quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Uma Releitura do Fascinante & Inconclusivo Caso Varginha

 Artigo de João Marcelo Marques Rios

                                     Foto: Ariane Schiochet

Como resido a apenas 200 km de Varginha, e por conhecer o descobridor do caso o advogado e professor universitário Ubirajara Rodrigues, pude acompanhar de perto as investigações do Caso Varginha e os momentos históricos da ufologia brasileira naquela cidade.

Pouca gente sabe, mas uma das principais testemunhas do caso, o médico nefrologista doutor Fernando Eugênio do Prado, já falecido, foi localizado por mim. Ocorria um congresso de nefrologia em Belo Horizonte em 1997 e nele estava um outro nefrologista de São João Del Rei, que nos contou o ocorrido:

Em uma mesa de restaurante durante uma confraternização dos médicos surgiu o assunto do ET de Varginha e todos começaram a constranger o doutor Fernando, que reagiu dizendo que o caso era verdadeiro e que ele vira a criatura no Hospital Regional.

Eu passei a informação para Rodrigues, que conversou com o médico, mas o profissional negou tudo. Recentemente, eu e Marco Leal conversamos com um médico de Varginha que encontrou o doutor Fernando Eugênio do Prado nos corredores do Hospital Humanitas alguns anos após o caso.

Prado teria, então, lhe confidenciado que mentira para os ufólogos, e que realmente vira uma criatura estranha em uma maca no Hospital Regional. Segundo Prado, ele foi barrado ao tentar se aproximar e notara que havia médicos de fora da cidade no local. Ele disse que mentira por não querer aborrecimentos e nem se envolver com a história.

A partir de 2016, resolvi retomar as investigações do caso após conseguir localizar um general da reserva que estaria diretamente envolvido, e fora citado em 1996 por dois militares da Escola de Sargentos das Armas, que gravaram depoimentos em vídeo.

Segundo eles, o general havia sido deslocado de Brasília para Três Corações, a fim de estancar as informações que estavam vazando. Ele estaria a par da verdade sobre o caso. Tal militar era do círculo íntimo de amizades, e um dos poucos a frequentar fins de semana, em Brasília, com o general e ex-presidente Geisel, segundo apurou o pesquisador Giordano Mazutti.

                    Marco Leal, pesquisador do Caso Varginha

Em um evento na cidade de Lambari, em Minas Gerais, encontrei o pesquisador Marco Leal, e como já tínhamos os dados do general, decidimos ir atrás dele, e de todas as outras testemunhas civis e militares do caso que jamais haviam conversado ou sido contatadas pelos ufólogos. A partir dali, e nos últimos quatro anos, localizamos dezenas de testemunhas e iniciou-se um árduo trabalho de filtrar e verificar as informações a fim de se obter os contatos telefônicos e endereços corretos das testemunhas.

Em muitas ocasiões tínhamos mais de 10 números diferentes e ligávamos um por um até chegar no número certo. Também muitas vezes uma testemunha era localizada e nos dirigíamos a três ou 4 endereços diferentes na mesma cidade, até se chegar ao endereço correto. Algumas vezes, a pessoa não residia mais ali e vizinhos e o novo morador nos colocavam a par do novo endereço.

Dessa forma fizemos centenas de ligações, visitamos dezenas de endereços e conversamos com dezenas de testemunhas em várias cidades do sul de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e outros estados.


                              Pesquisador Giordano Mazutti

Este artigo tem a intenção de enumerar as principais informações novas obtidas, os pontos favoráveis e contrários ao envolvimento militar nos alegados fatos, e deixar a decisão ao leitor, pois em minha visão o caso será sempre inconclusivo, como bem disse seu descobridor Ubirajara Rodrigues, em seu livro lançado em 2001.

No início de nossa investigação existia um mito na ufologia brasileira de que jamais conseguiríamos conversar com as testemunhas militares, já que a pressão para manter o segredo é enorme e que todas seriam impedidas de falar. Mas, pelo contrário, salvo algumas raras exceções, todos nos atenderam educada e pacientemente, e com muito respeito.

