas de material até o teto”, mas por causa do modo como as coisas eram feitas, ele se surpreendeu ao ouvir que qualquer uma das partes disso tinha se tornado pública. “Para ser honesto, eu nunca imaginei que essas coisas veriam a luz do dia,” ele disse.

Quando procurado para comentar, Colm Kelleher, o ex-diretor do BAASS, disse: “Sou incapaz de discutir esse tópico”. Vários outros pedidos para a Bigelow Aerospace comentar não foram respondidos.

Toda a forma na qual a parceria com a DIA alegadamente operou levanta uma pergunta importante: poderia a razão para as recentes negações do Pentágono sobre o AATIP ou o AAWSAP conduzir pesquisa sobre OVNIs ser o resultado de a atual administração do DoD ter sido ingênua ao propósito subjacente e comercialmente secreto do programa? Parece uma teoria plausível… se não for por algo mais que a Popular Mechanics descobriu.






Parte 5 - A Admissão

No ano passado, Steven Aftergood, da Federação dos Cientistas Americanos, obteve via pedido do FOIA e publicou uma carta de janeiro de 2018 que a Divisão de Relações do Congresso da DIA mandou para os membros do Congresso. Na carta, a DIA dá “uma lista de todos os produtos produzidos sob contrato do AATIP para a DIA publicar”. A lista inclui 38 artigos técnicos, chamados Documentos de Referência de Inteligência de Defesa (DIRDs), que abrangem uma gama de tópicos aeroespaciais teóricos, avançados e exóticos.

Dado o que tem sido dito sobre a natureza comercialmente confidencial do AATIP, a frase “para a DIA publicar” pode ser um jogo de palavras. Entretanto, uma fonte com acesso aos materiais deu à Popular Mechanics uma cópia de um artigo técnico previamente não liberado listado como um dos produtos do AATIP.

Enquanto a DIA se refere ao artigo como “Efeitos de Campo em Tecido Biológico”, o título original para o artigo submetido parece ter sido, na verdade, “Efeitos Médicos Clínicos Agudos e Subagudos de Campo em Tecidos Dérmicos e Neurológicos Humanos”. De acordo com a introdução do estudo, o artigo é um exame de “sinais e sintomas médicos e a biofísica da lesão conhecida e esperada em campos próximos (na maioria ultra-alta), Micro-ondas NIEMR, Termal, de exposição não intencional a sistemas anômalos”.

Na luz da linguagem clínica complexa, apenas um escaneamento superficial já revela que todo o foco era examinar lesões que podem ter ocorrido depois do contato com OVNIs ou UAPs. Na verdade, o próprio termo “OVNI” aparece 16 vezes no relatório; a palavra “anômalo” é usada 27 vezes (geralmente com a palavra “aeronave”, “aviação” ou “aeroespacial” imediatamente após); e a frase “Programa de Aplicação de Sistemas de Armamentos Aeroespaciais Avançados” é mencionada em negrito em 4 ocasiões.

A Popular Mechanics falou com o autor do estudo, Christopher “Kit” Green, um clínico forense e neurocientista. Green estava surpreso ao saber que seu artigo de pesquisa tinha se tornado publicamente conhecido, porque ele tinha a impressão de que nunca tinha sido incluído no conjunto distribuído e nem que tinha sido revisado.

Green confirma que seu artigo não tinha sido citado corretamente na carta ao Congresso, entretanto, ele diz que o documento de 54 páginas, que a Popular Mechanics obteve, parece ser o mesmo artigo que pediram a ele como um produto do AAWSAP.

“Ele é focado em relatos de avaliação forense de lesões que poderiam ser resultado dos alegados encontros com UAPs”, disse Green. “Eu não trabalhei para o BAASS, mais do que como um contratado pelo meu artigo, e eu não era parte do AAWSAP. Entretanto, é de meu entendimento que esse programa era um estudo sobre OVNIs que, externamente, não deveria parecer que tivesse nada a ver com OVNIs”.

Green alerta sobre algumas especulações incorretas sobre seu artigo, incluindo as alegações de que foi um esforço para entender ou fazer engenharia reversa com tecnologia UAP. Green também acentua que enquanto seu trabalho focava em encontros com objetos aéreos desconhecidos ou não identificados, todas as lesões que ele avaliou poderiam ser causadas por muitos meios terrestres, e não forneciam nenhuma evidência de tecnologias extraterrestres ou não humanas.

