domingo, 19 de julho de 2020

Ufologia Holística Ou Mistureba Místico-Religiosa?





Por Thomas Mantell
*Thomas Francis Mantell Jr. Tenente da Força Aérea Americana, atualmente “desencarnado”, morreu aos 7 de janeiro de 1948 quando perseguia um balão estratosférico achando que se tratava de um Óvni e seu avião explodiu.

Introdução

         “Brincamos de fazer ciência”, repetia Claudeir Covo, em meio a um pequeno número de ufólogos que tiveram visão mais lúcida a respeito do próprio comportamento.

         Quando escrevi “Ufologia Espiritual”, disse que a propalada Ufologia representa bem essa brincadeira de ciência, um viés de ordem psicológica que substitui a ignorância científica. No caso da Ufologia, a limitação ao se fazer ciência no estudo dos Objetos Voadores Não Identificados. Um sinal disto é a transformação de uma  terminologia militar, “óvni”, em “nave extraterrestre”. UFO tem de ser nave vinda de outro planeta e quem ousar dizer o contrário, ou destacar que não existe prova de tal certeza, vira traidor da causa.

         Em Ufologia há uma tendência de achar que todo cético é um negador sistemático. Porém o ceticismo é postura de raciocínio científico em experimentos e perante novas ideias e proposições. Para a maioria dos ufólogos, a postura cética é um desrespeito àquilo que, para eles, está provado e seja “incontestável”, ou “irrefutável”. Eis o comportamento que mostra o inconformismo do saudoso Covo – brincam de fazer  ciência.

         No dia em que perceberem que ciência não é brincadeira, compreenderão que não existe prova incontestável e que, se houver ideia ou proposição irrefutável, será tudo, menos ciência. O que não é refutável tem um valor notável para o pensamento científico – zero.

O que é Holismo

         Agora o foco é outro sintoma notável da ufologia que brinca. A utilização aleatória de termos, alguns forjados com aparência científica. Outros da terminologia científica e filosófica, porém mal colocados e de compreensão errada. Exemplo disto é o uso, a torto e a direito, do vocábulo “holismo”.

         Alguns formadores  de opinião dizem que a Ufologia é uma só. Que ela deve ser holística. Porém o que é, afinal, holismo? Como pode um sistema de estudos ser holístico?

         ABBAGNANO, em seu Dicionário de Filosofia[1], cita POPPER, que denominou o holismo de a tendência dos historicistas em sustentar que o organismo social, assim como o biológico, é algo mais que a simples soma dos seus membros e é também algo mais que a simples soma das relações existentes entre os membros. Em sentido popular, há de se dar um entendimento menos restrito ou amplo a um tema, fato ou ideia, de maneira a abranger-lhes sob vários pontos de vista. Isto não quer dizer que se considerem vertentes místicas, religiosas, transcendentais, em conjunto com o pensamento científico.

Não é holismo a visão místico-religiosa misturada com a científica, pelo simples fato de serem incompatíveis, de rumos de entendimento inconciliáveis, apesar das  tentativas de se dizer o contrário. Amit Gotswami e Deepak Chopra, entre ougros, estão longe de justificar  esse  contrário. O que fizeram e fazem alguns cientistas, é manterem convicções religiosas separando-as dos instantes em que pensam e experimentam cientificamente. Alguém disse em uma discussão informal que se poderia considerar Newton um fantasista idiotizado em razão de certas crenças ocultistas e religiosas que adotava; o que nem de longe mancha sua qualidade de um dos maiores cientistas, se não o maior, que a Humanidade já teve. Kepler abraçava pensamentos medievais místicos, mas não tratava sua ciência com  divagações de cunho religioso.

No Dicionário Akal de Filosofia[2], AUDI trata do holismo em suas várias definições, tais como Holismo Confirmacional, Doxástico, Epistemológico, Metodológico e Semântico. Nenhum deles se sugere um holismo que tenta disfarçar uma mistureba místico-religiosa com a ciência. O que deflui dos conceitos de holismo, é que um todo precisa ser visto sem que suas partes, isoladamente, possam considerar-se em definitivo explicativas dele. Isto é, há a necessidade de um estudo abrangente, vasto, envolvendo os aspectos que compõem um todo. AUDI considera o Holismo qualquer da ampla  variedade de teses, que de um modo ou de outro atribuem uma realidade maior ou igual, ou a necessidade explicativa, ao todo  de um sistema em relação ao que são suas partes. Em filosofia, a preocupação pelo holismo aparece tradicionalmente na filosofia da biologia, na filosofia da psicologia e especialmente na filosofia das ciências humanas (tradução livre do espanhol).

