Por Thomas Mantell
*Thomas Francis Mantell Jr. Tenente
da Força Aérea Americana, atualmente “desencarnado”, morreu aos 7 de janeiro de
1948 quando perseguia um balão estratosférico achando que se tratava de um Óvni
e seu avião explodiu.
Introdução
“Brincamos
de fazer ciência”, repetia Claudeir Covo, em meio a um pequeno número de
ufólogos que tiveram visão mais lúcida a respeito do próprio comportamento.
Quando
escrevi “Ufologia Espiritual”, disse que a propalada Ufologia representa bem essa
brincadeira de ciência, um viés de ordem psicológica que substitui a ignorância
científica. No caso da Ufologia, a limitação ao se fazer ciência no estudo dos
Objetos Voadores Não Identificados. Um sinal disto é a transformação de
uma terminologia militar, “óvni”, em “nave
extraterrestre”. UFO tem de ser nave vinda de outro planeta e quem ousar dizer
o contrário, ou destacar que não existe prova de tal certeza, vira traidor da
causa.
Em
Ufologia há uma tendência de achar que todo cético é um negador sistemático. Porém
o ceticismo é postura de raciocínio científico em experimentos e perante novas
ideias e proposições. Para a maioria dos ufólogos, a postura cética é um
desrespeito àquilo que, para eles, está provado e seja “incontestável”, ou “irrefutável”.
Eis o comportamento que mostra o inconformismo do saudoso Covo – brincam de
fazer ciência.
No
dia em que perceberem que ciência não é brincadeira, compreenderão que não
existe prova incontestável e que, se houver ideia ou proposição irrefutável,
será tudo, menos ciência. O que não é refutável tem um valor notável para o
pensamento científico – zero.
O que é Holismo
Agora
o foco é outro sintoma notável da ufologia que brinca. A utilização aleatória
de termos, alguns forjados com aparência científica. Outros da terminologia
científica e filosófica, porém mal colocados e de compreensão errada. Exemplo
disto é o uso, a torto e a direito, do vocábulo “holismo”.
Alguns
formadores de opinião dizem que a
Ufologia é uma só. Que ela deve ser holística. Porém o que é, afinal, holismo?
Como pode um sistema de estudos ser holístico?
ABBAGNANO, em seu Dicionário de Filosofia[1],
cita POPPER, que denominou o holismo de a
tendência dos historicistas em sustentar que o organismo social, assim como o
biológico, é algo mais que a simples soma dos seus membros e é também algo mais
que a simples soma das relações existentes entre os membros. Em sentido
popular, há de se dar um entendimento menos restrito ou amplo a um tema, fato
ou ideia, de maneira a abranger-lhes sob vários pontos de vista. Isto não quer
dizer que se considerem vertentes místicas, religiosas, transcendentais, em
conjunto com o pensamento científico.
Não é holismo a visão místico-religiosa
misturada com a científica, pelo simples fato de serem incompatíveis, de rumos
de entendimento inconciliáveis, apesar das
tentativas de se dizer o contrário. Amit Gotswami e Deepak Chopra, entre
ougros, estão longe de justificar
esse contrário. O que fizeram e
fazem alguns cientistas, é manterem convicções religiosas separando-as dos
instantes em que pensam e experimentam cientificamente. Alguém disse em uma
discussão informal que se poderia considerar Newton um fantasista idiotizado em
razão de certas crenças ocultistas e religiosas que adotava; o que nem de longe
mancha sua qualidade de um dos maiores cientistas, se não o maior, que a
Humanidade já teve. Kepler abraçava pensamentos medievais místicos, mas não
tratava sua ciência com divagações de
cunho religioso.
No Dicionário Akal de Filosofia[2],
AUDI trata do holismo em suas várias definições, tais como Holismo
Confirmacional, Doxástico, Epistemológico, Metodológico e Semântico. Nenhum
deles se sugere um holismo que tenta disfarçar uma mistureba místico-religiosa
com a ciência. O que deflui dos conceitos de holismo, é que um todo precisa ser
visto sem que suas partes, isoladamente, possam considerar-se em definitivo
explicativas dele. Isto é, há a necessidade de um estudo abrangente, vasto,
envolvendo os aspectos que compõem um todo. AUDI considera o Holismo qualquer da ampla variedade de teses, que de um modo ou de
outro atribuem uma realidade maior ou igual, ou a necessidade explicativa, ao
todo de um sistema em relação ao que são
suas partes. Em filosofia, a preocupação pelo holismo aparece tradicionalmente
na filosofia da biologia, na filosofia da psicologia e especialmente na
filosofia das ciências humanas (tradução livre do espanhol).
Por outro lado não se pode considerar um todo
sem cada uma de suas partes. Um pensamento, uma ideia, os resultados de um
raciocínio sobre objeto ou proposição, devem conter a maior abrangência possível de todos os ângulos e
entendimentos cabíveis. Por exemplo, em psicologia não tratar um paciente
apenas pelo transtorno e si, o que também se aplica à psicanálise, indo até a
maior complexidade científica das áreas da medicina como o é a Psiquiatria. Um
paciente deve ser visto sob seus aspectos físicos, orgânicos, psicológicos,
psíquicos, com sustentação em análises químicas, biológicas, e até com a
observação de suas condições sócio-econômico-culturais. Um simplório exemplo
seria a constatação de que patologias geralmente têm uma origem ou um fundo
psicossomático. Tratar um paciente de forma holística é vê-lo sob as óticas da
medicina, da psicologia, da sociologia...
“Holismo Misturança” na Ufologia
Isto difere de um “falso holismo”. Um paciente
a ser tratado de gripe receberia antibiótico e oração. Descongestionante e água
benta. Injeção intravenosa e o implante de um pedacinho de pano embebido nas
águas do Jordão. Tentar a cura de uma lesão dermatológica profunda com cirurgia e fármacos, bem como com
simpatias de uma velha senhora com um cachimbo na boca. Com sua visão “Sui
Generis” do holismo, a ufologia parece desejar algo semelhante. Analisar o caso
de um alegado pouso de um óvni com um contador geiger, com coleta mineralógica
e uma varinha de radiestesia. Procurar a constituição de um material atribuído à
explosão de um òvni por análise espectrográfica e com a “visão paraótica” de
um paranormal. Organizar uma para o
entendimento de possíveis padrões de manifestação do fenômeno óvni, com
metodologia científica e com as mensagens recebidas por “canalizadores” e
Contatados.
É mais ou menos isto que a Ufologia prega. Nos
EUA essa mistureba é muito maior. Pior. O mais curioso é que lá – por aqui
também - ufólogos são espécies de “Newtons” modernos, resguardada a infinita
distância entre o tido como maior cientista da História e os pseudocientistas
que, mesmo quando sejam cientistas, brincam de ciência por meio da Ufologia. Um psiquiatra ufólogo cai em armadilha de uma
colega que simulara um transe hipnótico para, em aparente regressão de memória,
inventar, representar conscientemente uma abdução. Um médico publica livros com
aparência de ciência, valendo-se do apelo à autoridade por ser cientista,
revelando em diálogos e entrevistas esquisitas que seria uma espécie de
contatado com seres superiores que vêm para cá para nos redimir. Ou salvar. Ou arrebatar.
Não há muita diferença.
No Brasil também, apesar de flagrante contraste
entre a formação científica de certos ufólogos americanos e a maioria dos
ufólogos brasileiros. É natural, de postura simplória e ilusória, um
ufólogo dos que dizem que a ufologia deva ser “holística” sentir-se “dirigido
por algo” em suas pesquisas. Outros ufólogos holistas são Físicos, mas quando
lidam com a ufologia dão cursos de como contatar seus irmãos do espaço, quais
são as intenções – e até os meios! – de que estes se utilizam para dar um
pulinho até nosso planeta. Médicos ufólogos entram habitualmente em transe e
“recebem” mensagens de simpáticas eteias (extraterrestres femininas) de nome parecido
a uma mescla de árabe com indiano. Mas como médicos não desconfiam de que sua
manifestação de cunho meramente psíquico é sintoma de prosopopese. Enfim.
