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Crônicas Atemporais Sobre Ufologia

 






CRÔNICAS

A TEMPORAIS

Sobre


UFOLOGIA



Ubirajara Rodrigues


1. Breves reflexões acerca do cotidiano da Ufologia 6

2. Os ufólogos e a teoria do "só pode" 12

3. Bilu merece ser censurado? 16

4. Ufologia espiritual 24

5. Ufologia Holística ou mistureba místico-religiosa? 29

6. Disco voador existe 47

7. A Ufologia e a ideia do ET 55


Introdução



Durante o tempo de afastamento dos meios públicos de ufologia, de 2010 a 2023, não desleixei de jogar para o papel, despretensiosamente, alguns textos a respeito. Prossegui observando o cenário ufológico à medida em que alguns enfoques despertavam minha atenção. Nesse tempo de “reclusão”, imaginei que alguns achariam ‘misterioso’ tal silêncio, e não estava de todo enganado, mas foram além: resolveram discutir se eu havia sido ameaçado, coagido ou mesmo torturado. Tais suposições de parte dos ufólogos, acompanhadas da ignorância de um segmento do público, culminaram com a mirabolante história digna de um filme B de ficção científica. Pior ainda, para mentes paranoides, eu passara subitamente a tomar parte de um esquema conspiracionista de “acobertamento de informações altamente confidenciais e sigilosas”. Eu havia sido cooptado a colaborar com agências do governo trabalhando para desinformação!

Convencido pelo amigo, ufólogo e influencer João Marcelo, voltei à cena em dezembro de 2023, a partir de uma entrevista que me serviu do que poderia chamar de “paradoxos morais”. Um certo número de interessados elogiou a entrevista, concordando com os argumentos s, enquanto outra quantidade de público e ufólogos mostrou-

se perplexa e com muitas dúvidas. A maior parte concluiu que realmente tornara-me um “traidor da pátria”. Assim, diante deste quadro, resolvi compilar e organizar alguns textos, com a finalidade de viabilizá-los melhor..

Breves reflexões acerca do cotidiano da ufologia

Vivemos momentos históricos na Ufologia, algo realmente “bombástico” está para acontecer, a tão propalada e aguardada revelação sobre visitas alienígenas se aproxima. Ou cientistas vão assumir de vez que falar mal de ufologia e afins dá likes e muito dinheiro. Quem sabe um sem-número de pessoas vai obrigar a lei retornar às internações compulsórias para tratamento psiquiátrico?

O cotidiano da Ufologia, caracterizado pelas afirmações de cunho exclusivamente crédulo, eternas esperanças de que “no ano-que-vem” tudo será revelado, e de histórias inverídicas de que governos e Forças Armadas dobram-se às exigências de ufólogos, nos últimos meses tem sido marcado pela perplexidade. Perplexidade de quem assiste, de camarote ou da arquibancada, porque um dos atrativos da Ufologia é a graça, a beleza, o lado infantil dos espetáculos populares.

O mundo ilusório da Ufologia vai desde frases que se sustentam em “provas incontestáveis”, como se isto existisse, até o atual fascínio pela divulgação do Pentágono de objetos filmados pela Marinha em velocidade estonteante, mais do que estonteados ficam certos ufólogos com esse tipo de revelação. Ou seja, ufólogos, políticos, jornalistas e militares deslumbram-se em razão de um mero efeito ótico, quando o objeto filmado é fixado desde a

aeronave, e isto faz com que a cena abaixo esteja sendo cruzada com uma rapidez que nenhum aparelho terrestre conseguiria. Ou diante daquele vídeo cuja luz focada não passa do formato dado pelo sistema de lentes da filmadora, que a fez parecer um tipo de “pirâmide” passando no céu, e as já convincentes explicações dadas tecnicamente mas não tão divulgadas quanto as estarrecedoras impressões dos encantados.

Porém, os ufólogos evoluem, fazendo jus aqui a um conceito mais aceitável de evolução em termos de movimento, que de fato é pra baixo, pra cima, para a esquerda, para a direita, não apenas ascendente como creem certas correntes religiosas. Enquanto as ciências vão para cima, ufólogos fazem verdadeiras manobras erráticas na linha de sua evolução de pensamento, tal como os objetos que dizem pesquisar. Sobem pouco quando provocados, mas depois seguem em sua longa jornada de queda. Aliás, isto marcou muito o interesse pelo fenômeno de fato existente – as hipóteses de origem nem são para este texto. Então, os que desejam ser encarados sem escárnio, preferem agora chamá-lo de UAP e não mais de UFO. UAP - Unidentified Anolalous Phenomena - Fenômenos Anômalos Não Identificados. Mais abrangente, não se negue.

Para ufólogos, isto pouco importa, porém continuar evoluindo no estudo de maneira bem característica. É só ver. Não bastassem os vídeos do Pentágono, novo momento

histórico ocorreu em junho de 2022. O Dia Mundial da Ufologia, 24, vem a calhar com uma crença religiosa, pois que os ETs, sem dúvida, têm sido tão cultuados na ufologia quanto os Santos. Se São João inspira as agradáveis e gastronômicas festas juninas, naquele histórico 2022 levou a Ufologia ao Senado da República. Vários outros sagrados nomes podem muito bem ser associados ao tema. Santo Antônio teria sido um extraterrestre que veio à Terra para impulsionar o desenvolvimento genético, e por esta razão é exatamente chamado de Santo Casamenteiro. Não julgue o caro leitor que haja exagero em uma brincadeira respeitosa dessas.

É exatamente assim que raciocina, que interpreta a Ufologia, notadamente em sua corrente chamada Ufoarqueologia. Consulte Zecharia Sitchin para saber de supostos Anunnakis, de um Nibiru gigantesco que, se verdadeiro fosse, já teria feito nosso Sistema Solar virar cacos. Ou um Däniken, só para fazer “pito pitô” para os arqueólogos.

Atualmente, na Ufologia “raiz” (claro, a expressão do modismo caminha ao lado dos ufólogos), tudo é do mesmo jeito. O momento histórico levou ao Senado o que deveria, no entendimento do grande público, ter sido uma Audiência Pública, para discussão sobre o fenômeno Óvni. Perdão, UAP. Deveria, conforme as claras insinuações feitas por extasiados ufólogos, que ajudaram a realizá-la. Tudo levava a crer, propositalmente, no sentido da grande importância

que teria uma audiência pública, que se destina a analisar a importância do tema para a sociedade, para a comunidade, para o Estado, enfim para a Nação, mas cingiu-se a uma Sessão Especial comemorativa do dia 24 de junho, não com vistas a São João, mas ao dia Mundial da Ufologia.

Foi, portanto, histórico, sob dois sentidos – o assunto sendo tratado no Senado Federal, não pelo Senado Federal. Em segundo lugar, porque os ufólogos firmaram oficialmente, já que falavam daquela importante tribuna, sua eterna, constante e habitual postura, que atravessou o tempo e, ao que tudo indica, permanecerá. Histórico, portanto.

Foi impressionante assistir a ufólogos declarando expressamente, ou melhor, repetindo, que a Ufologia é pura ciência, o que deve ter arrancado risos de cientistas. E a razão é que de vez em quando tenta alguma análise de solo, bem como de fotografias e filmes. Ainda bem que ao menos isto ocorra, porém, com certos exageros, tais como elaborar laudos com forma e aparência de documento técnico, para meramente falar de diferenças de campos eletromagnéticos nas regiões dos belos agroglifos, no que diz respeito às suas variações de magnetismo remanescente após intervenções humanas. E ao mesmo tempo falarem, em plena tribuna do Senado, que já está provada a existência de seres extraterrestres! E de suas visitas à Terra, também...?

A Ufologia deve ser científica, mas, ao mesmo tempo que fala em necessárias análises laboratoriais, leva em conta

que certas ocorrências possam ser provocadas por “elementais”, por “seres interdimensionais”, por “demônios” (sim, há ufólogos que admitem essa ideia em vez de extraterrestres). Que diferença! Não é de espantar que certos ufólogos não resistem colocar-se pessoalmente em confusão com o próprio fenômeno. Com psicólogos e psicanalistas, a palavra para que possivelmente confirme essa notável fusão. Ufólogos assim não titubeiam em publicar que em suas pesquisas sentiam que algo estranho os impulsionava.

Quando criticados, ainda que muito superficialmente em razão de tal subjetividade,percebendo a própria ingenuidade, passam a arranjar desculpas um pouco menos cobiçosas. Eles teriam percebido tal interação entre o fenômeno e sua pessoa porque, ao tentar registrar em fotografia o objeto que antes vinha em trajetória errática e rápida, parece ter assumido uma simpática pose para ser fotografado. Beleza.

Mais belo ainda é ver que há ufólogos coerentes, justiça seja feita. Haja o exemplo dos que, diante de uma indagação inesperada a respeito da sonhada credibilidade da ufologia perante a Ciência, entendem ser esta incompetente para lidar com ele. Ou seja, que o método científico não se aplica à pesquisa do fenômeno UFO, Óvni, UAP ou seja lá o que for. Que suposição se pode fazer quanto a tal competência? Para que então as religiões dele se ocupem? As correntes esotéricas,  talvez?  Se  assim  for,  parece  não  haver

necessidade de se fazer qualquer pesquisa, porque crença não requer provas. E nem provas no sentido jurídico se confundem com evidências no sentido científico, ainda que haja similitude conceitual. Este é outro sofisma feito por ufólogos de boas credenciais técnico-científicas.

Assim vai passando o tempo e o cotidiano da Ufologia permanece em sua trilha de contradições, incoerências e, sobretudo, de extrema coragem. Porque é preciso ter coragem para se fazerem certas afirmações em público. O que se viu no Senado em 2022 foi um elementar encontro sobre o tema, tal como os que ocorrem eventualmente em várias localidades, destinados a atrair adeptos para uma heroica e orgulhosa Ufologia. Contudo, devemos manter as esperanças.

Os ufólogos e a teoria do “só pode”


Se uma das propostas deste trabalho é o exame do comportamento daqueles que fazem a Ufologia, vai aqui uma observação que, espero, incorpore o conjunto de argumentos referentes a isto. Tem sido constante a justificativa que já se tornou lugar-comum entre os afins a de que, se não temos explicação para certas ocorrências ufológicas, e se alguns fatos ainda não se enquadram no que as ciências parecem não conhecer, um UFO “só pode” ser uma nave extraterrestre.

A suposição vem desta era espacial em que vivemos aquisições técnicas e tecnológicas, Fenômenos ufológicos aparentemente autênticos, “só pode” sempre serem atribuíveis a “naves pilotadas por seres não humanos”.

Somos mestres em neologismos, roupagens da ficção científica de quadrinhos e de filmes. Talvez não estejamos errados, posto ser característica conhecida da área do conhecimento intitulada “popular”, vulgar. É aparente método nada sistemático, mesmo eventualmente acertando o alvo, sem muita pontaria. Se vemos luzes no céu ou se estas se manifestam em locais com características geológicas peculiares, à primeira vista não achamos explicação conhecida, então a ideia do “só pode” nos socorre de forma aliviadora.

Comenta-se de que não se oferece uma explicação convincente para certas ocorrências, vale dizer, o que seria então um pequeno número de acontecimentos que não se enquadram nas explicações já conhecidas e aceitas? “Só pode” ser nave extraterrestre. Enfim, é assim que os mitos sobrevivem. Talvez a prova concreta, material mesmo, sejam as fotografias e os vídeos que registram o que se supõe serem objetos voadores desconhecidos. Durante décadas a ufologia desprezou técnicas de análise fotográfica, em favor da mera impressão visual que o objeto fotografado causa.

Atualmente, a análise de fotos digitais vale-se de métodos avançados para constatação do que possa ter sido gerado por computação gráfica ou por inteligência artificial. Desde o começo do uso indiscriminado de câmeras digitais e de telefones celulares, já se buscava o que se chama “Informações de Exif”, ou seja, todos os dados que existem em fotos, inclusive abertura, velocidade, exposição, até a marca do dispositivo. E existem programas que detectam montagens e fraudes.

Antes, eram dois os procedimentos utilizados diante de fotos de supostos UFOs. O primeiro era uma tentativa de análise física praticada sobre negativos, quando se tratava de fotos obtidas em película (filme). Visava descobrir manchas no próprio negativo tais como químicas, arranhões ou furos, provocados por objetos pontiagudos. Isto era comum e após a revelação com copiagem para papel, o

defeito apresenta variedade de formas. Por óbvio, a análise também permitia ver se teria ocorrido alguma montagem, tipo superposição de imagem etc. O segundo era um trabalho por comparação.