Poderiam os 38 relatórios técnicos do BAASS, produzidos para o AATIP, representarem uma confirmação de que eram para os UAPs?

“Muitos dos tópicos poderiam ser chamados de “uso duplo”, dado que artigos sobre propulsão avançada de plasma e técnicas de invisibilidade poderiam se aplicar a nosso próprio avanço e desenvolvimento aeroespacial assim como a possíveis UAPs”, diz Puthoff. Mas seu “artigo sobre métrica de engenharia de espaço-tempo, sistema de dobra espacial e artigos sobre buracos de minhoca, e especificamente o artigo sobre Estatísticas da Equação Drake são essencialmente aplicáveis apenas a UAPs”.

Davis, que trabalhou com Puthoff e é autor de quatro dos DIRDs, oferece detalhes particularmente intrigantes sobre os 38 artigos da DIA.

“Isso não era focado em se os [UAPs] são ou não reais. Já foi bem estabelecido que os UAPs são reais por uma preponderância de evidências, alguns são secretas e outras são propriedade (das quais) não posso falar”, ele disse.

Ao invés de investigar se os UAPs são reais, os 38 artigos técnicos para o contrato do AAWSAP eram também uma avaliação da inteligência para medir quão avançados os UAPs poderiam ser a partir dos entendimentos científicos atuais. “Eu, Hal (Puthoff), e um executivo aeroespacial, que tinha acesso à materiais, trabalhamos naquela avaliação para a DIA”, Davis disse.

Em última instância, à parte a evidência de propriedade do BAASS, apenas o estudo de Green - que a DIA disse ao Congresso que era um produto do AATIP e que estaria “feliz em providenciar através de pedido direto” - parece estar em total conflito com as recentes alegações do Pentágono de que nem o AATIP nem o AAWSAP se relacionavam a OVNIs.

Em uma troca de e-mails entre Gough, a porta-voz do Pentágono e o pesquisador suíço Roger Glassal, que foi disponibilizada e publicada pelo analista pesquisador Keith Basterfield, Gough disse que o AAWSAP iniciou, no ano fiscal de 2008, com um financiamento designado de 10 milhões de dólares. Já que a licitação não foi emitida até agosto de 2008, nós agora sabemos que Gogh estava errada e o programa na verdade começou no ano fiscal de 2009, que começou em 1º de outubro de 2008.

Na mesma troca de e-mails, Gough indicou que os primeiros 26 relatórios técnicos foram completados no fim de 2009, e um adicional de 12 milhões de dólares foi designado no ano fiscal de 2010, no Ato de Apropriações de Defesa, para 12 relatórios adicionais. (Nota do editor: No e-mail original, Gough indicou “fim de 2008”. Assume-se que isso também foi um erro, já que o BAASS não recebeu o contrato do AAWSAP até setembro de 2008 e o artigo técnico de Green é datado de maio de 2009.)

De Gough:

“Depois de uma revisão da OSD/DIA no fim de 2009, foi determinado que os relatórios eram de valor limitado para a DIA e que havia uma recomendação de que, após o término do contrato, o projeto poderia ser transferido para uma agência ou componente mais adequado para isso.

Os fundos para o programa na DIA terminaram em 2012, e o DoD preferiu não continuar o programa depois do trabalho contratado no ano fiscal de 2010, sob a NDAA, ter sido completado.”


De fato, cada fonte com que a Popular Mechanics falou sobre essa história concorda que a parceria entre o BAASS e o AAWSAP foi concluída em 2012.

Mas é aqui onde as coisas ficam bagunçadas: Gough diz que, quando o financiamento da DIA secou em 2012, o programa geral AATIP fechou também. Cada fonte com que falamos, entretanto, diz que não apenas o AATIP não terminou em 2012, mas o programa ainda está ativo até hoje.

No centro da questão se o governo manteve ou não um interesse após 2012 está o homem que o DoD diz que “não tinha responsabilidades” com o AAWSAP ou o AATIP: o ex-oficial sênior de Inteligência do Pentágono Luis Elizondo.


