quarta-feira, 6 de maio de 2020

O Melhor Flagrante de OVNI de 2017: Era Somente A ISS!



No SUNlite 9-5, eu notei na seção “Whos´s blogging” um vídeo que estava circulando como evidência de um orbe. Eu também notei que Scott Brando o tinha explicado como um vídeo da Estação Espacial Internacional (ISS). Em resposta, a testemunha escolheu discordar dessa solução apresentando um extenso vídeo de refutação.


O Evento



O vídeo surgiu em 3 de agosto, onde um artigo do Coast to Coast AM o declarou como um “orbe misterioso”. De acordo com um relato de testemunha feito à MUFON:

“Nós estávamos a leste de Squamish, Columbia Britânica, Canadá, na parada de estrada de Mamquam River Forest, ao norte do “The Chief”, um monólito de granito, o segundo maior do mundo do tipo, considerado sagrado pelos indígenas locais.

Fomos lá porque, ao falar com moradores da área mais cedo, eles disseram que orbes foram avistados no passado, acima e perto da montanha. Nós andamos por toda a área para encontrar esse local particular para ver a montanha.

Eu desliguei todas as câmeras para checar a bateria, quanto ainda tinha nos cartões, etc., e estava parado falando com outros quando um membro de nosso grupo disse “Aquilo é um avião?” Era exatamente 10:59 da noite.

Então, no caso de não ser um avião, eu fui até o tripé rapidamente, apertei o botão de gravar com visão noturna bem rápido e encontrei o objeto na tela… não havia tempo de fazer mais nada, como ligar as outras câmeras no tripé, como eu queria, para ter certeza de manter meus olhos na tela de visão noturna e seguir o objeto… aconteceu que havia apenas 10 segundos de vídeo capturado do objeto antes de ele desaparecer totalmente na floresta.
Enquanto eu observava o objeto atravessar o céu de maneira constante, em trajetória reta e ir para a floresta, eu notei que as árvores no chão bloquearam a luz, enquanto as árvores atrás do orbe estavam muito iluminadas. Você pode me ouvir no vídeo dizendo “Oh”, porque quando eu vi as árvores atrás dele sendo iluminadas, e não havia som, eu sabia que não era um avião.
Estávamos todos animados e radiantes com o que tínhamos visto, e colocamos o replay do vídeo várias vezes para estudá-lo e confirmar para nós mesmos que tínhamos algo especial.”

As testemunhas eram Rob Freeman e MarcusMcNabb, que se especializaram em gravar anomalias aéreas. Eles descrevem a si mesmos como cinegrafistas e pareciam ter equipamentos sofisticados. Infelizmente, apenas uma câmera gravou o evento. O artigo do Coast to Coast acrescentou que um especialista determinou que o objeto não pode ser identificado:

“Um observador do céu de longa data, da área, Charles Lamoureux, examinou a gravação e concluiu que a luz não veio de nenhuma fonte óbvia como um drone, meteoro ou satélite.”

Isso tudo parecia muito bom, mas, quando eu vi o vídeo, suspeitei que ele não era extraordinário. Outros também não acharam e foram rápidos ao identificar a origem do “orbe”.


A Explicação

Scott Brando, que dirige o site, blog e Facebook “UFO of Interest”, rapidamente identificou o objeto como a ISS e anunciou isso um dia depois em sua conta do Twitter.


Na época, eu achei que Scott tinha um argumento válido e mencionei isso no SUNlite 9-5. Entretanto, aqueles que gravaram o objeto discordaram e começaram a fazer uma campanha para vender a ideia a seus seguidores de que a ISS era uma explicação impossível.



A Refutação

Parece que os cinegrafistas de OVNIs raramente, se alguma vez, aceitam explicações para seus vídeos uma vez que eles já os promoveram como algo que não é mundano. Rob Freeman respondeu a Brando e declarou que altos especialistas da MUFON iriam avaliar o filme. Ele também argumentou que o orbe não estava atrás das montanhas, mas desapareceu nas árvores, porque as árvores estavam sendo iluminadas pelo orbe. Essa refutação realmente não tem qualquer base porque quando a ISS está iluminada, ela pode iluminar a área do céu ao redor. A amplificação de sua luz pelo equipamento de visão noturna pôde fazer parecer com que as árvores estivessem sendo iluminadas pelo “orbe”.