Analogamente, fotografias que registravam objetos conhecidos, porém pouco comuns à observação do fotógrafo curioso ou desavisado, podiam aparentar o flagrante de algo desconhecido. Exemplos: objetos arredondados, fotografados ao ar livre ou mais comumente no interior de cavernas e grutas. O pó levantado pelo caminhar, grãos movidos pelo vento e mesmo minúsculos esporos de vegetais, são captados pela câmera, e quando a foto é tirada com "flash" são mais visíveis, tomando a forma arredondada em virtude da focalização não regulada, e porque se encontram em todo o ambiente, bem próximos da câmera. Foram apelidados de "orbs", em virtude de sua aparência esférica

Outros objetos são ainda mais comuns e vêm sendo fotografados em grande número. São pequenos insetos em voo, esporos de vegetais e até pássaros. Apresentam-se como corpos que passam a distância mais próxima do fotógrafo do que ele imagina. Quando observada, a foto mostra um "risco", uma "trajetória" incomum. Os corpos, em virtude da grande velocidade aparente (porque mais próximos da câmera do que parece), são deformados, assumindo contornos indefinidos e marcam a foto com uma linha composta de segmentos compridos, outros mais

largos, por vezes com "apêndices" laterais. São os chamados "Rods" - bastonetes, esporos. Cumpre salientar que manchas na própria lente da câmera costumam confundir, e geralmente são ocasionadas por gotículas de chuva, orvalho, saliva, respingos variados.

A Ufologia possui milhares de fotos de tais tipos, que apresentam segmentos de reta (com algumas deformações). Considere-se que o frame - o quadro da fotografia - congela o objeto que passa em voo, daí que possui início e fim, deixando de "riscar" todo o quadro. Isto se deve à velocidade/tempo de exposição e ao obturador.

No entanto, os contornos da paisagem, montanhas, prédios, construções, monumentos, nuvens etc apresentam deformação muito semelhante à dos contornos do objeto fotografado. Isto faz crer que ele não estava tão próximo do fotógrafo, mas a uma distância relativamente apropriada a registrar os contornos daquela forma. Em tais casos, a probabilidade de se tratar de um inseto é menor porque, do contrário, deveria ser um inseto muito grande. Geralmente, as características dessas fotos são próprias às de um pássaro em voo.

3 “Bilu” merece ser censurado?

Bilu é um extraterrestre adolescente. Tem voz em falsete parecendo cibernética e sotaque arrastado. É uma das mais importances aquisições do Projeto Portal, instalado nos rincões do Mato Grosso do Sul, porque ensina, dá conselhos, sugere, mas, antes de tudo, satisfaz a ânsia de seus adeptos de contatar diretamente um evoluído irmão cósmico.

Esse rapazinho não humano não é pouca coisa, ao contririo, ele se materializa em vários locais, em muitos Estados por onde se estendam as ações da seita, graças aos poderes desenvolvidos por um arauto de outras civilizações que nos visitam. Trata-se do ex-servente de pedreiro Sr. Urandir Fernandes Oliveira, que só não é tratado pelos membros do Projeto de “UFO”, porque isto não contribuiria muito com a imagem do guru.

Não se sabe se “Bilu” é uma coincidência fonética do nome utilizado na longinqua e salvadora civilização do espaço, que se mostra a cada dia mais evidente. Ou se foi escolhido de propósito como apelido para as manifestações aqui na Terra, que é um nome geralmente dado a personagens de revistas em quadrinhos.

Em outras ocasiões até serve para fazer gracinha com criancinhas, e assim a simpatia do nome serviria

também aos seus carinhosos propósitos. Até se disse que fora inspirado no nome do falecido gato de um célebre ufólogo também já falecido. Tudo, portanto, muito bem pensado, em favor de uma finalidade maior

a de trazer, direta ou indiretamente, a salvação à humanidade com o arrebatamento de escolhidos, desde que estes sejam especiais. O que é detectado de forma garantida por um tal “Teste da Concha”.

O problema é que Bilu tern causado um frisson danado nos meios da ulologia e já transcendeu a esse próprio mundo de heterogêneos entusiastas e estudiosos dos Objetos Voadores Nao ldentificados, OVNIs ou UFOs. Que, apesar de não serem identificados são sempre naves extraterrestres. Na ufologia, isso tem causado admiração, espanto, confiança, raiva, inconformismo e revolta. Uns acham que é produto de truques, cujas aparições seriam disfarces do próprio Sr. Urandir ou de supostos comparsas. Outros, que é mesmo o resultado exlraordinârio da mediunidade do líder e fundador do Projelo, sem o que nem Bilu nem outro ET evoluído se apresentariam.

No público em geral, caua curiosidade crescente e uma valorização inesperada, mas perfeitamcnte previsivel por causa de suas aparições em programas de TV. Tudo começou com a TV Record que, querendo

ou não, acabou divulgtaanmdaonhoBilu sem imaginar o tamanho da repercussâo. A emissora, administrada por uma igreja evangélica, acabou sendo a principal responsável pela ascensão de Bilu, oetezinho salvador. E hoje, para os que nele creem, ninguém vai ao reino extraterrestrese não por Bilu.

A fama almejada pelo arrebatador adolescente extraterrestre firmou-se no programa da TV administrada pelo esposo da apresentadora. Bilu voltou a se mostrar para as câmeras no meio de um mato fechado, filmado com o recurso night shot, sistema de infravermelho, para desespero dos que acreditavam que não iria mais aparecer, após arriscar- se com as câmeras da televisão neopentecostal. E seu médium, o guru e paranormal Urandir, fazendo as honras com muita convicção, defendendo seu garoto extragaláctico e seus direitos de acreditar e de divulgar tal prodígio da ufologia brasileira.

Espere aí, diriam de imediato os mesmos entusiastas – “Da ufologia brasileira não senhor”. Mas do tal Projeto Portal, composto de crentes, sem compromisso com a verdade, indefesos contra os truques de seu fundador. Mas... será mesmo? Sim.Um produto inegável e indiscutivel da ufologia brasileira. E quanto aos truques que permitiriam as aparições do menino etê, nem viriam ao caso. Isto não é importante e nunca foi para a ufologia brasileira.

Até porque, ninguém ainda explicou definitivamente esses tais truques. Só um ufólogo com expressões fisionõmicas esquisitas mostrou no tal programa de TV que uma imagem do Bilu tinha as feições do próprio guru. Mas este, com amaior tranquilidade, rebateu na hora – com photoshop, qualquer um pode fazer essa imagem “parecer eu!”. E está errado?

Urandir e Bilu, com seu poderoso Projelo Portal, representam a ufologia brasileira, com suas tendências e crenças. Não há diferença para aquela ufologia que se diz ou se julga a correta e o que se pode encontrar pela Internet e em publicações sobre o tema. Tanto isto é uma realidade, que quando a Aeronáutica concordou em recebrer em Brasília uma comissão de estudiosos do assunto, o tal Projeto correu por exigir que também seu líder fosse recebido. E foi.

Os adeptos dessas crenças a outra banda da ulologia brasileira possuem o mesmo nível de credulidade. E não são um grupo composto de ignorances, desinformados ou de insatisfeitos em fuga da vida. Não. São tão heterogêneos quanto a tal outra banda. Médicos, engenheiros, empresários, advogados, dentistas, astrônomos... quer niais? Todos crentes em ETs. A suposta diferença é que acreditam em contatos programados, em visitas de irmãos cósmicos, em comunicação telepática, em doações de energia por seres mais evoluidos, em fotografias de planos espirituais e extraterrestres por meio de transcomunicação

instrumental, em escolha de seres humanos especiais para revelação de segredos, em contato mediúnico com espíritos, em curas por meios estranhos e não convencionais, e mais um largo et cetera. Não há nenhuma diferença! Também a outra banda, a dos aparentes não crentes, defensores da verdade, crê nisso tudo! E briga quando contrariada.

Entao, é momento para se perguntar — Bilu merece censura? Parece que não, porque todas as facções, as bandas da ufologia brasileira, pensam, agem e pregam exatamente como os que acreditam no suposto jovem serzinho. E quando se fala em crença, a pessoa tern de ser respeitada e não há como fazer calar-se. Pelo que vem uma segunda pergunta: O que tern sido a ufologia brasileira senão pura crença? Ciência é que não é.

A incursão pelo mundo da ufologia leva a um universo de crentes. Bilu tem seu lado fascinante. A espera de um contato extraterrestre iminente seduz. Urandir funda um Projeto, com dezenns de casas redondas que mais parecem iglus em um sertão quente. Vende terrenos, escolhe pessoas especiais, até monta um laboratório de observação astronñmica, climática e com instrumental de informática caro. Anuncia a chegada de nossos visitantes cósmicos, seus adeptos acreditam em curas por ETs e por outras entidades. Fotografam e

observam naves extraterrestres todo dia e vão a programas de TV fazendo afirmações absolutainente incríveis e absurdas aos olhos de muitos.

A outra banda da ufologia verdadeira funda institutos, vende palestras e publicações, anuncia a descoberta de segredos das Forças Armadas por pressão de seus membros. Consegue a “liberaçâo” de documenlos daAeronáutica,queprovamnãosesabebemoque. Acredita em curas por Ets e por outros seres espirituais, diz que o contato com seres não humanos é iminente, alega e divulga fotos de frotas de de discos voadores, enche auditórios em encontros e congressos, dá fotografias e filmes de UFOs como provas. Apoia profetas salvadores e messias priviliegiados, e... qual a diferença? Nenhuma. A ufologia do Bilu é a ufologia que a maior parte do público que a mantém quer!

Hà umas duas alas de bate-papo de ufologia no Brasil, na Internet. São um verdadeiro laboratório, porque tem ufólogo, tem cético, tem gente inleligente, tem crente e tem crédulo. Em uma delas, um ufólogo diz pertencer a uma importante Associação de ufologia. A Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil, fundada no Museu de Aeronâutica no Parque lbirapuera, em São Paulo, nos anos 80. A ANUB. O ufólogo tem o nickname de ANUB e parece que a Associação estaria sediada no Ceará. Em uma discussão, um sujeito perguntou a ele quais os critérios

científicos seu grupo, sua associação, usava para saber se um médium ou um contatado de fato era autêntico, e que métodos eles utilizavam para confiar nas informações sobre extraterrestres. Ele respondeu que não estava nada interessado no que diz a ciência e como ela faz as coisas, ou seja, estava pouco se lixando para a ciência e para a metodologia científica.

Isto significa religião, seita, sem possibilidade de ser qualquer outra coisa. A partir do momento em que um ufólogo diz publicamente que seu trabalho em nada se relaciona com o método cientifico, tal atitude é exclusivamente crente, religiosa, logo, que ninguém o censure.

Essa conclusão ficou mais lógica quando o mesmo ufólogo mencionou o proprio Urandir e seu jovenzinho galáctico Bilu. Uma outra pessoa desceu a lenha nessa historia, dizendo que era um absurdo e que tudo era mentira, no que o ufólogo nâo pensou para disparar - tudo bem, mas aquele tipo de contato é perfeitamente possivel, e ocorre sim! Quase esqueço de uma terceira questão que também me afetou naquele bate-papo: eu fui um dos fundadores da ANUB, naquele já distante ano de 1980.

Então... Bilu merece censura?Esse tipo de contato acontece na ufo logia da outra banda, é só consultar seus sites,e publicações, não há qualquer diferença. A participação de Urandir e Bilu em programas de TV,

certos de que estão cumprindo importante missão, é a mesma de quem declara à imprensa que está provado que recebemos visitas de extraterrestres e que o contato definitivo está próximo.

A defesa convicta do Bilu é a mesma mostrada quando algém afirma um conjunto de coisas que em nada dizem respeito à comprovação científica em um respeitado programa de entrevistas na televisão, com o apresentador já claramente propenso a dar um tapa na mesa e encerrar o festival de fantasias semelhante a ficção científica antiga. E que, tão sem noção disto, quando o apresentador anuncia o fim da entrevista, o entrevistado automaticamente olha para o auditório, em êxtase, talvez esperando o famoso “ahhhh!” por parte da plateia. Que ficou bem quietinha...

4 Ufologia espiritual

Alguns se perguntam sobre o que seria, ou mais propriamente, de que trataria a “Ufologia Espiritual”. É o nome atual da antiga Ufologia Mística. A então cultuada (literalmente de cultos) Ufologia Mística evoluiu paralelamente à chamada linha objetiva da Ufologia, notadamente a partir da década de 1970. Vou focar no Brasil.

Desde a ascensão da ufologia nos anos de 1940, alguns aficionados passaram a se dedicar ao estudo do fenômeno procurando compreendê-lo de forma materialista, apelidada de científica. Diz-se apelidada de científica porque verdadeiros esforços de trato do fenômeno com o método científico eram raros, o que inspirou Sagan e outros a firmarem de vez a alcunha de “pseudocientistas”, principalmente a ufólogos.