Algumas pessoas nos receberam em suas casas e cheguei até a almoçar na casa de uma delas, o coronel da reserva do corpo de bombeiros de Minas Gerais José Francisco Maciel, em Belo Horizonte. Assim como Maciel, a maioria das testemunhas nega qualquer envolvimento nos fatos alegados pelos ufólogos e diz não saber nada sobre as supostas capturas e o acobertamento de fatos.

Considero, inclusive, o maior trunfo da investigação conduzida por mim, Marco Leal e Giordano Mazutti, as entrevistas gravadas em vídeo com o doutor Konradin Metze – cientista da Unicamp que teria autopsiado a criatura juntamente com Badan Palhares – e com o soldado Ricardo de Melo, motorista de um dos caminhões do comboio que teria retirado a criatura já morta do Hospital Humanitas, no fim da tarde do dia 22 de janeiro de 1996. Ambos negam veementemente os acontecimentos e consideram tudo uma grande fantasia.

Por outro lado, conversamos em duas oportunidades com um militar da reserva do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais que nos confirmou pela primeira vez, e de forma histórica, que realmente houve pelo menos uma ligação para a central, por volta de 09h00 do dia 20 de janeiro de 1996, informando a presença de algo estranho no bairro Jardim Andere.

O militar alega que estava podando árvores juntamente com o soldado Santos, já falecido, e o soldado Nivaldo. Segundo seu testemunho, ele recebeu uma mensagem via rádio para verificar a ocorrência e nos disse: “Procuramos... encontramos” e, depois, ele se corrige e diz: “Procuramos, não achamos nada e continuamos a podar das árvores”.

Com relação a suposta captura da manhã do dia 20, conseguimos, de forma inédita com um oficial dos Bombeiros, a escala de serviço daquele dia 20, e podemos hoje afirmar que estavam de serviço naquele dia: sargento Bernardes, os cabos Andrade, Rubens e Domingos, e os soldados Nivaldo, Lemes, Anderson, Santos e Joaquim.

Como se percebe, o sargento Palhares – citado como um dos militares envolvidos na captura da manhã – não estava de serviço naquele dia, ele só entrou de serviço às 08h00 do dia 21 de janeiro, ou seja, no dia seguinte. Nas duas ocasiões em que nos encontramos com ele em sua casa, em Varginha, ele nos disse que seu nome fora indevidamente envolvido na história.

Palhares alega que nada aconteceu, que não ficou sabendo de coisa alguma e que ninguém comentou sobre a suposta captura. Ele também negou que tenha havido uma reunião na sede dos Bombeiros de Varginha, na qual os militares teriam sido orientados a manter sigilo sobre os acontecimentos.

 A única coisa que ele confirma ter acontecido foi que, por volta das 08h00 do dia 21, domingo, quando ele estava entrando no serviço, uma viatura da Polícia Militar de Minas Gerais o abordou querendo mais detalhes sobre a captura de algo estranho no dia anterior, ao que ele respondeu: “Não sei de nada, ontem não estava trabalhando, estou entrando no serviço agora”.

Ainda falando sobre a suposta captura da manhã do dia 20, outra questão a ser analisada é o depoimento de testemunhas dizendo que viram uma caixa ser colocada na caçamba de um caminhão do Exército, conduzido por um tenente. Esse seria um fato que não é usual, já que somente praças dirigem as viaturas, e nunca oficiais.

Na verdade, não existe testemunha direta da captura da manhã, somente testemunhas indiretas. Uma delas é o pedreiro Henrique José da Silva, que trabalhava em uma obra próxima e alegou ter visto uma movimentação em um barranco abaixo da rua Suécia, e que depois as pessoas lhe disseram que algo estranho havia sido capturado pelos Bombeiros e entregue ao Exército.

Nós o localizamos e conversamos com Silva em 2019. Segundo nos disse Silva, ele estava na obra e viu o caminhão do corpo de bombeiros descer e algumas pessoas irem atrás dele, ele também disse ter visto o momento em que algo, dentro de uma rede, foi colocado em cima da viatura dos Bombeiros.

O fato curioso é que um integrante do Corpo de Bombeiros nos confirmou que realmente havia uma caixa de compensado naval no caminhão da corporação de Varginha, onde eram guardadas as ferramentas. Será que essa foi a tal caixa usada para colocar a criatura?

Silva, alegou, também, que carros da polícia começaram a passar pela obra após seu relato aparecer no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, e que tudo foi uma intimidação que resultou em sua demissão. Ele disse que se mudou para uma cidade próxima, ficou lá por alguns meses e depois retornou à Varginha.

Sempre ficamos nessa gangorra entre a confirmação e a negação.

Nós localizamos uma das principais testemunhas do Caso Varginha, um informante militar sobre a captura da manhã do dia 20 de janeiro de 1996, com quem conversamos em duas ocasiões, na porta de sua casa, em uma cidade do sul de Minas Gerais.

Em 1996, ele chegou em sua casa comentando sobre a tal captura, que confidenciou ao dono da casa por ele alugada, que morava no segundo andar, e ao filho dele. Como o filho era amigo do pesquisador Vitório Pacaccini, a notícia correu e Pacaccini foi atrás da testemunha que, mesmo com muito temor, gravou um depoimento em áudio detalhando a captura da manhã. Esse relato é uma das principais peças do quebra-cabeça do caso Varginha.

Para nossa surpresa, choque e espanto, a testemunha voltou atrás e disse que inventou tudo, que fora convencida a isso por Pacaccini, e que se arrepende de ter tomado parte da farsa. Entretanto, há outra nuance a ser analisada. Esse, aliás, e um caso com muitas nuances.

A testemunha morava em uma casa alugada no térreo e o proprietário morava na parte de cima e eram amigos de décadas. Quando comprou a casa, a amizade foi desfeita porque houve uma disputa judicial pela propriedade e pelo uso da garagem que ficava no térreo. Isso abre a possibilidade de a testemunha ter voltado atrás para, de alguma forma, atingir o ex-amigo, que foi quem intermediou o encontro com o Pacaccini. Ou realmente nada houve e ele se arrepende do que fez?

O fato é que um militar que não estava de serviço é citado na narrativa da captura da manhã e um oficial dirigindo um caminhão não é usual no Exército, além do que não há testemunhas diretas da suposta captura ocorrida por volta das 10h30min da manhã do dia 20 de janeiro de 1996. Até hoje não se sabe a identidade do tenente e dos dois sargentos que estavam no caminhão que teria levado a criatura – capturada pelos bombeiros e colocada na caixa, na caçamba do caminhão –, para a Escola de Sargentos das Armas.

Ainda com relação a alegados fatos ocorridos naquela manhã, o pesquisador Marco Leal, graças a uma dica fornecida pelo descobridor do caso, o doutor Ubirajara Rodrigues, conversou com uma nova testemunha que coloca o Exército no Jardim Andere naquele dia.

A pessoa tinha 14 anos à época, e viu o Exército isolando uma área abaixo da rua Suécia, a aproximadamente 50 m de distância de uma linha férrea desativada, naquela manhã. A testemunha notou quando algo foi transportado dentro de um saco. E, aqui, verificamos um outro complicador: muitas vezes, novas testemunhas narram fatos desconhecidos que não corroboram a narrativa já estabelecida, o que fragmenta a história e abre novas linhas de investigação e possibilidades.

Como já frisado, muitos ufólogos acreditavam que os militares, especialmente do Exército, jamais conversariam conosco e muito menos concordariam em gravar depoimentos. Quase todos conversaram e um deles, soldado de Melo, nos recebeu em sua casa, aceitou gravar em vídeo e autorizou a divulgação.

