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terça-feira, 12 de outubro de 2021

O caso do OVNI do Aeroporto O'Hare ainda é “um excelente caso”?

 


Anteriormente, o blogueiro ufológico David Bates postou a primeira parte de sua resposta ao meu longo artigo de três partes sobre “O Crédulo Artigo do New Yorker sobre OVNIs do Pentágono”, ao qual respondi aqui. Principalmente, era sobre a suposta “queda de um OVNI em Kecksburg, Pensilvânia”, que foi baseado em percepções equivocadas de uma bola de fogo brilhante de um meteoro avistado ao longo de centenas de quilômetros. Agora, estamos examinando a segunda parte da resposta de Bates, intitulada “O OVNI do Aeroporto O’Hare permanece um grande caso”. Ele continua: “Quando Robert Sheaffer, da revista Skeptical Inquirer, tenta desmascarar um incômodo avistamento de UAP com uma teoria científica ridícula de sua autoria, as coisas não saem muito bem”.

 

Em primeiro lugar, devo salientar que este não é realmente o artigo da Skeptical Inquirer, é meu, do meu blog Bad UFOs. O editor da Skeptical Inquirer, Kendrick Frazier, me pediu permissão para reimprimir o artigo do blog em sua edição de janeiro/fevereiro de 2021 (todas as três partes) e eu disse que tudo bem. E não sou mais afiliado à Skeptical Inquirer, ou ao CSICOP (Comitê para a Investigação Científica de Alegações do Paranormal). Eu me afiliei ao CSICOP em 1977. Foi uma experiência estimulante, conhecer e conversar com pessoas como Martin Gardner, James “Amazing” Randi, Isaac Asimov e muitos outros. Infelizmente, ao longo dos anos, o CSI e sua organização controladora CFI se transformaram em algo mais parecido com organizações de Justiça Social do que um avaliador imparcial de alegações supostamente factuais.

 

Foto minha (Robert Sheaffer) de uma nuvem perfurada parcialmente obscurecida, tirada em Tucson, Arizona, no dia 06 de março de 2014.

O resumo de Bates sobre o caso O’Hare é o seguinte:

 

Basicamente, em uma tarde nublada, um objeto semelhante a um “disco voador” foi avistado sobre o portão C17 da United Airlines, no Pátio C, por pilotos, equipe de solo, mecânicos e outras testemunhas em vários locais. Foi descrito como tendo entre 2 e 7 metros de diâmetro pairando abaixo das nuvens. Alguns disseram que estava girando como um Frisbee; outros disseram que não. Supostamente era cinza escuro e silencioso, não tinha luzes e estava muito distinto abaixo da camada de nuvens, que as testemunhas estimaram estar várias centenas de metros acima dele. Apesar das variações e contradições encontradas no depoimento, as testemunhas concordaram em um ponto: era um objeto claramente distinto e separado das nuvens. Testemunhas disseram que ele, por fim, subiu em disparada verticalmente, desaparecendo em um piscar de olhos e abrindo um buraco perfeitamente redondo através das nuvens, que permaneceu por alguns minutos antes de se fechar. O UAP não apareceu no radar.

 

Leslie Kean é uma conhecida autora de ufologia e pesquisadora de fantasmas que Bates está tentando defender de minhas críticas e das de outros céticos. Descrevendo o OVNI de O'Hare, Kean diz “o disco suspenso, de repente, disparou a uma velocidade incrível e desapareceu em menos de um segundo, deixando um buraco nítido nas nuvens densas. A abertura era aproximadamente do mesmo tamanho que o objeto, e aqueles diretamente abaixo dela podiam ver o céu azul visível do outro lado”, que soa como uma descrição perfeita de uma nuvem perfurada. No entanto, sua sugestão é absurda. Quando os objetos passam pelas nuvens (especialmente em altas velocidades), eles não deixam buracos nítidos na forma do objeto, como um personagem de desenho animado batendo em uma parede. O resultado é uma massa rodopiante de nuvens turbulentas, e não um buraco nítido e delineado. Mas os proponentes dos OVNIs têm uma explicação para isso: “um objeto redondo, de alta energia, muito provavelmente emitindo alguma forma de radiação intensa ou calor enquanto corta a camada de nuvens”, de acordo com Kean. Muito bem, Leslie - quando você encontrar dificuldades com sua hipótese especulativa, invente algo ainda mais especulativo e improvável para consertá-la.




Então, um “disco voador” supostamente apareceu sobre o portão C-17 do Aeroporto Internacional O'Hare, mas, aparentemente, sobre nenhum outro portão. Ninguém o viu sobre os portões C-15, B-11 ou qualquer outro portão. Nenhum dos controladores de tráfego aéreo na torre viu. Não foi visto no radar, apesar de, de alguma forma, aparecer em um dos locais mais monitorados por radar que existem. E ninguém tirou nenhuma foto dessa visão incrível. Bates concorda comigo que “nenhuma fotografia autenticada jamais apareceu”, embora a recente série sensacionalista sobre OVNIs no Showtime alega mostrar uma foto do OVNI de O'Hare. Mas é falsa. Escrevendo no site Above Top Secret em 2007, Jeff Ritzmann demonstra que esta foto é falsa, embora os produtores de “documentários” de TV sobre OVNIs não pareçam se importar.

Em meu artigo, observei a semelhança do objeto circular relatado com uma “nuvem perfurada”. Duas camadas de nuvens foram relatadas no Aeroporto O'Hare naquela época: uma era uma camada “nublada” a cerca de 580 metros, a segunda em torno de 2.500 e 2.700 metros. Ele escreve que “a temperatura a 580 metros naquele dia era de 11 ºC - quente demais para uma nuvem perfurada.”

