Vanderlei D’Agostino
Uma invasão de seres extraterrestres, subjugando a
Humanidade e tornando-a escrava de interesses ainda desconhecidos para nós.
Talvez para sugar nossa energia vital ou extrair órgãos ou fluidos humanos
necessários à manutenção de suas vidas. Quem sabe para a extração de recursos
naturais de nosso planeta, que já não existiriam em seus locais de origem. Com
base em estatísticas e evidências, a existência de vida inteligente em outros
orbes e as visitas de seus emissários a Terra são fatos plenamente possíveis. E
como ufólogos conscientes, precisamos considerar todas as hipóteses que
justifiquem tais visitas e levar a sério as possibilidades descritas acima. No
entanto, sempre lembrando que o senso crítico é condição básica para o estudo
da Ufologia, tais opções permanecem ainda como especulação, a despeito de
algumas correntes dentro da própria Ufologia, que as entendem como verdades
irrefutáveis. Particularmente, prefiro manter a posição de que sejam apenas uma
possibilidade a ser levada em conta. De qualquer forma, se as visitas
extraterrestres tivessem as intenções descritas, seriam de fato um enorme
perigo. Isso sem falar nas teorias conspiracionistas apregoadas por muitos de
maneira exagerada, que garantem peremptoriamente que nossa sociedade já se
encontra sob o domínio oculto de entidades secretas. Ainda que pareçam
contraditórias, em respeito aos colegas e ao conceito de que tudo é possível,
vamos levar essa hipótese também em consideração neste trabalho.
Nesta introdução falamos apenas de possibilidades e
especulações, ao menos até que se prove de maneira inequívoca sua realidade.
Neste artigo, no entanto, discorremos sobre um perigo que é incontestavelmente
real e unânime dentro da comunidade ufológica, em qualquer de suas vertentes.
Ele está aí há algum tempo e já fez muitas vítimas. São as seitas e cultos
ligados à Ufologia ou tendo esta disciplina como ponto de apoio para seu
desenvolvimento. Mais que conjecturas, a existência de seitas ufológicas é
concreta, de conhecimento amplo e, pior, traz em seu bojo não uma expectativa
de perigo, mas sim uma realidade que já se faz presente com todas suas nefastas
conseqüências para os humanos que são presos em suas teias. Este perigo, é
claro, não reside apenas no cenário ufológico, mas tramita também na área
religiosa, filosófica ou até mesmo política, se considerarmos a essência do
assunto tratado. Mas vamos nos ater ao cenário de que trata essa revista, sem,
no entanto, deixarmos de manter a mente aberta para outras áreas em que as
situações aqui tratadas também se aplicam.
Os mecanismos de formação de
uma seita
A palavra seita, segundo o dicionário Aurélio Século XXI , significa doutrina ou sistema que diverge da
opinião geral e é seguido por muitos. A obra também vê as seitas como “um conjunto de indivíduos que professam a
mesma doutrina ou uma comunidade fechada, de cunho radical”. Por fim, o Aurélio as descreve como “a teoria de um mestre seguida por numerosos
prosélitos. Uma facção ou partido”. A leitura atenta destas definições leva
a um grande número de considerações, que analisaremos a seguir.
·
“Doutrina ou
sistema que diverge da opinião geral e é seguido por muitos”. Não temos
aqui um perigo em si, já que a própria Ufologia, ainda que embasada em
pesquisas sérias, estatísticas e evidências, não deixa de ser um sistema que
confronta a opinião geral e tem muitos adeptos. Já foi dito que a unanimidade é
burra e os ufólogos – particularmente este autor – não aparentam ter o menor
receio de pertencer a um grupo de pessoas que, apesar de tudo que já foi
mostrado, ainda faz parte de uma minoria em termos estatísticos.
·
“Comunidade
fechada, de cunho radical”. Esta definição começa a se mostrar interessante
para nosso estudo. Radicalização, por si só, é algo que devemos evitar. O
estudo da História nos mostra quantas desgraças o radicalismo trouxe a milhões
de pessoas ao redor do globo. Sendo esse radicalismo perpetrado dentro de uma
comunidade fechada, multiplicam-se exponencialmente seus perigos. Pela
definição dada, é difícil saber o que acontece nos bastidores de tais
comunidades fechadas, podendo-se fazer elucubrações das mais variadas sem se
ter certeza de nada. Essa falta de transparência torna-se não apenas mais uma
variável nessa questão, mas também uma poderosa arma na mão do sujeito citado
na definição seguinte.
·
“Teoria de um
mestre seguida por numerosos prosélitos”. Temos aqui mais um sério
agravante. Como toda teoria, ela não passa de um conceito que ainda não foi
definitivamente comprovado por métodos científicos aceitos. Nada contra o termo
teoria em si. Afinal, só para
lembrar, a Teoria da Relatividade de Einstein abalou os alicerces da Física.
