RECONHECIMENTO
DE PADRÃO E ZETA RETICULI
"O Caso Zeta Reticuli" é muito provocador. Alega que um
mapa, supostamente mostrado a bordo de uma nave extraterrestre pousada à Betty
Hill em 1961, mais tarde desenhado por ela de memória e publicado em 1966,
corresponde bem a mapas similares de estrelas próximas parecidas com o Sol
baseado nas posições estelares do Catálogo Gliese de Estrelas Próximas, de
1969. A comparação entre os mapas foi feita por Marjorie Fish, que usou um
modelo físico de três dimensões, e mais tarde por um grupo de estudantes da
Universidade Estadual de Ohio, que usou uma projeção em princípio mais precisa
(ou seja, menos subjetiva) gerada por computador. O argumento se baseia no
quanto os mapas combinam e na relevância estatística da comparação.
A Figura 1 mostra o mapa Hill e o mapa computadorizado da Universidade
Estadual de Ohio com linhas conectoras, como feito no artigo na ASTRONOMY. A
inclusão dessas linhas (ditas para representar rotas de comércio ou navegação)
para estabelecer uma semelhança entre os mapas é o que um advogado chamaria de
"conduzir as testemunhas". Nós poderíamos apenas também ter desenhado
linhas, como na parte de baixo da Figura 1, para direcionar a outro caminho.
Uma comparação menos parcial dos dois conjuntos de dados, sem conectar as
linhas como na Figura 2, mostra pouca similaridade. Qualquer semelhança que
resta é aumentada por haver o mesmo número de pontos em cada mapa, e pode ser
justificada pela maneira como esses pontos foram selecionados.
O mapa estelar computadorizado inclui o Sol e 14 estrelas selecionadas
de uma lista das 46 estrelas mais próximas similares ao Sol, e deriva do
catálogo Gliese. Não está claro que critério foi usado para selecionar
precisamente essas 14 estrelas da lista, além do desejo de encontrar uma
semelhança com o mapa Hill. Entretanto, podemos sempre pegar e escolher de um
grande conjunto aleatório de dados, um subconjunto que se assemelhe a um padrão
pré-concebido. Se somos livres para selecionar o ponto de vista (de todas as direções
possíveis para ver a projeção de um padrão tridimensional), é uma simples
questão de otimizar a semelhança desejada. Claro que tal semelhança, no caso da
seleção de um conjunto aleatório, é um artifício - um exemplo da falácia
estatística conhecida como "a enumeração de circunstâncias
favoráveis".
A presença de tal falácia nesse caso parece ainda mais provável quando
examinamos o desenho original de Hill, publicado no livro "A Viagem
Interrompida" por John Fuller. Em adição aos pontos proeminentes que Betty
Hill conectou pelas linhas, seu mapa também inclui vários pontos aparentemente
aleatórios e espalhados - evidentemente para representar a presença de estrelas
de fundo, mas não feitos para sugerirem posições reais. Entretanto, três desses
pontos aparecem na versão do mapa Hill usado na comparação, enquanto os outros
estão ausentes. Então, alguma seleção foi feita do mapa Hill original, apesar
de que não na mesma extensão como no catálogo Gliese. Isso permite ainda mais
liberdade para se idealizar uma semelhança.
Finalmente, ouvimos de "A Viagem Interrompida" que Betty
Hill pensou primeiro ter visto uma semelhança notável entre seu mapa estelar do
OVNI e o mapa da constelação de Pegasus, publicada no New York Times em
1965, que mostra a posição do quasar CTA-102. Como muitos mapas estelares, que
vêm do catálogo Gliese ou de outro lugar, têm sido comparados com o de Betty
Hill antes de uma suposta semelhança ser encontrada? Se suprimirmos informações
em tais comparações, nós também vamos superestimar a importância do resultado.
O argumento sobre o "Caso Zeta Reticuli" demonstra somente
que se decidirmos encontrar uma correlação de padrões entre dois conjuntos de
dados aproximados e aleatórios ao selecionarmos certos elementos de cada e
ignorando os outros, nós sempre obteremos êxito. O argumento não pode servir
nem para sugerir uma verificação da história dos Hill - a qual, de qualquer
forma, é bem conhecida por ser repleta de contradições internas e externas, e
que é passível de interpretações que não apelam à inteligência extraterrestre.