Ciência com mistureba de ideias
místico-religiosas não é holismo. Holística a Ufologia em si já é sem que essa pecha lhe seja deturpada para
justificar os arroubos crédulos de arautos de extraterrestres. Acaba de ocorrer
uma estranha contradição com o que até aqui vem escrito? Não. A ufologia não
merece nem carece de trato supostamente holístico quando se argumenta que
holismo é ciência, mais religião, mais misticismo, mais ocultismo, mais
esoterismo, mais magia. A ufologia é holista por excelência sem precisar do
rótulo, porque ela em si não passa de uma denominação de um campo de interesse
por um fenômeno de alguns fatores intrínsecos e extrínsecos por enquanto
incompreendidos. Mesmo que os que dela necessitam para viver insistam por dizer
que tudo está provado, que óvni é nave de outro planeta e fim de papo.
Recentemente alguém decretou que ufólogos devem parar de dizer que as
origens do fenômeno ainda carecem de
estudos. E, pasmo, que não mais se deva dizer objeto voador não identificado.
Porque, ufólogo que veste a camisa, é aquele que defende o fenômeno como
veículos de outros planetas que transportam nossos irmãos cósmicos. Seja lá o
que isto signifique...
Ufologia “científica” e o
despertar dos eleitos
Contudo esta crônica está se desviando do foco,
qual seja, o equivocado e mal conceituado holismo na ufologia, como sinônimo de razão
mesclada a credulidade excessiva e a ideias fantasiosas. A Ufologia é holista
porque na realidade são fragmentos dos conhecimentos das ciências. Tais como
geologia, biologia, química, física, astronomia, história, arqueologia, psicologia,
medicina. São técnicas de fotografia, de análise de solo, de prospecções
várias, de tomografia, de ressonância, de informática, de edição de vídeo...
absurdo até querer aqui relacionar tudo o que deva servir à ufologia. Porque o
estudo de qualquer fenômeno deve ser mesmo multidisciplinar, interdisciplinar,
vasto, já que estudo e compreensão pertencem aos campos da ciência e da
técnica.
Tudo isto é velho. Desde seu início na Década de 40, a ufologia, chamada também
precipitadamente científica, por contrastar com as esquisitices da dita
Ufologia Mística, luta contra a fantasia de histórias em quadrinhos. Nos Anos
70, Joseph Allen HYNEK, ao sugerir a pesquisa científica dos óvnis, comentava a
tal Ufologia Mística[3]:
E, para outros ainda, (geralmente
membros de “cultos dos discos voadores” ou “grupos de verdadeiros crentes”),
significa a vinda à Terra de seres geralmente bons cujo objetivo evidente é
comunicarem (de um modo geral a relativamente poucas pessoas, selecionadas e
eleitas – quase sempre sem testemunhas) mensagens de “importância cósmica”.
Esses receptadores eleitos têm, usualmente, experiências de contato que se
repetem, envolvendo outras mensagens. A transmissão de tais mensagens a
crédulos voluntários e sem espírito crítico conduz, quase sempre, à formação do
culto do disco voador sendo o “comunicador” ou “contatado” o líder voluntário e
óbvio do culto. Embora relativamente poucos, os advogados desse tipo de disco
voador influenciaram enormemente a opinião pública através de seus atos
irracionais...
O que Hynek não podia imaginar é que a coisa pioraria
e muito, para se transformar na balbúrdia alucinante em que se encontra.
Começaram a surgir comunidades inspiradas em contatos
com extraterrestres. Segundo LANDSBURG[4],
uma das primeiras comunidades a reunir o misticismo e os fenômenos
interplanetários num coito sagrado foi a Sociedade Aetherius, fundada em
Londres a 29 de maio de 1955, sob as
ordens de inteligências extraterrestres. Esse ramo da ufologia, ou melhor,
esse viés que tomou conta de vez da Ufologia, nunca apresentou qualquer
informação, dado ou mesmo prova, de seus fundamentos. Porque se baseia em
supostas faculdades humanas ausentes de comprovação científica. Tais como
telepatia. A própria existência de seres extraterrestres, que a cada dia se
torna mais aceitável em razão de sucessivas descobertas astronômicas, não conta
com qualquer evidência. Mas entre existir um ET e ele poder vir até aqui... há
uma distância tão grande, que filosófica e cientificamente chega a ser
incomensurável. Figurativa e literalmente.
Ainda nos Anos 70, DURRANT[5],
sustentado na seriedade como um dos antigos ufólogos franceses, destilou sua
revolta contra as afirmações descompromissadas de contatados e ufólogos eleitos
por Ets. Há os visionários, os loucos, as pessoas que se intrometem por tudo e por
nada, os espíritos confusos, aos quais certas publicações dão guarida com o fim
único de aumentar a tiragem, especulando sobre a insaciável sede de magia de um
público numeroso. Lá como cá... à época como hoje...
Transcendência e desespero por respostas
Não há como se compatibilizar um estudo
científico com uma religiosidade fundada em UFOs. Não seria holismo fazer isto,
porque o comportamento da maioria dos ufólogos é de agir como uma espécie de
seita, com crenças de cunho sobrenatural. É como se Deus e o sentimento
religioso pudessem ser considerados ciência. Alguns tentam constituir um clero ufológico.
Certos ufólogos confundem uma aconselhável
postura de pensamento científico, com algo que por si mesmo já pudesse ser
considerado ciência. A Ufologia não é uma ciência e o almejado tratamento
holístico não passa de uma mistura inconveniente e fantasista. Dar trato
científico e ao mesmo tempo de
credulidade mística e esotérica a algo, não é holismo.
Segundo BRIAZACK e MENNIK[6],
“Em meados do século XX, entretanto, o homem começou a
perder a fé em si próprio e, especificamente, em sua capacidade para resolver
problemas. Consequentemente, esses problemas se tornaram maiores e mais
insuportáveis do que deveriam ser. A
perda da confiança do homem em si mesmo teve um outro efeito. Ele começou a
procurar um salvador, alguém para resolver os muitos problemas que se tornaram
aparentemente insuperáveis. O advento da era espacial abriu a possibilidade de
salvadores na forma de astronautas de outros planetas. Entretanto, a
pergunta que deve ser feita é: supondo que ufólogos, a maioria com
desconhecimento de áreas científicas, se encontrarem diante da comprovação de
que UFOs sejam naves de outros planetas, o que farão? Empunharão cartazes com
os ditos “Eu já sabia!”, ou “Eu não falei!?”. Encerrarão suas carreiras de
palestrantes e sairão com um sorriso amarelo vitorioso no canto da boca?
Se, e quando houver hipóteses que referendem
essa origem e constituição do fenômeno ufológico, terão sido confirmadas pelas
ciências. Nas mãos da ciência está todo e qualquer fenômeno. Inclusive aquele
que se tem de mais rico na ufologia – o próprio ufólogo. Que tem superado a imaginária
complexidade de uma nave extraterrestre. Talvez em pé de igualdade, as
testemunhas. Com a palavra, não os ufólogos mas psicólogos, psicanalistas, sociólogos,
antropólogos...
Não se pode conferir a um tema, com desespero
de causa, um trato transcendental, em razão de não se poder chegar a um termo. Ufólogos
se mostram inconformados com passagem do tempo. Não arranjam saída que não
arranjaram diante do passar da vida, que não a de passarem para a postura,
mística e isto não é inconsciente. Ao contrário, é pela consciência de que o
tempo seja inexorável, os dias não lhes trouxeram o que sempre desejaram. Está
justificada a gana de dar ao fenômeno um
tratamento supostamente holístico, deturpado pelo viés sobrenatural. A
verdade é forçada por suas crenças. Vão frontalmente em contrário da verdade em
ciência, alertada por POPPER, citado por ALVES[7].
A ciência não é um sistema de declarações
certas e bem estabelecidas, nem é ela um sistema que avança para um estado
final. Nossa ciência não é conhecimento (episteme): ela não pode nunca pretender haver atingido a verdade, nem mesmo um
substituto para ela, como a probabilidade” (Karl Popoer, The Logic of Sientific
Discovers, parátrafo 85, pág. 278).
Holismo não é mesmo a misturança estéril que ufólogos
desejam. É interessante a lição de PRACONTAL[8]
ao dizer, literalmente, que, é revelador
observar que a oposição entre neurobiologia e psicanálise parece pouco a pouco
sair de moda. Pesquisadores como Olivier Sachs, Jean-Didier Vincent ou Antonio Damásio
reabilitam o estudo das emoções, das paixões ou da personalidade em seu
conjunto, que o reducionismo dominante tinha rejeitado como pouco suscetível de
investigação científica. O grande interesse do pensamento freudiano no universo
atual das ciências do espírito é talvez mostrar que não se explicará o todo do
homem com um único tipo de teoria. Que as ações, os comportamentos, os
acontecimentos que afetam um indivíduo e dos quais ele participa não se reduzem
a uma série de mecanismos.
Ciência não se compatibiliza com transcendência e
pensamentos de fundo exclusivamente emocional e similares. Estes nada dão de
conhecimento, o que se extrai de ALVES[9],
que cita HUME quanto a certos produtos da imaginação: Contêm (eles) qualquer
raciocínio abstrato referente à quantidade ou números? Não. Contêm qualquer
raciocínio experimental, relativos a matérias de fato e à existência? Não.
Lançai-os então às chamas, pois não podem conter nada mais que sofismas e
ilusões (Hume, op. Cit., pág. 173). Desacostumados
a termos filosóficos, científicos, afetos à metodologia, aos princípios da
dialética e ao próprio raciocínio lógico, ufólogos fazem festa quando leem algo
que lhes soe como acadêmico. Contudo, sempre com vieses capengas. Um deles
acoselhou aos seus fuzarquentos seguidores, que diante do estudo de caso em
ufologia, portem-se com o uso da Navalha de Occam. Qual seja, em filosofia da
ciência aconselha-se o princípio metodológico que leva à preferência pela
explicação e pela hipótese mais simples. E justificou: se diante da análise de
um caso ufológico tivermos complicadas explicações de cientistas, em termos de
psicologia, astronomia, meteorologia ou seja lá o que, então basta a gente
escolher a mais simples – o fenômeno é uma nave de outro planeta. Esta é a mais
simples. Simples! Tão simplório raciocínio dispensa maiores comentários.
Brincadeira que se supõe
séria
Essa confusão conceitual faz do holismo uma vítima. A
tendência de imitar a ciência faz um ufólogo dizer à frente de milhares de
estudantes algo como “vocês já sabem que o governo brasileiro admitiu que
estamos sendo visitados por inteligências extraterrestres, não sabem?”. Ou que
a divulgação de uns vídeos pela Marinha Americana, com admissão pelo Pentágono,
signifique “está provado que estamos recebendo a incursão de naves de outros
planetas”. E por aí vai. Por aí vai a ufologia.
CHALMERS[10]
ensina que técnicas observacionais apropriadas podem estabelecer a verdade ou a
falsidade, pela observação. Mas técnicas de observação são muito mais do que
simplesmente ver com os olhos. Fala em uma ideia que muitos têm, de que dois observadores normais que estão a ver o
mesmo objeto ou cenário do mesmo lugar “verão” a mesma coisa. Uma combinação
idêntica de raios de luz atingirá os olhos de cada observador, será focada nas suas
retinas normais pelas suas lentes oculares normais e produzirá imagens
similares. A informação similar viajará então para o cérebro de cada observador
através dos seus nervos ópticos normais e consequentemente os dois observadores
verão a mesma coisa... veremos por que razão esta espécie de imagem é
profundamente enganadora. As experiências visuais não
são determinadas apenas pelo objeto visto. E ressalta o que N. R.
Hanson (1958) afirmou - “há mais na visão do que aquilo que se encontra no
globo ocular”.
O que separa a ordem científica (pertencente às ciências) da
ordem do senso comum (do mundo da ufologia), diz ALVES[11],
são os absurdos: os esquemas do senso
comum são absurdos, enquanto isto não acontece com a ciência. Religião.
Milagres, astrologia, magia: não são todos absurdos que as pessoas de senso
comum frequentemente aceitam? O que é um absurdo? O mundo de cada um é sempre
lógico do seu ponto de vista.
Aplicar ao estudo de um fenômeno várias
vertentes das ciências, é holístico. Misturar um procedimento científico, por
mais singelo que seja, com bizarrices esotéricas, é apenas místico.
É difícil fazer uma pseudociência como a ufologia escapar aos
enganos. Os ufólogos se lamentam, mas o fato é que sua “pura ciência”
parece ser uma brincadeira diante do
meio científico. A ignorância científica
caracteriza os crédulos seguidores de seitas e ideias místicas
fantasiosas. Quando a educação científca se enfraquece, a sede de mistério
aumenta esponencialmente. Trotsky assim descreveu e é lembrado por SAGAN[12].
E então a ufologia se torna infantil, como qualquer pseudociência, conforme
destaca DAWKINS[13].
Este que se gostássemos de apelo à autoridade trataríamos de a maior autoridade
em Biologia da atualidade, nota que se há perguntas ainda sem resposta pela
ciência, não será a religião capaz de respondê-las.
Conclusão
KUON[14],
na obra por ele organizada e que coloca em pratos limpos as ideias da
Ufoarqueologia, sustenta uma conclusão. Permite dizer, sem constrangimento, que
aqui não se lutou contra a fantasia humana. Não se desvalorizou o que a
fantasia tem de benéfica a um raciocínio salutar e inspirado. O que se comentou
foram as exacerbadas fantasias místicas apartadas de da razão. A fantasia é uma
das forças motrizes de todas as formas de pensamento, inclusive a científica. Mas
não aquela fantasia que arrasta o pensamento para fora da razão, levando-a aos
sonhos do divino, do demoníaco, do oculto. Neste sentido, no livro que sustenta
a não origem extraterrestre dos deuses, há o dito de que Roger Bacon, o filósofo e físico do século
XIII, poderia ter avançado a sua profecia sem o dom divino da fantasia: "Serão construídos navios sem remos e os maiores
serão dirigidos por um só homem. E haverá veículos incrivelmente velozes, que
não serão puxados por animal algum. E máquinas voadoras. E outras que, sem
perigo algum, poderão mergulhar até o fundo dos mares e dos rios".
Todavia, a fantasia acompanhada pelo
fascínio inspirador, aquela que amplia os horizontes das ideias, entretanto
limitadas pelo que seja plausível e racional, não anda longe das aquisições
científicas. O livro organizado por Kuon[15],
que apresenta versões plausíveis e elegantes contra a hipótese dos ”deuses
astronautas”, aplaude as mentes que se atraem pelas maravilhas do universo: muitas pessoas estão
completamente equivocadas pensando que a fantasia não combina com o trabalho
científico. A fantasia é a força motora decisiva do progresso humano. Sem a
curiosidade e sem a fantasia o homem teria ficado em estado primitivo. Sem
fantasia e imaginação, sem a vontade de 'ver o que está por detrás', nem invenções,
nem descobertas teriam sido feitas.
[1]
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA,
Nicola Abbagnano. São Paulo: Martins Fontes, 2007, pág.512.
[2] DICIONÁRIO AKAL DE FILOSOFIA, Robert Audi
(editor). Madrid: AKAL Diccionarios, 2004, pág.500.
[4]
NO
RASTO DE OS EXTRATERRESTRES. LANDSBURG, Alan. Rio de Janeiro: Publicações Europa-América,
1976, PÁG. 50
[5]
OS ESTRANHOS CASOS DOS OVNI. DURRANT, Henry.
Rio de Janeiro: Difel, 1979, PÁG. 9
[7]
FILOSOFIA
DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG. 42
[8]
A IMPOSTURA CIENTÍFICA EM DEZ LIÇÕES. Michel de
Pracontal, Editora UNESP, Tradução de Álvaro Lourencini, São Paulo 2004.
[10]
A CIÊNCIA COMO CONHECIMENTO DERIVADO DOS FATOS
DA EXPERIÊNCIA. CHALMERS, Alan F., pág. 3 http://ateus.net/artigos/filosofia/a-ciencia-como-conhecimento-derivado-dos-fatos-da-experiencia/.
[12]
O
MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS. SAGAN, Carl. São Paulo: Companhia das Letras,
1997, PÁG. 32
[13]
DEUS, UM DELÍRIO. DAWKINS, Richard. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007, PÁG. 87
[14]
VIERAM
OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS?. KOUN, Ernst, coordenador. São Paulo:
Melhoramentos, 1972, E-BOOK em Word, PÁG. 9
[15]
VIERAM
OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS?. KOUN, Ernst, coordenador. São Paulo:
Melhoramentos, 1972, E-BOOK em Word, PÁG. 9
Este artigo é oriundo de um médium e contatado que incorporou o espírito de Mantell e psicografou o texto rs.
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