(Às vezes, tudo o que se precisa é encontrar
o especialista certo.)
Um médium estava atendendo ligações em um
programa de rádio noturno. A ligação seguinte foi de alguém claramente
perturbado - você podia ouvir o medo em sua voz. “Acho que posso estar
possuído”, confessou. “Quando dirijo à noite, as luzes da rua geralmente se
apagam quando eu me aproximo. Receio que possa ser um aviso de que algo
terrível está para acontecer". O médium tentou tranquilizá-lo: "Você
definitivamente tem algum tipo de poder extraordinário, mas não é
necessariamente negativo. As luzes que se apagam podem significar que uma fase
da sua vida acabou e você está prestes a entrar em uma nova..."
Enquanto o médium falava monotonamente sobre
se concentrar no positivo e buscar novas oportunidades, as linhas telefônicas
ficaram inundadas na estação de rádio. Dezenas de pessoas estavam tentando ser
atendidas para oferecer uma explicação para o comportamento ameaçador das luzes
da rua. Todas eram de uma profissão específica, mas não eram cientistas ou
psicólogos.
A explicação do médium para o homem assustado
foi repentinamente interrompida e uma nova voz surgiu no ar. “Gostaríamos de
informar aos nossos ouvintes que nossas linhas telefônicas ficaram
congestionadas por pessoas que têm uma explicação muito direta para o problema
da pessoa que ligou. Eles são mecânicos de automóveis e estão todos sugerindo
que quem ligou ajuste seus faróis. Se os faróis estiverem apontados para muito
alto, eles acionam o sensor de luz do dia nos postes de luz e os desligam. É um
problema comum."
Para a sorte de quem ligou, os especialistas
certos estavam prestando atenção para fornecer uma solução. Aqueles
familiarizados com a literatura cética estão cientes do esforço incansável de
James Randi para apontar que muitos supostos mistérios paranormais que
confundiram os cientistas podem ser resolvidos pela perícia de mágicos.
Agora, outro mistério foi solucionado com
informações fornecidas pelo especialista certo. A solução lembra a advertência
frequente de Michael Shermer: "Antes de dizer que algo é de fora deste
mundo, certifique-se de que não é deste mundo".
O artefato alienígena de Bob White
O objeto misterioso do falecido Bob White
(veja a foto acima) é apresentado na internet como uma prova concreta da
existência de OVNIs: "Esta é a prova definitiva!" E foi incluído no
topo ou próximo ao topo das listas de "melhores evidências" de OVNIs.
Em 1985, de acordo com o depoimento juramentado de White, ele cochilava
enquanto ele e um companheiro dirigiam em sentido oeste através dos campos
desolados entre Grand Junction, no Colorado, e a fronteira de Utah. Depois das
duas ou três da manhã, o amigo de White o acordou pela segunda vez - a luz
estranha que eles haviam notado antes no céu parecia estar ficando maior. White
lembrou:
[A luz] era mais ou menos do tamanho de uma lua cheia... Conforme nos
aproximávamos, ela crescia... Quando estávamos a algumas centenas de metros dela,
desliguei a ignição e paramos perto dela... Era enorme, do tamanho de um
celeiro muito grande. Saí do carro... para ver melhor. Por alguma razão
desconhecida, Jan acendeu os faróis, e essa luz subiu no céu tão rápido quanto
meus olhos podiam segui-la... Então eu vi outra luz pequena, laranja brilhante,
com um tom de amarelo, branco e azul, caindo dela… Subi o barranco e fui até
onde imaginei que poderia ter caído. Encontrei um afundamento no solo com cerca
de 45 cm de profundidade e 23 cm de largura. Eu segui o afundamento e lá estava
ele... ainda brilhando.
White escondeu o objeto no porta-malas e,
temendo que a história prejudicasse sua carreira no entretenimento, não disse
nada sobre ele até se aposentar.