Quem exatamente é Luis Elizondo? Um informante patriota que coloca sua reputação em risco para algo que ele diz que o público americano deve saber? Ou um negociante usando sua antiga posição para seu próprio benefício, como o Pentágono aparentemente implica?


   Luis Elizondo na Coreia do Sul, em 1996    Elizondo em Kandhar, no final de 2001


Parte 6 - O Líder

Depois de servir um período como um agente de contrainteligência para o Exército dos EUA, Elizondo poderia ser recrutado para as fileiras da enigmática comunidade de inteligência americana.

A primeira parada de Elizondo como um especialista em operações de inteligência foi comandando operações de contra-insurgência e de combate ao narcotráfico na América Latina. “Nós lidamos com muitas coisas, como terrorismo de mercado negro, cartéis de drogas violentos, todo esse tipo de coisa”, disse Elizondo.

Seguindo os ataques de 11 de setembro de 2001, Elizondo foi então redirecionado para a Leste Asiático, onde ele serviu como conselheiro de uma pequena unidade de inteligência designada para apoiar o general James Mattis durante seu comando da Força Tarefa 58 (TF-58) da Unidade Expedicionária dos Marines (MEU) na guerra contra o terrorismo. Em um estudo de caso publicado pelo Colégio de Guerra Naval em 2016, o tenente-coronel Damian Spooner descreve a análise e os produtos produzidos pelas seções de inteligência sob o comando do general Mattis como sendo “indispensáveis” na condução do planejamento e operações da TF-58.

Mais tarde, enquanto continuava a apoiar a guerra americana contra o terrorismo, Elizondo, filho de um cubano exilado, se viu em Cuba lidando com alguns dos terroristas mais perigosos do mundo na Baía de Guantánamo, no famoso “Campo Sete”, a prisão construída com o único propósito de guardar 14 “detentos de alto valor”.

No começo de 2008, James Clapper, então Secretário de Defesa para Inteligência, pediu a Elizondo para vir ao Pentágono para ajudar a coordenar informações compartilhadas e envolvimento de parcerias dirigidas pelo Gabinete da Secretaria de Defesa. A promessa de cortar pela metade suas viagens diárias ao trabalho foi um dos maiores pontos do acordo, a decisão de Elizondo de se instalar no Pentágono o acabaria colocando diretamente no caminho do recrutamento para um programa especial da DIA que tinha acabado de começar: AAWSAP.

Apesar do Relatório de Dez Meses do BAASS incluir uma abundância de informações sobre UAPs, nada dentro do texto contém algum dado ou informação fornecida pelo governo americano. Por outro lado, há um número de pedidos feitos pelo BAASS para acesso específico às informações de UAPs sendo mantidas dentro do DoD e de outras agências dos EUA. Fontes dizem que isso é a chave para entender como Elizondo entrou em cena.

“Se eles (BAASS) queriam acessar informações que eu não estou dizendo que existe, mas pode ter sido altamente confidencial, você precisa de alguém que tem os passes para ter certeza que os contratados não estão, na verdade, olhando para as coisas do Programa de Acesso Especial (SAP) pensando que eram OVNIs,” disse um oficial da inteligência que não está autorizado a ser gravado.

“Além do mais”, o oficial disse à Popular Mechanics, “não estou dizendo que era, mas eles podem ter olhado para algo que era de grande interesse à estrangeiros e um alvo de alto valor para a espionagem. Conclusão, você precisaria de um cara da contrainteligência”.

Elizondo disse à Popular Mechanics que ele nunca quis ser parte do AATIP. Entretanto, como um oficial sênior no OUSDI com um histórico em contrainteligência, ele se viu sendo recrutado no atual esforço para estudo de OVNIs.


“Em 2008”, Elizondo diz, “dois caras vieram ao meu escritório e disseram: “Você é Lue Elizondo?” A primeira coisa que eu pensei foi: “Essa não, o que eu fiz?” Eles me disseram: “Você foi altamente recomendado como um ex-oficial da contrainteligência com algum histórico em aviônica avançada”. O que é verdade - eu trabalhei um pouco com o Tratado de Céus Abertos. Eu trabalhei com a Raytheon, Boeing e algumas outras coisas. Esse era meu portfólio”.

