Afirma-se
que esqueletos humanos gigantes foram “encontrados aos milhares” e destruídos
pelo Smithsonian.
Uma
velha farsa ressurgiu em um meme do Instagram alegando que esqueletos gigantes
foram encontrados, mas foram destruídos porque “ter que explicar a existência
desses esqueletos, contradiz a evolução da humanidade e a criação.”
A
postagem de 25 de julho do usuário @conspiracytheories, que ganhou mais
de 54.700 curtidas, diz: “Esqueletos gigantes foram encontrados aos milhares,
mas a maioria foi destruída ou jogada no mar pelo Smithsonian e pelo Vaticano”.
A
conta não respondeu ao pedido de comentário do USA TODAY.
A
afirmação percorreu a Internet em diferentes variações ao longo dos anos. Uma
postagem semelhante apareceu em 2015 alegando que a Suprema Corte decidiu que a
documentação sobre os gigantes deveria se tornar pública, relatou Jacksonville.org,
concluindo que a alegação era falsa.
Uma
coleção de fotos que afirmam mostrar os restos mortais de humanos gigantes
também circulou em 2004, relatou Snopes.
Como
a fraude começou?
Apesar
de muitos relatórios e fotos desmascararem o mito que ressurgiu ao longo dos
anos, a afirmação continua a ser muito compartilhada. A National Geographic
Society luta contra a fraude desde 2004.
“A
fraude começou com uma foto adulterada e, mais tarde, encontrou um público
online receptivo - graças, talvez, às conotações religiosas não intencionais da
imagem”, escreveu a National Geographic em 2007, acrescentando que “não
descobriu humanos gigantes antigos”.
Os
usuários costumam citar um artigo do Hindu Voice, da Índia, para apoiar
a afirmação de que esqueletos gigantes foram encontrados na Índia. No entanto,
a National Geographic escreveu que o editor do Hindu Voice
publicou uma retratação depois que os leitores alertaram a publicação de que a
história era uma farsa.
“Somos
contra espalhar mentiras e boatos”, escreveu o editor. “Além disso, nossos
leitores são de uma classe muito instruída e não tolerarão nenhum absurdo.”
Outras
postagens de blog de 2007 fazem referência a um relatório supostamente publicado
no Times of India em 2004, mas a National Geographic não
encontrou tal artigo nos arquivos do jornal.
Alex
Boese, “curador” do Museu Virtual de Fraudes, disse à National Geographic
que os gigantes falsos datam de 1700 e que a fraude “explora o desejo das
pessoas pelo mistério e a ânsia de ver a confirmação de lendas religiosas.”
Qual
a origem das imagens?
Uma
foto dos restos mortais do gigante é uma imagem manipulada de uma escavação de
dinossauro em 1993, no Níger, Snopes descobriu. O usuário que compartilhou a
foto adicionou uma caveira gigante à imagem, já que a foto original não tem
essa caveira.
Outra
foto compartilhada foi uma imagem aérea de uma escavação de mastodonte em 2000,
em Hyde Park, Nova York. A foto foi alterada por um ilustrador canadense, que
atende pelo apelido de IronKite, para mostrar um esqueleto humano sobre os
restos mortais da fera junto com um escavador, a National Geographic
descobriu.
Ele
disse ao canal de notícias que a foto levou apenas uma hora e meia para ser
criada e chamou muita atenção na Internet. “Eu rio muito quando alguém afirma
conhecer alguém que estava lá, ou até chega a afirmar que ele ou ela estava lá
quando encontraram o esqueleto e tiraram a foto”, disse IronKite, acrescentando
que nada tinha a ver com a fraude.
A
versão mais recente da fraude afirma que o Smithsonian destruiu milhares de
esqueletos gigantes. Em 2017, a Smithsonian Magazine publicou uma foto
do gigante de Cardiff que as pessoas acreditavam ser verdade, escrevendo que o
gigante continua sendo “uma das fraudes mais famosas da América do século XIX”,
segundo o estudioso Michael Pettit.
“A
história, que começou no dia 8 de setembro de 1869, era uma típica notícia
falsa - parecia que talvez pudesse ser real, mas foi deixada deliberadamente
aberta à interpretação”, escreveu a Smithsonian Magazine.
O
Smithsonian não respondeu aos pedidos do USA TODAY para comentar a foto mais
recente. Não há evidências ou relatos de que o Smithsonian destruiu esqueletos
humanos gigantes “aos milhares”.
