Se
confiamos nos pilotos para nos transportar pelo ar com segurança e proteger os
céus de nossa nação, então por que não podemos confiar no que eles nos dizem
sobre seus encontros com objetos voadores não identificados?
Essa
é a pergunta feita pela jornalista investigativa Leslie Kean em seu novo livro,
UFOs: Generals, Pilots and Government Officials Go on the Record [OVNIs:
Generais, Pilotos e Oficiais do Governo Vão a Público]. É uma pergunta sensata,
mas é um bom argumento para a existência de algo verdadeiramente inexplicável?
Os
temas principais do livro são as histórias extraordinárias de estranhos
encontros aéreos na Europa, América do Sul e até mesmo nos Estados Unidos.
Nessas histórias, os investigadores não conseguiram identificar fenômenos para
explicar os avistamentos. E porque as testemunhas primárias são pilotos, os
relatos são considerados mais confiáveis do que relatos comuns de OVNIs. Mas
eles são mesmo?
Kean
afirma que os pilotos são os melhores para descrever fenômenos aéreos. “Eles
representam os observadores mais bem treinados do mundo para tudo o que voa”,
escreve ela. “Existe melhor fonte de dados sobre OVNIs?... [Eles] estão entre
os menos prováveis de qualquer grupo de testemunhas a inventar ou exagerar
relatos de avistamentos estranhos.”
Isso
pode parecer uma suposição plausível, mas outros que estudaram as evidências
brutas discordam. Investigadores experientes de OVNIs percebem que os pilotos,
que interpretam instintivamente e muito apropriadamente os fenômenos visuais nas
situações mais perigosas, não são observadores desapaixonados. Para os pilotos,
um diagnóstico de fração de segundo pode ser uma questão de vida ou morte - e
por isso eles estão inclinados a superestimar as possíveis ameaças
representadas pelo que veem.
Um
dos primeiros ufólogos genuínos do mundo, Allen Hynek, da Universidade
Northwestern, chegou a acreditar que alguns encontros realmente poderiam ter
causas sobrenaturais. Mas ele era muito mais cético quanto à confiabilidade do
testemunho dos pilotos. “Surpreendentemente, os pilotos comerciais e militares
parecem ser testemunhas relativamente pobres”, escreveu ele no The Hynek UFO
Report.
Hynek
descobriu que a melhor classe de testemunhas tinha uma taxa de percepção
equivocada de 50%, mas os pilotos tinham uma taxa muito mais alta: 88% para
pilotos militares, 89% para pilotos comerciais, a pior de todas as categorias
listadas. Poderia se esperar dos pilotos uma identificação precisa de objetos
familiares - como aeronaves e estruturas terrestres - mas Hynek disse que “não
deveria ser surpresa que a maioria das identificações erradas dos pilotos fosse
de objetos astronômicos.”
Os
autores de um estudo ufológico russo chegaram à mesma conclusão. Yuli Platov,
da Academia Soviética de Ciência, e o Coronel Boris Sokolov, do Ministério da
Defesa, investigaram uma série de avistamentos em 1982 que fizeram com que
unidades de defesa aérea enviassem caças a jato para interceptar os OVNIs.
Platov e Sokolov disseram que os avistamentos foram provocados por balões
militares que subiram a altitudes mais elevadas do que o esperado.
“Os
episódios descritos mostram que mesmo os pilotos experientes não estão imunes a
erros na avaliação do tamanho dos objetos observados, as distâncias até eles e
sua identificação com fenômenos específicos”, escreveu Platov.
Suscetíveis
a interpretação exagerada
Ronald
Fisher, do Instituto Nacional de Pesquisa Forense da Universidade Internacional
da Flórida, em Miami, é um palestrante que ensina os funcionários do Conselho
Nacional de Segurança nos Transportes a entrevistar testemunhas oculares em “eventos
críticos”, como acidentes de avião. Ele enfatiza a importância de extrair
impressões sensoriais brutas primeiro, antes de pedir a interpretação da
testemunha sobre o que pensam que viram.
“Assim
que elas começarem a se concentrar na interpretação, isso irá afetar a memória
de suas percepções”, disse ele ao msnbc.com.
“Os
pilotos são suscetíveis a interpretações exageradas, especialmente de
experiências vagas, rápidas e pouco claras”, continuou ele. “Quanto menos clara
a situação, mais conhecimento geral e suas expectativas [contribuem]”. A
passagem do tempo é inimiga da exatidão, pois dá às testemunhas a oportunidade
de “usar seus conhecimentos gerais para construir a memória do que vivenciaram”.
Como
testemunhas de coisas vistas durante o voo, os pilotos eram um caso especial. “O
custo de um falso negativo é maior do que o custo de um falso positivo”,
explicou ele. “Provavelmente é um mecanismo de segurança.”
O conjunto
de relatórios sobre OVNIs está repleto de casos de interpretações errôneas
espetaculares, e os pilotos estão quase sempre envolvidos. Portanto, é prudente
ter cuidado ao avaliar o depoimento dos pilotos.
OVNIs
inteligentes... ou pilotos sensatos?