Por outro lado não se pode considerar um todo sem cada uma de suas partes. Um pensamento, uma ideia, os resultados de um raciocínio sobre objeto ou proposição, devem conter a maior  abrangência possível de todos os ângulos e entendimentos cabíveis. Por exemplo, em psicologia não tratar um paciente apenas pelo transtorno e si, o que também se aplica à psicanálise, indo até a maior complexidade científica das áreas da medicina como o é a Psiquiatria. Um paciente deve ser visto sob seus aspectos físicos, orgânicos, psicológicos, psíquicos, com sustentação em análises químicas, biológicas, e até com a observação de suas condições sócio-econômico-culturais. Um simplório exemplo seria a constatação de que patologias geralmente têm uma origem ou um fundo psicossomático. Tratar um paciente de forma holística é vê-lo sob as óticas da medicina, da psicologia, da sociologia...

“Holismo Misturança” na Ufologia

Isto difere de um “falso holismo”. Um paciente a ser tratado de gripe receberia antibiótico e oração. Descongestionante e água benta. Injeção intravenosa e o implante de um pedacinho de pano embebido nas águas do Jordão. Tentar a cura de uma lesão dermatológica profunda  com cirurgia e fármacos, bem como com simpatias de uma velha senhora com um cachimbo na boca. Com sua visão “Sui Generis” do holismo, a ufologia parece desejar algo semelhante. Analisar o caso de um alegado pouso de um óvni com um contador geiger, com coleta mineralógica e uma varinha de radiestesia. Procurar a constituição de um material atribuído à explosão de um òvni por análise espectrográfica e com a “visão paraótica” de um  paranormal. Organizar uma para o entendimento de possíveis padrões de manifestação do fenômeno óvni, com metodologia científica e com as mensagens recebidas por “canalizadores” e Contatados.

É mais ou menos isto que a Ufologia prega. Nos EUA essa mistureba é muito maior. Pior. O mais curioso é que lá – por aqui também - ufólogos são espécies de “Newtons” modernos, resguardada a infinita distância entre o tido como maior cientista da História e os pseudocientistas que, mesmo quando sejam cientistas, brincam de ciência por meio da Ufologia.  Um psiquiatra ufólogo cai em armadilha de uma colega que simulara um transe hipnótico para, em aparente regressão de memória, inventar, representar conscientemente uma abdução. Um médico publica livros com aparência de ciência, valendo-se do apelo à autoridade por ser cientista, revelando em diálogos e entrevistas esquisitas que seria uma espécie de contatado com seres superiores que vêm para cá para nos redimir. Ou salvar. Ou arrebatar. Não há muita diferença.

No Brasil também, apesar de flagrante contraste entre a formação científica de certos ufólogos americanos e a maioria dos ufólogos  brasileiros.  É natural, de postura simplória e ilusória, um ufólogo dos que dizem que a ufologia deva ser “holística” sentir-se “dirigido por algo” em suas pesquisas. Outros ufólogos holistas são Físicos, mas quando lidam com a ufologia dão cursos de como contatar seus irmãos do espaço, quais são as intenções – e até os meios! – de que estes se utilizam para dar um pulinho até nosso planeta. Médicos ufólogos entram habitualmente em transe e “recebem” mensagens de simpáticas eteias (extraterrestres femininas) de nome parecido a uma mescla de árabe com indiano. Mas como médicos não desconfiam de que sua manifestação de cunho meramente psíquico é sintoma de prosopopese. Enfim.

Ciência com mistureba de ideias místico-religiosas não é holismo. Holística a Ufologia em si já é  sem que essa pecha lhe seja deturpada para justificar os arroubos crédulos de arautos de extraterrestres. Acaba de ocorrer uma estranha contradição com o que até aqui vem escrito? Não. A ufologia não merece nem carece de trato supostamente holístico quando se argumenta que holismo é ciência, mais religião, mais misticismo, mais ocultismo, mais esoterismo, mais magia. A ufologia é holista por excelência sem precisar do rótulo, porque ela em si não passa de uma denominação de um campo de interesse por um fenômeno de alguns fatores intrínsecos e extrínsecos por enquanto incompreendidos. Mesmo que os que dela necessitam para viver insistam por dizer que tudo está provado, que óvni é nave de outro planeta e fim de papo. Recentemente alguém decretou que ufólogos devem parar de dizer que as origens  do fenômeno ainda carecem de estudos. E, pasmo, que não mais se deva dizer objeto voador não identificado. Porque, ufólogo que veste a camisa, é aquele que defende o fenômeno como veículos de outros planetas que transportam nossos irmãos cósmicos. Seja lá o que isto signifique...

Ufologia “científica” e o despertar dos eleitos

Contudo esta crônica está se desviando do foco, qual seja, o equivocado e mal conceituado holismo na ufologia, como sinônimo de razão mesclada a credulidade excessiva e a ideias fantasiosas. A Ufologia é holista porque na realidade são fragmentos dos conhecimentos das ciências. Tais como geologia, biologia, química, física, astronomia, história, arqueologia, psicologia, medicina. São técnicas de fotografia, de análise de solo, de prospecções várias, de tomografia, de ressonância, de informática, de edição de vídeo... absurdo até querer aqui relacionar tudo o que deva servir à ufologia. Porque o estudo de qualquer fenômeno deve ser mesmo multidisciplinar, interdisciplinar, vasto, já que estudo e compreensão pertencem aos campos da ciência e da técnica.

Tudo isto é velho. Desde seu início  na Década de 40, a ufologia, chamada também precipitadamente científica, por contrastar com as esquisitices da dita Ufologia Mística, luta contra a fantasia de histórias em quadrinhos. Nos Anos 70, Joseph Allen HYNEK, ao sugerir a pesquisa científica dos óvnis, comentava a tal Ufologia Mística[3]:

E, para outros ainda, (geralmente membros de “cultos dos discos voadores” ou “grupos de verdadeiros crentes”), significa a vinda à Terra de seres geralmente bons cujo objetivo evidente é comunicarem (de um modo geral a relativamente poucas pessoas, selecionadas e eleitas – quase sempre sem testemunhas) mensagens de “importância cósmica”. Esses receptadores eleitos têm, usualmente, experiências de contato que se repetem, envolvendo outras mensagens. A transmissão de tais mensagens a crédulos voluntários e sem espírito crítico conduz, quase sempre, à formação do culto do disco voador sendo o “comunicador” ou “contatado” o líder voluntário e óbvio do culto. Embora relativamente poucos, os advogados desse tipo de disco voador influenciaram enormemente a opinião pública através de seus atos irracionais...

O que Hynek não podia imaginar é que a coisa pioraria e muito, para se transformar na balbúrdia alucinante em que se encontra.

Começaram a surgir comunidades inspiradas em contatos com extraterrestres. Segundo LANDSBURG[4], uma das primeiras comunidades a reunir o misticismo e os fenômenos interplanetários num coito sagrado foi a Sociedade Aetherius, fundada em Londres a 29 de maio de 1955, sob as ordens de inteligências extraterrestres. Esse ramo da ufologia, ou melhor, esse viés que tomou conta de vez da Ufologia, nunca apresentou qualquer informação, dado ou mesmo prova, de seus fundamentos. Porque se baseia em supostas faculdades humanas ausentes de comprovação científica. Tais como telepatia. A própria existência de seres extraterrestres, que a cada dia se torna mais aceitável em razão de sucessivas descobertas astronômicas, não conta com qualquer evidência. Mas entre existir um ET e ele poder vir até aqui... há uma distância tão grande, que filosófica e cientificamente chega a ser incomensurável. Figurativa e literalmente.

Ainda nos Anos 70, DURRANT[5], sustentado na seriedade como um dos antigos ufólogos franceses, destilou sua revolta contra as afirmações descompromissadas de contatados e ufólogos eleitos por Ets. os visionários, os loucos, as pessoas que se intrometem por tudo e por nada, os espíritos confusos, aos quais certas publicações dão guarida com o fim único de aumentar a tiragem, especulando sobre a insaciável sede de magia de um público numeroso. Lá como cá... à época como hoje...

Transcendência e desespero por respostas

Não há como se compatibilizar um estudo científico com uma religiosidade fundada em UFOs. Não seria holismo fazer isto, porque o comportamento da maioria dos ufólogos é de agir como uma espécie de seita, com crenças de cunho sobrenatural. É como se Deus e o sentimento religioso pudessem ser considerados ciência. Alguns tentam constituir um clero ufológico.

Certos ufólogos confundem uma aconselhável postura de pensamento científico, com algo que por si mesmo já pudesse ser considerado ciência. A Ufologia não é uma ciência e o almejado tratamento holístico não passa de uma mistura inconveniente e fantasista. Dar trato científico e ao mesmo  tempo de credulidade mística e esotérica a algo, não é holismo.

Segundo BRIAZACK e MENNIK[6], “Em meados  do século XX, entretanto, o homem começou a perder a fé em si próprio e, especificamente, em sua capacidade para resolver problemas. Consequentemente, esses problemas se tornaram maiores e mais insuportáveis do que deveriam ser.  A perda da confiança do homem em si mesmo teve um outro efeito. Ele começou a procurar um salvador, alguém para resolver os muitos problemas que se tornaram aparentemente insuperáveis. O advento da era espacial abriu a possibilidade de salvadores na forma de astronautas de outros planetas. Entretanto, a pergunta que deve ser feita é: supondo que ufólogos, a maioria com desconhecimento de áreas científicas, se encontrarem diante da comprovação de que UFOs sejam naves de outros planetas, o que farão? Empunharão cartazes com os ditos “Eu já sabia!”, ou “Eu não falei!?”. Encerrarão suas carreiras de palestrantes e sairão com um sorriso amarelo vitorioso no canto da boca?

Se, e quando houver hipóteses que referendem essa origem e constituição do fenômeno ufológico, terão sido confirmadas pelas ciências. Nas mãos da ciência está todo e qualquer fenômeno. Inclusive aquele que se tem de mais rico na ufologia – o próprio ufólogo. Que tem superado a imaginária complexidade de uma nave extraterrestre. Talvez em pé de igualdade, as testemunhas. Com a palavra, não os ufólogos mas psicólogos, psicanalistas, sociólogos, antropólogos...

Não se pode conferir a um tema, com desespero de causa, um trato transcendental, em razão de não se poder chegar a um termo. Ufólogos se mostram inconformados com passagem do tempo. Não arranjam saída que não arranjaram diante do passar da vida, que não a de passarem para a postura, mística e isto não é inconsciente. Ao contrário, é pela consciência de que o tempo seja inexorável, os dias não lhes trouxeram o que sempre desejaram. Está justificada a gana de dar ao fenômeno um  tratamento supostamente holístico, deturpado pelo viés sobrenatural. A verdade é forçada por suas crenças. Vão frontalmente em contrário da verdade em ciência, alertada por POPPER, citado por ALVES[7]. A ciência não é um sistema de declarações certas e bem estabelecidas, nem é ela um sistema que avança para um estado final. Nossa ciência não é conhecimento (episteme): ela não pode nunca pretender haver atingido a verdade, nem mesmo um substituto para ela, como a probabilidade” (Karl Popoer, The Logic of Sientific Discovers, parátrafo 85, pág. 278).

Holismo não é mesmo a misturança estéril que ufólogos desejam. É interessante a lição de PRACONTAL[8] ao dizer, literalmente, que, é revelador observar que a oposição entre neurobiologia e psicanálise parece pouco a pouco sair de moda. Pesquisadores como Olivier Sachs, Jean-Didier Vincent ou Antonio Damásio reabilitam o estudo das emoções, das paixões ou da personalidade em seu conjunto, que o reducionismo dominante tinha rejeitado como pouco suscetível de investigação científica. O grande interesse do pensamento freudiano no universo atual das ciências do espírito é talvez mostrar que não se explicará o todo do homem com um único tipo de teoria. Que as ações, os comportamentos, os acontecimentos que afetam um indivíduo e dos quais ele participa não se reduzem a uma série de mecanismos.

         Ciência não se compatibiliza com transcendência e pensamentos de fundo exclusivamente emocional e similares. Estes nada dão de conhecimento, o que se extrai de ALVES[9], que cita HUME quanto a certos produtos da imaginação: Contêm (eles) qualquer raciocínio abstrato referente à quantidade ou números? Não. Contêm qualquer raciocínio experimental, relativos a matérias de fato e à existência? Não. Lançai-os então às chamas, pois não podem conter nada mais que sofismas e ilusões (Hume, op. Cit., pág. 173). Desacostumados a termos filosóficos, científicos, afetos à metodologia, aos princípios da dialética e ao próprio raciocínio lógico, ufólogos fazem festa quando leem algo que lhes soe como acadêmico. Contudo, sempre com vieses capengas. Um deles acoselhou aos seus fuzarquentos seguidores, que diante do estudo de caso em ufologia, portem-se com o uso da Navalha de Occam. Qual seja, em filosofia da ciência aconselha-se o princípio metodológico que leva à preferência pela explicação e pela hipótese mais simples. E justificou: se diante da análise de um caso ufológico tivermos complicadas explicações de cientistas, em termos de psicologia, astronomia, meteorologia ou seja lá o que, então basta a gente escolher a mais simples – o fenômeno é uma nave de outro planeta. Esta é a mais simples. Simples! Tão simplório raciocínio dispensa maiores comentários.


Brincadeira que se supõe séria

         Essa confusão conceitual faz do holismo uma vítima. A tendência de imitar a ciência faz um ufólogo dizer à frente de milhares de estudantes algo como “vocês já sabem que o governo brasileiro admitiu que estamos sendo visitados por inteligências extraterrestres, não sabem?”. Ou que a divulgação de uns vídeos pela Marinha Americana, com admissão pelo Pentágono, signifique “está provado que estamos recebendo a incursão de naves de outros planetas”. E por aí vai. Por aí vai a ufologia.

         CHALMERS[10] ensina que técnicas observacionais apropriadas podem estabelecer a verdade ou a falsidade, pela observação. Mas técnicas de observação são muito mais do que simplesmente ver com os olhos. Fala em uma ideia que muitos têm, de que dois observadores normais que estão a ver o mesmo objeto ou cenário do mesmo lugar “verão” a mesma coisa. Uma combinação idêntica de raios de luz atingirá os olhos de cada observador, será focada nas suas retinas normais pelas suas lentes oculares normais e produzirá imagens similares. A informação similar viajará então para o cérebro de cada observador através dos seus nervos ópticos normais e consequentemente os dois observadores verão a mesma coisa... veremos por que razão esta espécie de imagem é profundamente enganadora. As experiências visuais não são determinadas apenas pelo objeto visto. E ressalta o que N. R. Hanson (1958) afirmou - “há mais na visão do que aquilo que se encontra no globo ocular”.

         O que separa a ordem científica (pertencente às ciências) da ordem do senso comum (do mundo da ufologia), diz ALVES[11], são os absurdos: os esquemas do senso comum são absurdos, enquanto isto não acontece com a ciência. Religião. Milagres, astrologia, magia: não são todos absurdos que as pessoas de senso comum frequentemente aceitam? O que é um absurdo? O mundo de cada um é sempre lógico do seu ponto de vista.

         Aplicar ao estudo de um fenômeno várias vertentes das ciências, é holístico. Misturar um procedimento científico, por mais singelo que seja, com bizarrices esotéricas, é apenas místico.

         É difícil fazer uma pseudociência como a ufologia escapar aos enganos. Os ufólogos se lamentam, mas o fato é que sua “pura ciência” parece  ser uma brincadeira diante do meio científico. A ignorância científica  caracteriza os crédulos seguidores de seitas e ideias místicas fantasiosas. Quando a educação científca se enfraquece, a sede de mistério aumenta esponencialmente. Trotsky assim descreveu e é lembrado por  SAGAN[12]. E então a ufologia se torna infantil, como qualquer pseudociência, conforme destaca DAWKINS[13]. Este que se gostássemos de apelo à autoridade trataríamos de a maior autoridade em Biologia da atualidade, nota que se há perguntas ainda sem resposta pela ciência, não será a religião capaz de respondê-las.