Aqueles de nós preocupados com a possibilidade de inteligência extraterrestre,
devem tomar o cuidado de exigir padrões adequados rigorosos de evidência. É
muito fácil, assim como o antigo provérbio chinês diz, para a dama aprisionada
confundir a batida do próprio coração com as batidas dos cascos do cavalo de
seu salvador.
Steven
Soter é um pesquisador associado trabalhando sob a consultoria de Carl Sagan,
diretor do
laboratório da Universidade de Cornell para Estudos Planetários.
Resposta de
Terence Dickinson
A questão levantada por Steven Soter e Carl Sagan em relação à
semelhança de padrão do mapa Hill e a projeção gerada por computador do padrão
de estrelas de Fish é certamente uma questão chave digna de discussão. No
próximo mês, dois autores irão fazer comentários específicos sobre esse ponto.
Brevemente, há mais a ignorar da interpretação de Fish que da
semelhança do padrão. Nós poderíamos ter ignorado imediatamente a interpretação
de Fish sobre a semelhança do padrão por si. O fato de que todas as linhas
conectoras ligam estrelas um uma progressão lógica de distância, e que todas as
estrelas são estrelas do tipo solar, é significante. A sra. Fish tentou
encaixar centenas de outros pontos de vista e esse foi o único que ligeiramente
se encaixa e faz sentido em três dimensões e contém estrelas do tipo solar.
Nesse contexto, você não poderia "ter apenas desenhado as linhas... para
direcionar de outra forma".
Naturalmente, houve um desejo de encontrar uma semelhança entre um
grupo de estrelas próximas e o padrão Hill! É por isso que Marjorie Fish construiu
seis modelos da vizinhança solar contendo as posições relativas de 256 estrelas
próximas. O fato de ela ter surgido com um padrão que se encaixa tão bem quanto
esse, é um tributo à sua perseverança e da precisão dos modelos. As estrelas
não podem ser movidas "para otimizar a semelhança desejada". De fato,
nos primeiros modelos tentados por Marjorie Fish, usando estrelas vizinhas de
outro tipo que não estritamente solares como definido no artigo, ela não
encontrou semelhanças.
Os três pontos triangulares selecionados dos pontos do fundo no mapa
Hill foram selecionados porque a sra. Hill disse que eles eram mais
proeminentes que as outras estrelas de fundo. Tal testemunho foi a base do mapa
original, então ou nós aceitamos as observações da sra. Hill e tentamos
analisá-las, ou rejeitamos o incidente completo. Nós sentimos que há evidência
suficiente que nos encaminha a não rejeitar o incidente completo nesse momento.
Nós também estamos exigindo padrões rigorosos de evidência para
estabelecer a realidade da inteligência extraterrestre. Se há nem que seja a
menor possibilidade de que o encontro dos Hill pode prover informação sobre tal
vida, nós sentimos que é digno de investigação. O mapa é digno de exame por
quantas mentes críticas forem possíveis.
Resposta de
David R. Saunders
No mês passado, Steven Soter e Carl Sagan ofereceram dois contra-argumentos
em relação ao artigo de Terence Dickinson, "O Caso Zeta Reticuli"
(ASTRONOMY, Dezembro de 1974).
O primeiro argumento foi observar que a inclusão das linhas conectoras
em certos mapas "é o que um advogado chamaria de 'conduzir a testemunha'".
Isso foi usado como uma premissa menor no silogismo, na qual a maior premissa
nunca foi declarada. Se nós deveríamos considerar "conduzir a
testemunha" um pecado ou não vai depender de como vamos conceber o
propósito do artigo original. A analogia implicada entre a revista ASTRONOM e
um tribunal é tênue no mínimo; um artigo expositório escrito para uma audiência
não profissional precisa, na minha
opinião, fazer tudo que puder para facilitar a comunicação - pressupondo que a
mensagem subjacente seja honesta. Muito do que nós chamamos de educação formal
é, na verdade, um pouco mais que "conduzir a testemunha", e ninguém
que aceita os objetivos educacionais muito fortemente argumenta contra esse
processo. Nesse contexto, nós também podemos observar que o primeiro argumento
de Soter e Sagan fornece outro exemplo ilustrativo de "conduzir a
testemunha"; o argumento ataca o procedimento, não a substância - e serve
apenas para cegar o possível criticismo do leitor para o segundo argumento.
Esse parágrafo pode também ser entendido como um esforço para conduzir a
testemunha. Uma vez que fomos sensibilizados para as possibilidades, nenhum de
nós precisa mais ser iludido!
O segundo argumento oferecido por Soter e Sagan ataca a substância. De
fato, a decisão editorial de publicar o artigo original foi uma decisão
responsável apenas se as questões levantadas pela segunda linha de possível
argumento fossem totalmente consideradas. Sempre que uma inferência estatística
é feita de um dado selecionado, é crucial determinar a persistência daquela
seleção e então, apropriadamente, descontar a aparente claridade da inferência.
Ao levantar a questão dos possíveis efeitos da seleção, Soter e Sagan têm
razão.
Entretanto, ao falhar em tratar a questão com objetividade
quantitativa (ao falhar em ponderar a evidência em cada direção numericamente,
por exemplo), eles podem facilmente realizar um desserviço.
Em algumas situações, o peso da negação apropriada irá bastar para
cancelar a claridade de uma inferência proposta - e vamos rejeitar
apropriadamente a proposta como uma mera capitalização de sorte ou um resultado
de sorte. Está bem claro que Soter e Sagan veem os resultados do mapa estelar
como apenas um resultado fortuito. Em algumas outras situações, o peso da
negação apropriada pode ser totalmente aplicado sem contabilizar a claridade da
inferência como uma descoberta potencialmente válida. Por exemplo, se eu propor
inferir de 4 cara ou coroa consecutivos observados com caras, que a moeda iria
sempre produzir caras, você iria apropriadamente descartar a proposta como
imprópria pelos dados. Entretanto, se eu propor exatamente a mesma inferência
baseado em 40 observações consecutivas similares de caras, você iria quase que
certamente aceitar a inferência e começaria a procurar comigo por uma
explicação mais sistemática dos dados. A diferença crucial aqui é a distinção
puramente quantitativa entre 4 e 40; as duas situações são, de outra forma,
idênticas e não podem ser distintas por qualquer argumento puramente
qualitativo.
Quando Soter e Sagan usam frases como "alguns subconjuntos que se
assemelham", "livres também para selecionar o ponto de vista",
"simples questão de otimizar" e "liberdade para idealizar uma
semelhança", eles estão falando qualitativamente sobre assuntos que
deveriam (e podem) ser tratados quantitativamente. Sendo baseadas apenas nesse
nível de argumento, as conclusões de Soter e Sagan só podem ser entendidas como
inconclusivas.
Um exame quantitativo completo desse problema irá requerer a
estimativa numérica de pelo menos três fatores, e sua expressão em uma métrica
uniforme, então poderemos ver para que lado o peso da evidência está se
inclinando. A métrica mais comum e conveniente será aquela de "bits de
informação", o que é equivalente a contar caras consecutivas no exemplo
anterior.
Um fator chave é o grau de semelhança entre o mapa Hill e o mapa feito
por computador. Precisamente, a quantas caras consecutivas essa semelhança é
equivalente? Um segundo fator chave é o tamanho preciso da população de
estrelas da qual o computador foi permitido fazer essa seleção. E um terceiro
fator chave é a dimensionalidade precisa do espaço no qual o computador teve a
liberdade de escolher o melhor ponto de vista. Se o primeiro fator excede o
total dos outros dois por uma margem suficiente, somos justificados ao insistir
em uma explicação sistemática dos dados.
O terceiro fator é o mais fácil de lidar. A dimensionalidade espacial
do ponto de vista é não mais que três. Uma propriedade do sistema métrico para
medir evidência é que cada dimensão independente de liberdade nos leva a
esperar o equivalente a mais uma cara consecutiva nos dados observados. Três
dimensões de liberdade valem exatos 3,0 bits. No final, mesmo três bits serão
vistos como relativamente menores.
O segundo fator pode ser muito maior que isso, e merece relativamente
mais discussão. A negação apropriada para essa seleção será log102C, onde C é o
número de combinações distintas das estrelas "disponíveis" para o
computador. Se nós concordamos que C deve representar as possíveis combinações
de 46 estrelas pegas 14 por vez, então log102C seria 37,8 bits; isso seria bem
mais que suficiente para acabar com a inferência proposta. Entretanto, nem
todas essas combinações são igualmente plausíveis. Nós deveríamos realmente
considerar apenas combinações que sejam adjacentes umas às outras e ao Sol, mas
é estranho tentar especificar exatamente que combinações são essas.
O momento mais empolgante ao trabalhar com esses dados veio com o
entendimento de que no universo real, nosso Sol pertence a um aglomerado
próximo, junto com seis das outras estrelas admissíveis -- Tau Ceti, 82
Eridani, Zeta Tucanae, Alpha Mensae e Zeta 1 Reticuli e Zeta 2 Reticuli. A
configuração real das distâncias interestelares é que um explorador, começando
de qualquer uma das sete, poderia visitar todas antes de se aventurar para fora
delas. Se o mapa Hill supostamente inclui o Sol, então deveria incluir os
outros membros desse aglomerado dentro de uma rede inteira de conexões, e as
outras estrelas conectadas deveriam ser relativamente adjacentes no universo
real.
Zeta Reticuli ocupa uma posição central em todas as relativamente
poucas combinações que agora permanecem plausíveis. Entretanto, na minha
opinião, o critério de adjacência deixa alguma ambiguidade remanescente no que
diz respeito à combinação das estrelas reais serem combinadas contra o mapa
Hill - mas apenas com respeito à região mais longe do Sol. As estrelas no aglomerado
mais próximo e aqueles na cadeia principal do Gliese 67 devem ser incluídas,
assim como no Gliese 86 e dois outros de um conjunto de cinco candidatos.
Log102C para essa seleção remanescente é 3,9 bits. Nós devemos também notar que
a restrição que Zeta Tucanae ser ocultada por Zeta Reticuli reduz a
dimensionalidade do ponto de vista espacial de 3,0 para 1,0. Então, a junção
dos fatos 2 e 3 é agora estimado em apenas 4,9 bits.
O primeiro fator é também estranho de avaliar - simplesmente porque
não é técnica estatística padrão comparar pontos nos dois mapas. Usando uma
aproximação baseada na correlação da ordem de classificação, eu imagino que o
número que procuramos aqui está entre 11 e 16 (esse é o resultado citado por
Dickinson na página 15 do artigo original). Deduzindo o segundo e terceiro
fatores, essa análise bruta nos deixa com um resultado empírico cujo
significado é equivalente a observar pelo menos 6 de 11 caras consecutivas. Eu
digo "pelo menos", porque há outros fatores contribuindo para o
quadro total - não discutido nem por Dickinson ou por Soter e Sagan - isso
poderia ser apresentado para reforçar essa figura. Por exemplo, o ponto de
vista computado está em concordância com a posição que Betty Hill relatou
quando observou o mapa, e o sistema de coordenadas implícito nas fronteiras do
mapa está em concordância com as coordenadas de um sistema galáctico natural.
Não discutimos também qualquer uso quantitativo das conexões desenhadas no mapa
Hill, que foram colocadas lá antes de qualquer dessas análises.
Na interpretação final, será sempre possível argumentar que 5 de 10 ou
até 15 bits de informação notável simplesmente não é suficiente. Entretanto,
esse é um assunto para cada um de nós decidir independentemente. Ao decidir
sobre esse assunto, é mais importante que sejamos consistentes conosco mesmos
(enquanto revisamos muitas interpretações incertas de dados que fizemos) do que
estarmos de acordo com alguma autoridade externa. Eu acredito, então, que
relativamente poucos indivíduos continuaram uma partida de lançamento de moedas
na qual sua experiência total é equivalente a até seis perdas consecutivas. Em
termos científicos, meu próprio padrão é que estou interessado em qualquer
resultado que tem 5 ou mais bits de informação apoiando-o - então eu prefiro
não arriscar meu pescoço publicamente na base de menos de 10. Aderindo a este
padrão, eu continuo a achar os resultados do mapa estelar extremamente interessantes.
Dr. David
R. Saunders é um Pesquisador Associado
no Centro
de Relações Industriais da Universidade de Chicago.
Resposta de
Michael Peck
Carl Sagan e Steven Soter, ao desafiar as possibilidades discutidas no
"Caso Zeta Reticuli", sugerem que sem as linhas conectoras desenhadas
no mapa Hill e na interpretação de Fish, há pouca semelhança entre os dois.