 

E eu concordo com isso. Ele se opõe à minha sugestão de que o buraco estava em uma camada superior de nuvens:

 

...um céu “completamente nublado” com “nuvens densas” não representa nenhum obstáculo para o cenário imaginado de Sheaffer: “poderia facilmente” ter acontecido.

 

Bates parece não saber a definição de “nublado”:

 

Tempo nublado, conforme definido pela Organização Meteorológica Mundial, é a condição meteorológica de nuvens que obscurecem pelo menos 95% do céu.

 

Portanto, se as nuvens cobrissem pelo menos 95% do céu, o meteorologista registraria as condições como “nublado”. E 95% não é o mesmo que 100%. Portanto, não há qualquer objeção à sugestão de que buracos ocasionais em uma camada de “nuvens” permitiriam vislumbres relativamente breves do que quer que esteja acima dela. Bates objeta que...

 

Ao preparar este artigo, examinamos mais de 150 imagens de nuvens perfuradas. Elas são, com certeza, fenômenos fascinantes. Com exceção de algumas das imagens encontradas em uma pesquisa de imagens do Google, a abertura na nuvem não chega nem perto de ser um “buraco nítido e delineado”, que era a descrição (aparentemente precisa) de Sheaffer do que o OVNI de O'Hare deixou para trás.

 

No entanto, a foto na página 47 de seu muito elogiado relatório do NARCAP mostra uma nuvem perfurada quase perfeitamente redonda, com apenas uma pequena nuvem em primeiro plano obscurecendo-a. Ele provavelmente também não viu as fotos desse fenômeno que estavam em um site da NOAA, tiradas no centro de Wisconsin exatamente oito dias após a “incursão” no Aeroporto O'Hare. Fotos de satélite mostram esse padrão climático cobrindo todo o sul de Wisconsin e o norte adjacente de Illinois.

 

Quanto a camadas mais altas de nuvens, ele escreve:

 

Se Sheaffer tivesse lido cuidadosamente a coleção de dados meteorológicos do relatório do NARCAP, ele saberia que havia uma segunda camada de nuvens acima: estava entre 2.400 e 2.700 metros - e o nível de congelamento era de 300 metros acima disso. As nuvens perfuradas ocorrem naturalmente apenas quando os cristais de gelo se formam.

“Não é possível obter a formação de novo gelo em uma nuvem acima do ponto de congelamento”, disse-me um meteorologista. “Normalmente, as nuvens precisam ser substancialmente mais frias do que o ponto de congelamento, cerca de -15 °C em média, antes de começarem a formar qualquer gelo.”

Então, ele está dizendo que a teoria da nuvem perfurada chegou. Mas ele negligenciou um fator importante nessa questão: aviões.

 

Um estudo em parceria com Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas atesta:

(https://opensky.ucar.edu/islandora/object/articles:10305)

 

Estudos, incluindo este de Andrew Heymsfield e colaboradores, mostraram que aeronaves que passam por essas camadas de nuvens podem desencadear a formação de cristais de gelo mais pesados, que caem na Terra e depois deixam um buraco circular na camada de nuvens.

Eles concluíram que as hélices e asas de aeronaves causam a formação desses cristais de gelo iniciais. Existem zonas de baixa pressão localmente ao longo das pontas da asa e da hélice que permitem que o ar se expanda e resfrie bem abaixo da temperatura original da camada de nuvem, formando cristais de gelo.

Andrew Heymsfield, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, conversou com a EarthSky alguns anos atrás, quando seu estudo apareceu pela primeira vez. Ele nos disse:

“Toda essa ideia de aviões a jato criando essas características tem a ver com o resfriamento do ar sobre as asas que gera gelo.”

Sua equipe descobriu que - em altitudes mais baixas - os jatos podem fazer buracos nas nuvens e gerar pequenas quantidades de chuva e neve. Conforme um avião voa através de nuvens de média altitude, ele força o ar a se expandir rapidamente e esfriar. As gotículas de água na nuvem congelam e se transformam em neve ao cair. A lacuna se expande para criar buracos espetaculares nas nuvens.

 


Aviões podem causar nuvens perfuradas!

 

Você acha que poderia haver algum avião voando pelo Aeroporto O'Hare naquela época? 😏

 

Finalmente, notamos como Bates reclama que “o ‘ceticismo’ de Sheaffer em relação ao depoimento das testemunhas (neste e em outros casos de OVNIs) não tem limites”. Essas palavras soam muito ingênuas para um ufólogo experiente. Tendo pesquisado alegações sobre OVNIs por mais de 50 anos, estou bem ciente da falibilidade do depoimento de testemunhas oculares humanas. Uma vez que o Sr. Bates parece ingenuamente confiar em tais relatos como sendo basicamente confiáveis ​​(assim como Leslie Kean), sugiro que ele comece lendo o clássico de Allan Hendry, The UFO Handbook, publicado em 1979. Hendry foi o investigador-chefe do Centro de Estudos de OVNIs, do Dr. J. Allen Hynek, e Hynek escreveu o prefácio desse livro. As investigações meticulosas de Hendry em alguns casos extremamente dramáticos revelaram que eles eram o resultado de equívocos colossais por parte dos observadores. Isso o tornou muito impopular entre os ufólogos.

 

Bates também pode querer considerar por que a primeira organização científica do mundo, a Royal Society de Londres, fundada em 1660, escolheu como lema Nullius in Verba – “não acredite na palavra de ninguém”. Mais de 350 anos atrás, eles reconheceram que a ciência não pode ser baseada em meras palavras não corroboradas. A lição que muitos ufólogos ainda precisam aprender é: Nullius in Verba.


Tradução: Tunguska

Fonte: badufos

 

 

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