Conclusão

         KUON[14], na obra por ele organizada e que coloca em pratos limpos as ideias da Ufoarqueologia, sustenta uma conclusão. Permite dizer, sem constrangimento, que aqui não se lutou contra a fantasia humana. Não se desvalorizou o que a fantasia tem de benéfica a um raciocínio salutar e inspirado. O que se comentou foram as exacerbadas fantasias místicas apartadas de da razão. A fantasia é uma das forças motrizes de todas as formas de pensamento, inclusive a científica. Mas não aquela fantasia que arrasta o pensamento para fora da razão, levando-a aos sonhos do divino, do demoníaco, do oculto. Neste sentido, no livro que sustenta a não origem extraterrestre dos deuses, há o dito de que Roger Bacon, o filósofo e físico do século XIII, poderia ter avançado a sua profecia sem o dom divino da fantasia: "Serão construídos navios sem remos e os maiores serão dirigidos por um só homem. E haverá veículos incrivelmente velozes, que não serão puxados por animal algum. E máquinas voadoras. E outras que, sem perigo algum, poderão mergulhar até o fundo dos mares e dos rios".

         Todavia, a fantasia acompanhada pelo fascínio inspirador, aquela que amplia os horizontes das ideias, entretanto limitadas pelo que seja plausível e racional, não anda longe das aquisições científicas. O livro organizado por Kuon[15], que apresenta versões plausíveis e elegantes contra a hipótese dos ”deuses astronautas”, aplaude as mentes que se atraem pelas maravilhas do universo: muitas pessoas estão completamente equivocadas pensando que a fantasia não combina com o trabalho científico. A fantasia é a força motora decisiva do progresso humano. Sem a curiosidade e sem a fantasia o homem teria ficado em estado primitivo. Sem fantasia e imaginação, sem a vontade de 'ver o que está por detrás', nem invenções, nem descobertas teriam sido feitas.



[1] DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, Nicola Abbagnano. São Paulo: Martins Fontes, 2007, pág.512.

[2] DICIONÁRIO AKAL DE FILOSOFIA, Robert Audi (editor). Madrid: AKAL Diccionarios, 2004, pág.500.
[3] UFOLOGIA UMA PESQUISA CIENTÍFICA. HYNEK, J. Allen. Rio de Janeiro: Nórdica, 1972, PÁG. 15

[4] NO RASTO DE OS EXTRATERRESTRES. LANDSBURG, Alan. Rio de Janeiro: Publicações Europa-América, 1976, PÁG. 50

[5] OS ESTRANHOS CASOS DOS OVNI. DURRANT, Henry. Rio de Janeiro: Difel, 1979, PÁG. 9

[6] O GUIA DOS UFOS,BRIAZACK, Norman J. e MENNICK, Simon. São Paulo: 1979, Difel, PÁG. 103

[7] FILOSOFIA DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG. 42

[8] A IMPOSTURA CIENTÍFICA EM DEZ LIÇÕES. Michel de Pracontal, Editora UNESP, Tradução de Álvaro Lourencini, São Paulo 2004.

[9] FILOSOFIA DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG. 447
[10] A CIÊNCIA COMO CONHECIMENTO DERIVADO DOS FATOS DA EXPERIÊNCIA. CHALMERS, Alan F., pág. 3 http://ateus.net/artigos/filosofia/a-ciencia-como-conhecimento-derivado-dos-fatos-da-experiencia/.

[11] FILOSOFIA DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG.448
[12] O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS. SAGAN, Carl. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, PÁG. 32

[13] DEUS, UM DELÍRIO. DAWKINS, Richard. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, PÁG. 87

[14] VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS?. KOUN, Ernst, coordenador. São Paulo: Melhoramentos, 1972, E-BOOK em Word, PÁG. 9

[15] VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS?. KOUN, Ernst, coordenador. São Paulo: Melhoramentos, 1972, E-BOOK em Word, PÁG. 9


Um comentário:

  1. Este artigo é oriundo de um médium e contatado que incorporou o espírito de Mantell e psicografou o texto rs.

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