Se estivessem envolvidos em um grande processo de acobertamento de algo dessa envergadura, como foram tão receptivos ao nosso contato, nos atendendo com tanta atenção e paciência, conversando naturalmente sobre o assunto, negando saber de alguma coisa e até, no caso do José Maciel, me permitindo almoçar em sua casa com sua família, ocasião em que lhe fiz diversos questionamentos?

Uma das primeiras pessoas procuradas por nós foi o general da reserva Sérgio Lima, a quem contatamos por carta e telefone, uma vez que ele não aceitou nos encontrar em sua cidade. Por telefone, ele nos garantiu que nada houve, que foi tudo inventado, e autorizou a divulgação do telefonema.

Em contatos posteriores, ele se prontificou a responder perguntas, que lhe foram enviadas por carta e e-mail. Porém, o general voltou atrás e não quis responder, passando os questionamentos ao Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX), a fim de nos atender. Como não obtivemos resposta procuramos o CCOMSEX e o coronel Nador Brandão nos disse que nada recebera do general Lima, e que somente o CCOMSEX estaria autorizado a falar sobre Varginha e ninguém poderia fazê-lo, somente se autorizado por eles. Nossas perguntas jamais foram respondidas e somente uma resposta padrão nos foi enviada, dizendo que o tema fora encerrado com o IPM feito em 1997.

Em contraponto ao depoimento de Lima conversamos, em uma cidade do sul de Minas Gerais, com uma importante autoridade, que ocupava posição de destaque em 1996. A testemunha alega que era amigo de Lima e que ficou sabendo sobre uma movimentação estranha e resolveu verificar o que estava acontecendo. Ao se aproximar do Hospital Humanitas, teria visto tudo isolado pelo Exército, e algo sendo transportado e colocado na caçamba de um caminhão.

Como era uma autoridade, conhecia Lima e tinha acesso à Escola de Sargentos das Armas decidiu seguir o comboio, entrou na EsSA e foi falar com o comandante da escola, que lhe disse ser o assunto de segurança nacional e que nada poderia falar.

Essa importante testemunha teria uma foto da criatura e duas pessoas que não se conhecem, que já a teriam visto, juram que não se trata de desenho ou uma arte, mas de uma foto da criatura capturada. Infelizmente, e como ocorreu muitas vezes durante nossa investigação, o depoente se afastou e não atende mais às nossas ligações.

Muitas consideram a testemunha de um milhão de dólares o tenente-coronel Olimpio Vanderlei Santos, militar da EsSA que teria comandado toda a operação de retirada da criatura já morta do Hospital Humanitas e seu posterior traslado até a Especex, em Campinas.

Santos era um militar muito conhecido e respeitado e tinha, inclusive, em seu currículo, o curso de guerra bacteriológica, química e nuclear. Curiosamente, em seu facebook ele compartilhou um vídeo que produzimos sobre o caso intitulado Caso Varginha Minuto a Minuto, e durante nosso contato se mostrou aberto e interessado pela questão dos UFOs.

Santos, entretanto, afirma que nada houve, que não teve participação em nenhuma missão secreta envolvendo uma criatura estranha, e que ficou surpreso ao ver seu nome veiculado em rede nacional pelo programa Fantástico. Ele nos disse que assim que viu a reportagem da Rede Globo ligou para o general Lima e disse: “olhe, general, estão dizendo que a EsSA capturou um ET e que eu comandei tudo, estou avisando ao senhor antes”.

Olimpio disse, de forma surpreendente, acreditar que algo tenha ocorrido, mas que não teve participação naquilo, e que se tivesse envolvido em algo secreto ele, como bom militar, teria mantido o sigilo. Uma das coisas, entretanto, que me disse chamou minha a atenção e eu nunca mais a esqueci: “vocês querem tanto acreditar nessa história que não há nada que eu diga que os fará mudar de ideia e convencê-los de que nada ocorreu”.

Outro militar procurado foi o tenente Márcio Tibério, hoje coronel do Exército Brasileiro. De acordo com relatos da época, ele teria filmado a retirada da criatura do Hospital Humanitas no dia 22 de janeiro de 1996. Ele nos disse que só falaria mediante autorização do Cecomsex, por ser militar muito disciplinado, e quis saber quais eram os nomes dos militares que vazaram informações para os ufólogos. 

Já o capitão Ramirez, hoje general, riu de toda a história, disse que não se lembrava de nada e que nada tinha a dizer sobre o caso do ET de Varginha. Outro militar supostamente envolvido no caso que se negou a nos receber ou atender a nossos telefonemas foi o sargento Pedrosa. O outro motorista do comboio, que teria sido o soldado Cirilo, nos disse ser tudo fantasia e que se ETs existissem isso estaria claro nos textos bíblicos. Também Vassalo e Welber Rodrigues foram procurados e negaram veementemente qualquer envolvimento e/ou operação secreta em Varginha para retirada de uma criatura estranha do Hospital Humanitas.

O único motorista do comboio que aceitou gravar uma entrevista em vídeo foi o soldado Ricardo de Melo, que também autorizou a divulgação do vídeo para, segundo ele, dar fim a uma história fabricada. Ele disse que todos os motoristas eram amigos e caso algo tivesse ocorrido saberiam e que nada chegou aos seus ouvidos.

Também foram procurados os generais Délio de Assis Monteiro, Alberto Mendes Cardoso, Gleuber Vieira e Paulo Neves de Aquino. Os quatro teriam sido informados sobre o caso, à época, e teriam inclusive participado de uma visita à Unicamp, em maio de 1996, para ver a criatura em instalações daquela universidade. Todos eles negaram qualquer envolvimento.


Evento em Varginha em 2003: da esquerda para a direita: João Marcelo, Ubirajara Rodrigues, Wallacy Albino, Arthur Neto, Ademar Gevaerd, Marco Petit e Reginaldo de Ataíde.

Por outro lado, conversamos com militar de alta patente, já da reserva, que nos relatou a chegada do comboio vindo da EsSA, à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em janeiro de 1996, e também a tal visita dos generais a EsPCEx em maio de 1996, com posterior visita a Unicamp para supostamente verem a criatura. Seriam todos os comandantes de área, e de acordo com nosso informante, os generais ficaram mais de 10 horas em destino incerto e desconhecido.

Da Polícia Militar de Varginha conversamos com o comandante da época Maurício Antônio dos Santos e com o capitão Sebastião Siqueira. O primeiro teria estado no local da captura da manhã, na Rua Suécia, e o segundo estaria na retirada da criatura do Hospital Humanitas, inclusive muito nervoso e filmando tudo. Ambos negaram e disseram que não têm nada a dizer sobre o caso, que é tudo uma grande mentira.

Em relação aos Bombeiros, foram procurados o comandante da época major Maciel, o sargento Palhares, o soldado Nivaldo, o sargento Bernardes, o cabo Luiz Rubens. Todos negaram a história e o major Maciel, hoje coronel da reserva, me disse: “se eu tivesse chegado no local da captura e uma caixa já estivesse lá, tampada, com algo misterioso dentro, eu exigiria ver! Que história mirabolante é essa em que meus subordinados veem tudo e eu, o comandante não vejo?”.

 Também colhemos o depoimento do coronel Giuvaine de Moraes, que comandou a unidade dos Bombeiros, em Varginha, alguns anos após o caso. Ele disse que por causa de uma ação da Lei de Acesso a Informações (LAI), teve que procurar em todo o quartel por qualquer documentação relativa ao caso, assim como também em Belo Horizonte.

Ele conta que nada foi achado, somente alguns recortes de jornais, e que perguntou e investigou o caso, já que se interessa pelo tema, mas que concluiu que nada houve e que ninguém soube informar nada acerca da captura de uma criatura estranha por militares dos Bombeiros naquela cidade.

Sobre as testemunhas civis, nos encontramos com um funcionário do Hospital Regional que nos confirmou que havia pelo menos um caminhão do Exército ali, alas isoladas e pressão para todos ficarem calados.