Querendo acabar com a explicação da ISS, Freeman produziu um vídeo demonstrando que não era a ISS. Freeman declara que ele usou dois aplicativos diferentes para demonstrar que na noite em questão (22 de julho), a ISS começou seu trajeto pelo céu às 22:37, no horário do Pacífico, em um azimute de 216 graus. Às 22:42, no horário do Pacífico, o azimute da ISS estava a 145 graus e sua elevação estava a 25 graus. Ela então foi para leste em um azimute de 74 graus e uma elevação de aproximadamente 33-35 graus, usando o aplicativo Theodolite.

Uma coisa que me pareceu estranha foi como Freeman determinou, usando dois aplicativos diferentes, que a ISS atravessou o céu em um momento diferente do que Scott Brando encontrou quando ele tentou desmentir o vídeo. A trajetória que ele adquiriu do Stellarium, mostrava a ISS nas proximidades às 22:59 e não 22:42 como mencionado por Freeman. Uma das trajetórias estava errada, mas qual?


A Refutação Derrubada

Não é difícil determinar que a trajetória estava errada e a maioria dos observadores de satélites poderiam facilmente explicar a diferença. Quando Freeman estava usando seus aplicativos, era 10 de setembro. Qualquer aplicativo funcionando em um telefone ou computador usaria os Two Line Elements (TLEs) que eram aplicáveis naquela data. Os TLEs para satélites variam devido a variação atmosférica. De vez em quando, a Estação Espacial tem que impulsionar sua órbita para compensar isso. Isso também muda os TLEs. Portanto, a trajetória de Freeman estaria provavelmente errada, porque os aplicativos que ele estava usando estavam ajustados para o TLE de 10 de setembro. A trajetória de Brandon, que foi calculada usando os TLEs de 4 de agosto, estariam provavelmente muito mais perto da trajetória verdadeira.

Para checar isso, eu usei os TLEs da ISS de 21 de julho e 10 de setembro. Esses são os elementos e a trajetória pelo céu que eles produziram em 22 de julho de 2017 usando o aplicativo Heavensat:





10 de setembro
1 25544U 98067A 17252.56373843 .00009353 00000-0 14825-3 0 9999
2 25544 051.6436 337.7004 0004095 249.4830 311.3852 15.54147063074874

21 de julho
1 25544U 98067A 17201.43406506 .00002449 00000-0 44162-4 0 9999
2 25544 051.6413 232.5972 0006134 054.2289 086.9127 15.54191876066929


A trajetória de 21 de julho combinou de perto com a trajetória publicada por Scott Brando e os TLEs de 10 de setembro são similares à trajetória mencionada por Freeman. Há uma diferença, mas isso é provavelmente por seus aplicativos usarem TLEs de alguns dias antes de 10 de setembro. TLEs de 8 de setembro produziram uma trajetória que era mais próxima a que ele descreveu.
O mais importante a se considerar aqui é que a trajetória TLE de 21 de julho mostra a ISS passando muito perto da posição no céu no mesmo momento que o objeto gravado no vídeo! De acordo com essa trajetória, a ISS passou pelo azimute de 125 graus por volta das 23:00, no horário do Pacífico, em uma elevação de aproximadamente 31 graus. Considerando a margem de erro para o momento do evento (dentro de um minuto do momento do avistamento) e o ângulo de elevação (dentro de poucos graus do ângulo de elevação), é muito próximo para se ignorar. As diferenças podem ser contabilizadas por causa das mudanças da órbita da ISS entre 21 e 22 de julho, a posição da câmera no vídeo de Freeman não estar no mesmo local exato da sua câmera de 22 de julho, variações no programa Heavensat e erros potenciais em seu aplicativo Theodolite.


Para ver a margem de erro em seu aplicativo Theodolite, eu o comparei com o Google Earth e a posição dele. Os valores não estavam nem próximos. O azimute para o pico, usando o Google Earth e a posição dele, era de aproximadamente 200 graus. Entretanto, o app dele mostra que o azimute é de 169 graus. Isso dá um erro de azimute de aproximadamente 30 graus. Se adicionarmos aquele erro para a posição dele, para a passagem do orbe, descobrimos que o azimute real era de aproximadamente 155 graus. A ISS estava no azimute às 22:59:18. De repente, os erros que estávamos discutindo se tornaram muito pequenos. Nós agora temos uma diferença de 18 segundos e não um minuto. Além disso, a ISS estava em um ponto mais alto nessa trajetória. O ângulo de elevação estava a apenas 33 graus (o Heavensat listou como 32.9 graus). Isso muito de longe combina com o ângulo de elevação sobre o cume que Freeman mediu usando seu aplicativo de smartphone.
O novo azimute também explica outra anomalia que eu tenho tentado determinar na constelação pela qual o objeto estava passando. Com um azimute de 125 graus, ele estaria na região da constelação de Delphinus/Aquarius. Por mais que tenha tentado, não consegui encontrar as estrelas no vídeo. Eu presumi que isso era porque as constelações à vista eram muito pequenas e as estrelas mais brilhantes não apareceriam tão brilhantes quanto são. Com o novo azimute, o problema da constelação se resolve sozinho.