No Brasil, aos trancos e barrancos, estudiosos como Irene Granchi, Flávio Pereira, Cleto Nunes, Silvio Lago), Walter Bühler, Olavo Fontes e outros, procuraram fazer o que podiam. Mas, por serem praticamente um elo entre a primeira geração de ufólogos e a que os sucederia, eram revestidos de excepcional credulidade, talvez no afã de demonstrar a existência de algo tão novo e fantástico

Essa geração pioneira foi acompanhada por uma corrente totalmente sem compromisso com a razão e, principalmente, com o método e com o trato científico dado

ao fenômeno. Os adeptos da Ufologia Mística pensavam exclusivamente em acepções esotéricas e ocultistas, seguindo literalmente as tendências ditadas por delirantes como a esotérica ucraniana Elena P. Blavatsky, o que acabou por gerar o apoio de ideias como as de Zecharia Sitchin, ferrenho defensor da tese dos astronautas da antiguidade.

A Ufologia Mística possuiu expoentes como o francês Claude Vorillon, o “Rael”, antes pelo extasiado astrônomo amador e vendedor de amendoim, George Adamsky, desaguando até a insanidade de seitas ufológicas como a “Portal do Céu”, que levou ao suicídio alguns de seus adeptos.

No Brasil, ufólogos místicos vinham “comendo pelas beiradas” em congressos e encontros de Ufologia, conduzidos por promotores de eventos como Paulo F. Kronemberger, palestrantes e ministrantes de cursos de contato com ETs como Laercio Fonseca, ou vendedores de lotes em comunidades como o quase esquecido “contactee” e arauto de anjos extraterrestres, Luiz Gonzaga Scortecci.

Esperava-se que suas inserções se limitassem a uma tentativa de infiltração em área tão incipiente, ou a eventuais deboches de diretores de cinema como feito no clássico “Independence Day”, em que ufólogos perplexos foram para o alto de prédios brandindo cartazes do tipo “Bem vindos, Irmãos do Espaço”. Mas não. A geração que prosseguia sonhando com a ciência foi representada por Ademar  Gevaerd,  Marco  Petit,  Luciano  Stancka,  Osni

Schwartz, Carlos Reis, este autor e vários outros. Continuou crédula, mas com esperançosos lampejos e desejo pelo trato científico do fenômeno. Não cumpriu o papel que talvez lhe competisse – evitar que a tal Ufologia Mística tomasse conta. Ocorreu o contrário. Destes, uns dois ou três estão bradando contra as afirmações infundadas da própria Ufologia, sendo execrados por isto.

Todavia, de forma lamentável, capenga e equivocada, aquela geração foi a grande culpada pela tomada de conta que místicos, hoje chamados “ufólogos espirituais”, acabaram por conseguir. Porque, em nome de um “holismo” mal entendido e mal empregado, deixaram que o ávido público fosse satisfeito pelas elucubrações subjetivas e crentes de duvidosos contatados e de não provados paranormais, quando não farsantes.

É certo que místicos considerados sérios – e realmente foram sérios e respeitáveis como pessoas e como profissionais nas suas áreas de atuação não ufológica – deixaram marcas curiosas para os que preferem mistérios. Contudo, estes talvez por terem sido utilizados como sustentáculos pelos da linha enviesada, foram ao mesmo tempo outros grandes culpados pela verdadeira balbúrdia de ordem filosófico-científica, que se vê na ufologia atualmente. Veja-se o exemplo das viagens místico- esotéricas ausentes de referendo científico do respeitado e respeitável General Moacyr Uchoa e outros.

De repente, parece que o termo “mística” precisava deixar a ufologia, porque de alguma forma não estava sendo bem aceito. Então, ufólogos que dizem estudar objetos voadores não identificados, mas que já sabem como identificá-los, de onde vêm, o que desejam e até o DNA de ETs, ainda que “espirituais” ou, na ridícula nomenclatura de “seres dimensionais”, ganharam notoriedade e transformaram a Ufologia em estrita matéria religiosa que hoje se vê.

Contatos telepáticos, antes nada demonstrados, foram substituídos por “canalizações” em centros espíritas, e pior, a título de exemplo realizado por ufólogos que, como médicos, são excelentes profissionais, mas como ufólogos não passam de vítimas dos próprios estados delirantes. E, claro, por outros supostos contatados de estirpes diversas.

Assim, a Ufologia Espiritual, literalmente como sinônimo de estudo de UFOs (!) oriundos de seres espirituais, ou conduzidos por seres espirituais que se comunicam com também supostos médiuns, está aí, altaneira, risonha como fazem duas simpáticas apresentadoras da ufologia destrambelhada pela internet, e apregoada por seres superiores daqui mesmo da Terra, como Trigueiro Neto, e muitos não tão conhecidos “médiuns” que fazem delirar (literalmente) um público ingênuo e mal informado em horrorosos e inconsequentes “hangouts” e ‘podcasts” recentemente publicados no Youtube. Salve a Ufologia Espiritual. Que sirva ao menos

para levar aos Céus seus adeptos, quando for chegada a hora.

Ufologia holística ou mistureba

místico-religiosa?

Considerações iniciais


“Brincamos de fazer ciência”, repetia Claudeir Covo, em meio a um pequeno número de ufólogos que tiveram visão mais lúcida a respeito do próprio comportamento.

A “Ufologia Espiritual” representa bem essa brincadeira de ciência, um viés de ordem psicológica que substitui a ignorância científica. Um sinal disto é a transformação de uma terminologia militar, “Óvni”, em “nave extraterrestre”. UFO tem de ser nave vinda de outro planeta e quem ousar dizer o contrário, ou destacar que não existe prova de tal certeza, vira traidor da causa.

Em Ufologia há uma tendência de achar que todo cético é um negador sistemático. Porém o ceticismo é postura de raciocínio científico em experimentos e perante novas ideias e proposições. Para a maioria dos ufólogos, a postura cética é um desrespeito àquilo que, para eles, está provado e seja “incontestável”, ou “irrefutável”. Eis o comportamento que mostra o inconformismo do saudoso Covo – brincam de fazer ciência.

No dia em que perceberem que ciência não é brincadeira, compreenderão que não existe prova incontestável  e  que,  se  houver  ideia  ou  proposição

irrefutável, será tudo, menos ciência. O que não é refutável tem um valor notável para o pensamento científico – zero.


O que é Holismo


Agora o foco é outro sintoma notável da ufologia que brinca. A utilização aleatória de termos, alguns forjados com aparência científica. Outros da terminologia científica e filosófica, porém mal colocados e de compreensão errada. Exemplo disto é o uso, a torto e a direito, do vocábulo “holismo”.

Alguns formadores de opinião dizem que a Ufologia é uma só. Que ela deve ser holística. Porém o que é, afinal, holismo? Como pode um sistema de estudos ser holístico?

ABBAGNANO, em seu Dicionário de Filosofia1, cita POPPER, que denominou o holismo de a tendência dos historicistas em sustentar que o organismo social, assim como o biológico, é algo mais que a simples soma dos seus membros e é também algo mais que a simples soma das relações existentes entre os membros.

Em sentido popular, há de se dar um entendimento menos restrito ou amplo a um tema, fato ou ideia, de maneira a abranger-lhes sob vários pontos de vista. Isto não



1 DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, Nicola Abbagnano. São Paulo: Martins Fontes, 2007, pág.512.

quer dizer que se considerem vertentes místicas, religiosas, transcendentais, em conjunto com o pensamento científico.

Não é holismo a visão místico-religiosa misturada com a científica, pelo simples fato de serem incompatíveis, de rumos e entendimento inconciliáveis, apesar das tentativas de se dizer o contrário. Amit Gotswami e Deepak Chopra, entre outros, estão longe de justificar esse contrário. O que fizeram e fazem alguns cientistas, é manterem convicções religiosas separando-as dos instantes em que pensam e experimentam cientificamente. Alguém disse em uma discussão informal que se poderia considerar Newton um fantasista idiotizado em razão de certas crenças ocultistas e religiosas que adotava; o que nem de longe mancha sua qualidade de um dos maiores cientistas, se não o maior, que a Humanidade já teve. Kepler abraçava pensamentos medievais místicos, mas não tratava sua ciência com divagações de cunho religioso.

No Dicionário Akal de Filosofia2, AUDI trata do holismo em suas várias definições, tais como Holismo Confirmacional, Doxástico, Epistemológico, Metodológico e Semântico. Nenhum deles se sugere um holismo que tenta disfarçar uma mistureba místico-religiosa com a ciência. O que deflui dos conceitos de holismo, é que um todo precisa ser visto sem que suas partes, isoladamente, possam considerar-se em definitivo explicativas dele. Isto é, há a


2 DICIONÁRIO AKAL DE FILOSOFIA, Robert Audi (editor). Madrid: AKAL Diccionarios, 2004, pág.500.

necessidade de um estudo abrangente, vasto, envolvendo os aspectos que compõem um todo. AUDI considera o Holismo (tradução livre do espanhol):


...qualquer da ampla variedade de teses, que de um modo ou de outro atribuem uma realidade maior ou igual, ou a necessidade explicativa, ao todo de um sistema em relação ao que são suas partes. Em filosofia, a preocupação pelo holismo aparece tradicionalmente na filosofia da biologia, na filosofia da psicologia e especialmente na filosofia das ciências humanas (


Por outro lado, não se pode considerar um todo sem cada uma de suas partes. Um pensamento, uma ideia, os resultados de um raciocínio sobre objeto ou proposição, devem conter a maior abrangência possível de todos os ângulos e entendimentos cabíveis. Por exemplo, não tratar um paciente apenas pelo transtorno em si, indo até as áreas da medicina que o caso exigiria. Um paciente deve ser visto sob seus aspectos físicos, orgânicos, psicológicos, psíquicos, com sustentação em análises químicas, biológicas, e até com a observação de suas condições sócio-econômico- culturais. Afinal uma ampla gama de patologias tem origem ou um fundo psicossomático. Tratar um paciente de forma holística é vê-lo sob as óticas de várias áreas que refletem a sua saúde.

“Holismo Misturança” na Ufologia


Pode-se pensar em um “falso holismo”. Um paciente a ser tratado de gripe receberia antibiótico e oração, Descongestionante e água benta. Injeção intravenosa e o implante de um pedacinho de pano embebido nas águas do Jordão. Tentar a cura de uma lesão dermatológica profunda com cirurgia e fármacos, e com simpatia receitada por uma velha senhora com um cachimbo na boca. Com sua visão “Sui Generis” do holismo, a ufologia parece desejar algo semelhante. Analisar o caso de um alegado pouso de um óvni com um contador geiger, com coleta mineralógica e uma varinha de radiestesia. Procurar a constituição de um material atribuído à explosão de um Óvni por análise espectrográfica e com a “visão paraótica” de um paranormal. Organizar uma pesquisa para o entendimento de possíveis padrões de manifestação do fenômeno óvni, com metodologia científica e com as mensagens recebidas por “canalizadores” e Contatados.

É mais ou menos isto que a Ufologia prega. Nos EUA essa mistureba é muito maior. Pior. O mais curioso é que lá – por aqui também - ufólogos são espécies de “Newtons” modernos, resguardada a infinita distância entre o tido como maior cientista da História e os pseudocientistas que, mesmo quando sejam cientistas, brincam de ciência por meio da Ufologia. Um psiquiatra ufólogo cai em armadilha de uma colega que simulara um transe hipnótico para, em

aparente regressão de memória, inventar, representar conscientemente uma abdução. Um médico publica livros com aparência de ciência, valendo-se do apelo à autoridade por ser cientista, revelando em diálogos e entrevistas esquisitas que seria uma espécie de contatado com seres superiores que vêm para cá para nos redimir. Ou salvar. Ou arrebatar. Não há muita diferença.

No Brasil também, apesar de flagrante contraste entre a formação científica de certos ufólogos americanos e a maioria dos ufólogos brasileiros. É natural, de postura simplória e ilusória, um ufólogo dos que dizem que a ufologia deva ser “holística” sentir-se “dirigido por algo” em suas pesquisas. Outros ufólogos holistas são físicos, mas quando lidam com a ufologia dão cursos de como contatar seus irmãos do espaço, quais são as intenções e até os meios de que estes se utilizam para dar um pulinho até nosso planeta. Médicos ufólogos entram habitualmente em transe e “recebem” mensagens de simpáticas eteias (extraterrestres femininas) de nome parecido a uma mescla de árabe com indiano. Mas, como médicos, não desconfiam de que sua manifestação de cunho meramente psíquico é sintoma de prosopopese. Enfim..

Ciência com mistureba de ideias místico-religiosas não é holismo. Holística a Ufologia em si já é sem que essa pecha lhe seja deturpada para justificar os arroubos crédulos de arautos de extraterrestres. A Ufologia não é holista quando é tratada de ciência, mais religião, mais misticismo, mais

ocultismo, mais esoterismo, mais magia. Mesmo que os que dela necessitam para viver insistam por dizer que tudo está provado, que óvni é nave de outro planeta e fim de papo. Recentemente alguém decretou que ufólogos devem parar de dizer que as origens do fenômeno ainda carecem de estudos. E, pasmo, que não mais se deva dizer objeto voador não identificado. Porque, ufólogo que veste a camisa, é aquele que defende o fenômeno como veículos de outros planetas que transportam nossos irmãos cósmicos. Seja lá o que isto signifique.


Ufologia “científica” e o despertar dos eleitos


Contudo, esta crônica está se desviando do foco, qual seja, o equivocado e mal conceituado holismo na ufologia, como sinônimo de razão mesclada a credulidade excessiva e a ideias fantasiosas. A Ufologia é holista porque, na realidade, são fragmentos dos conhecimentos das ciências tais como geologia, biologia, química, física, astronomia, história, arqueologia, psicologia, medicina. São as técnicas de fotografia, de análise de solo, prospecções várias, tomografia, ressonância, informática, edição de vídeo... absurdo até querer aqui relacionar tudo o que deva servir à ufologia. O estudo de qualquer fenômeno deve ser mesmo multidisciplinar, interdisciplinar, vasto, já que estudo e compreensão pertencem aos campos da ciência e da técnica.

Desde o seu início na década de 1940, a ufologia, chamada também precipitadamente de científica, por contrastar com as esquisitices da dita Ufologia Mística, luta contra a fantasia de histórias em quadrinhos. Nos anos19 70, Joseph A. Hynek, ao sugerir a pesquisa científica dos óvnis, comentava a tal Ufologia Mística3:


E, para outros ainda, (geralmente membros de “cultos dos discos voadores” ou “grupos de verdadeiros crentes”), significa a vinda à Terra de seres geralmente bons cujo objetivo evidente é comunicarem (de um modo geral a relativamente poucas pessoas, selecionadas e eleitas – quase sempre sem testemunhas) mensagens de “importância cósmica”. Esses receptadores eleitos têm, usualmente, experiências de contato que se repetem, envolvendo outras mensagens. A transmissão de tais mensagens a crédulos voluntários e sem espírito crítico conduz, quase sempre, à formação do culto do disco voador sendo o “comunicador” ou “contatado” o líder voluntário e óbvio do culto. Embora relativamente poucos, os advogados desse tipo de disco voador influenciaram enormemente a opinião pública através de seus atos irracionais...


O que Hynek não podia imaginar é que a coisa pioraria, e muito, para se transformar na balbúrdia alucinante em que se encontra.





3 UFOLOGIA UMA PESQUISA CIENTÍFICA. HYNEK, J. Allen. Nórdica, 1972, p. 15

Começaram a surgir comunidades inspiradas em contatos com extraterrestres. Segundo LANDSBURG4, uma das primeiras a reunir o misticismo e os fenômenos interplanetários num coito sagrado foi a Sociedade Aetherius, fundada em Londres a 29 de maio de 1955, sob as ordens de inteligências extraterrestres. Esse ramo da ufologia, ou melhor, esse viés que tomou conta de vez da Ufologia, nunca apresentou qualquer informação, dado ou mesmo prova de seus fundamentos, porque se baseia em supostas faculdades humanas ausentes de comprovação científica, como telepatia. A própria existência de seres extraterrestres, que a cada dia se torna mais aceitável em razão de sucessivas descobertas astronômicas, não conta com qualquer evidência. Mas, entre existir um ET e ele vir até aqui há uma distância tão grande, que filosófica e cientificamente é incomensurável. Figurativa e literalmente. Ainda nos anos 1970, Durrant5, sustentado na seriedade de um dos antigos ufólogos franceses, destilou sua revolta contra as afirmações descompromissadas de

contatados e ufólogos eleitos por Ets:


Há os visionários, os loucos, as pessoas que se intrometem por tudo e por nada, os espíritos confusos, aos quais certas publicações dão guarida com o fim único de aumentar a


4 NO RASTO DE OS EXTRATERRESTRES. LANDSBURG, Alan. Public. Europa-

América, 1976, p. 50.

5 OS ESTRANHOS CASOS DOS OVNI. DURRANT, Henry. Difel, 1979, p. 9

tiragem, especulando sobre a insaciável sede de magia de um público numeroso.

Lá como cá... à época, como hoje...


Transcendência e desespero por respostas


Não há como se compatibilizar um estudo científico com uma religiosidade fundada em UFOs. Não seria holismo fazer isto, porque o comportamento da maioria dos ufólogos é de agir como numa espécie de seita, com crenças de cunho sobrenatural. É como se Deus e o sentimento religioso pudessem ser considerados ciência. Alguns tentam constituir um clero ufológico.

Certos ufólogos confundem uma aconselhável postura de pensamento científico, com algo que por si mesmo já pudesse ser considerado ciência. A Ufologia não é uma ciência e o almejado tratamento holístico não passa de uma mistura inconveniente e fantasista. Dar trato científico e ao mesmo tempo de credulidade mística e esotérica a algo, não é holismo. Segundo BRIAZACK e MENNIK6:


Em meados do século XX, entretanto, o homem começou a perder a fé em si próprio e, especificamente, em sua capacidade para resolver problemas. Consequentemente, esses problemas se tornaram maiores e mais insuportáveis do que deveriam ser. A perda da confiança do homem em


6 O GUIA DOS UFOS, BRIAZACK, Norman J. e MENNICK, Simon. São Paulo:

1979, Difel, PÁG. 103

si mesmo teve um outro efeito. Ele começou a procurar um salvador, alguém para resolver os muitos problemas que se tornaram aparentemente insuperáveis. O advento da era espacial abriu a possibilidade de salvadores na forma de astronautas de outros planetas. Entretanto, a pergunta que deve ser feita é: supondo que ufólogos, a maioria com desconhecimento de áreas científicas, se encontrarem diante da comprovação de que UFOs sejam naves de outros planetas, o que farão? Empunharão cartazes com os ditos “Eu já sabia!”, ou “Eu não falei!?”. Encerrarão suas carreiras de palestrantes e sairão com um sorriso amarelo vitorioso no canto da boca?


Se e quando prevalecerem hipóteses que referendem essa origem e constituição do fenômeno ufológico, terão sido confirmadas pelas ciências. Nas mãos da ciência está todo e qualquer fenômeno. Inclusive aquele que se tem de mais rico na ufologia – o próprio ufólogo. Que tem superado a imaginária complexidade de uma nave extraterrestre. talvez em pé de igualdade com as testemunhas. Com a palavra psicólogos, psicanalistas, sociólogos, antropólogos... Não se pode conferir a um tema, com desespero de causa, um trato transcendental, em razão de não se poder chegar a um termo. Ufólogos se mostram inconformados com a passagem do tempo. Não arranjam saída diante do passar da vida, que não a de partirem para a postura mística. É pela consciência de que o tempo seja inexorável, os dias não  lhes  trouxeram  o  que  sempre  desejaram.  Está

justificada a gana de dar ao fenômeno um tratamento com viés sobrenatural. A verdade é forçada por suas crenças. Vão frontalmente em contrário da verdade em ciência, alertada por POPPER, citado por ALVES7:


A ciência não é um sistema de declarações certas e bem estabelecidas, nem é ela um sistema que avança para um estado final. Nossa ciência não é conhecimento (episteme): ela não pode nunca pretender haver atingido a verdade, nem mesmo um substituto para ela, como a probabilidade” (Karl Popper, The Logic of Sientific Discovers, parágrafo 85, pág. 278).


Holismo não é mesmo a misturança estéril que ufólogos desejam. É interessante a lição de PRACONTAL8 ao dizer, literalmente, que,


...é revelador observar que a oposição entre neurobiologia e psicanálise parece pouco a pouco sair de moda. Pesquisadores como Olivier Sachs, Jean-Didier Vincent ou Antonio Damásio reabilitam o estudo das emoções, das paixões ou da personalidade em seu conjunto, que o reducionismo dominante tinha rejeitado como pouco suscetível de investigação científica. O grande interesse do pensamento freudiano no universo atual das ciências do espírito é talvez mostrar que não se explicará o


7 FILOSOFIA DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG. 42

8 A IMPOSTURA CIENTÍFICA EM DEZ LIÇÕES. Michel de Pracontal, Editora UNESP, Tradução de Álvaro Lourencini, São Paulo 2004.

todo do homem com um único tipo de teoria. Que as ações, os comportamentos, os acontecimentos que afetam um indivíduo e dos quais ele participa não se reduzem a uma série de mecanismos.


Ciência não se compatibiliza com transcendência e pensamentos de fundo exclusivamente emocional. Estes nada dão de conhecimento, o que se extrai de ALVES9, que cita HUME quanto a certos produtos da imaginação: Contêm (eles) qualquer raciocínio abstrato referente à quantidade ou números? Não. Contêm qualquer raciocínio experimental, relativos a matérias de fato e à existência? Não. Lançai-os então às chamas, pois não podem conter nada mais que sofismas e ilusões (Hume, op. Cit., pág. 173). Desacostumados a termos filosóficos, científicos, afetos à metodologia, aos princípios da dialética e ao próprio raciocínio lógico, ufólogos fazem festa quando leem algo que lhes soe como acadêmico. Contudo, sempre com vieses capengas. Um deles aconselhou aos seus fuzarquentos seguidores, que diante do estudo de caso em ufologia, portem-se com o uso da Navalha de Occam. Qual seja, em filosofia da ciência aconselha-se o princípio metodológico que leva à preferência pela mais simples. E justificou: se diante  da  análise  de  um  caso  ufológico  tivermos




9 FILOSOFIA DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG. 447

complicadas explicações de cientistas, em termos de psicologia, astronomia, meteorologia, ou seja

lá o que, então basta a gente escolher a mais simples – o fenômeno é uma nave de outro planeta. Esta é a mais simples. Simples! Tão simplório raciocínio dispensa maiores comentários.

Prosopopese e Transtornos Mentais: É importante notar que a personificação excessiva ou inadequada pode ser um sintoma de alguns transtornos mentais, como:

  • Transtorno de Personalidade Histriônica:

Indivíduos com este transtorno podem usar a personificação de forma exagerada para chamar a atenção e obter validação social.


Brincadeira que se supõe séria


Essa confusão conceitual faz do holismo uma vítima. A tendência de imitar a ciência faz um ufólogo dizer à frente de milhares de estudantes algo como “vocês já sabem que o governo brasileiro admitiu que estamos sendo visitados por inteligências extraterrestres, não sabem?”. Ou que a divulgação de uns vídeos pela Marinha Americana, com admissão pelo Pentágono, signifique “está provado que estamos recebendo a incursão de naves de outros planetas”. E por aí vai. Por aí vai a ufologia.

CHALMERS10 ensina que técnicas observacionais apropriadas podem estabelecer a verdade ou a falsidade, pela observação. Mas técnicas de observação são muito mais do que simplesmente ver com os olhos. Fala em uma ideia que muitos têm, de que


dois observadores normais que estão a ver o mesmo objeto ou cenário do mesmo lugar “verão” a mesma coisa. Uma combinação idêntica de raios de luz atingirá os olhos de cada observador, será focada nas suas retinas normais pelas suas lentes oculares normais e produzirá imagens similares. A informação similar viajará então para o cérebro de cada observador através dos seus nervos ópticos normais e consequentemente os dois observadores verão a mesma coisa... veremos por que razão esta espécie de imagem é profundamente enganadora. As experiências visuais não são determinadas apenas pelo objeto visto.


E ressalta o que N. R. Hanson (1958) afirmou - “há mais na visão do que aquilo que se encontra no globo ocular”.

O que separa a ordem científica (pertencente às ciências) da ordem do senso comum (do mundo da ufologia), diz ALVES11, são os absurdos:

Os esquemas do senso comum são absurdos, enquanto isto não acontece com a ciência. Religião. Milagres, astrologia,


10 A CIÊNCIA COMO CONHECIMENTO DERIVADO DOS FATOS DA EXPERIÊNCIA.

CHALMERS, Alan F., pág. 3 http://ateus.net/artigos/filosofia/a-ciencia-como- conhecimento-derivado-dos-fatos-da-experiencia/.

11 FILOSOFIA DA CIÊNCIA. ALVES, Rubem. São Paulo: Ars Poetica, 1996, PÁG.448

magia: não são todos absurdos que as pessoas de senso comum frequentemente aceitam? O que é um absurdo? O mundo de cada um é sempre lógico do seu ponto de vista.


Aplicar ao estudo de um fenômeno várias vertentes das ciências, é holístico. Misturar um procedimento científico, por mais singelo que seja, com bizarrices esotéricas, é apenas místico. É difícil fazer uma pseudociência como a ufologia escapar aos enganos. Os ufólogos se lamentam, mas o fato é que sua “pura ciência” parece ser uma brincadeira diante do meio científico. A ignorância científica caracteriza os crédulos seguidores de seitas e ideias místicas fantasiosas. Quando a educação científica se enfraquece, a sede de mistério aumenta exponencialmente. Trotsky assim descreveu e é lembrado por SAGAN12. E então a ufologia se torna infantil, como qualquer pseudociência, conforme destaca DAWKINS13. Este que se gostássemos de apelo à autoridade trataríamos como uma das maiores autoridades em Biologia da atualidade, nota que se há perguntas ainda sem resposta pela ciência, não será a religião capaz de respondê-las.





12 O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS. SAGAN, Carl. São Paulo:

Companhia das Letras, 1997, PÁG. 32

13 DEUS, UM DELÍRIO. DAWKINS, Richard. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, PÁG. 87

À maneira de conclusão


KUON14, na obra por ele organizada e que coloca em pratos limpos as ideias da Ufoarqueologia, sustenta uma conclusão. Permite dizer, sem constrangimento, que aqui não se lutou contra a fantasia humana. Não se desvalorizou o que a fantasia tem de benéfica a um raciocínio salutar e inspirado. O que se comentou foram as exacerbadas fantasias místicas apartadas da razão. A fantasia é uma das forças motrizes de todas as formas de pensamento, inclusive a científica. Mas não aquela fantasia que arrasta o pensamento para fora da razão, levando-a aos sonhos do divino, do demoníaco, do oculto. Neste sentido, no livro que sustenta a não origem extraterrestre dos deuses, há o dito de que Roger Bacon, o filósofo e físico do século XIII, poderia ter avançado a sua profecia sem o dom divino da fantasia: "Serão construídos navios sem remos e os maiores serão dirigidos por um só homem. E haverá veículos incrivelmente velozes, que não serão puxados por animal algum. E máquinas voadoras. E outras que, sem perigo algum, poderão mergulhar até o fundo dos mares e dos rios".

Todavia, a fantasia acompanhada pelo fascínio inspirador, aquela que amplia os horizontes das ideias, entretanto limitadas pelo que seja plausível e racional, não anda longe das aquisições científicas. O livro organizado por


14 VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS?. KUON, Ernst, coordenador. São

Paulo: Melhoramentos, 1972, E-BOOK em Word, PÁG. 9

Kuon15, que apresenta versões plausíveis e elegantes contra a hipótese dos ”deuses astronautas”, aplaude as mentes que se atraem pelas maravilhas do universo:

Muitas pessoas estão completamente equivocadas pensando que a fantasia não combina com o trabalho científico. A fantasia é a força motora decisiva do progresso humano. Sem a curiosidade e sem a fantasia o homem teria ficado em estado primitivo. Sem fantasia e imaginação, sem a vontade de 'ver o que está por detrás', nem invenções, nem descobertas teriam sido feitas.























15 VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS?. KOUN, Ernst, coordenador. São

Paulo: Melhoramentos, 1972, E-BOOK em Word, PÁG. 9

6 Disco voador existe

Disco Voador é o nome popular e folclórico dado ao que a partir do final da Segunda Guerra Mundial foi classificado como “Objeto Voador Não Identificado”, Óvni ou UFO. Disco Voador existe como fenômeno. Entenda-se fenômeno, na significação filosófica e científica atual, como o objeto, o ser em si, ou objetivamente, um fato.

Até que se chegasse a admitir desta maneira, o fenômeno foi considerado como a mera aparência da coisa que se manifesta, depois passou a demonstrar apenas o objeto do conhecimento humano, portanto, dentro dos limites do que o experimentador ou o observador consegue entender.

Veja em detalhes o que explica Abbagnano, às páginas 436 e 437. Este tipo de conceito já nos permite, sem o menor embraço, notar que o Disco Voador é o tipo do fenômeno que não só passou pelas estradas do tempo como ainda está parado nele. Na compreensão dos homens, continua sendo o que as pessoas pensam que ele seja, pela mera aparência conjugada com o entendimento subjetivo das testemunhas e dos ufólogos.

No entanto, pode ser, já que não tem seus contornos fenomênicos definidos, algo com o que nem sonhamos. Tudo o que é incompreendido, ou não explicado, pode ser qualquer coisa, inclusive “Nave Extraterrestre”, como fazem questão os crédulos condicionados por suposições culturais

populares. Só que essa hipótese, que recebeu nos meios ufológicos a alcunha de “HET” - Hipótese Extra Terrestre, abandonado o excesso de exigência dos cientificistas, é apenas possível porque há uma enorme diferença entre o que seja possível e o que seja provável, mesmo que alguns não consigam compreender essa distinção.

Viagens espaciais são possíveis. O homem já experimentou e provou. Existir vida extraterrestre, e vida inteligente, é possível. Há vida em um planeta que batizamos de Terra, mas é pouco provável, se formos condescendentes para não fazermos uma afirmação negativa arriscada, que viagens intergalácticas ou mesmo de outros mundos distantes da nossa galáxia, até a Terra, sejam feitas.

A existência de vida em outros planetas nos oferece maiores chances de ser provável, ainda mais agora com a muito singela oportunidade dada pela descoberta praticamente diária de exoplanetas, os planetas fora do Sistema Solar. Contudo, se essa (ou essas) vidas são inteligentes a ponto de terem desenvolvido ciência e tecnologia capazes de lhes permitir empreender longas viagens pelo espaço, há um literal abismo negro de meras conjecturas. Eis um superficialíssimo resumo do que a Ciência hoje entende.

Então estamos diante de dois fatores interessantes: Um deles é o de que os fenômenos estudados pela Ufologia, sendo ou não frutos de ilusão, de visões, de alucinações,

enganos com ocorrências pouco comuns e notáveis para o leigo em certas áreas científicas, produtos de componentes psicossociais que o construíram através dos tempos, o fenômeno existe. O difícil é tentar admitir isto com a pessoa livrando-se do condicionamento da ideia de que, falou UFO, falou “nave extraterrestre”.

Pessoas apartadas do interesse pela Ufologia, tais como cientistas, jornalistas, testemunhas e também ufólogos, simplesmente se recusam a fazer tal separação. Por isso tornam o disco voador um fenômeno que poderíamos dizer indissociável. A ufologia que hoje desponta de maneira muito acanhada tenta retomar o velho sonho de ver o meio acadêmico levar o fenômeno a sério. Parece lutar contra um gigante invencível – a magnitude que ufólogos crédulos já deram à “hipótese sagrada” da origem extraterrestre. Continua sendo um aparelho de tecnologia inatingível que traz a visita de seres “não humanos”. Esses ufólogos demonstram seu profundo amor por encontrar termos e neologismos, expressões que, de um lado, tentam disfarçar a ausência de fundamento científico; por outro extremo, darem à Ufologia essa base a qualquer custo, mesmo que originado de brincadeira de ciência. Sagan consagrou – com total razão – a expressão preferida dos céticos ortodoxos, ou radicais. Chamar a Ufologia de pseudociência.

Admite-se um lado até agora não explicado de fenômenos raríssimos. É o mais difícil de ser objeto de reflexão. Que estatísticas, que estudos verdadeiramente

científicos, já teriam sido feitos, para demonstrar as evidências de que existam UFOs ainda não explicados? Por mais que se procure, o encontro é penoso. E isto coincide exatamente com o lado fugidio, furtivo, raro, de um fenômeno que, ao menos após esgotadas todas as probabilidades explicativas, é de um número a cada dia menor.

Alguns estudiosos insistem por atestar algo totalmente desprovido de premissas válidas. Se as ocorrências continuarem recebendo explicações convincentes, a espera em um fato que possa comportar uma causa ainda não considerada tornar-se-á uma vã esperança.

O mundo particular da Ufologia deverá passar por um forte e dolorido processo de recondicionamento, para se tornar um campo de estudos de comportamento científico. Esta última esperança, inspirada com o passar do tempo em vagos e esparsos casos, ainda pode se dar ao luxo de adotar o conceito de Hynek, sobre o que seja um Óvni, em seu "Ufologia uma Pesquisa Científica" (Nórdica, 1980:34). Para que um objeto voador seja não identificado, deve ser não identificado para todos e não somente para a testemunha. Nem apenas para os ufólogos...


Óvni é apenas o que não se pode identificar?


"Só pode ser classificado como ÓVNI, justamente por não ser possível identificar, mas não quer dizer que seja algo

de fora da Terra". É o que dizem alguns ufólogos de linha não místico-religiosa, termo a que prefiro no lugar de científica, porque a Ufologia nem sonha em ser ciência. Ouso discordar em parte.

A semântica consagrou o conceito de que Óvni, Objeto Voador Não Identificado significa algo no mínimo extraordinário. Óvni não quer dizer, aprioristicamente, "nave extraterrestre". Porém está atrelado a algo desconhecido, vale dizer, associado inevitavelmente a algo como "fenômeno estranho". Trata-se de luzes, formatos típicos, algo que voe ou se mantenha no ar. Aqui não se discute se a visão foi de algo objetiva e fisicamente real ou se a descrição apenas decorre da impressão visual da testemunha.

Por vezes queremos classificar de Óvni algo que foi fotografado, filmado ou avistado, mas que comporta diversas hipóteses de explicação. São várias as razões: Falta de referência, ausência de contornos definidos, falta de aparência para comparação com algo conhecido, pouca resolução etc. Então, não quer dizer que seja objetivamente um "Óvni", quer para pesquisa, quer para opinião, quer para análise, quer para conclusão. A foto, por exemplo, como candidata a compor um conjunto, seja de provas ou meros indícios, é um material completamente inválido, sem qualquer utilidade, quando assim se apresenta. Repito, quando a foto ou o filme, no caso, venham completamente

desprovidos de aspectos que permitem uma análise segura.


Se dizemos que é Óvni, automática e fatalmente estamos atrelando aquilo que tenha sido registrado) a um mínimo de possibilidade de ser algo desconhecido. Não se pode tomar o termo “desconhecido” como simplesmente não passível de se afirmar o que seja. Isto é muito importante em dialética. As pessoas geralmente acham difícil de compreender. Desconhecido é algo ainda não conhecido, e aqui a obviedade foi proposital. Por exemplo, e apenas a título de argumentação, se não é avião, inseto, cinza, pó, pássaro, balão, pipa, bola de bexiga etc., o desconhecido já abre uma enorme porta para se supor que se trate de algo extraordinário. Como seria o Óvni, como seria uma "nave extraterrestre".

Em resumo - primeiro: deve-se parar de fazer tal sofisma e claramente com o propósito de deixar em aberto a possibilidade de o material, nas condições comentadas, ser algo desconhecido, extraordinário, pois que é uma foto ou é um filme simplesmente inúteis sem qualquer validade, que não se constitui como material proveitoso, não um Óvni, e não se trataria mesmo de algo desconhecido, nem de não identificado.

Hynek foi bem claro no seu "Ufologia uma Pesquisa Científica". Para que um objeto voador seja não identificado, deve ser não identificado para todos e não

somente para a testemunha. Isto é fácil de ser entendido através de um exemplo muito singelo.

Se, digamos, eu que nada entendo de aeronáutica, observar o voo de um caça sofisticado, que nunca passou por estas bandas, e chamar de Óvni, certamente não o será para quem entende de aviação. Mas, se esse caça passar em altitude muito elevada, em velocidade extrema, com tempo ruim, se eu o fotografar tendo a minha foto apresentando um ponto sem qualquer referência, sem cor real, sem resolução mínima à apreciação atenta, totalmente borrada, desfocada, é bem possível que nem os entendidos de aeronáutica e aviação poderão atestar que eu fotografara um caça.


É porque o material a ser analisado - a foto, não se presta à análise. Jamais pode ser classificada como registro de um Óvni, ainda que quem a tenha analisado não ache ou não acredite que Óvni seja algo extraordinário e ou misterioso. Alguns ufólogos e não ufólogos podem deixar claro que não aceitam que Ovni seja extraterrestre, porém, não é esta a impressão que darão à pessoa que enviou a foto para análise, principalmente se disserem que, "por absoluta falta de condições de afirmarmos o que seja, então é Ovni". Os ufólogos da linha supostamente científica não precisam temer deboche, se prestarem atenção a isto e deixarem de chamar de Óvni o que simplesmente não permite uma análise e uma conclusão plausível. Isto porque,

se uma fotografia ou um depoimento não oferecem dados e aspectos que permitam uma análise mínima, a conclusão deve ser simplesmente “inconclusivo”, ou “inválido à análise”. Jamais Óvni, porque isto é uma nomenclatura já incorporada à cultura, aos dicionários, ao folclore, enfim, à Ufologia. Óvni não é algo identificável, mesmo que a fotografia ou o depoimento não tragam dados para sua identificação.