Também localizamos o médico que teria atendido a criatura no Hospital Humanitas. Pessoas próximas a ele nos garantiram que o médico confidenciou ter atendido a criatura dentro daquele hospital, mas que sempre se esquivava e não dava muitos detalhes.

Algo curioso ocorreu quando tocamos o interfone da casa desse médico e a esposa dele, talvez em um ato falho, disse: “teve isso daí mesmo”, quando dissemos qual era o propósito de nossa visita. Outro relato foi o do ex-diretor do Hospital Regional e um dos donos do Hospital Humanitas em 1996, Adilson Usier.

Ele ligou para o pesquisador Marco Leal em 1997, ano em que ocorreria um evento de ufologia em Varginha. Usier queria se apresentar para contar a verdade sobre o caso, e o que de fato teria ocorrido. Alegou que não vira nada, mas que o caso tinha ocorrido, entretanto o que ele fez foi somente replicar informações que são públicas desde 1996.

Em contatos posteriores ele disse que estava na cidade, mas que quando chegou aos hospitais a criatura já fora retirada. Disse também que foi usado o pretexto da chegada de equipamentos médicos no Humanitas para justificar a movimentação incomum, e que um médico o havia informado sobre a criatura no hospital. Em um dos últimos contatos, entretanto, Usier mudou o discurso e disse que era tudo uma grande mentira e que iria reunir testemunhas do caso, inclusive Badan, para expor tudo e denunciar a farsa. Após isso, em outro contato, disse que não desejava se envolver mais com o assunto e queria ser deixado em paz.

Para nós causou estranheza o diretor do Hospital Regional e um dos donos do Humanitas não ter visto nada, ter sido informado por terceiros e só ter chegado após tudo ter sido retirado. Em conversas com um parente de Usier, nos foi confirmado que ele estava na cidade no fim de semana do caso e também na segunda-feira, data da suposta retirada da criatura do Humanitas.

Tentei obter mais informações e argumentei: “mas ele estava na cidade, ficou sabendo, mas não foi lá? Ele teve o domingo inteiro para ir até lá e quase a segunda-feira toda!” O parente dele se esquivou e não respondeu. Também uma enfermeira, hoje residente em Pouso Alegre, que trabalhava no Humanitas disse que estava trabalhando na segunda-feira e que nada viu de diferente, nem militares do Exercido, bombeiros, movimentação estranha e muito menos alas isoladas. Para ela, foi um dia normal de trabalho a segunda-feira, 22 de janeiro de 1996.

No curso de nossa investigação, conseguimos gravar uma entrevista com um militar reformado da Inteligência do Exército. Ele narrou a presença de uma barraca muito sofisticada na EsSA, ainda na primeira quinzena de janeiro de 1996, e que teria feito a segurança do local.

Dentro da barraca haveria uma caixa de aço inoxidável, na qual ninguém podia tocar, e muitos procedimentos de biossegurança como, por exemplo, limpeza constante, uso de luvas, máscara, proteção nas botas. Os militares tinham que pisar em algo parecido com cloro e se limpar com algo parecido com álcool gel. Depois, a tal caixa foi colocada em um avião no aeroporto de Varginha, e enviada para Campinas.

Devido a inúmeras contradições e informações que não procedem, hoje descartamos por completo esse depoimento assim como o relato de Carlos de Souza, que teria chegado ao local da queda de um objeto estranho na fazenda Maiolini, no dia 13 de janeiro de 1996, devido a inúmeras contradições, discrepâncias e pontos divergentes entre o relato de 1996 e o de 2018.

Como contraponto a isso, recebemos informações obtidas por um ufólogo que prefere o anonimato. Ele conheceu parentes de um brigadeiro que teria participado do transporte da criatura capturada em Varginha para os Estados Unidos. Durante uma confraternização, ele contou que existia vida fora da Terra, que o Caso Varginha fora real e, então falou do transporte da criatura.