A estrela mais brilhante da qual o orbe passou perto inicialmente foi Lambda Aquila. Seu azimute e elevação às 22:59:16, horário local, era de 157.3 graus e aproximadamente 33 graus. Quando se compara as constelações ao redor com aquela estrela, muitas delas se encaixam. As únicas diferenças provavelmente têm muito a ver com a performance do instrumento de visão noturna. As imagens acima mostram a posição da ISS às 22:59:16 (à esquerda) e a constelação usando o Stellarium com o “orbe” e sua direção de movimento como se pode ver no vídeo. Para mim, isso é uma evidência muito convincente que prova a conclusão original feita por Scott Brando. Há pouca dúvida de que o “orbe” fosse a ISS.

Conclusão
É incrível que o sr. Freeman e seus associados não perceberam isso. Eles declaram a si mesmos como especialistas em coisas visíveis à noite, mas isso demonstra que eles estão longe disso. Uma das primeiras coisas que se faz é traçar a trajetória de um objeto pelo céu. Uma vez que o traçado é completo, outros podem avaliar o que foi visto se eles não puderem identificar o que era. Ao invés disso, eles não se preocuparam em descobrir o azimute e a elevação até um mês mais tarde. Mesmo quando fizeram isso, eles fizeram errado, porque estavam se apoiando em tecnologia que eles não entendiam ao invés de simplesmente olhar no mapa.
Também me pergunto por que a câmera de amplo espectro sendo usada por Freeman não gravou o evento ou, se ela gravou, porque esses vídeos não foram apresentados. É possível que haja outros vídeos do objeto que não mostram o objeto tão exótico como aparece no vídeo de visão noturna?


Tudo isso me lembra de algo que Alan Hendry observou uma vez:
…para um campo que é composto de indivíduos que professam ser intrigados com anomalias aéreas, há ignorância espalhada sobre as mais básicas características ou fontes como meteoros, aviões e balões.
Apesar de todo conhecimento técnico e equipamento do sr. Freeman, ele parece ignorante sobre astronomia básica. Ele não traçou a trajetória do OVNI apesar de vê-lo em tempo real e então agravou esse erro por não entender que a órbita da ISS muda com o tempo. Freeman deveria ter ficado curioso do porquê sua trajetória e a trajetória de Brandon eram diferentes, mas qualquer curiosidade foi aparentemente ignorada em favor de tentar reforçar sua crença de que gravou algo exótico. O argumento dele falhou devido à confirmação de parcialidade.
É claro que isso levanta sérias questões sobre a pesquisa de Freeman e seus associados. Podemos realmente considerar qualquer coisa que eles apresentam como algo que foi cuidadosamente pesquisado?


Notas e referências

  1. “Mystifying Orb Filmed in Canada”. Coast to Coast AM.  August 3, 2017.  
    https://www.coasttocoastam.com/arti-cle/mystifying-orb-filmed-in-canada
2.    Case management system. Mutual UFO Network (MUFON).
  1. Freeman, Rob. “Squamish, BC, Giant Orb from July 22, 2017 was NOT the ISS - 100% Proof”. YouTube. September 10, 2017. https://www.youtube.com/watch?v=1EBTPoJZnuo
  1. Historical keplerian elements 2017. Radio Amateur Satellite Company. http://amsat.org/pipermail/keps/2017.txt
  1. Freeman, Rob. “Squamish BC - Giant Orb Goes into Forest - July 22, 2017 -            MUFON Case #85446” YouTube. July 23, 2017. https://www.youtube.com/watch?v=CcIvQ8nUMHQ
  1. Hendry, Allan. The UFO Investigators Handbook. London: Sphere Books Ltd. 1980. P. 272 


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