Em suma, se nem uma terminologia de significado válido podemos usar quando não há condições de análise, que dirá então de utilizarmos um termo ufológico? Uma foto naquelas condições não nos permite afirmar sequer que o que foi fotografado seja objeto, muito menos voador ou algo provocado pelo próprio equipamento. Exemplo: cinza "voa"? Mancha na lente "voa"? Um grão de poeira "voa"? Não. Essas e outras coisas conhecidas são “anômalas”, na palavra mais utilizada atualmente – UAP? Não!

A foto ou o filme com essas características apresentam algo inviável de ser afirmado ou mesmo suposto, jamais um Óvni. Se, ao contrário fosse, estaríamos atestando que o material registrara algo desconhecido ou "não identificado" para todas as áreas do conhecimento relacionadas. Eis aqui um equívoco: "Óvni é tudo aquilo que está no céu e que não foi possível se identificar". Óvni é tudo aquilo que está no céu e que seja não identificado, no significado sugerido por Hynek. Há uma enorme diferença.

7 A Ufologia e a ideia do Et

Os ufólogos constroem um mundo que faz jus à metáfora de ser esférico. Fabricamos nossa bolha que flutua em um espaço imaginário, rodeada de galáxias e planetas que, ao que pareceu até agora, são completamente vazios de vida. Ao menos de vida inteligente. Mas o grande número de observações de UAPs, ou Ovnis ou UFOs, a gosto do freguês da ufologia, demonstra o contrário. Ledo engano. O aparente aumento de casos não passa de ampliação do fascínio, por parte do público, pelo fenômeno que é, antes de tudo, de natureza sociocultural. Isto é um marco indelével da mera alegoria que fazemos com nossa ideia de nave extraterrestre, a superar as hipóteses mais plausíveis. É uma alegoria desprovida de exigências do rigor científico, que já era tratada no Relatório Nash-Fotemberry de 1952 (THOMPSON, 1993).


Ideias renitentes


É improvável que nós, ufólogos, aceitemos explicações mundanas, seculares, principalmente as que atribuem a ação puramente mental para a maioria das observações. Se por um lado não é necessário que uma testemunha de Óvni/UAP seja transtornada, é bem claro que o fenômeno parece preferir se transfigurar de alucinação, quando não ocorreu no mundo real. Nossa má informação coloca uma

alucinação ao lado de ocorrências raras oriundas de distúrbios mentais, ou de fatores exotóxicos, quando é muito mais comum do que se pensa e ocorre com pessoas absolutamente normais. Alucinações e ilusões podem acontecer na vida diária e interpretadas como sobrenaturais (SAGAN, 1997). No caso da ufologia, não há diferença do que seja sobrenatural ou mesmo incomum, “extraterrestre”, “não humano”, conforme ela mesma prefere.


O papel do ufólogo na produção do fenômeno


O problema a ser solucionado, portanto, não se complica na testemunha ou no próprio fenômeno supostamente exterior. É, antes de tudo, questão de como a análise dos fatos é feita. Em uma análise de casos – a ufologia autointitulada “científica” sempre desejou viver disto – o que mais interessa é o resultado apresentado com clareza, do contrário não haverá compreensão desse resultado (ALVES, 1996). O que, obviamente, não se confunde com eventual complexidade que um método possa ter ou que o próprio evento sob análise seja em si composto de vários pontos de complexidade. Portanto, isto não afronta o axioma da Navalha de Occam, no sentido de que, diante de várias hipóteses, ideias e até suposições, o que é mais simples costuma ser o correto.

Contudo, os ufólogos adotam uma imagem mitológica do fenômeno que tentamos estudar. Ele é um mito muito antigo, ao inverso do que argumentou JUNG (1957). Buscamos nos recônditos do tempo, uma explicação definitiva, que se tornou imutável desde os primeiros adventos de grupos de estudo ufológico: A origem extraterrestre, a nave espacial que chega até a Terra, pilotada por seres inteligentes, atualmente tratados de “não humanos”, uma expressão sofística para disfarçar o que sempre entendemos como “seres de outros planetas”.

Ainda que não se possa duvidar de que outras crenças vêm adotando o fenômeno, tais como em seres “dimensionais” (de dimensões, o que aliás é de uma obviedade risível), ou espíritos, ainda anjos e, claro, demônios. A origem em outros planetas continua a eleita.


A ufologia erra na sua própria conceituação


A hipótese Et é de tal forma arraigada, que é costume as pessoas acharem que “a ufologia é o estudo da vida extraterrestre”, o que se vê inclusive em canais da Internet frequentados por mentes fantasiosas e alimentados por gente que ainda mais o é, confundindo de forma patética o que é objeto de estudo da Astrobiologia, ramo da Astronomia. Não se contenta a ufologia por ser “apenas” o estudo de fenômenos aéreos, ou anômalos, não identificados.

O fato é que, para isto, as pessoas sempre compararam o que viram em revistas em quadrinhos, livros de ficção e em filmes, transpondo a figura do astronauta ou do extraterrestre para o que a própria humanidade já conseguiu – viajar ao espaço e usar trajes espaciais. É uma boa e salvadora analogia para nossa ignorância, até porque esse é um método utilizado pela própria Mitologia (CAMPBELL, 2002).

Então. discos voadores são, necessariamente, naves, que viajam pelo universo, vindo até a Terra, um planeta habitado e nele mora o homem, modelo para extraterrestres evoluídos (porque os mais similares a bichos tal como em alguns casos só podem ser os “pets dos seres inteligentes”). Não é humor meio sem graça. Um ufólogo declarou isto recentemente em um podcast dos mais festejados. Eis então a ufologia vivendo de refletir em torno de analogias Universo/Terra/Homem (KAISER, 1971).


Recusa de aceitar explicações


O recente aumento do interesse popular pela ufologia deve-se ao sucesso de canais da Internet. Em razão disto, os ufólogos temos sido mais ufanistas do que nunca, daí emitirem opiniões e disparar comentários com uma firmeza e segurança jamais vistas. Essas ideias já constituem padrões de declarações com os ares de que são fulminantes dos argumentos em contrário. Como exemplo, quase todos

acham que observações deflagradas por questões meramente psíquicas, ou em virtude de má informação, não servem à explicação de muitos casos. A razão é de ordem puramente material, física, ainda que muitos ufólogos se gabem de adotar uma postura “holística” quando misturam suas crenças religiosas, sua fé em um plano espiritual, com ocorrências ufológicas. Qual seja, os UAPs ou UFOs são objetos físicos, palpáveis, concretos, porque materiais e são em muitas ocasiões detectados por radar.

E se assim o são, não podem ser atribuídos apenas a fatores puramente humanos da testemunha. No que têm total razão, porque nem roda observação ou manifestação tida por ufológica é resultante de alucinações, sonhos ou ilusões.

Entretanto, nem tudo deve ser necessariamente uma coisa ou outra. Pode ser que nada realmente esteja perceptivamente presente, mas que é detectado pelo radar. Não julgue este argumento uma loucura. Pesquise sobre “anjos de radar”. É o insuperável SAGAN quem expõe, ao comentar algumas hipóteses naturais para alegados Óvnis:


Também é possível que fossem pequenos cometas dissipando-se na atmosfera superior. Pelo menos algumas informações de radar eram causadas por ´propagação anômala´- ondas de rádio viajando em trajetórias curvas devido a inversões da temperatura atmosférica. Tradicionalmente, eram também chamadas “anjos” de radar – algo que parece estar ali mas não está. Era possível a ocorrência de visões percebidas simultaneamente pelas

pessoas e pelo radar, sem que nada houvesse ´naquele ponto´.


Muitas explicações são cabíveis. Até o espanto que alguns têm diante de relatos que narram objetos passando a aparente baixa altitude, em grande velocidade e se desviando de obstáculos. Entra em campo o famoso “só pode”. Só pode ser um UFO (sempre com a ideia de um disco voador). Porém, o que antes era experimento bélico secreto, na década de 1960, hoje é fartamente conhecido. Mísseis com dispositivos capazes de detectar e fazê-los desvia de obstáculos em voo a baixa altitude, como convém a um míssil eficaz.

Dessa forma, a alegação de ufólogos de que UFOs detectados por radar confirmem algo fisicamente presente, tal como entendemos, torna-se vazia.


Seres humanos “não humanos”


Não tem qualquer sustentação, a crença de que seres evoluídos capazes de pilotar naves interplanetárias são antropomórficos. Na verdade, são antropomorfizados por nossa crença de que um ser evoluído tenha cabeça, tronco e membros e, de preferência, com uma compleição física e feições harmoniosas e bonitas, fruto do condicionamento óbvio de que não conhecemos outras espécies inteligente. E, como os mais inteligentes por aqui somos nós, então os de fora também devem ser bem parecidos. Afinal, estamos

acostumados a ser educados sob as imagens mitológicas de termos sido criados à imagem e semelhança de uma entidade superior ao próprio Universo que criou. Ora, admitimos que um tipo de ser magro (ainda que nitidamente humano), com olhos esbugalhados e vermelhos, com pele viscosa e veias saltadas, com três dedos nas mãos e pés bifurcados, faça parte da tripulação de uma nave que, sabe-se lá como e com qual tecnologia, atravessou o cosmo e veio cair por aqui.

São os “pets”, só pode. Só se esquecem de que, se são seres extraterrestres, não quer dizer que sejam humanoides, pouco importa nossa paupérrima tentativa de achar que os termos comportem muita diferença. Ainda que falemos de “bichos” de estimação de tripulantes de UFOs, damos-lhes a composição antropomórfica.


Alguém sabe o que é um extraterrestre?


Claro que vida extraterrestre não quer dizer vida humana (NÁUFEL, 1979), o que seria um tanto incongruente segundo algumas correntes da Biologia, porque ser humano habita é a Terra, pouco importando se em outros orbes houve condições de desenvolvimento da vida que rumava para um ser antropomórfico. Ou se, ao inverso, não é admissível ser humano nativo e habitando outros planetas. Ficarmos restritos à hipótese extraterrestre, que já superou uma das maiores dúvidas científicas da história, a

de que se existem mesmo seres extraterrestres. Sem essa ideia, a ufologia fica sem graça. Nós que lidamos com pseudociências, experimentamos prazer e encantoo muito maior quando nos é exposto o resultado científico e bem fundamentado de um estudo. Há fatos extraordinários da própria natureza que dão à ciência aspectos fascinantes (DAWKINS, 2005).

Trata-se de um aprendizado bem maior que simplesmente registrarmos supostas visões de pessoas do meio rural simples, e por isto achamos que não mentiriam ou que não narrariam algo que somente um “civilizado” conseguiria. E nosso ufanismo se amplia por acharmos que esse nosso método científico seja imbatível.

A aparência de uma imaginária nave extraterrestre foi se amoldando com o tempo, caindo nos registros quantitativos, mudando suas formas e se tornando ainda mais furtiva, a despeito do sensível aumento de relatos devido à facilidade oferecida pela internet. Tal como acontece em outras áreas como a da antes chamada paranormalidade (hoje também anomalia psíquica), o próprio fenômeno foi diminuindo com o desenvolvimento das técnicas de investigação e de fotografia e filmagem (PRACONTAL, 2004).

Há pouco tempo, expus na ufologia a súplica de que algum ufólogo me dissesse o que é, afinal, uma nave espacial de outro planeta. E indaguei quem teria condições de atestar o que seria uma nave dessas ou mesmo

descrevesse uma antigamente chamada “Entidade Biológica Extraterrestre”. Certamente não seria qualquer ufólogo ou testemunha travestida de arauto de seres evoluídos. Se a ufologia se sente à vontade para comparar imaginários ETs com ser humano, isto adota um frescor e uma refrescante ausência de limites de imaginação.


Narrativas e registros flutuam no tempo


Ao inverso do que pensam os que preferem a observação de seres do espaço pelo homem da Idade do Bronze, e de outras eras mais antigas, a similaridade de deuses desenhados ou esculpidos com astronautas modernos, veio somente depois, isto é, depois dos “deuses” dos trajes espaciais e astronautas. Como quer que tenha sido, o homem antigo antropomorfizou seus deuses, tal como nós demos aos nossos “deuses” (astronautas) o aspecto humano. Foi a partir daí que aprendemos a correlacionar e associar deuses antigos a astronautas extraterrestres.

A imagem do ser extraterrestre humano é atraente, fascinante. Atualmente, é mais difícil separar tal imagem do fenômeno, apesar das inúteis tentativas de se apartar uma ocorrência hoje chamada de “anômala” do clássico disco voador/nave extraterrestre. Tal ícone do grande mistério supera qualquer discussão a respeito de viagens interestelares, sobrevivência de um organismo vivo no

espaço por longo tempo, e tudo o que torna a hipótese extraterrestre para os UFOs algo ainda distante do que possa ser provável. E é exatamente isto que torna a hipótese atraente para o leigo, para o público em geral. Poucos se dão ao luxo ao menos de tentar imaginar o quanto de inúmeras ciências são implicadas em uma hipótese dessa natureza.

Por isto, os ufólogos não desistem nem querem desistir dessa ideia, antes de tudo perplexa. Se acabar o mistério, acaba a ufologia. Ou prefeririam alguns pragmáticos de atualmente chamá-la de algo como “Uapologia”? É uma sugestão pobre, contudo, quando o impacto da mensagem acaba por predominar sobre o seu conteúdo, o real se enfraquece (PRACONTAL, 2004).

Mesmo que a ufologia anuncie se dedicar a um fenômeno recente, ele a supera de forma perdida no tempo. Observações não são atuais, abduções sempre foram reportadas, pousos marcaram o solo através das eras. Tudo o que constitui a miscelânea da casuística ufológica apenas mostra que, tal como hoje em dia, as pessoas moldam ocorrências quando tentam registrá-las ou interpretá-las.


A insistência na crença em extraterrestres


É consenso que atribuir-se o início das aparições de UFOs com Kenneth Arnold é um erro (THOMPSON, 1993), bem como é um equívoco achar que somente seitas

modernas pregam que seres angelicais virão do espaço para nos salvar de alguma hecatombe.

O arrebatamento é uma concepção antiga, mas que adquiria feições de graças concedidas pelos deuses por diversos meios e em vários aspectos da vida humana e coletiva (CAMPBELL, 2002). O entendimento de que pessoas seriam escolhidas para irem ao céu no final dos tempos derivou dessa espécie de conceito.

Quer como ocorrência luminosa ou no espaço, voando ou apenas flutuando pela sua aparência de movimentos, quer como uma projeção maior dos entendimentos coletivos, como o arrebatamento ou vinda de seres superiores para salvar um percentual da humanidade, o fenômeno ufológico acaba por se firmar na crença dos que a ele dedicam seu estudo ou sua aceitação incondicional. Adotado universalmente como modelo de uma nave espacial extraterrestre, o UFO recebeu uma definição quase impossível de ser demovida. Não fosse isto, talvez observações do que se consideram UFOs nem seriam registradas ou dadas como relevantes, porque produzidas por fatores conhecidos pela física, pela astronomia, pela geologia, pela meteorologia, enfim, por diversas áreas científicas afeitas.

Causas construídas pela imaginação


O fenômeno hoje é caracterizado a partir de conceituações que, se não tivessem sido elaboradas, nem teria assumido o poder de atração a partir do mistério. Asserções intelectuais sobre as coisas permitem perceber e observar fatos que sem elas nem são notados (CHALMERS, s/d). Por um lado, isto permite saber que certos fenômenos realmente acontecem, porém, essas asserções podem servir de produtoras dos mesmos tipos de acontecimento, portanto, imaginário.

Essa dicotomia reflete-se também em chavões e frases de cunho filosófico-científico. Talvez o maior exemplo seja o uso do axioma “não há efeito sem causa”, utilizado inclusive para argumentar que prova a existência de Deus (VALDAMERI, 2013). No entanto, a caracterização da causa torna-se o maior problema, pois que não é o efeito que serve à evidência de algo que o gerou. Diz-se de algo específico, em nexo causal com esse efeito. Somente para ilustrar, as coisas não surgem, não passam a existir apenas porque foram “criadas”, o que implica necessariamente uma inteligência criadora. Surgem, inclusive pelo acaso e, o que é mais comum, pela junção de fatores, elementos e condições absolutamente naturais, logo, espontâneas. Quando se pensa em Ufologia, o axioma é ainda mais usado de forma equivocada, enviesada. Isto é, uma ocorrência manifestada por luz no espaço, em movimento ou mesmo

alegadamente conduzindo algo ou alguém, então “só pode” ser uma nave espacial. Mais ainda, extraterrestre. É uma forma pobre de sofismar.

No caso da Ufologia, o efeito é nitidamente confundido com uma suposta causa. Não se conhece a causa para que o efeito desejado seja estabelecido. O que se conhece é mesmo, nos raros casos considerados com possiblidade de serem autênticos, o próprio fenômeno, ainda que percebido concretamente. Todavia, a causa adotada como verdade absoluta torna-se uma premissa de pensamento. e de proposição completamente inválidos. Não se sabe o que é uma nave espacial extraterrestre, do que é composta, que tecnologia detém, que técnica usa para transpor as distâncias e, principalmente, o que é a “entidade biológica” que a construiu e pilota, muito menos que tal entidade e a nave existam. Sendo mais incisivo, sequer se seres extraterrestres realmente existam, então a causa afirmada pela Ufologia é irreal, insustentável.


Comportamento humano no ET


É comum que as pessoas misturem seus próprios comportamentos com o comportamento que vislumbram em UFOs/UAPs. Uma vez mais, a antropomorfização transpõe o humano para o que a própria ufologia considera “não humano”, o que em si mesmo já é uma flagrante contradição. As relações de causa e efeito são um princípio

que pode levar a muitos caminhos diferentes (ALVES, ‘996). Assim, podemos sem susto entender que a Ufologia restringe o efeito que deseja (manifestação de extraterrestres) a uma causa que acredita estar diretamente ligada a ele. Então o chamado nexo causal direciona seu pensamento para uma causa isolada, preferida, reinante – a vinda até a Terra de naves espaciais de fora. Esta linha coloca o ufólogo no conceito de um pensador sujeito a estímulo e a resposta diretamente advindos da sua crença. É o que a Psicologia dos reflexos, inspirada em Skinner e em Pavlov (ALVES, 1996) considera. O ufólogo perde um literal universo de hipóteses e de explicações tão fascinantes quanto sua inabalável convicção na visita de verdadeiros deuses astronautas.

Não é difícil de entender. Se a ufologia alega que trabalha com fatos, evocando o equivocadíssimo adágio de que “contra fatos não há argumentos”, ela o faz “narrando narrativas”, ou seja, quase sempre descrevendo o que protagonistas de casos ufológicos disseram ou alegaram. Por exemplo, “Antonio Vilas Boas foi paralisado por um objeto luminoso, levado à força para o interior deste e manteve relação sexual com uma eteia”. Há aqui apenas a narrativa de um fato. E reproduzida da testemunha. Para sair desse campo restrito de raciocínio, a Ufologia precisaria estudar um caso em que seria possível descrever tecnicamente a suposta “nave”, de que coordenadas e de que astro ela teria vindo, que combustível ou força utiliza

para se movimentar no espaço a velocidades vertiginosas e inimagináveis, que conhecimento e técnica de astronáutica usou para entrar em nossa atmosfera, qual a constituição orgânica, biológica, dos seres que levaram a testemunha à força para o interior e, principalmente, que probabilidade existe, em termos biológicos, de o sêmen humano interessar a uma eteia “não humana”. Tudo isto é possível? Sim, a resposta mais afoita. Mas completamente improvável.

Se fosse provável – vale dizer, contar com evidências (quase sempre confundidas por ufólogos ufanistas com indícios), a ufologia estaria enunciando relações válidas para os fatos. Ao exemplificar, citar casos, o discurso está calcado apenas nestes. É o que continua ensinando Rubem Alves. Talvez por isto o falecido professor da UnB, Alberto Francisco do Carmo, ufólogo cientista, costumava destilar seu inconformismo dizendo que ufólogos são apenas “doutores cata-casos”. Ora, se a ufologia puder, conseguir, lograr, ultrapassar a aparência superficial dos fatos, quem sabe enunciará relações perfeitamente válidas para eles (ALVES, 1996).


Intelecto ufológico e o terror do cético


A Ufologia acabou por enviesar-se de tal forma inspirada na ideia disco voador/ET, que se transformou rapidamente, a partir da década de 1940, em uma espécie de comunidade mundial repleta de desníveis e distúrbios

entre seus membros, todos sem perceber que lutam por uma ideia única, pobre. É um efeito que se alastrou sociologicamente por todos os lados, um vírus de deslumbramento pelo materialmente desconhecido, o universo material e mesmo assim invisível, o que mantém um mistério sem o qual nada teria graça. O comportamento desse enorme colégio veio na forma e de “bola de neve”, marcando a dinâmica dos grupos humanos, derivado de uma novela escrita por Catherine MacLean, dinâmica que parece perigosa inclusive quando surgem movimentos pararreligiosas (BERGIER, 1981). A ufologia é visivelmente esse movimento.

Contra suas acepções não há desculpas perdoáveis. Até nisto a ufologia se assemelha a um movimento religioso. Somente algo como uma “casta cientificamente privilegiada” surgiu com o passar do tempo, em reação contrária à credulidade em torno do tema. Os autointitulados e orgulhosos céticos. De todo lamentável que a própria ufologia tenha contribuído não apenas para o surgimento de pessoas cujo ceticismo seja absolutamente necessário e indispensável, mas criou seus monstros destruidores, ao menos em sua ofendida visão. Na realidade, o ceticismo é postura científica diante de experimentos, no enfrentamento de hipóteses, na constituição do raciocínio metodológico, mas se tornou o monstro contrário à visão enviesada da qual a ufologia não

abre mão – a nave extraterrestre como “indiscutível”, “irrefutável”, a causa dos fenômenos.

Ser chamado hoje de cético é ser confundido inexoravelmente como alguém dotado de formação científica, que vive para estudar e para combater fenômenos anômalos, na expressão bem moderna adotada para campos comprometidos no meio acadêmico, como a parapsicologia e a ufologia, quando, na verdade, para qualquer estudo ou experimento, o ceticismo é virtude, sem a qual nenhuma ciência se faz. O ceticismo é o fiel da balança entre o pensamento científico e a tendenciosidade das ideias sobrenaturais. Ele retrata uma das frases feitas mais conhecidas em debates entre céticos e crédulos - “Eu quero muito ter o espírito aberto, mas não a ponto de ter um buraco na cabeça”, dito este adaptado e atribuído ao falecido prestidigitador James Randi (PRACONTAL, 2004).

A ojeriza que a ufologia tem pelo termo ceticismo é tão arraigada, que até ufólogos que se consideram da “linha científica” alardeiam que “não somos céticos!”, o que implica dizer que são crédulos, tão crédulos quanto os da linha mística, ou “holística”, que na verdade é puramente místico-religiosa, por pregar que ciência e fé religiosa possam se misturar, ao invés de conviver. A ufologia tem agido como verdadeira religião, ou uma seita mundial baseada na crença em detrimento do raciocínio científico. Isto tem implicações inegáveis: “A ciência considera o ceticismo  profundo  uma  virtude  essencial.  A  religião

frequentemente o vê como um obstáculo à iluminação”

(SAGAN, 1998).

Céticos cometem pecados imperdoáveis ao apresentarem hipóteses alternativas para a crença generalizada de que o fenômeno seja necessariamente extraterrestre. A pena é, no mínimo, um ataque pessoal em redes sociais sem qualquer critério no uso de palavras ou no cometimento de injúria. Ufólogos o fazem sem constrangimento ao afirmarem que a origem extraterrestre está provada. Isto foi expressamente afirmado em pleno Senado por um ufólogo notoriamente formado em boa técnica. Ufólogos rechaçam o ceticismo em favor do que consideram virtuoso, qual seja, a crença que não admite ideias contrárias ou contrapontos tão úteis a uma boa análise de casos ou de pensamentos. John Selden, advogado que viveu no Século XVII, enfatizou que um cético nunca declararia ter encontrado uma verdade, mas atuaria em favor da liberdade de investigação, único caminho que pode levar ao santuário da verdade, em qualquer tipo de estudo (BURKE, 2003).

Na trilha das reflexões de SAGAN (1997), cientistas não afirmam sobre um conhecimento completo ou a verdade, mas há ufólogos que chegam a produzir vários livros orgulhosos de empregarem a palavra verdade nos títulos de pouco conteúdo.

Dentre várias hipóteses alegadamente eficazes, a que permanecer  convincente  tem  probabilidade  de  ser  a

correta. O difícil seria como colocar dentre as h plausíveis que uma nave pilotada por seres de fora possa ter viajado até aqui. Todavia, têm sido encontradas explicações mais convincentes do que essa fascinante causa que, no final das contas, é simplesmente insondável. Pelo menos até agora.

A postura cética é característica do raciocínio científico. Ela tem os braços dados com o espírito de isenção o mais possível, dirigindo seus ensinamentos às pseudociências – a ufologia é a que mais se destaca atualmente; SAGAN (1997) alerta que “Devemos tentar não ficar demasiado ligados a uma hipótese, só por ser a nossa”.