Seu filho tentou intermediar um encontro conosco a fim de obtermos mais informações, porém ele disse que o assunto era secreto e dizia respeito somente às Forças Armadas.

O ponto alto da investigação foi a entrevista com o professor doutor Konradin Metze da Unicamp, um dos cientistas que teria autopsiado o ET de Varginha.

Antes da gravação, conversei com a esposa dele e depois com ele por telefone, e só então o pesquisador Marco Leal gravou com ele, perto do Hospital das Clínicas da Unicamp. Metze negou tudo, e disse que seu nome fora envolvido indevidamente na história.

Ele, inclusive, demonstrou interesse e conhecimento de temáticas ligadas aos ufos, como os contatos de Elba Ramalho. Disse que, como cientista, adoraria ter feito a autópsia, mas que infelizmente não teve essa honra. O cientista confirmou uma informação que está no primeiro livro sobre o caso, que foi escrito por Vitório Pacaccini. Metze disse que nunca se deu muito bem com Badan Palhares, e está no livro que após um desentendimento, ele teria rompido com Palhares e se retirado do grupo de pesquisas da criatura.

O que nos surpreendeu, na verdade, foi a total falta de repercussão da entrevista com Metze em blogs, sites, canais e veículos divulgadores de ufologia. O cientista que teria autopsiado o ET de Varginha falou após 24 anos, mas ninguém se importou!

Este texto despretensioso é uma singela homenagem aos investigadores Ubirajara Rodrigues, Vitório Pacaccini, Claudeir Covo,  Marco Antonio Petit, Osvaldo Mondini, Eduardo Mondini e Jamil Villa Nova.

Um dos mitos do caso seria de que o descobridor dele, o advogado e professor universitário doutor Ubirajara Rodrigues, foi comprado e pressionado, foi admoestado e por isso se afastou da ufologia.  Tudo não passa de fantasia, já que o IPM da EsSA foi encerrado em 1997, e quatro anos depois ele teve seu livro publicado, contestando o que está no IPM.

               Dr.Ubirajara Rodrigues, descobridor do Caso Varginha

Oito anos depois, participou do debate histórico com Badan Palhares na CBN de Campinas, quando sustentou que o caso era real. Também concedeu uma entrevista para a Revista UFO, em duas edições, e nunca disse que o caso não ocorreu, mas que, obviamente, não podia prová-lo e evidentemente testemunhos não são suficientes para se demonstrar visitação de seres de outros mundos.

Rodrigues nos ajudou enormemente na investigação, muitas vezes tomamos puxões de orelha merecidamente e inclusive nos indicou uma testemunha nova que coloca o Exército no bairro Jardim Andere no dia dos fatos. O afastamento dele se deve à “terra de ninguém” em que se transformou a ufologia, dominada pelo fanatismo e pela credulidade exacerbadas, e pela mistura místico-religiosa em nome de uma espiritualidade movida a cifrões.

Quanto a Vitório Pacaccini, nós o localizamos. Ele mora hoje no interior de Minas Gerais. Ele não morreu nem foi substituído por um clone, não fez cirurgia plástica, nada disso. Troquei 27 e-mails com ele, e checamos todas as informações que ele nos passou. A maioria não procede.

Ele alega que fez um acordo de cavalheiros, e que não divulgaria o que conseguiu de novo sobre o caso em troca de ser deixado em paz, já que era seguido, grampeado, monitorado, ameaçado e até tentaram matá-lo. Cabe a ele, se algum dia voltar a dar declarações públicas, provar suas incríveis alegações que, pelo que apuramos, não procedem. Pacaccini não nos deu qualquer informação nova sobre o caso. Acredito que ainda voltará a ativa, dará palestras, escreverá um livro, etc. Quem sabe, em 2021, quando o caso completa 25 anos...

Enfim, aqui condensei as principais informações recolhidas em cinco anos de investigações, os pontos favoráveis e contrários ao envolvimento militar. Cabe a você, leitor, o julgamento.