Foi dito a Elizondo que o AATIP precisava de apoio de contrainteligência e um cara de segurança para um programa muito especial. Dentro de um mês, depois de uma série de encontros, Elizondo finalmente se encontrou com o então diretor do AATIP, que fez a ele o que parecia ser uma pergunta estranha na época:

“O que você pensa sobre OVNIs?”

Elizondo estava atordoado. “Eu estava meio... o quê? Eu pensei que era um teste ou algo assim. Então eu falei a verdade: Nada. Eu não penso sobre OVNIs. Eu não sei se eles são reais ou não. Eu não penso sobre eles. Sou muito ocupado tentando prender terroristas e caras maus”.

A ambivalência de Elizondo era, evidentemente, exatamente o que quem comandava o programa queria ouvir. Logo, Elizondo se juntou ao AATIP. “Sério, por um tempo, eu ainda não sabia se era um teste”, ele diz. “Não foi até eu começar a examinar a postura da segurança do portfólio que eu, de repente, percebi que essas coisas eram realmente não identificadas”.

Não muito depois de Elizondo estar a bordo, em junho de 2009, o senador Harry Reid enviou uma carta ao então Secretário de Defesa William Lynn III pedindo que fosse garantido status restrito ao AATIP. Apesar de negado por fim, se o pedido de Reid fosse garantido, isso teria apertado mais a segurança e o segredo em torno do AATIP.
No último ano, o repórter do canal KLAS Las Vegas, George Knapp, publicou a carta de Reid mostrando o nome de Elizondo na lista de “pessoal preliminar do governo” que deveria ter acesso ao AATIP. Em adição à Elizondo, Reid, e o Senador Daniel Inouye, sete outros nomes de empregados do governo (que não foram liberados) teriam tido acesso à proposta de SAP para o AATIP. Notavelmente, apenas três do “pessoal contratado” faziam parte.

De acordo com a fonte com conhecimento da carta, as três pessoas contratadas, a quem Reid deu um acesso preliminar, foram Bigelow, Kelleher e Puthoff. Puthoff confirmou à Popular Mechanics que ele era um dos três contratados aprovados na lista. O Pentágono, mais tarde, confirmou que a carta publicada por Knapp era autêntica.
Fontes dizem que eles limitarem o número de contratados listados com acesso é outra pista deixada na trilha do segredo, mostrando que o AATIP era mesmo ligeiramente diferente do contrato do AAWSAP.

De acordo com múltiplas fontes, incluindo de pessoas que trabalham com o Pentágono - e confirmado por Elizondo - em 2010, quando a DIA cortou o financiamento do contrato do AATIP, um diretor de programa da DIA perguntou a Elizondo se ele poderia manter o projeto OVNI ativo. “Eu não era um empregado da DIA”, Elizondo diz, “então eu tenho que comandar usando meu chapéu da OSD no Pentágono. Nós todos concordamos que essa era a melhor coisa a fazer, então foi o que fizemos”.

Por todos os relatos, Elizondo estava agora “gerenciando” o AATIP a partir do OUSDI, significando que ele adicionou o programa à lista de seus portfólios de inteligência.

A Popular Mechanics descobriu que pós BAASS, o AATIP era um programa guardado ainda mais de perto e consistente com quão secreto os projetos de inteligência eram conduzidos.

“90% das pessoas não entendem como o governo funciona, e muito menos entendem a comunidade de inteligência”, um ex-oficial de Inteligência e Operações Especiais falou para a Popular Mechanics. “Porque esse programa estaria agora fora do Gabinete Principal, seu homem (Elizondo) teria tido a habilidade de reunir pessoas de várias áreas da comunidade de inteligência. Você iria querer incluir o mínimo possível, mas as melhores pessoas para a missão específica. Você poderia ter pessoas da DIA, ONI (Escritório de Inteligência Naval) e OSI (Escritório de Investigações Especiais), todos trabalhando separadamente, mas juntos na mesma missão”.

Elizondo diz que, quando assumiu o AATIP, ele conduziu como um esforço tradicional do governo. “Nós reduzimos muito o número de contratados para apenas o que precisávamos, mas isso estava acontecendo de governo para governo, assistindo a sistemas de governo com dados de governo”, ele diz.