Os
OVNIs são quase sempre relatados como manobrando de forma inteligente, e Kean
argumenta que uma particularidade dos diferentes tipos de manobras relatadas
pelos pilotos serve como prova de que os OVNIs são reais e estão agindo com
inteligência. Mas essa lógica acaba apoiando a ideia de que as circunstâncias
de um piloto afetam o que ele diz ter visto.
Kean
se refere à “Lista Weinstein”, um compêndio de 1.300 relatos de OVNIs de
pilotos, reunido pelo investigador francês Dominique Weinstein em 2001. É
descrito como contendo apenas aqueles “casos para os quais dados adequados
estão disponíveis para categorizar a [causa] como desconhecidos”.
“Um
ponto crucial que observei, que é mostrado no estudo de Weinstein, é que o
comportamento de um OVNI tende a depender se o encontro envolve uma aeronave
militar ou um avião de passageiros civil”, escreve Kean.
“Neutralidade
geralmente parece a regra geral com companhias aéreas comerciais ou aviões
privados, ao passo que uma interação ativa quase sempre ocorre entre OVNIs e
aeronaves militares. Os pilotos militares geralmente descrevem os movimentos
dos OVNIs como fariam as manobras aéreas de aeronaves convencionais, usando
termos como segue, foge, curvas agudas, em formação, colisão próxima e combate
aéreo”, diz ela.
Para
Kean, isso constitui evidência de que os OVNIs são guiados por pilotos
inteligentes. “Esses incidentes demonstram claramente que esses exemplos não
são de eventos naturais, mas sim que os OVNIs são fenômenos com um
comportamento deliberado. A natureza física dos OVNIs foi provada”, diz ela.
Mas
uma explicação muito mais simples faz mais sentido: a diferença se deve ao “viés
do observador”. As pessoas veem o que esperam ver, e os pilotos de combate
esperam encontrar bogies combativos. Os pilotos civis temem
principalmente colisões acidentais.
O
comportamento diferente que é percebido pelas duas categorias de pilotos não
significa necessariamente que os próprios objetos voadores não identificados se
comportem de maneira diferente. É mais provável que diferentes tipos de pilotos
recorram a instintos desenvolvidos de forma diferente à medida que reagem a
ameaças percebidas - e, portanto, eles trazem interpretações diferentes para
estímulos que são semelhantes.
O
que tudo isso significa... e não significa
Não
há razão para argumentar que todos os relatos de pilotos são causados exatamente pelos mesmos estímulos. Relatos de OVNIs ligados a lançamentos de
foguetes ou reentradas de foguetes são relativamente fáceis de explicar, porque
a localização e o tempo dos eventos podem ser correlacionados com os relatos de
testemunhas assustadas e equivocadas.
Para
outros estímulos, como meteoros de bola de fogo, operações secretas (ou
ilegais) de aeronaves ou exibições atmosféricas naturais, a documentação de sua
existência transitória geralmente não existe. O principal valor dos casos de
OVNIs resolvidos é permitir uma calibração definitiva do testemunho do piloto
em geral.
Assim,
não estou desanimado pelo fato de não poder explicar todos os casos que Kean
menciona em seu livro, porque a experiência tem mostrado que encontrar a
explicação real - mesmo que seja prosaica - muitas vezes é um esforço enorme
que envolve tanto sorte como suor. Se os investigadores não conseguirem
encontrar a explicação para um caso particular de OVNI, isso não constitui
prova de que o caso é inexplicável.
Este
é apenas um fato da vida, para detetives de OVNIs, bem como para outros tipos
de investigadores. Isso também é verdade para assassinatos, sequestros,
acidentes, doenças - para todas as catástrofes que afetam a humanidade. Não
precisamos invocar assassinos ou sequestradores alienígenas para responder por
crimes não solucionados. Não encontrar Jimmy Hoffa não é prova de que ele
esteja em Marte.
Portanto,
a avaliação “não comprovada” torna ainda mais importante manter nossos olhos e
mentes abertas - para observar vigorosamente, perceber com precisão e
relacionar com precisão as percepções aéreas incomuns. Algo realmente novo
ainda pode ser descoberto. Ou algo extremamente importante pode estar se
disfarçando, por acidente ou intencionalmente, de uma maneira que leva muitas
pessoas a prestarem pouca atenção.
Aceitar
todas as alegações de OVNIs sem crítica ou rejeitar todas as alegações
automaticamente seria igualmente injustificado. E muito possivelmente,
igualmente prejudicial.
* * *
Tradução:
Tunguska Legendas
Bom contraponto e argumentos. Porém, pelo que vejo o mesmo mal que ataca os ufólogos, assola também os que deveriam se manter neutros e realmente questionar e analisar o fenômeno, e acabam por se tornarem tão cegos quanto. E ao invés de somar a busca do entedimento do fenômeno, fica uma coisa infantil (muito comum em redes sociais) de apenas, querer "ter razão".
ResponderExcluirNo texto em questão isso fica claro na frase:
"Assim, não estou desanimado pelo fato de não poder explicar todos os casos que Kean menciona em seu livro..."