Alguns de seus pontos já foram verificados e comprovados e outros continuam no
campo da especulação. Nem por isso tal teoria e seu propositor deixaram de ter
seus devidos valores registrados na História. O problema aqui reside na palavra
mestre. Além de ser aquele que ensina, na concepção popular, a idéia de mestre
no contexto ufológico recebe uma conotação no mínimo perigosa: a de alguém
superior aos outros. Este é um conceito subjetivo e que dá margem a enganos e
imposturas. E o pior, “seguido por numerosos prosélitos” (adeptos).
Obviamente,
uma análise das seitas ufológicas, suas características, origens, perigos e
conseqüências, requer conhecimentos de Antropologia, Sociologia, Psicologia e
afins. Mas longe de ter a pretensão de ser um tratado, este artigo tem a
intenção levar aos leitores informações objetivas para que possam refletir sobre
a importância do assunto, como também fazer um alerta aos pesquisadores da área
ufológica, veteranos ou iniciantes. E ainda que possa parecer banal, cumpre
lembrar o que é Ufologia: o estudo de objetos voadores, estáticos, submarinos
ou espaciais, de origem supostamente extraterrestre e dirigidos de forma
inteligente. Oficialmente, existe vida inteligente somente em nosso planeta, a
despeito dos números literalmente astronômicos que se apresentam nas atuais
estatísticas. Estamos localizados em uma galáxia cujo número de estrelas chega
a 400 bilhões, na melhor das expectativas, vagando entre outras 100 bilhões de
galáxias, cada uma abrigando entre algumas dezenas e centenas de bilhões de
sóis. Mesmo assim, apenas cerca de uma centena de planetas já foram detectados
por via indireta na Via Láctea. E todos esses números crescem em proporção
direta ao avanço da capacidade técnica dos astrônomos. Fácil seria, então,
chegar à conclusão de que deve realmente haver vida inteligente no Universo, e
eventualmente nos visitando, conforme os conceitos da Ufologia, baseados não
somente em estatísticas mas em evidências visuais, eletrônicas, testemunhais
etc.
A despeito desse arsenal matemático, ainda falta aos
ufólogos uma prova definitiva e inequívoca da presença extraterrestre em nosso
planeta, a ser compartilhada com aqueles que não concordam com essa
possibilidade. Se conseguiremos isso um dia esse é tema para uma próxima
oportunidade. Mas já podemos contar com algumas reações em nossa sociedade,
baseadas na possibilidade central colocada pela Ufologia. Qualquer que seja seu
futuro, ela lançou sementes extremamente interessantes no que tange ao fato do
ser humano ampliar sua visão, não só cosmológica como também no que concerne ao
seu próprio ser. A simples pergunta estamos
sós no universo? sempre foi uma força motriz para querermos alcançar níveis
de conhecimento e entendimento que muitas surpresas ainda nos trarão no futuro.
Entretanto, nem tudo são flores nessa questão que já quase se coloca como
filosófica e não apenas técnica. Essa mesma busca fez nascer uma quantidade
enorme de movimentos, nem sempre com as melhores intenções, que podem e devem
ser conhecidos por todos – ufólogos ou não.
Tendo
em mente que o assunto em pauta requer muito discernimento e senso crítico,
vamos examinar os motivos que levam ao surgimento de uma seita, seja ela de
qualquer motivação. Tem-se como comum o fato de uma seita estar baseada em
motivos religiosos. Lembrando que estão gravados firmemente no inconsciente
humano a religiosidade, a existência de ser(es) superior(es) e seus símbolos,
temos na própria essência do ser humano os ingredientes necessários para a
formação de movimentos cultístas. Sua forma de apresentação é que se diferencia
ao longo do tempo, levando em conta as características da época, cultura
vigente, momento social, econômico etc. A essência das seitas, no entanto,
pouco muda. Para um melhor entendimento, vamos viajar do micro ao macro, ou
seja, das características pessoais e individuais das pessoas ligadas a uma seita
até sua relação dentro da sociedade. Um dos personagens centrais dessa análise
é o líder destes movimentos, em torno do qual os seguidores se fixam.
As categorias de líderes de
movimentos cultistas
Há três categorias de líderes, conforme sugere a psicóloga
Maria de Lourdes Silva: aquele que é bem-intencionado, o que tem algum desvio
de conduta (eventualmente patológico) e o literalmente charlatão. O líder da
primeira categoria traz consigo uma carga de conhecimentos que pode estar, num
primeiro instante, preenchendo necessidades e carências de seus adeptos em
variados setores da vida – tais como afetivas, emocionais, familiares e sociais
–, que os fazem sentir-se aliviados de seus fardos. Essa procura de uma
condição mais satisfatória por parte do potencial adepto é uma porta de entrada
para o líder em sua vida, que tem inatos certos atributos, como boa oratória,
gesticulação pertinente e outras técnicas das quais falaremos mais adiante.
Vale lembrar aqui que esse líder e, por conseqüência, tal seita ou culto, não
é, por si só, pernicioso para a sociedade ou para aqueles que o seguem. Este
líder acredita realmente naquilo que apregoa e tem normalmente objetivos
considerados por ele nobres, que procura dividir com outras pessoas.
Não
podemos – nem devemos – criar em pleno século XXI uma nova inquisição,
colocando na mesma condição todas as pessoas que têm uma forma diferente de ver
o mundo e de interagir com o mesmo. O respeito ao diferente deve sempre imperar. Mas quando o futuro líder começa a
se ver como um real líder? Qual é o processo mental que acontece no tempo entre
o achar algo e o devo fazer algo em relação a isso e trazer comigo quem mais se
interessar? Via de regra, o líder – que também pode ter as mais diversas
carências – procura estudar o assunto pelo qual se interessa de maneira
profunda, adquirindo conhecimentos que poucos têm. A partir do momento em que
esse conhecimento se torna um grande diferencial entre ele e a média das
pessoas, cria-se em sua mente a concepção de que pode e deve ajudar terceiros
em suas jornadas.
Entra
aqui um ponto importantíssimo para esta análise, principalmente com os meios de
comunicação que temos hoje em mãos, tão facilmente. Já consideraram os leitores
quanta informação nos é despejada 24 horas por dia, seja via televisão, rádio,
internet, jornais impressos etc? Mas qual é o real perigo que essa enxurrada de
informações acarreta? De um lado, temos os meios de comunicação, que nem sempre
primam pela qualidade da informação passada, e, do outro, o receptor, que nem
sempre tem seu senso crítico e conhecimento específico de determinado assunto
apurado o bastante para diferenciar uma informação digna de confiança de outra
que não seja. Feita essa observação, voltemos à figura do líder. Uma vez
iniciado o processo de surgimento de um líder classificado como
bem-intencionado, esse começa a espalhar sua mensagem pelos meios que dispõe,
composta de informações colhidas de formas diversas, indo do que aflora de sua
própria mente àquelas emprestadas de meios externos. Considerando que em ambos
casos há a possibilidade de falhas, conforme a observação que se fez acima
sobre os meios de comunicação, chegamos em um ponto de extrema importância
nessa análise.
Ainda
que partindo de fatos facilmente observáveis – situações de guerra iminente,
grandes cataclismos e ameaças ao meio ambiente, por exemplo –, o líder oferece
aos seus adeptos caminhos a serem seguidos, que de forma alguma podem ser
verificados. Esse é um dos pontos cruciais das seitas: a partir do momento em
que as soluções oferecidas não podem ser comprovadas, temos o contrário como
verdade. Tais afirmações não podem também ser desmentidas de forma objetiva e
assim, como se diz no jargão popular, fica o dito pelo não dito. E o líder tem
caminho aberto à frente para implantar seu sistema de crença em maior escala,
sem oposição efetivamente clara. É bom observar aqui que o senso crítico, seja
do líder ou do adepto, já está em maior ou menor grau prejudicado. Lembrando
que o tal senso crítico é inerente à normalidade, a falta do mesmo é indicador
de um possível estado patológico, cujos níveis devem ser considerados caso a
caso, não havendo uma situação que possa englobar todas as pessoas como sendo
portadoras de alguma psicopatologia. O senso crítico é, portanto, o ponto de partida
para que o potencial líder e o potencial adepto façam escolhas corretas no
sentido de não caírem em armadilhas formadas pelos seus próprios estados de
carência ou insatisfação.
Mas o que o líder pode oferecer para atrair adeptos? Como os
estados de insatisfação com determinadas situações internas ou externas são o
ponto de partida tanto para a formação do líder como do adepto – e, por
conseqüência, da própria seita –, consideremos determinadas situações
hipotéticas. Imaginemos alguém cuja vida profissional e financeira está em
crise, levando-o a perder seus bens pessoais, crédito, casa etc. Imediatamente,
vem à mente dessa pessoa uma insatisfação ou carência, cuja solução será o
oposto da situação atual. Ou seja, a procura por um ambiente em que haja
abundância material, dependências lindamente ornamentadas e mobiliadas ou, quem
sabe, um belo e enorme sítio ou fazenda com belas paisagens naturais. Isso, a priori, faria o indivíduo sentir-se
mais seguro, se comparado com a pequena casa, agora alugada e em um distante
subúrbio, onde mora. Se o líder puder oferecer isso e o senso crítico do
possível adepto estiver falho, teremos então um forte candidato a seguidor da
seita do líder.
É
claro, no entanto, que não somente pessoas com dificuldades financeiras seguem
determinadas seitas. Para entender isso, voltamos novamente à análise das
carências. Imaginemos uma outra situação em que determinada pessoa tem sua vida
familiar e social conturbadas por vários motivos. Alguém que lhe dê um abraço,
um olhar amigo ou contato físico amistoso será objeto de admiração e,
eventualmente, uma necessidade. E quem recebe este tratamento pode ser tornar
mais um candidato a seguidor da seita do líder. E como essa, poderíamos
descrever inúmeras situações com a mesma natureza intrínseca, embora os
exemplos dados sejam suficientes para se entender como funcionam os processos
de aproximação do adepto a um movimento de culto. Mas não basta ao líder apenas
fornecer o estímulo que falta para agregar novos membros. É necessário também o
convencimento. Entra aqui não somente o âmago da mensagem, mas também as
técnicas para tal convencimento. Quanto à mensagem, o líder se mostra uma
figura carismática e profunda conhecedora do ponto focal da seita, ainda que
com informações inválidas ou não verificáveis. É também amigável e chega muitas
vezes à adulação. Apresenta-se como um conselheiro, até mesmo usando de meios
materiais para manter a relação adepto-líder. Claro, tudo isso em relação ao
líder que classificamos como bem-intencionado, que faz tudo isso pensando no
bem-estar do adepto.
Um líder com desvio de
conduta
Vamos um passo adiante e vejamos agora o que acontece quando
surge a figura do líder bem-intencionado, porém com algum desvio de conduta e
em estado potencialmente patológico. Permanecem as observações feitas até aqui,
mas com algumas agravantes. Esse segundo tipo de líder – ainda segundo a
classificação da psicóloga Maria de Lourdes Silva – tem suas faculdades de
senso crítico e discernimento já esvaídas, pelos mais variados motivos. Assim,
ele potencializa de forma perigosa as características do tipo anteriormente
descrito. Nessa categoria, via de regra, o líder se julga um enviado para a solução de determinados
problemas por ele abordados. Pode alegar estar sob comando de um ser ou seres
superiores, de quem alega receber informações sobre a conduta humana, através
de intuições, visões ou revelações, que novamente nos remetem à já citada
necessidade inerente do ser humano em ter uma entidade superiora, ligada à
religiosidade e aos símbolos.
No
entanto, quando mal direcionada ou trabalhada internamente, essa necessidade
faz surgir uma figura perigosa para os incautos que com ele têm contato. Temos
aqui um tipo de líder com um poder de convencimento maior do que o primeiro,
visto que sua visão daquilo que acha ser sua missão já é para ele uma fixação,
uma verdadeira cruzada contra um inimigo comum. A propagação da existência
desse ilusório inimigo – que pode ser o sistema vigente, os governos ocultos, o
anticristo, os extraterrestres não-confederados etc – passa a ser uma arma essencial para manter o grupo coeso
pois, além do preenchimento das necessidades acima citadas, cria-se uma visão
comum a todos sobre os opostos: somos nós contra eles. Isso gera a idéia,
também segundo o jargão popular, de que ou vencem eles, ou vencemos nós. Ou
seja, o uso da dicotomia como forte instrumento de recrutamento e permanência
do seguidor. Tal posicionamento, aliado à falta de senso crítico – que é
pré-requisito de estados patológicos –, pode gerar um movimento radical,
levando o líder e seus seguidores a ações que venham trazer prejuízos dos mais
variados, indo do isolamento social até mesmo risco às suas próprias vidas.
Exagero?
Certamente, não. Basta lembrar a tragédia ocorrida em 1978, quando centenas de
seguidores de Jim Jones foram levados ao suicídio nas Guianas, ou em 1997,
quando os seguidores de Applewhite, da seita
Heaven’s Gate, tiveram o mesmo destino na Califórnia. Percebam que em ambos
casos os líderes tiveram o mesmo fim trágico de seus prosélitos. Isso vem
confirmar o nível patológico em que se encontravam, visto que acreditavam tão
piamente naquilo que propalavam, que chegaram a exterminar suas próprias vidas.
Podemos observar, nesses exemplos, como é perigoso o contato e envolvimento com
tais pessoas, uma vez que seu poder de convencimento é muito maior do que
aquele que acredita em algo, porém mantendo seu nível de senso crítico em
condições, digamos, aceitáveis. É importante lembrar que, além de condições
psicopatológicas, há também desvios de conduta de origem física.
Descompensações enzimáticas, deformidades físicas e problemas de origem
neurológica são alguns exemplos. Novamente, o quanto esses problemas médicos
podem levar a uma conduta doentia ainda é tema de discussão na área médica,
devendo a análise ser feita caso a caso, sem generalizações.
O
surgimento da seita é algo que se faz de forma natural e quase imperceptível,
sendo isso mais um grande perigo. A princípio, a própria mensagem do líder
aglutina simpatizantes que, eventualmente, vêm a ser tornar algo mais
organizado. Na seqüência, essa organização pode vir a gerar até uma religião
institucionalizada, como aconteceu com várias no Ocidente e no Oriente. Mas,
além da mensagem, outros fatores externos podem vir a iniciar o aparecimento de
cultos e seitas. O milenarismo é um deles, o que
nos remete ao fator símbolo
anteriormente citado. O encerramento de um milênio – e a História mostra que a
essência desse conceito pode gerar movimentos em fechamento de séculos também –
traz a imagem numérica de final e início de um ciclo, nascendo daí a
necessidade de uma mudança, seja de parâmetros sociais, éticos ou religiosos.
Como toda mudança traz necessidades diversas, voltamos ao caso de criar terreno
fértil para a criação de lacunas em nosso modo de pensar e ver as coisas que
nos rodeiam – lacunas essas facilmente preenchidas por sistemas de crença nem
sempre com embasamento qualificado.
Os atos dos líderes
charlatões
Vamos
falar um pouco agora sobre o líder charlatão, uma expressão que pode parecer
jocosa, mas não é. A língua portuguesa o define como explorador da boa-fé do
público, impostor, embusteiro e trapaceiro. O processo de criação de uma seita
tendo um charlatão como líder se dá com o objetivo de se auferir vantagens pessoais
de forma antiética e/ou ilegal. Via de regra, o charlatão não cria algo novo.
Pelo contrário, se apropria de idéias e conceitos já existentes ou, dentro de
algum seguimento que verifica ser potencialmente rentável, redireciona tais
conhecimentos para sua própria realização pessoal, seja ela financeira ou
social. Como nesse caso o líder não tem algo de realmente novo a oferecer, faz
uso de variadas técnicas para incentivar a aproximação de eventuais seguidores.
Entonação de voz adequada, postura corporal atraente aos olhos, técnicas de
programação neurolingüística e até mesmo prévio conhecimento de artes
dramáticas são alguns dos caminhos utilizados pelo charlatão para manter seus
adeptos presos em suas garras.
Há
também, e isso é muito importante para análise, as técnicas que são empregadas
na conquista e manutenção dos adeptos. A privação do sono, alimentação
inadequada, isolamento social e gradual doutrinação são algumas delas. Essas
técnicas podem ser utilizadas em seguidores que já mantém até mesmo uma moradia
junto ao líder – como em retiros, fazendas ou comunidades –, ou mesmo nos
visitantes esporádicos, quando esses permanecem por tempo necessário para que
tais ferramentas façam efeito. E, claro, tais efeitos se direcionam exatamente
à capacidade de crítica do potencial seguidor. O leitor já se deu conta de que
seu raciocínio fica prejudicado após longos períodos de vigília ou quando está
mal alimentado? Pode-se perceber neste simples exemplo o quanto situações como
essas aumentam o perigo de adesão à seita, já que o embusteiro usa de todas as
ferramentas a sua disposição de forma ordenada e direcionada para desviar os
incautos de uma postura e ação corretamente analisadas perante sua seita.
A título de exemplo, posso citar um caso acompanhado por
este autor, ocorrido com um jovem que chamaremos apenas de Marco. Curioso sobre
Ufologia, Marco esteve durante um fim de semana prolongado em uma dessas seitas
com as características acima. Em seu relato sobre os fatos que se deram durante
sua estada lá ficaram claras algumas dessas ferramentas citadas. Após vários
dias do que os coordenadores da seita chamaram de “preparação”, através de meditações, caminhadas cansativas,
técnicas supostamente energéticas mas sem resultados mensuráveis e longas
vigílias, as centenas de pessoas ali presentes estariam finalmente “prontas” para um contato. Não
especificamente com discos voadores ou extraterrestres, mas com o líder da
seita, já que toda a preparação estava direcionada para isso. Isso porque o tal
líder sequer estava presente durante os procedimentos, chegando ao local
somente no último dia, após todo um processo de envolvimento que culminaria com
sua chegada.
Caso
o avistamento de algum UFO ou extraterrestre acontecesse, a chegada messiânica
do líder chegaria a superar os resultados esperados. Mas não foi isso que
aconteceu com Marco, pois, segundo os tais coordenadores , “ as energias não estavam satisfatórias”. Felizmente, Marco não
caiu na armadilha emocional criada para atraí-lo e hoje continua uma pessoa emocional
e socialmente sadia. “Minha ida àquele
local foi uma viagem interessante apenas como turismo, apesar de ter gasto
algumas centenas de reais com a promessa de ver discos voadores”, declarou
ao autor. Voltaremos a esse caso específico um pouco mais à frente em nosso
texto, com detalhes interessantes.
As vítimas das seitas
Mas como os adeptos encaram os fatos, já que são,
numericamente falando, as maiores vítimas das seitas? Numericamente porque,
como vimos até aqui, o próprio líder também pode ser uma vítima de suas
convicções, ainda que um único líder possa gerar dezenas, centenas e até
milhares de seguidores. Como se sabe, é característica de um seguidor de seitas
é ter alguma carência que pode ser eventualmente preenchida por um culto,
através de seus conceitos e proposituras. Isso torna o potencial adepto uma
presa para o líder, que encontrará nela um apoio e imagem de continuidade para
suas idéias. É nesse ponto que vemos que o processo é de mão dupla, onde um é
referência para o outro, criando-se, então, uma verdadeira bola de neve. Entre
um líder e um adepto a diferença está em que o último vê no primeiro um ser
superior, com grandes conhecimentos. Eventualmente, o adepto vê no líder a
figura de um enviado, que lhe dará as soluções para seus conflitos internos.
Lembrando que nem toda seita é necessariamente perniciosa, o uso do senso
crítico é agora condição indispensável para que sejam evitados verdadeiros
desastres, com variados graus.
É
comum verificarmos nos adeptos uma situação recorrente. Via de regra,
procurando preencher lacunas, tal pessoa passa por vários sistemas de crenças,
experimentando cada uma delas até que, num determinado ponto, chega à conclusão
de que achou o que irá satisfazer suas necessidades. Dependendo do nível de senso
crítico que possua, tal encontro não
será necessariamente nefasto. Uma análise criteriosa do que se passa dentro de
determinada seita – se suas propostas fazem sentido ou não, se o líder se
mostra ponderado em suas idéias e ações e se realmente o que lhe é oferecido é
o que realmente precisa – é o diferencial entre aquele que adere a um
determinado padrão de conduta ou não. Visto que o adepto pode ter esse senso
crítico prejudicado, ele poderá eventualmente se agregar a um seguimento que
lhe fará mais mal do que bem. Se o bom senso imperar dentro de sua mente, no
entanto, ele saberá distinguir o que lhe é bom. Mas sempre há a possibilidade
de que tal senso crítico esteja de tal forma falho, que possa vir a permitir um
estado patológico.
O agravamento da situação
O
grande perigo acontece quando o adepto e o líder se encontram a caminho ou já
em estado patológico. É quando se une o inútil com o desagradável, com
conseqüências imprevisíveis. Uma das características da patologia dos cultos e
seitas pode ser detectada quando o adepto se separa de todo convívio social e
familiar que tinha até então, se dedicando exclusivamente, em tempo integral,
ao seu novo mundo. E quando esse novo
mundo pode ser caracterizado por não ter bases sólidas ou ter como figura central
um líder com desvios de conduta ou dentro da categoria do charlatanismo. Se
após algum tempo dentro da seita o adepto resolve por conta própria se afastar
da mesma, é sinal que mantém sua sanidade mental intacta, fazendo bom uso de
seu poder de crítica. Se isso não acontece, podemos temer pelo pior, ainda que
o adepto não tenha, necessariamente, algum tipo de patologia exacerbada. Mas
não vamos nos esquecer que os casos devem ser analisados um a um.
O
que faz alguém permanecer ou não dentro de uma determinada comunidade é o peso
que aquilo que lhe é oferecido tem dentro de seus padrões de necessidade. Entra
aí, em especial com os líderes charlatões, a identificação das necessidades e
posterior tentativa de preencher essas lacunas de tal forma que o adepto se
torna prisioneiro das artimanhas do líder. E o que faz o adepto largar todo o
contexto social em que vivia antes é, geralmente, o conceito disseminado pelo
líder de que eles – líder e adeptos – são tão especiais que o convívio com
pessoas que não comungam das mesmas idéias pode contaminar a pureza de seus
objetivos. Eis o perigo que essa situação traz. Mas o que podemos fazer, então,
para afastar o adepto da seita, quando se verifica que esta pode vir a ser
prejudicial? “Este é um longo e
trabalhoso processo”, lembra a citada psicóloga. “Devemos, antes de qualquer coisa, diferenciar com que tipo de seita a
pessoa está envolvida”. Lembrando que o líder do tipo bem-intencionado não
oferece, a priori, maiores perigos,
vamos direcionar essa discussão aos cultos charlatanescos e aos com desvio de
conduta, eventualmente patológicos. O primeiro caso, naturalmente, é puramente
policial. Há que se encontrar na conduta de tal comunidade itens que possam
estar infringindo as leis vigentes e fazer uso dos instrumentos legais.
A
existência de esquemas financeiros, uso de drogas e desvios de condutas sexuais
são alguns exemplos de itens que devem ser procurados nestas seitas, para que
as mesmas e seus líderes respondem criminalmente pelos delitos. Uma vez
comprovadas tais situações, o líder pode ser levado às barras da Justiça e ter
sua imagem vulnerável perante a comunidade, fazendo com que os seguidores mais
atentos venham naturalmente a se afastar do grupo. Retirar o líder do comando
de forma definitiva, ou mesmo mostrar suas verdadeiras intenções, já é meio
caminho andado para a dissolução do grupo. A outra metade do caminho reside na
própria mente do seguidor. Vejamos um exemplo interessante, voltando um pouco
ao caso Marco. Sua visita ao local onde se reúnem os seguidores da seita foi
decorrente do insistente convite de uma conhecida. Após seu passeio turístico à
fazenda da entidade, ele acabou perdendo contato com essa conhecida, vindo a
encontrá-la tempos depois, após o líder de tal seita ter sido acusado de falcatruas
–inclusive, com sua imagem como embusteiro sido veiculada pela imprensa. Ao
indagar sua conhecida sobre como se sentia com tal situação, a resposta foi, no
mínimo, digna de análise: “Não estou mais
com eles. Mas em compensação, encontrei um outro grupo que é maravilhoso e você
tem que conhecer”.
No
segundo caso apresentado, assim como no primeiro, o envolvimento da família é
essencial. Ela tem que estar atenta ao que se passa logo no início da
aproximação da pessoa com o referido culto, suas características e objetivos.
Caso o reconhecimento de tal movimento como sendo perigoso se dê muito tarde,
será necessário um trabalhoso processo de ajuda dos familiares no sentido de
mostrar ao adepto que a realidade se mostra diferente daquilo que ele pensa ser.
Apoio emocional e ouvir o que o seguidor tem a dizer é essencial nesse primeiro
instante. Num processo gradual, deve-se tentar afastá-lo fisicamente do grupo,
sugerindo viagens ou passeios que dispersem um pouco sua atenção em relação à
rotina da comunidade e assim, aos poucos, ir quebrando a lealdade que o
seguidor nutre em relação ao líder e ao grupo. Em um estágio mais adiante se
pode contestar as posições e atitudes do líder sem, no entanto, entrar em
conflito com a vítima. Não se espante, caro leitor, caso note na situação
apresentada uma semelhança com a dependência de drogas. O processo é realmente
muito parecido.
Os leitores devem ter observado, igualmente, que este estudo
não se deteve, até agora, especificamente nas seitas de cunho ufológico, tendo
procurado dar uma visão geral dos processos que envolvem tais seguimentos. Mas
voltando nosso enfoque mais objetivamente para dentro do contexto ufológico,
vamos então analisar algumas variáveis desse assunto. É preciso, antes de mais
nada, se ter em mente que a partir do século passado, baseado nos progressos
científicos alcançados, o ser humano pôde pela primeira vez e de forma objetiva
encarar o Universo que o rodeia como um enorme agrupamento de astros
potencialmente providos de vida inteligente. Isso se restringiria, num primeiro
instante, às ciências exatas. Mas o homem é complexo por natureza, e tais
possibilidades estatísticas mexeram, em maior ou menor grau, com um antigo e
sempre presente mito residente em sua memória ancestral: o de seres superiores,
normalmente descidos dos céus, de natureza divina. A História e a Antropologia
mostram isso claramente registrado pelos nossos antepassados mais longínquos,
através de esculturas e pinturas rupestres.
A
abordagem mais técnica usada nas últimas décadas modificou e ampliou esse mito
quase que o materializando em computadores da NASA e outras entidades voltadas
ao estudo do Cosmos. O ser humano passou a ter, finalmente, números e estudos
reconhecidos pela comunidade acadêmica para pular do estágio de crença para o
estágio de realidade. E o advento da chamada Ufologia Moderna, a partir de
1947, completou o quadro. Eles existem.
Eles nos visitam. Eles mantêm contato conosco. Quem seriam eles, afinal? Sem entrar no mérito da
questão, por não ser objeto de nossa abordagem, não podemos deixar de levar em
conta que são eles que reacenderam –
ou modificaram – nosso antigo mito do ser superior. Uma das premissas básicas
da quase totalidade das seitas ufológicas mostra um padrão de comportamento
onde temas como existir, visitar-nos e manter contato conosco são colocados acima de qualquer dúvida,
muitas vezes chegando à irracionalidade e à perda do controle emocional,
conforme exaustivamente demonstrado na análise dos indivíduos ligados às
seitas, ufológicas ou não.
Estamos em contato?
Seriam
as premissas acima verdadeiras, em especial o manter contato conosco? Devido à complexidade desse assunto, seria
leviandade emitir uma opinião em poucas palavras. Mas deixemos em aberto essa
possibilidade, em especial a do contato amistoso, em suas diversas modalidades.