Essa declaração pode ser testada usando apenas coordenadas X e Y dos pontos no
mapa Hill e uma projeção das estrelas no padrão de Fish. O método usado para a
comparação pode ser visualizado desta maneira:
Pontos supostos do mapa Hill e do mapa Fish são impressos em bandejas
de vidros separadas. Essas bandejas são mantidas paralelas (uma atrás da
outra), e são movidas para frente e para trás e giradas até que os padrões
aparecem tão próximos quanto possíveis para uma combinação. Uma forma
sistemática de comparar os padrões seria ajustar as bandejas até que pares de
pontos correspondentes combinassem exatamente. Então os outros pontos nos
padrões podem ser comparados. Repetindo esse processo para todos os pares
possíveis dos pontos (há 105 nesse caso), o melhor encaixe pode ser encontrado.
Matematicamente, isso envolve uma mudança de escala e uma simples transformação
da coordenada. Um programa de computador foi escrito no qual, usando
coordenadas X e Y medidas de uma cópia do mapa Hill e a projeção das estrelas de
Fish, e usando o mapa Hill como o padrão, computou novas coordenadas X e Y para
as estrelas de Fish usando o processo descrito. Desses dois conjuntos de
coordenadas, 6 quantidades foram calculadas: a diferença comum em X e Y; o
desvio padrão das diferenças em X e Y, uma medida da quantidade de variação das
diferenças; e coeficientes de correlação em X e Y. O coeficiente de correlação
é uma quantidade usada por estatísticos para testar uma relação suspeita entre
dois conjuntos de dados. Nesse caso, por exemplo, nós suspeitamos que as
coordenadas X e Y computadas do mapa Fish deveriam ser iguais às coordenadas X
e Y no mapa Hill. Se eles combinarem exatamente, os coeficientes de correlação
poderiam ser um. Se não houvesse nenhuma correlação, o valor seria próximo a
zero. Nós descobrimos que, para a melhor orientação de encaixe das estrelas de Fish,
havia um coeficiente de correlação em X de 0,95 e Y 0,91. Em adição, a
diferença comum e o desvio padrão das diferenças eram ambos pequenos -
aproximadamente 1/10 do total em X e Y. Como comparação, o mesmo programa
testou um conjunto de pontos aleatórios, com os resultantes coeficientes de
correlação de 1/10 ou menos (como esperado). Nós podemos concluir, portanto,
que o grau de semelhança entre os dois mapas é bastante alto.
De outro ponto de vista, é possível calcular a probabilidade que um
conjunto aleatório de pontos irá coincidir com o mapa Hill no grau de precisão
observado aqui. A probabilidade que 15 pontos escolhidos aleatoriamente vão
cair nos pontos do mapa Hill dentro de uma margem de erro que os fariam iguais
aos do mapa Fish, é de uma chance em 10 elevado à décima quinta potência (um
milhão de bilhão). É mil vezes mais provável que uma pessoa poderia predizer
uma mão de cartas de um baralho justo.
Michael
Peck é um estudante de astronomia
na
Universidade Northwestern, no Illinois.
Refutação
feita à David Saunders e Michael Peck
por Carl
Sagan e Steven Soter
O dr. David Sanders, no último mês, alegou ter demonstrado a
importância estatística do mapa Hill, que foi alegadamente encontrado a bordo
de um OVNI pousado e supostamente descreve o Sol e 14 estrelas próximas do tipo
solar. O mapa Hill foi dito se assemelhar ao mapa Fish - o último sendo uma
projeção ótima bidimensional de um modelo tridimensional preparado para
selecionar 14 estrelas de uma lista posicional de 46 estrelas próximas
parecidas com o Sol. O argumento de Saunders pode ser expresso pela equação SS
= DR - (SF + VP), na qual todas as quantidades estão em bits de informação. SS
é a importância estatística da correlação entre os dois mapas, DR é o grau de semelhança entre eles, SF é um
fator de seleção dependendo do número de estrelas escolhidas e o tamanho da
lista, e VP é o conteúdo de informação fornecido por uma escolha livre nas 3
dimensões de ponto de vista ao projetar o mapa. Saunders descobriu SS = 6 para
11 bits, significando que a correlação é equivalente a entre 6 e 11 caras
consecutivas em uma jogada de moedas e, portanto, provavelmente não acidental.
O procedimento é aceitável em princípio, mas o resultado depende inteiramente
de como as quantidades no lado direito da equação que foi escolhida.
Para o grau de semelhança entre os dois mapas, as alegações de
Saunders de que DR = 11 para 16 bits, o que ele admite que é apenas um palpite
- mas vamos deixar isso em pausa. Para o fator de seleção, ele primeiramente
pega SF = log102C = 37,8 bits, onde C representa as combinações de 46 coisas
tomadas 14 por vez. Percebendo que o tamanho desse fator sozinho causaria SS
negativo e acabaria com o argumento dele, ele faz um número de ajustamento
pontual baseado essencialmente na interpretação dele da lógica interna do mapa
Hill, e SF, de alguma forma, se reduz para apenas 3,9 bits. Para essa
apresentação, vamos até aquele padrão para impedir de nos tornarmos envolvidos
em uma discussão de como um explorador da estrela Zeta Reticuli escolheria
organizar seu itinerário de viagem - um assunto sobre o qual não podemos alegar
nenhum conhecimento particular. Entretanto, nós devemos ter em mente que um
exame verdadeiramente sem preconceito dos dados, com nenhuma interpretação
prévia, daria SF = 3,8 bits.
É a escolha de Saunder do ponto de vista fator VP com a qual nós
devemos tomar a questão mais forte, porque isso é uma questão de geometria e
simples reconhecimento de padrão. Saunders supõe que a escolha livre do ponto
de vista para se ver um modelo tridimensional de 15 estrelas é digno apenas
para VP = 3 bits. Ele então reduz o conteúdo da informação de direcionalidade
para um bit ao introduzir a "restrição" da estrela Zeta Tucanae ser oculta por Zeta
Reticuli (sem nenhuma marcação especial no mapa Hill para marcar essa
peculiaridade). Esse dispositivo pontual é invocado para explicar a ausência de
Zeta Tucanae do mapa Hill, mas isso revela a razão circular envolvida. Depois
de tudo, por que se preocupar em calcular a importância estatística da suposta
correlação do mapa se alguém já decidiu que ponto representa quais estrelas?
Certamente, a seleção do ponto de vista vale mais que 3 bits (para não
mencionar um bit). Provavelmente a circunstância mais fácil de reconhecer e
lembrar sobre as projeções aleatórias do modelo em questão são os casos no qual
duas estrelas parecem estar imediatamente adjacentes. Ao ver o modelo de todas
as direções possíveis, há 14 formas distintas na qual qualquer estrela pode ser
vista em projeção como adjacente a alguma outra estrela. Isso pode ser feito a
cada uma das 15 estrelas, dada 210 configurações projetadas - de qual cada pode
ser reconhecida como substancialmente diferente de outras em conteúdo de
informação. E, é claro, há muitas projeções adicionais distintas reconhecíveis
de 15 estrelas não envolvendo qualquer duas sendo imediatamente adjacentes (por
exemplo, 3 estrelas equidistantes em uma linha reta são facilmente
reconhecidas, como no cinturão de Órion). Então, para uma ligação muito
conservadora, o conteúdo de informação determinado por escolha de ponto de
vista (ou seja, por ser permitido girar o modelo sobre 3 eixos) pode-se tomar
pelo menos igual a VP = log102(210) = 7,7 bits. Usando o resto da análise de
Saunders, isso poderia, na melhor hipótese, produzir SS = zero a 4,4 bits - uma
correlação não muito impressionante.
Há outra forma de entender o maior número de bits envolvidos na
escolha do ponto de vista. As estrelas em questão são separadas por distâncias
em ordem de 10 parsecs. Se o ponto de vista é situado sobre ou não muito longe
de 15 estrelas, ele precisa apenas ser mudado por aproximadamente 0,17 parsecs
para causar uma mudança de um grau no ângulo subentendido por algum par de
estrelas. Agora, um grau é uma resolução muito modesta, correspondendo a duas
vezes a lua cheia e é facilmente detectado por qualquer um. Para 3 graus de
liberdade, o número de pontos de vista correspondendo a essa resolução é em
ordem de (10/0,17)3~603~2x105, correspondendo a VP + 17,6 bits. Esse fator
sozinho é suficiente para fazer SS negativo, e para exterminar qualquer
validade para a suposta correlação.
Mesmo que aceitássemos a alegação de Saunder de que SS = 6 para 11
bits (o que obviamente não fazemos, particularmente na visão do valor
apropriado para SF), não está totalmente claro que isso seria estatisticamente relevante,
porque não nos disseram quantas outras possíveis correlações de tentativa e
erro foram pensadas antes do mapa Fish. Por comparação, há a bem conhecida
correlação entre a incidência dos terremotos de Andrean e oposições do planeta
Urano. É improvável ao extremo que esse seja o mecanismo causal operando aqui -
entre outras razões, porque não há correlações com as oposições de Júpiter,
Saturno e Netuno. Mas para encontrar tal correlação, o investigador deve ter
procurado uma grande variedade de correlações de eventos sísmicos em muitas partes
do mundo com oposições e conjunções de muitos objetos astronômicos. Se
correlações suficientes são procuradas, as estatísticas exigem que,
eventualmente, uma será encontrada, válida para qualquer nível de significado
que desejemos. Antes de podermos dizer que uma correlação alegada implica uma
conexão causal, devemos nos convencer de que o número de correlações visadas
não tem sido grande o suficiente para fazer a alegada correlação sem valor.
Esse ponto pode ser melhor ilustrado pelo exemplo de Saunders das
moedas. Supostamente, nós jogamos uma moeda, uma por segundo, por várias horas.
Agora, deixe-nos considerar três casos: 2 caras seguidas, 10 caras seguidas e
40 caras seguidas. Nós poderíamos, é claro, pensar que não há nada de
extraordinário sobre o primeiro caso. Apenas 4 tentativas de jogar duas moedas
são requeridas para se ter um valor de expectativa razoável de 2 caras
seguidas. Dez caras seguidas, entretanto, vão ocorrer apenas a cada 210 = 1,024
tentativas e 40 caras seguidas vão ocorrer apenas uma a cada 240~1012
tentativas. Em uma taxa de jogar uma moeda por segundo, uma jogada de 10 moedas
requer 10 segundos; 1024 tentativas de 10 moedas cada requer 3 horas. Mas 40
caras seguidas, na mesma taxa, requerem 4x1013 segundos, ou um pouco mais que 1
milhão de anos. Uma jogada de 40 caras consecutivas em poucas horas de jogadas
de moedas certamente seria uma evidência forte, à primeira vista, da habilidade
de controlar a queda da moeda. Dez caras consecutivas sob as circunstâncias que
descrevemos, não proveria nenhuma evidência convincente. É esperado pela lei da
probabilidade. A correlação do mapa Hill estaria, na melhor hipótese, como
alegada por Saunders, na categoria de 10 caras consecutivas, mas sem uma
declaração clara quanto ao número de tentativas mal sucedidas feitas
previamente.
Michael Peck descobriu um alto grau de correlação entre o mapa Hill e
o mapa Fish, e, portanto, também perde o ponto central de nossa crítica
original: que as estrelas no mapa Fish já tinham sido pré-selecionadas para
maximizar essa mesma correlação. Peck encontrou 1 chance em 1015 de que 15
pontos aleatórios vão se correlacionar com o mapa Fish, assim como o mapa Hill
faz. Entretanto, ele selecionou 15 de uma amostra aleatória, de 46 pontos no
espaço, e ele simultaneamente selecionou o melhor ponto de vista em 3 dimensões
para maximizar a semelhança, ele poderia ter conseguido uma aparente correlação
comparável a o que ele alega entre os mapas Hill e Fish. De fato, a falácia
estatística envolvida na "enumeração de circunstâncias favoráveis"
leva necessariamente às correlações maiores, mas espúrias.
Concluímos novamente que o argumento Zeta Reticuli e toda a história dos
Hill não sobrevive à análise crítica.
O Dr.
Steven Soter é um pesquisador associado em astronomia
e o Dr.
Carl Sagan é o diretor do Laboratório para Estudos Planetários,
ambos da
Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova York
Tradução: Tunguska
Fonte: http://www.gravitywarpdrive.com/Zeta_Reticuli_Incident.htm
Tradução: Tunguska
Fonte: http://www.gravitywarpdrive.com/Zeta_Reticuli_Incident.htm
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