De acordo com Elizondo, diferente da maioria do pessoal do BAASS, a equipe do AATIP, depois de 2012, tinha acesso a informações altamente secretas do governo para conduzir adequadamente a situação. Enquanto o Pentágono nega que o AATIP continuou depois de 2012, Elizondo diz que o AATIP, depois do BAASS, era legítimo e não apenas um grupo de entusiastas de OVNIs do governo. “Muitas poucas pessoas no prédio sabiam o que estávamos fazendo, mas o Gabinete Principal (Gabinete da Secretaria de Defesa) estava no jogo,” ele diz.

A Popular Mechanics soube que a ONI era uma das maiores apoiadoras que queriam ver o AATIP continuar, o que as fontes dizem que é porque a Marinha tem estado muito disposta a liderar o conhecimento do público no assunto dos UAPs hoje.

Os críticos de Elizondo têm feito repetidamente um questionamento importante: se o AATIP era um programa tão secreto, porque Elizondo está falando disso agora publicamente?

Ao negar o status de SAP para o AATIP em 2009 e nunca oficialmente colocá-lo sob uma proteção oficial, a Popular Mechanics descobriu que o governo efetivamente permitiu que o programa seja agora discutido.

“Há muito de que eles não podem falar, como fontes, métodos, etc., mas o programa em si não é secreto e pode ser aberto ao público”, uma fonte com conhecimento do programa disse à Popular Mechanics. Elizondo confirma que isso é correto. “Eu nunca violei nem estou disposto a violar meus votos de segurança, então tudo que falei realmente não é secreto”, ele disse.

Uma das avaliações de performance de Elizondo, que a Popular Mechanics obteve, lista seus “objetivos principais” como gerir e administrar informações, controles de acesso, e SAPs no nível de segurança nacional para a Secretaria de Defesa. Elizondo confirma que sua posição permitia a ele acesso aos programas mais altamente secretos dos EUA. “O que víamos era mesmo não identificado. Não se relacionava com nada que estávamos fazendo”, ele disse.

Em outubro de 2017, Elizondo deixou o DoD para se juntar ao grupo de pesquisa do ex-vocalista do Blink-182, Tom DeLonge, a To the Stars Academy of Arts and Science, que logo divulgaria ao mundo o vídeo “Flir1” da Marinha e daria início a uma renascença na Ufologia. Elizondo agora trabalha como diretor de Segurança Global e Programas Especiais da companhia.

Por que Elizondo deixou seu trabalho no governo? Porque ele percebeu que a cúpula do Pentágono nunca trataria os UAPs com a importância que mereciam. Um oficial do Pentágono disse à Popular Mechanics que eles sabiam que Elizondo informou um assessor de inteligência da Casa Branca e dois assessores sêniores de Mattis, então Secretário de Defesa, na primavera de 2017.

O oficial, que não é autorizado a ser gravado, diz que o assessor da Casa Branca estava desconfortável com a perspectiva de os OVNIs serem reais. Pelo que sabem, o assessor da Casa Branca não passou a informação adiante. Os assessores de Mattis, enquanto isso, reconheceram que os OVNIs eram um problema real, mas eles estavam preocupados com a ótica política caso revelado que o Secretário de Defesa tinha sido alertado sobre o tema. Elizondo confirma a exatidão desses encontros. “Eu saí apenas após as várias tentativas de alertar o Secretário (de Defesa) terem fracassado”, ele disse anteriormente à Popular Mechanics.

Finalmente, enquanto o Pentágono negou a existência do AATIP depois de 2012 e que Elizondo nunca esteve envolvido em pesquisar OVNIs, a Popular Mechanics obteve documentos que parecem mostrar sem dúvida que o AATIP estava ativo depois de se encerrar o contrato com o BAASS/AAWSAP, Elizondo estava comandando essa extensão do AATIP e os esforços para analisar os OVNIs ainda estão acontecendo.

Apesar dos documentos estarem liberados, eles contêm informações sensíveis e a pessoa que os compartilha pede a garantia de que a Popular Mechanics não irá torná-los públicos. A pessoa disse que só estava disposta a compartilhar material que apoiasse as alegações de Elizondo, que ele diz ter sido desafiado injustamente nos últimos dois anos. A pessoa, que não é funcionária do governo, aprovou a liberação de uma pequena seção de um dos documentos mostrando a mudança de responsabilidades antes de Elizondo deixar o Departamento de Defesa.








Parte 7 - O Desconhecido

Em junho de 2019, o Gabinete do Senador Mark Warner, vice-diretor do Escritório do Comitê de Inteligência do Senado, confirmou que ocorreram reuniões a portas fechadas sobre os UAPs. Mais recentemente, em dezembro passado, quando perguntado pelo repórter do Conway Daily Sun, Daymond Steer, sobre os encontros da Marinha com UAPs, o recente candidato presidencial e atual membro do Comitê Seleto do Senado sobre Inteligência, Senador Michael Bennet, foi cauteloso ao dizer que ele não compartilharia nada que ele descobriu durante um Comitê de Inteligência. Entretanto, Bennet disse: “Nossos homens estão vendo coisas não identificadas. Eles não sabem o que é, eu não sei o que é… Estamos tentando descobrir mais sobre isso. A Força Aérea está tentando descobrir mais sobre isso”.

A Popular Mechanics descobriu que, em outubro de 2019, membros do Comitê Seleto do Senado sobre Inteligência e do Comitê de Serviço Armado do Senado foram informados sobre as questões atuais dos UAPs. De acordo com as pessoas com conhecimento desses informes, alguns ex-contratados do BAASS e atuais líderes do AATIP estavam presentes.

Pessoal interno diz que, no último ano, durante uma reunião a portas fechadas com o Comitê de Inteligência do Senado, o Brigadeiro-General Richard Stapp, Diretor do Escritório Central do Programa de Acesso Especial do DoD, confirmou que objetos misteriosos foram encontrados por militares e que não estavam relacionados com tecnologia secreta dos EUA. O Pentágono não respondeu aos pedidos da Popular Mechanics para confirmar o testemunho de Stapp diante do Comitê de Inteligência.

Sendo apenas seu segundo relato público sobre o evento, a Popular Mechanics falou com o piloto da Marinha e wingman do Comandante David Fravor durante o agora famoso encontro com OVNI do Nimitz em 2004. Concordando em falar apenas sob a condição de anonimato, o piloto confirmou que eles testemunharam diante de líderes do Congresso sobre o encontro deles. “Pediram repetidamente para que eu fosse ao Pentágono e me perguntaram ´Foi isso que você viu?´.”

Durante uma série de trocas de e-mails, a Popular Mechanics deu informações específicas para Gough, a porta-voz do Pentágono, em um esforço para ver se isso poderia influenciar a atual posição do DoD. Inicialmente, Gough disse que analisaria as informações e veria se ela poderia dar uma declaração em resposta. Entretanto, Gough não respondeu aos pedidos seguintes da Popular Mechanics.


Por si mesma, a evidência que mostra que o Pentágono está interessado em OVNIs pode não ser suficiente para mudar as mentes de muitos que são céticos sobre a ideia de que objetos misteriosos, aparentemente inteligentes e possivelmente de outro mundo, podem estar passeando nos céus sobre a Terra.

“Todo o processo de contratação para esse programa foi irregular do começo ao fim”, Steven Aftergood, Diretor do Projeto sobre Segredo Governamental da Federação Americana de Cientistas, disse à Popular Mechanics. “(O contrato do AAWSAP) parece que foi um bom negócio para o contratado. Mas seria difícil argumentar que os militares ou o público teve seu dinheiro usado corretamente.”

Enquanto isso, William Culbreth, um professor de engenharia da Universidade de Nevada, Las Vegas, que fez 2 dos 38 artigos técnicos para o contrato do AAWSAP, oferece uma opinião diferente. Ele disse que não sabia do histórico de OVNIs do AAWSAP, mas está muito familiarizado com o interesse do BAASS em OVNIs.

“Eu tive alguns estudantes da graduação que trabalharam para o BAASS durante aquela época e eu sei que Bigelow tinha um interesse no assunto, mas ninguém mencionou nada sobre OVNIs quando eles me pediram para escrever os artigos”, disse Culbreth.

Apesar de onde a motivação subliminar pode ter vindo, Culbreth disse que seu trabalho em dois artigos - “Rastreamento e Detecção de Alta Resolução de Veículos a Velocidades Hipersônicas” e “Propulsão de Fusão Aneutrônica II” - levou ao exame de novas abordagens para tecnologia de propulsão nuclear que poderia não ser inspirada de outra forma.