E mais, conforme frisa o ufólogo americano Jim Courant, respeitando as pessoas
que alegam ter tido contato, amistoso ou não. São muitas vezes pessoas simples
e do interior que, além de não auferirem nenhuma vantagem com tais declarações
(muito pelo contrário), sequer têm conhecimento do assunto o suficiente para
inventar essa ou aquela história. Nos resta, então, nesses casos, acompanhar e
estudar os mesmos para uma análise dentro dos padrões anteriormente citados. E
conforme o caso, dar o apoio necessário a tais indivíduos – premissa básica
para ser um bom pesquisador da área ufológica.
Mas
como se colocam todas essas questões dentro do contexto social? É impossível
fazer tal análise sem levarmos em consideração as características de cada
sociedade. O Brasil, por exemplo, tem terreno fértil para o surgimento de
seitas, quaisquer que sejam seus enfoques. Isso se dá, principalmente, pela
grande variedade de culturas que formaram o atual cenário social nacional.
Verificando nosso continental país de norte a sul, podemos identificar culturas
originárias de quase todas as partes do mundo, tendo essas influenciado nosso
modo de agir e pensar. Sem falar de outras áreas, basta ver a diversidade
religiosa que impera no Brasil. Ao longo do tempo e por razões políticas,
sociais e financeiras, importamos crenças variadas – o que não é, de forma alguma, algo ruim. Entretanto, tal
característica permitiu, de maneira gradual e quase imperceptível, que nosso
povo estivesse de mente sempre aberta a formas diferentes de encarar o
sobrenatural. Essa macro condição permitiu que estivéssemos individualmente
disponíveis a eventuais movimentos de culto, que nem sempre primam pelo
equilíbrio e bom senso. Essa tendência seria característica única do Brasil?
Certamente, não.
Nos
Estados Unidos, por exemplo, também temos tais movimentos. Porém, outros
fatores tiveram um peso maior no conjunto a ser analisado. Sem entrar nos
detalhes do porquê chegaram a isso, podemos dizer que os norte-americanos têm
uma conduta social onde o consumismo é quase uma necessidade para manter sua
identidade como nação – e este consumismo não se restringe apenas a um carro
novo ou aparelho de tevê digital de última geração. Tal necessidade de consumo
pode, também, se refletir em novas idéias e conceitos, ainda que não tenham
necessariamente um embasamento aceitável, em termos técnicos, científicos ou
mesmo filosóficos. Isto dá vazão a numerosos seguimentos filosófico-religiosos
que podem trazer em seu conjunto seitas, conforme analisadas anteriormente
nesse artigo. Informa a socióloga
italiana Valéria Paterna que movimentos de culto de cunho ufológico também se
fazem presentes na Europa. Porém, senão em menor número, pelo menos em menor
intensidade na sua forma de atuar. E por que tal diferença? É sabido que o
nível cultural europeu difere do norte-americano, em especial na maneira de
encarar as relações do continente com o restante dos países. Enquanto a
educação nos EUA se volta principalmente para si mesma em termos históricos e
culturais, a educação levada a cabo nos países europeus, em geral, verifica as
inter-relações entre os vários países dos diversos continentes. Em última
análise, isso acaba por elevar o senso crítico de seus cidadãos no que concerne
não somente a movimentos de culto, bem como outros aspectos, tais como
políticos, econômicos etc.
Voltamos aqui, de maneira mais enfática, à proposta de
análise das informações passadas pelos meios de comunicação, abordada
anteriormente, acrescida da temática educacional. Como podemos cobrar de
pessoas que têm acesso a informações distorcidas e/ou manipuladas uma correta
ação em termos sociais e pessoais? Será que aqueles que tiveram desde sua fase
de formação uma sobrecarga de informações direcionadas, ainda que de forma
sutil, a agirem dessa ou daquela forma, poderão um dia se livrar desse fardo?
Fardo esse que poderá eventualmente transformá-lo em vítima de charlatões dos
mais variados quilates ou, quem sabe, de suas próprias armadilhas mentais.
Essa
discussão traz embutida, quando se analisa o contexto ufológico, a importância
e a responsabilidade dos formadores de opinião nessa área. Teríamos nós,
ufólogos ou simpatizantes, o direito de alardear possibilidades – às vezes
puras especulações ou até mesmo fraudes – como sendo verdades incontestáveis,
confundindo pessoas que, incautas, poderão um dia se tornar personagens do que
foi exposto nesse artigo? Para encerrar, peço permissão aos leitores para, num
paralelo com a Matemática, solicitar que mantenham em mente a seguinte equação:
Ufologia séria = estar bem informado +
senso (auto)crítico.