 

 

16 comentários:

  1. Parabéns pela matéria João Marcelo! Bem honesta e equilibrada. Assim é que se faz Ufologia Científica e Investigativa,como Claudeir Covo, fazia, contestando e duvidando, mas sempre tendo esperança e sem forçar teses... Existe a versão de uma parte, a versão de outra e a Verdade Real, esta é a que devemos buscar.

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  2. Parabéns pela matéria João Marcelo! Bem honesta e equilibrada. Assim é que se faz Ufologia Científica e Investigativa,como Claudeir Covo, fazia, contestando e duvidando, mas sempre tendo esperança e sem forçar teses... Existe a versão de uma parte, a versão de outra e a Verdade Real, esta é a que devemos buscar.

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  3. Caso fantástico e intrigante, parabéns pela pesquisa de campo e pelo esforço.. Tomara que o caso não morra com o tempo e que alguns dos envolvidos nos deixe um relato original.. Parabéns !

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  4. E as declarações que foram gravadas em vídeo? Mesmo eu seu leito de morte as testemunhas não vão liberar seu testemunho?

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    1. as informações constantes nos vídeos já são públicas desde 1996

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  5. Excelente texto, honesto e claro nas evidências. O cabo Vassalo não alegou nada sobre o depoimento em vídeo?

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  6. Olá! Parabéns pelo trabalho!
    Os depoimentos dos militares que foram mostradas para o Goulart de Andrade em sigilo pelo o Ubirajara e Pacacini, não são verídicas? E as testemunhas das 3 meninas? E o depoimento da mãe das mininas sobre o pagamento para negarem? Obrigado!

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    1. Tem que ser analisado o contexto de tudo e nele a maioria dos supostamente envolvidos nega veementemente as tais capturas. Será que não houve o exército no caso? Será que o caso se resumiu a um contato de 3o grau?
      A tentativa partiu de uma igreja ligada a um canal de tv, mas realmente houve? Tudo pode e deve ser questionado na ufologia. Há argumentos contrários e favoráveis e por isso é inconclusivo.

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    2. Sim João!Mas os acontecimentos, como avistamento do casal Eurico e Oralina que viram o objeto que depois se confirmou estar indo em direçao ao Jardim Andere? Então não existe o encaixe dos fatos propoto inicialmente pelos Ufologos? E a FAMILIA do Marco Eli Cherese assim como seu médico que confirmam a fala do mesmo sobre o contato com a criatura?

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    3. O Marco Chereze morreu sem nada dizer, quem contou foi a irmã dele. Qto a morte dele não houve nada misterioso na minha opinião. Acho que em todo caso famoso da ufologia há exageros e associações indevidas.

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  7. Saber q Paccacini hoje fala coisas sobre o caso que não procedem é no mínimo..muito ruim...

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  8. o que se sabe de concreto sobre os supostos vídeos e fotos da operação ? há muitos anos atrás eu vi na internet uma foto que diziam ser do comboio. Era uma Kombi branca e um caminhãozinho do exercito. A foto tinha um aspecto meio envelhecido e parecia ter sido escaneada. Infelizmente nunca mais a encontrei.Muito triste saber que Paccacini está falando coisas que provavelmente não aconteceram... Será que são coisas que ele apurou mal, ou ele estaria inventando detalhes..

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  9. No famoso programa do Goulart de Andrade sobre o caso é possível ouvir o Pacccini cochichando algo com o Ubirajara no local do avistamento das meninas. Algumas pessoas interpretaram como "não tras mais ninguém aqui". Alguém ja analisou o que dizem em off? Depois das fotos do bicho preguiça sem pelos que circulou o mundo como um alienigena, como pareceria um macaco com os pelos raspados e bezuntado em oleo? Isso tudo acontecendo ao lado da casa de um dos pesquisadores.

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  10. Faltou falar do brigadeiro que disse pro Marcão que uma das coisas que garantem a vida do homem é ficar quieto

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