“Estamos olhando para essas tecnologias de propulsão hoje e essa área levou vários de meus estudantes a buscarem doutorados que eu acho que não teriam buscado de outra maneira”, diz Culbreth.

Dentro do leque de dados coletados pelo BAASS e a quase certeza de mais informações sendo reunidas pelo AATIP, levanta a pergunta: a questão dos UAPs está sendo bem guardada porque não acreditamos que seja real ou porque temos medo de não entendê-la?

Mick West, o autor de “Escapando da Toca do Coelho: Como Desmascarar Teorias da Conspiração Usando Fatos, Lógica e Respeito”, sugere que a disponibilidade pública e a confirmação de estudos empíricos rigorosos pelo AATIP poderiam mudar toda a dinâmica sobre os OVNIs. “Seria fantástico se houvesse alguma boa evidência de algo agora novo para a ciência. Até hoje não há”, ele disse para a Popular Mechanics.

Enquanto ele enfrenta angústia considerável por tentar desmascarar OVNIs, West diz que estaria feliz se mais alguém além dele pudesse se deparar com algo que fosse verdadeiramente inexplicável e desconhecido. “Sem ressentimentos”, ele disse. “Eu entendo que as pessoas são passionais - especialmente os que passaram pela experiência”.

Então, esse seria um tema de desacobertamento do governo de algo que não se entende, e portanto se optou por evitar? Nick Cook, o ex-editor de aviação da Jane´s Defense Weekly e autor de The Grid, disse à Popular Mechanics que essa ideia o lembra de uma conversa que ele teve com Ben Rich, o ex-diretor da Lockheed Skunkworks e o “pai do Stealth”.

Cook revelou que Rich disse a ele, quando a habilidade da aeronave stealth foi descoberta, mas ainda não entendida, que havia debate considerável sobre o que fazer em seguida. “Você coloca muito dinheiro no desenvolvimento de algo e termina sem sucesso porque você não compreende a coisa, ou você deixa de lado toda a ideia até ter mais conhecimento, o que leva ao risco de alguém entender primeiro?”

Com a tecnologia stealth, as Forças Armadas dos EUA tomaram a decisão de seguir em frente, o que levou ao desenvolvimento da primeira aeronave stealth do mundo, o F-17 Nighthwak. “Acho que dependeria de quão grande fosse a lacuna de conhecimento que você achasse que existia e o quão grande fosse o risco de sucesso”, disse Cook. “Eu poderia ver como algo que terminaria como a decisão sendo tomada para esconder algo, como na cena final de Caçadores da Arca Perdida? Sim, eu poderia ver isso sendo possível”.

Através da história, muitas invenções precederam um entendimento da ciência que as faziam funcionar”, Matthew Hersch, um professor de história da ciência e tecnologia da Universidade de Harvard, disse à Popular Mechanics. “Engenheiros geralmente ´fazem ciência´ no decorrer de seu trabalho, assim como os cientistas ´inventam´. É inevitável que, como uma espécie, continuaremos inventando coisas sem um entendimento real de como elas funcionam, pelo menos até que a ciência as alcance”.

Ser incapaz de explicar algo com a ciência atual, Hersch diz, é meramente um convite para se fazer mais ciência - não uma rejeição da visão científica como um todo. “Reprimir a boa ciência, não fraudulenta, porque desafia nossas crenças é extremamente perigoso”, ele diz. “Ninguém tem o direito de fazer isso, e é contrário aos interesses da humanidade - é para isso que a ciência serve. Felizmente, não há conspiração científica grande o bastante para suprimir ideias divergentes. Geralmente, boa ciência é reprimida por quem não é cientista e por razões políticas”.

Qualquer descoberta de ciência ou tecnologia extraterrestre, então, não é razão para jogar nossas normas políticas pelo ralo, diz Hersch.

“Seres humanos têm acreditado na existência de vida extraterrestre por milênios”, ele diz. “Eu suspeito que uma revelação de que (OVNIs) existem seria recebida com algo próximo a um gesto de desdém”.





Artigo de Tim McMillan (Popular Mechanics) – 14 de fevereiro de 2020

Tradução de Pamylla Oliveira















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