Com maior ênfase, a ciência quer saber mais; os místicos querem manter o mistério (DAWKINS, 2007). No conhecimento inesgotável da ciência, conforme declarou Herbert Spencer, sempre haverá além a ser descoberto (GARDNER, 2002).


Um mito sagrado


O estudo dos UFOs já construiu um mito. Essa construção sim é que é moderna, com a erupção da própria ufologia, porque o fenômeno é tipicamente mitológico, apesar de os ufólogos se alegrarem por se julgarem descobridores, ou defensores, de uma hipótese por si mesmo heroica. Poucos, no entanto, se dão ao trabalho de desconfiar de que em todos os sistemas mitológicas, como em todas as religiões, as mesmas imagens, os mesmos

temas aparecem constantemente (CAMPBELL, 1997). Tudo conforme mostrou Adolf Bastian, antropólogo alemão, que a isto chamou de “ideias elementares”.

A maior prova são as coincidências nas esculturas e nas pinturas de diferentes povos. Aqui também equivocando-se a ufologia (em sua vertente “ufoarqueológica”), quando se deslumbra com a representação antiga de “astronautas” e outros detalhes culturais. Existem esculturas, utensílios, objetos de cultos religiosos etc., contendo detalhes absolutamente idênticos, em imagem e na própria história, que tentam ilustrar. Tais coincidências ocorrem em partes do mundo extremamente distantes.

Campbell exemplifica mencionando peças micênicas com detalhes de sepultamento idênticos aos de uma escultura chinesa. Páginas do Mahabharata narrando carros de guerreiros na Índia, idênticos ao carro de Tutancâmon representado em artes de 1340 a.C. Nem é preciso relembrar aqui a estatueta pré-histórica da voluptuosa Vênus de Willendorf, de formas e entalhes iguais a outras achadas em escavações de diversas regiões do globo. Veja- se Campbell: “Eis o que se chama de difusão a partir de um centro criativo; uma ideia nova se espalha e leva consigo as divindades e os símbolos de energia a ela associados”.

Por consequência, esses aspectos materiais se transferem para o campo das ideias, para a filosofia, no que o mesmo autor lembra chamar-se “filosofia perene”. A mitologia alimenta a filosofia com as ideias recorrentes que

se incorporam a esta. Leve-se em conta também que representações primárias, elementares, em esculturas e desenhos antigos, advêm da própria natureza do cérebro humano, atuando a partir de seus sistemas de vida e de sobrevivência, envolvendo desejos e necessidades, agindo tudo isto como padrões a gerar figuras iguais em povos que jamais tiveram contato entre si.

Existem padrões na humanidade, seja de visão, de sensações outras, de interpretação da própria sensibilidade intelectual ou artística. A espécie humana contém padrões até na música e, claro, na religião e na construção dos mitos. Comportamentos culturais gerais podem até ser herdados (ALPER, 2008).

A luta pela ideia e o exército dos contatados


A concepção contida no presente trabalho é a de que o fenômeno tem sido provocado, produzido, pelos próprios ufólogos. No que é acompanhado pelo ufólogo João Marcelo Marques Rios (canaljoaomarcelo.blogspot.com) Os critérios não são científicos na busca do que consideram verdade. Na busca, não. Na certeza do que já consideram verdade, desde o perplexo início da ufologia. Para a maioria dos ufólogos, a verdade apresenta-se com um caráter irredutível, indefinível e indemonstrável (ANDRADE, 1970) pelo raciocínio legitimamente científico. O raciocínio tem regras, e a ufologia não comunga delas.

Ao fazer questão da origem extraterrestre dos fenômenos anômalos ligados à ufologia, esta se comporta no mesmo patamar de outros encantados pelo tema, os contatados. Estes são tão arautos de extraterrestres perante a humanidade, quanto um grande número de ufólogos. As redes sociais vêm registrando isto, inclusive quando ufólogos participam de podcasts ou de lives, em que não titubeiam enfrentar discussões com pessoas formadas em áreas científicas e filosóficas. O resultado é previsível. Diante de perguntas ou de trato específico de algum desses campos científicos, comportam-se exatamente como os contatados tentando escapar oferecendo respostas totalmente errôneas. Os contatados, estes que jamais apresentaram qualquer evidência de seus colóquios com imaginários seres extraterrestres, são ainda mais escapistas, ou simplesmente se recusam ao debate, muito menos a se submeterem a análises ou testes.

Mais desagradável ainda para quem estuda tais temas, é quando testemunhas, principalmente de casos famosos, comportam-se como estrelas a ponto de não admitirem qualquer ilação que fuja à hipótese do ser extraterrestre. Em tempos recentes, uma testemunha de rumoroso caso deu ares disto, diante do comentário em uma reportagem de TV feito por um jornalista que sempre teve o maior respeito por parte da Ufologia porque sempre a respeitou. Ao dizer que em sua opinião a testemunha avistara uma pessoa, ao invés de um  extraterrestre, a testemunha  com um  sorriso

amarelo misto de arrogância e ar superior, disse à reportagem que iria processar o jornalista. É inacreditável, mas aconteceu.

Quando ufólogos se confundem com contatados, por vezes tentando se transformar também em testemunhas (tema para outra oportunidade), devem perceber que os contatados contribuem para a queda de credibilidade do tema (THOMPSON, 1993). Todo crédulo é incapaz de distinguir a verdade do que gostaria que fosse (DAWKINS, 2007).

Separar a crença do método científico é imprescindível. A História e a Ciência registram notáveis casos de grandes pensadores e pesquisadores que o lograram, a exemplo de Darwin, que concluiu contrariamente à sua fé (SAGAN, 1997).

Deve-se, porém, tomar o mesmo cuidado de Randi de não deixar que seja aberto um buraco no cérebro na adoção de hipóteses tão inconsistentes como a extraterrestre, a exemplo de criaturas similares à observada no Caso Varginha, nos estudos de Whitley Strieber ou a demônios da Idade Média (SAGAN, 1997).


Dogma na ufologia


O que se faz hoje é a constituição de um dogma. O dogma tem uma função orgânica e uma social. Como sustentáculo de uma ideia, não admite interpretações,

contestações nem mesmo possibilidade de ser substituído por outro resultado da reflexão. Então, ele significa uma crença firmada pela maioria das pessoas, simbolizando uma realidade aceita por este consenso (FROMM, 1967).

Por causa do dogma, estudiosos da área ufológica chegam ao cúmulo de inverter o que se considera como ônus da prova. Torcem ainda mais seu raciocínio ao declararem, como é comum, que jamais encontraram qualquer evidência de que o fenômeno não seja extraterrestre. Ou alguma prova de que o processo de acobertamento por Forças Armadas não exista, tudo à maneira do pensamento juvenil de que, se alguém diz que algo não exista, então que prove não existir. Risível, não fosse de se lamentar.

Dom Quixote achou que seus gigantes até podiam estar sendo transformados em moinhos de vento por algum feiticeiro, que não tinha poderes para lhe tirar a coragem e a determinação de continuar em sua aventura (CAMPBELL, 2002). A fábula ilustra a conhecida e errada compreensão do que deva ser provado. Contudo, alguns vivem sob o alento de fazer afirmações sem que, no final das contas, possam ser refutadas, porque também é impossível provar que algo não exista, se não se consegue refutá-lo (SAGAN, 1997). É preciso duvidar de tudo (FROMM, 1967), ou seja, a ufologia precisa adotar o refrão latino omnibus est dubitandum – “Tudo deve ser duvidado”, ou deve-se duvidar de tudo.

Um dogma representa o pensamento ufológico reinante. A ufologia, até sob esse aspecto, é uma religião.


Visão paranoide na pareidolia


A ufologia age com monomania, como se tivesse apenas uma ideia fixa, imutável, e sustentadora de tudo. Quando foi escrito em uma epígrafe que “triste não é mudar de ideia, é não ter ideia para mudar” (REIS & RODRIGUES, 2009), pensava-se na lastimável condição que teoricamente assola algumas mentes na ufologia. Para quem óbvias imagens de pareidolia16 parecem ruínas, instalações e até formas de fungos ou parasitárias. Esse tipo de ilusão geralmente pertence a quem trilha por um pensamento que o faz adaptar tudo o que vê e percebe.

O argumento basilar desse tipo de entendimento é o de que a natureza não gera formas perfeitas, simétricas. Se estas são descobertas, é porque são artificiais, geradas por alguma inteligência. Outro engano.

Formas simétricas diversas são esculpidas pela natureza, com o que Rupelt Sheldrake chamou de “campos morfogenéticos”. A amostragem é farta abrangendo partículas, cristais, moléculas, células, plantas, árvores (PRACONTAL,  2004),  bem  como  formações  geológicas


16 Fenômeno psicológico de percepção de figuras em estímulos visuais aleatórios. Ver animais, objetos ou rostos em nuvens ou manchas na parede. capacidade de reconhecer rostos rapidamente.

dentre elas as trabalhadas pelo vento e pela chuva. O fato é que, em termos de pareidolia, o cérebro humano tende a identificar formas no que geralmente é à primeira vista disforme. A pareidolia faz com que o cérebro transforme objetos e pessoas, com padrões de comparação.

É assim, antes de tudo, um fenômeno psicológico, de tendência normal (GIL, 2024). Haja vista o muito praticado Teste de Rorschach, quando o paciente é levado a interpretar manchas em dez lâminas, com uma delas gerada por um papel dobrado ao meio. Serve para psicodiagnóstico no método desenvolvido pelo psicanalista Hermann Rorschach. Quem, na ufologia, não se lembra do rosto na montanha de Marte como uma gigantesca cabeça de esfinge olhando para cima, na região batizada de Cydonia Mensae? O problema é quando a pessoa passa por muito tempo dedicando-se à descoberta de formas aparentemente artificiais, praticando a pareidolia. Se os resultados começam a ser recorrentes, seria até aconselhável procurar um neurologista.

Estas acepções fazem parte da ufologia. Torna-se a cada dia mais difícil separar o que seja uma tentativa isenta de estudo, de um completo conteúdo de fé, de inegável identidade com a postura religiosa, tal como antes comentado. Se na ciência há pesquisadores que eventualmente tomam posições absurdas, em áreas como a ufologia isto é ainda mais evidente. Ou melhor, é um campo bem  mais  profícuo  à  atuação  dos  autointitulados

pesquisadores que, assumindo posições enganosas, não podem mais retroceder (KOLOSIMO, 1972).

É o que se pode considerar como uma tentação da transcendência, que a bem da verdade, assola filósofos, pensadores e crentes, que não conseguem evitá-la (GARDNER, 2002).


Referências Bibliográficas


ALPER, M. A Parte Divina do Cérebro. Best Seller, 2008 ALVES, R. Filosofia da Ciência. Ars Poetica, 1996

ANDRADE, P. N. Perspectiva Filosófica e Visão Cosmológica. Record, 1970

BERGIER, J. Os Livros Malditos. Hemus, 1981

BURKE, P. Uma História Social do Conhecimento. Jorge Zahar, 2003

CAMPBELL, J. As Transformações do Mito Através do Tempo.

Cultrix, 1997

Mitologia na Vida Moderna. Rosa dos Tempos 2002 CHALMERS, A. F. “A Ciência como conhecimento derivado dos fatos da experiência”. http://ateus.net/artigos/filosofia/a-ciencia-como- conhecimento-derivado-dos-fatos-da-experiencia/. No arquivo, em Arquivos Digitalizados, Ceticismo e ateísmo, Arquivos Ateus.

COPPETTI, M. Ovni Arma Secreta. Publ. Europa-América, 1979

DAWKINS, R. O Capelão do Diabo. Cia. das Letras, 2005.

Deus, um Delírio. Cia. das Letras, 2007 FROMM, E. O Dogma de Cristo. Zahar 1967 GARDNER, M. O Umbigo de Adão. Ediouro, 2002 KAISER, A. F. Em Busca dos Extraterrestres. Três, 1971 KOLOSIMO, P. Não é Terrestre. Melhoramentos, 1972

KOUN, E. (coord.) Vieram os Deuses de Outras Estrelas”. Melhoramentos, 1972

NÁUFEL, J. Buscando Vida nas Estrelas. Rígel, 1979 PRACONTAL, M. A Impostura Científica em Dez Lições. UNESP, 2004

REIS, C.; RODRIGUES, U. A Desconstrução de um Mito, Livro Pronto, 2009.

SAGAN, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios. Cia das Letras, 1997

. Bilhões e Bilhões. Cia. das Letras, 1998 THOMPSON, K. Anjos e Extraterrestres. Rocco, 1993

VALDAMERI, M. A Farsa dos Espíritas. Chiado Editora, 2013

Artigo de Carola Gil, La Nación, 18/09/2024 .



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