De 1996 até sua morte em 2009, o agora
aposentado Bob White se dedicou a promover seu artefato como uma prova concreta
da existência de engenharia extraterrestre. Sua busca teve suas frustrações -
seu artefato, se genuíno, deveria ter sido uma das maiores descobertas de todos
os tempos - mas ele conseguiu atrair alguma atenção da mídia. Ele deu
entrevistas, falou em convenções de ufologia, escreveu um livro intitulado UFO
Hard Evidence (Galde Press 2004), montou um pequeno museu para abrigar seu
artefato (onde dizem que ele ofereceu o objeto para venda por dez milhões de
dólares), e apareceu em vários programas de TV.
Os orçamentos de produção de programas como UFO
Hunters, do History Channel, Unsolved Mysteries e Jane Goldman
Investigates (uma série produzida no Reino Unido) permitiram que ele
apresentasse o objeto a cientistas para que realizassem testes, obtendo
resultados mistos. Embora fosse facilmente comprovado como sendo feito de
alumínio, não parecia apresentar partes funcionais. Entusiastas de OVNIs
focaram em provar sua origem extraterrestre, sugerindo que a composição do
metal não combinava com nada na Terra. Eles compararam as razões de isótopos no
objeto com as dos meteoros, tentaram estabelecer que ele emitia radioatividade
incomum ou focaram em inclusões e oligoelementos no metal. Ninguém parecia se
perguntar por que uma peça supostamente sofisticada de tecnologia alienígena
parecia ter sido cortada sem cerimônia em uma extremidade.
Uma retífica de fundição. (A) é o rebolo
composto de abrasivo e adesivo. (B) é onde o molde fica. As estalagmites se
formam dentro da proteção do rebolo (C), logo atrás das duas grandes cabeças
dos parafusos.
Não existem mais muitas estalagmites grandes,
como souvenirs, porque o metal agora é tão valioso que é coletado e vendido
para sucata. Há também um esforço conjunto para manter os protetores de abrasão
limpos e remover as estalagmites antes que cresçam tanto que se quebrem e
destruam o abrasador, ficando presos entre os espaços da proteção do rebolo. É
possível que o artefato de Bob White não tenha sido identificado antes porque
poucas fundições antigas ainda usam o equipamento de abrasão antiquado que os
produz. O trabalho de fundição nos EUA tem sido continuamente terceirizado para
países em desenvolvimento, como México, China e Índia.
Experiência ao resgate
Nosso especialista Ean Harrison é um
supervisor de controle de qualidade de fundição de aço aposentado que trabalhou
na região de Seattle. Ele não só pode explicar a origem do estranho objeto de
Bob White, como já teve vários deles e os usou como enfeites de jardim.
Harrison escreve:
O objeto em questão é feito de resíduo de
abrasão agregado. Ele se forma de maneira semelhante a uma estalagmite comum
quando peças fundidas de metal são “limpas” em grandes retíficas estacionárias.
As peças fundidas brutas precisam ter as aletas e reentrâncias suavizadas para
facilitar a usinagem e reduzir a quebra de ferramentas. Uma típica retífica
estacionária em uma sala de limpeza de fundição, usada para desbastar
manualmente peças fundidas de até 18 kg, pode ter uma roda composta de 90 cm de
diâmetro e 10 cm ou mais de largura. A peça fundida é colocada em um suporte de
trabalho exatamente como o pequeno esmeril encontrado em oficinas domésticas, e
a peça é forçada contra a superfície da roda, retificando as aletas, reparos de
solda e reentrâncias. O pó da abrasão é expelido para baixo, na proteção do
disco, a uma temperatura próxima ao ponto de fusão do metal original. Quando a
poeira de metal e o abrasivo do rebolo atingem a parte inferior da proteção, o
epóxi derretido do rebolo cola a mistura. Com o tempo, uma estalagmite é criada
lentamente de baixo para cima, que funde os metais originais na forma
característica. Dependendo do tamanho da máquina, uma estalagmite pode
facilmente atingir um comprimento de 60 cm ou mais. Além disso, dependendo das
peças fundidas sendo desbastadas, a composição da estalagmite pode ser uma
mistura exótica de aço inoxidável, manganês, aço macio e alumínio - em outras
palavras, uma mistura metalúrgica muito enigmática combinada em um composto
aparentemente impossível. Mas, na realidade, é apenas um produto do aglutinante
do rebolo derretido. Eventualmente, a estalagmite cresce o suficiente para bloquear
a abertura na base da proteção de abrasão. A caixa deve ser aberta, a
estalagmite quebrada, jogada fora, reciclada, usada como enfeite de jardim ou
relatada como algo expelido de um OVNI.
É uma pena que muitas pessoas tenham sido
enganadas pensando que um resíduo industrial é uma evidência concreta de um
OVNI. Mas suponho que ainda existe a possibilidade de que um alienígena,
viajando em um OVNI, estivesse processando peças fundidas em uma retífica
estacionária e jogou a estalagmite no sr. White - mas alguém poderia se
perguntar por que eles ainda estão usando essa tecnologia primitiva.
Estalagmites de aço com um chifre e dois
chifres, cada uma com cerca de 10 cm de altura. As estalagmites de fundição vêm
em muitas formas e texturas - desde bolhas suaves e escorridas até elegantes
agulhas emplumadas. (A) e (B) (acima) são estalagmites de aço bastante típicas,
com escamas curtas e uma textura granulada e áspera.
Nossa estalagmite de aço carboneto de dois
chifres, feita sob medida, exibe longas escamas em camadas e uma textura fina.
Um experiente operador de usinagem deu uma olhada em uma foto do artefato Bob
White e produziu este objeto sobrenatural (C) para a revista Skeptic usando um
aço carboneto de alta temperatura para manter a mistura de metal e adesivo
perto do ponto de fusão do metal.
Agradecimentos
Nossos agradecimentos a: B.J. Mayclin, da
Fundição de Aço Roemer Electric, Longview, no estado de Washington, pelo
fornecimento das estalagmites (A) e (B); e a Michael Gilmore e Pat Mason por
pesquisarem a produção de estalagmites nas metalúrgicas da região de Los
Angeles; e a Francisco Rosales pela criação da estalagmite (C) para este
artigo.
Exceto pela foto superior deste artigo (o
artefato de Bob White), todas as fotos foram tiradas por Michael Gilmore, David
Patton e Ean Harrison.
Referências
http://www.greatdreams.com/ufos/ufo_metal.htm
http://ufoevidence.conforums.com
http://www.abovetopsecret.com/forum/thread461414/pg1
http://www.hardevidence.info/sworn-statement.php
Sobre os autores
PAT LINSE é uma ilustradora premiada que se
especializou em arte da indústria cinematográfica antes de se tornar uma das
fundadoras da Skeptics Society, revista Skeptic e criador da revista
Junior Skeptic. Como diretora de arte da revista Skeptic, ela criou
muitas ilustrações para as revistas Skeptic e Junior Skeptic. Ela é co-editora,
junto com Michael Shermer, da The Skeptic Encyclopedia of Pseudoscience.
EAN HARRISON está atualmente aposentado e
dedica seu tempo ao serviço público, organizando programas para a seção de
Cowlitz do Instituto Nacional de Doenças Mentais. Membro do Conselho Consultivo
da Rede de Apoio Regional do Condado de Cowlitz, Harrison está atualmente
ajudando a estabelecer um Programa de Prevenção do Suicídio Juvenil do Condado
de Cowlitz, e projetando exercícios experienciais de terapia de arte para
intervenções psicoterápicas para dependentes químicos. Possui graduação em
Design Ambiental pela Universidade de Washington. Harrison publicou pesquisas
revisadas por pares na revista Environment and Behavior com Phillip
Thiel e Richard Alden. A especialização e certificação de fundição incluem:
Supervisor de Controle de Qualidade, Análise Espectrográfica de Massa e
Escória, Análise Ultrassônica de Fundidos de Aço, Metalurgia, Inspeção de
Soldagem e Garantia de Qualidade, Operações de Sala de Limpeza e Análise e
Redução de Defeitos de Fundição.
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Tradução: Tunguska Legendas
Artigo original:
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