Uma
publicação do Instituto de Arqueologia dos EUA descobriu ainda que um crânio
gigante, descrito em um jornal, era uma farsa e havia sido plantado em uma
mina, mas grupos ainda afirmam que ele é real, mesmo depois de 150 anos. Um
arqueólogo foi investigar o crânio e descobriu que “os achados naturais eram
claramente de grande idade geológica, mas os restos humanos e artefatos não”.
“Supor
que o homem poderia ter permanecido inalterado fisicamente; supor que ele
poderia ter permanecido inalterado mentalmente, socialmente, industrialmente e
esteticamente por um milhão de anos, falando à grosso modo, é supor um milagre”,
William H. Holmes, um arqueólogo do Smithsonian escreveu no artigo do Instituto
de Arqueologia dos EUA, acrescentando que supor que antigas pessoas
desapareceram e deixaram seus ossos “é supor o impossível”.
A história
apareceu em site satírico
Em
outubro de 2017, o Hoax-Slayer relatou que relatos da descoberta de um
esqueleto gigante era, na verdade, um mamute encontrado em Paris há muitos
anos, observando que a afirmação começou depois que o World News Daily
Report noticiou a imagem.
De
acordo com o Media Bias, o conteúdo do World News Daily Report é
rotulado como sátira. Em seu site, o slogan do World News Daily Report é
“onde os fatos não importam”.
Mito
do esqueleto gigante e religião
A
descoberta de grandes ossos de vertebrados foi inicialmente mal interpretada
como os restos de humanos gigantes, de acordo com um estudo de 2017 na Historical
Biology, “Esqueletos de Ciclopes e Lestrigões: Má Interpretação
de Vertebrados do Quaternário como Restos Mortais de Gigantes Mitológicos.”
A
partir daí, escritores gregos e romanos, como Estrabão, Filóstrato, Plínio e
muitos outros, interpretaram os enormes esqueletos como corpos dos gigantes
mitológicos Anteu, Ciclope e outros.
Um
estudo de 2016 que examinou “correlatos de crença em uma narrativa sobre a
descoberta de restos mortais de esqueletos gigantes” descobriu que as pessoas que
acreditavam no mito tinham “muito mais associação com atitudes anticientíficas,
forte orientação para visões da Nova Era, maior religiosidade, crenças
supersticiosas mais fortes, menores pontuações de abertura para experiências e
pontuações mais altas de neuroticismo.”
Ulrich
Lehner, Professor Emérito de Teologia da Universidade de Notre Dame, disse que
o problema surge quando se entende o livro do Gênesis como um livro de história
com informações “literais”.
“É
um livro de histórias que transmite uma mensagem teológica e confundir a
categoria do texto leva a um completo mal-entendido”, disse Lehner em um e-mail
ao USA TODAY.
“A maneira
católica de ler as Escrituras nunca se choca com a ciência e a razão, enquanto
a leitura fundamentalista das Escrituras exige o sacrifício da razão. Para nós,
católicos, razão e fé estão sempre em harmonia”, disse Lehner. “Um católico,
portanto, não tem nenhum problema com a evolução ou em ver a história sobre os
'gigantes' como um mito integrado na Bíblia para enfatizar a queda e o pecado,
mas não como um relato histórico.”
A
alegação de que esqueletos humanos gigantes foram encontrados aos milhares e
destruídos é classificada como FALSA porque não foi confirmada por nossa
pesquisa. O mito foi desmascarado repetidamente ao longo dos anos e as fotos
dos esqueletos gigantes foram alteradas. Os meios de comunicação que relataram
sobre o esqueleto gigante retiraram o artigo e publicaram uma retratação.
Nossas
fontes de checagem de fatos:
Jacksonville.com, “Verificação
de fatos: esta é uma que você poderia chamar de farsa gigante”
National
Geographic Society, “A Fraude na Internet do Esqueleto
Gigante”
Smithsonian
Magazine, “O Gigante de Cardiff era uma Grande
Fraude
Snopes, Fotografias
de esqueleto humano gigante
Arqueologia, O Notório
Crânio de Calaveras
Hoax
Slayer, Fake-News Report afirma que esqueleto
humano de cinco metros de altura foi encontrado em Uluru
Media
Bias, classificação do World News Daily Report
Sage
Journals, 5 de janeiro de 2016, “Quem Acredita no
Mito dos Esqueletos de Gigantes? Uma análise de Correlatos de Diferenças Individuais”
Historical
Biology, 8 de fevereiro de 2017, “Esqueletos de
Ciclopes e Lestrigões: Má Interpretação de Vertebrados do Quaternário como
Restos Mortais de Gigantes Mitológicos”
Ulrich
Lehner, entrevista por e-mail ao USA TODAY
* * *
Tradução:
Tunguska Legendas
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário