quarta-feira, 11 de junho de 2025

A Desinformação do Pentágono que Alimentava a Mitologia Americana dos OVNIs

 

As Forças Armadas dos EUA fabricaram evidências de tecnologia alienígena e permitiram que rumores se alastrassem para acobertar programas secretos de armas reais.

Um pequeno escritório do Pentágono havia passado meses investigando teorias da conspiração sobre programas secretos de OVNIs, em Washington, quando descobriu uma verdade chocante: pelo menos uma dessas teorias havia sido alimentada pelo próprio Pentágono.

A investigação ordenada pelo Congresso levou os investigadores de volta à década de 1980, quando um coronel da Força Aérea visitou um bar próximo à Área 51, um local ultrassecreto no deserto de Nevada. Ele deu ao proprietário fotos do que poderiam ser discos voadores. As fotos foram penduradas nas paredes e, no folclore local, surgiu a ideia de que as Forças Armadas dos EUA estavam testando secretamente tecnologia alienígena recuperada.

Mas o coronel estava em uma missão — de desinformação. As fotos foram adulteradas, confessou o agora aposentado oficial aos investigadores do Pentágono em 2023. Todo o exercício foi um estratagema para proteger o que realmente estava acontecendo na Área 51: a Força Aérea estava usando o local para desenvolver caças furtivos ultrassecretos, vistos como uma vantagem crucial contra a União Soviética. Os líderes militares temiam que os programas pudessem ser expostos se os moradores locais, de alguma forma, vislumbrassem um voo de teste, digamos, do caça furtivo F-117, uma aeronave que realmente parecia de outro mundo. Melhor que acreditassem que veio de Andrômeda.

Este episódio, relatado agora pela primeira vez, foi apenas uma de uma série de descobertas que a equipe do Pentágono fez ao investigar décadas de alegações de que Washington estava escondendo o que sabia sobre vida extraterrestre. Esse esforço culminou em um relatório, divulgado no ano passado pelo Departamento de Defesa, que concluiu que as alegações de um encobrimento do governo eram infundadas.

Na verdade, uma investigação do Wall Street Journal revela que o próprio relatório equivalia a um encobrimento — mas não da maneira como a indústria da conspiração sobre OVNIs quer que as pessoas acreditem. A declaração pública omitiu a verdade por trás de alguns dos mitos fundamentais sobre os OVNIs: o próprio Pentágono, por vezes, deliberadamente atiçou as chamas, o que equivalia ao governo dos EUA direcionar desinformação aos seus próprios cidadãos.

Ao mesmo tempo, a própria natureza das operações do Pentágono — uma burocracia opaca que mantinha programas secretos embutidos dentro de programas secretos, disfarçados de histórias de fachada — criou um terreno fértil para a disseminação dos mitos.

Essas descobertas representam uma nova reviravolta impressionante na história da obsessão cultural dos Estados Unidos por OVNIs. Nas décadas seguintes à transmissão de rádio de “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells, em 1938, que espalhou o pânico por todo o país, as especulações sobre visitantes alienígenas permaneceram, em grande parte, domínio de tabloides de supermercado, sucessos de bilheteria de Hollywood e conferências fantasiadas em Las Vegas.

Mais recentemente, as coisas tomaram um rumo sinistro quando um grupo de ex-funcionários do Pentágono tornou públicas as alegações de um programa do governo para explorar tecnologia extraterrestre e escondê-la dos americanos. Essas alegações levaram à investigação do Pentágono.

Agora, surgem evidências de que os esforços do governo para propagar a mitologia dos OVNIs remontam à década de 1950.



A “Rodovia Extraterrestre”, perto da Área 51, vista à noite

Este relato é baseado em entrevistas com duas dúzias de autoridades americanas atuais e antigas, cientistas e empreiteiros militares envolvidos na investigação, bem como em milhares de páginas de documentos, gravações, e-mails e mensagens de texto.

Às vezes, como no caso da fraude envolvendo a Área 51, oficiais militares espalharam documentos falsos para criar uma cortina de fumaça para programas reais de armas secretas. Em outros casos, oficiais permitiram que mitos sobre OVNIs se enraizassem no interesse da segurança nacional — por exemplo, para impedir que a União Soviética detectasse vulnerabilidades nos sistemas de proteção de instalações nucleares. As histórias tendiam a ganhar vida própria, como a da jornada de três décadas de um suposto pedaço de metal espacial que se revelou não ser nada disso. E uma prática recorrente era mais como um ritual de trote de fraternidade que saiu completamente do controle.

Os investigadores ainda estão tentando determinar se a disseminação de desinformação foi obra de comandantes e oficiais locais ou de um programa institucional mais centralizado.

O Pentágono omitiu fatos importantes na versão pública do relatório de 2024 que poderiam ter ajudado a dissipar alguns rumores sobre OVNIs, tanto para proteger segredos confidenciais quanto para evitar constrangimentos, segundo a investigação do Wall Street Journal. A Força Aérea, em particular, pressionou para omitir alguns detalhes que acreditava poderem comprometer programas secretos e prejudicar carreiras.

A falta de transparência apenas alimentou ainda mais as teorias da conspiração. Membros do Congresso formaram uma bancada, composta principalmente por republicanos, para examinar fenômenos anômalos não identificados, ou UAPs, na linguagem burocrática. A bancada exigiu que a comunidade de inteligência revelasse quais agências “estão envolvidas com programas de recuperação de UAPs acidentados”.

O ceticismo do movimento MAGA sobre o “estado profundo” alimenta ainda mais a noção de que os burocratas do governo têm ocultado esses segredos do povo americano. Em uma audiência em novembro de duas subcomissões de Supervisão da Câmara, a deputada Nancy Mace, republicana da Carolina do Sul, questionou o relatório do Pentágono. “Não sou matemática, mas posso dizer que os cálculos não conferem”, disse ela.



Um guarda na entrada do Campo de Testes e Treinamento de Nevada, perto da Área 51, em 2019

“Estúpido o suficiente”

Sean Kirkpatrick, um cientista preciso e de óculos que passou anos estudando vibrações em cristais de laser, estava se aproximando da aposentadoria do serviço público quando recebeu o chamado que mudaria sua vida.

Em 2022, ele havia alcançado o posto de cientista-chefe do Centro de Inteligência Espacial e de Mísseis no Arsenal de Redstone, perto de Huntsville, Alabama. Às 6h30 da manhã, sentado à sua mesa, tomando café e folheando relatórios de inteligência recebidos durante a noite, seu telefone de mesa Tandberg — basicamente uma versão confidencial de uma chamada de vídeo — tocou.

Era um subsecretário adjunto do Pentágono, que estava colocando uma gravata enquanto contava a Kirkpatrick sobre um novo escritório que o Congresso ordenou que o departamento criasse para examinar fenômenos anômalos não identificados. “O subsecretário e eu elaboramos uma lista de quem poderia fazer isso, e você está no topo”, relatou o funcionário, acrescentando que eles haviam escolhido Kirkpatrick porque ele tinha formação científica e havia criado meia dúzia de organizações dentro da comunidade de inteligência.

Será esse o verdadeiro motivo, respondeu Kirkpatrick, “ou sou o único estúpido o suficiente para aceitar?”

Em pouco tempo, Kirkpatrick colocou em funcionamento o Escritório de Resolução de Anomalias de Todos os Domínios. Apenas o mais recente de uma sopa de letrinhas de projetos governamentais especiais criados para estudar OVNIs que remontam a mais de meio século, o AARO, como é conhecido, operava em um escritório sem identificação perto do Pentágono, com algumas dezenas de funcionários e um orçamento confidencial.

A missão se dividia em duas áreas. Uma era coletar dados sobre avistamentos, particularmente em torno de instalações militares, e avaliar se eles poderiam ser explicados pela tecnologia terrestre. Em meio à crescente atenção pública, o número desses relatos disparou nos últimos anos, de 144 entre 2004 e 2021 para 757 nos 12 meses após maio de 2023. O AARO relacionou a maioria dos incidentes a balões, pássaros e à proliferação de drones que tomavam os céus.

Muitos relatos de pilotos sobre orbes flutuantes eram, na verdade, reflexos do Sol vindos dos satélites Starlink, descobriram os investigadores. Eles ainda estão examinando se alguns eventos inexplicáveis podem ser tecnologia estrangeira, como aeronaves chinesas usando métodos de camuflagem de última geração que distorcem a aparência delas.



Sean Kirkpatrick, o primeiro diretor do Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios, aposentou-se em um retiro no topo de uma montanha

O escritório descobriu que alguns eventos aparentemente inexplicáveis não eram tão estranhos assim. Em um deles, um vídeo de 2015 parecia mostrar um objeto esférico passando zunindo por um caça a jato a uma velocidade quase impossível. “Minha nossa, cara”, pode-se ouvir o piloto dizendo no vídeo, rindo. Mas, posteriormente, os investigadores determinaram que não havia muito para ver — qualquer que fosse o objeto, o ângulo da câmera e a velocidade relativa do jato faziam com que ele parecesse estar voando muito mais rápido do que realmente estava.

A segunda missão do escritório provou ser mais peculiar: revisar os registros históricos que remontavam a 1945 para avaliar as alegações feitas por dezenas de ex-oficiais militares de que Washington operava um programa secreto para recuperar tecnologia alienígena. O Congresso concedeu ao escritório acesso sem precedentes aos programas mais sigilosos dos Estados Unidos para permitir que a equipe de Kirkpatrick investigasse as histórias.

À medida que Kirkpatrick prosseguia com a investigação, ele começou a descobrir uma sala de espelhos dentro do Pentágono, envolta em disfarces oficiais e não oficiais. Em certo nível, o sigilo era compreensível. Afinal, os EUA estavam travando uma batalha existencial com a União Soviética há décadas, com cada lado determinado a vencer na corrida por armas cada vez mais exóticas.

Mas Kirkpatrick logo descobriu que parte da obsessão com o sigilo beirava o ridículo. Um ex-oficial da Força Aérea ficou visivelmente aterrorizado ao contar aos investigadores de Kirkpatrick que havia sido informado sobre um projeto secreto de tecnologia alienígena décadas antes e que, se algum dia contasse o segredo, poderia ser preso ou executado. A alegação seria repetida aos investigadores por outros homens que nunca haviam falado sobre o assunto, mesmo com suas esposas.

Descobriu-se que as testemunhas haviam sido vítimas de um ritual bizarro de trote.

Durante décadas, certos novos comandantes dos programas mais secretos da Força Aérea, como parte de seus briefings de indução, recebiam uma folha de papel com uma foto do que parecia ser um disco voador. A nave era descrita como um veículo de manobra antigravitacional.



Um F-117 Nighthawk sobrevoa a cordilheira de Serra Nevada em 2002, perto da Base Aérea de Edwards, na Califórnia

Os oficiais foram informados de que o programa ao qual estavam se juntando, apelidado de Yankee Blue, fazia parte de um esforço para fazer engenharia reversa da tecnologia da nave. Foi dito a eles para nunca mais mencionarem o assunto. Muitos nunca souberam que era falso. Kirkpatrick descobriu que a prática havia começado décadas antes e parecia continuar até hoje. O gabinete do Secretário de Defesa enviou um memorando para as Forças Armadas na primavera de 2023 ordenando o fim imediato da prática, mas o estrago já estava feito.

Os investigadores ainda estão tentando determinar por que os oficiais enganaram subordinados, seja como algum tipo de teste de lealdade, uma tentativa mais deliberada de enganar ou algo mais.

Após essa descoberta em 2023, o assistente de Kirkpatrick informou a diretora de inteligência nacional do presidente Joe Biden, Avril Haines, que ficou perplexa.

Poderia ser essa a base para a crença persistente de que os EUA têm um programa alienígena que escondemos do povo americano? Haines queria saber, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. “Qual era a extensão?”, ela perguntou.

O oficial respondeu: “Senhora, sabemos que isso durou décadas. Estamos falando de centenas e centenas de pessoas. Esses homens assinaram acordos de confidencialidade. Eles acharam que era real.”

A descoberta poderia ter sido devastadora para a Força Aérea. Esse braço das Forças Armadas era particularmente sensível às alegações de trote e solicitou que o AARO adiasse a inclusão da descoberta no relatório público, mesmo depois de Kirkpatrick ter informado os legisladores sobre o episódio. Kirkpatrick se aposentou antes que o relatório fosse concluído e divulgado.

Em um comunicado, uma porta-voz do Departamento de Defesa reconheceu que o AARO havia descoberto evidências de materiais falsos de programas confidenciais relacionados a extraterrestres e havia informado legisladores e oficiais de inteligência. A porta-voz, Sue Gough, disse que o departamento não incluiu essa informação em seu relatório do ano passado porque a investigação não foi concluída, mas espera fornecê-la em outro relatório agendado para o final deste ano.

“O departamento está comprometido em divulgar um segundo volume de seu Relatório de Registros Históricos, para incluir as conclusões do AARO sobre relatos de possíveis trotes e materiais inautênticos”, disse Gough.



Arte dramática com temática ufológica perto de Hiko, Nevada, nos arredores da Área 51

Um bunker em Montana

Kirkpatrick investigou outro mistério que remontava a 60 anos.

Em 1967, Robert Salas, agora com 84 anos, era capitão da Força Aérea sentado em um bunker do tamanho de um armário, controlando 10 mísseis nucleares em Montana.

Ele estava preparado para lançar ataques apocalípticos caso a Rússia Soviética atacasse primeiro, e recebeu um chamado por volta das 20h de uma noite, da guarita acima. Um objeto oval laranja-avermelhado brilhante pairava acima do portão da frente, Salas contou aos investigadores de Kirkpatrick. Os guardas estavam com seus rifles em punho, apontados para o objeto oval que parecia flutuar acima do portão. Uma sirene soou no bunker, sinalizando um problema com o sistema de controle: todos os 10 mísseis estavam desativados.

Salas logo soube que um evento semelhante havia ocorrido em outros silos próximos. Estariam eles sob ataque? Salas nunca obteve resposta. Na manhã seguinte, um helicóptero o aguardava para levá-lo de volta à base. Uma vez lá, recebeu a ordem: Jamais fale sobre o incidente.



Robert Salas, visto em casa em Ojai, Califórnia, acredita até hoje ter testemunhado uma intervenção do espaço sideral enquanto trabalhava em uma base de lançamento nuclear

Salas foi um dos cinco homens entrevistados pela equipe de Kirkpatrick que testemunharam tais eventos nas décadas de 1960 e 1970. Embora tivessem jurado segredo, os homens começaram a compartilhar suas histórias na década de 1990 em livros e documentários.

A equipe de Kirkpatrick investigou a história e descobriu uma explicação terrestre. As barreiras de concreto e aço que cercavam os mísseis nucleares americanos eram espessas o suficiente para lhes dar uma chance se fossem atingidos primeiro por um ataque soviético. Mas os cientistas da época temiam que a intensa tempestade de ondas eletromagnéticas gerada por uma detonação nuclear pudesse inutilizar o equipamento necessário para lançar um contra-ataque.

Modelo de um local de teste de pulso eletromagnético, mostrado em um documento do Pentágono de 1978.



Para testar essa vulnerabilidade, a Força Aérea desenvolveu um gerador eletromagnético exótico que simulava esse pulso de energia disruptiva sem a necessidade de detonar uma arma nuclear.

Quando ativado, esse dispositivo, colocado em uma plataforma portátil a 18 metros acima da instalação, acumulava energia até brilhar, às vezes com uma luz laranja ofuscante. Em seguida, disparava uma rajada de energia que poderia se assemelhar a um raio.

Um documento do Pentágono de 1973 mostra um close-up da parte do equipamento que dispara uma onda eletromagnética que pode parecer um raio durante o teste

Os pulsos eletromagnéticos serpenteavam por cabos conectados ao bunker onde comandantes de lançamento como Salas estavam sentados, interrompendo os sistemas de orientação, desativando as armas e assombrando os homens até hoje.

Mas qualquer vazamento público dos testes na época teria permitido à Rússia saber que o arsenal nuclear americano poderia ser desativado em um primeiro ataque. As testemunhas foram mantidas no escuro.

Até hoje, Salas acredita ter participado de uma intervenção intergaláctica para impedir uma guerra nuclear que o governo tentou esconder. Ele está parcialmente certo. A experiência deixou o octogenário profundamente cético em relação às Forças Armadas dos EUA e sua capacidade de dizer a verdade. “Há um gigantesco acobertamento, não apenas pela Força Aérea, mas por todas as outras agências federais que têm conhecimento deste assunto”, disse ele em entrevista ao Wall Street Journal. "Nunca fomos informados sobre as atividades que estavam acontecendo, a Força Aérea nos excluiu de qualquer informação.”

Ocultar a verdade de homens como Salas e esforços deliberados para atingir o público com desinformação desencadearam dentro dos corredores do próprio Pentágono uma força perigosa, que se tornaria quase imparável com o passar das décadas. A mitologia paranoica que as Forças Armadas dos EUA ajudaram a disseminar agora domina um número crescente de seus próprios oficiais superiores que se consideram crédulos.

A crise chegou ao ápice por causa de um pedaço de metal enviado a um apresentador de rádio em 1996, que, segundo o remetente, foi informado que fazia parte de uma nave espacial que caiu.

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https://www.wsj.com/politics/national-security/ufo-us-disinformation-45376f7e#selection-2649.4


sábado, 29 de março de 2025

A TEORIA DO MEDALHÃO UFOLÓGICO



Por Marco Seixas (inspirado por Machado de Assis e assistido pelo ChatGPT)

No cenário ufológico do século XXI, a Teoria do Medalhão de Machado de Assis (escrita em 1881 e originalmente publicada na Gazeta de Notícias), poderia ser reinterpretada como uma crítica à estagnação da ufologia diante da repetição de ideias ultrapassadas e da influência de figuras que mais buscam status do que o verdadeiro avanço do conhecimento. Assim como no texto de Machado de Assis, onde o pai aconselha o filho a se tornar um “medalhão” – alguém que adere a discursos prontos e evita questionamentos –, o mundo da ufologia contemporânea está repleto de indivíduos que renunciam ao pensamento crítico para seguir influenciadores que se apresentam como autoridades incontestáveis.


Esses “medalhões ufológicos” repetem narrativas sensacionalistas, sustentam teorias obsoletas e evitam qualquer aprofundamento científico, pois sabem que o público prefere mistério e espetáculo a fatos concretos. Para manter sua posição de prestígio, eles se apegam a frases de efeito, se apoiam em factoides e se recusam a revisar suas crenças à luz de novas evidências. Assim, em vez de promover uma investigação rigorosa e aberta, perpetuam um ciclo de dogmatismo, onde a crença cega e o culto à personalidade substituem a busca genuína pela verdade.


Nesse contexto, a mensagem machadiana se mantém mais atual do que nunca: a necessidade de questionar autoridades autoimpostas, de fugir da mediocridade intelectual e de não se contentar com a repetição de ideias antigas apenas porque são aceitas por um grande público. A verdadeira ufologia, como qualquer campo do conhecimento, só pode avançar quando aqueles que a estudam rejeitam a estagnação e se dispõem a desafiar o que parece intocável.

sexta-feira, 14 de março de 2025

O Caso do OVNI de Socorro: A Um Passo da Explicação Final

 

 


Em 24 de abril de 1964, o policial Lonnie Zamora, do Departamento de Polícia de Socorro (Novo México), interrompeu uma perseguição de carro após ouvir um estrondo perto de um depósito de dinamite. O que ele inicialmente pensou ser um veículo capotado logo se transformou em um encontro com um objeto desconhecido e dois ocupantes enigmáticos, dando origem a um caso ufológico que desencadeou diversas teorias — muitas delas divergindo do relato original e dos fatos verificados.


Enquanto preparava seu relatório preliminar, o Dr. Heriberto Janosch contatou o engenheiro Kevin J. Ashley, um ex-aluno da New Mexico Tech (1973–1979). Em 1981, um colega de trabalho revelou a ele que ele havia sido um dos responsáveis pelo incidente. Com base nessa confissão, Ashley desenvolveu sua própria hipótese sobre o que havia acontecido, respeitando tanto o testemunho de Zamora quanto os dados coletados na época.


Embora outras testemunhas ainda não tenham confirmado sua versão, as conclusões de Ashley deixam pouca margem para dúvidas. Tenho revisado a melhor fonte para o pouso do disco voador em Socorro, que é o relato do próprio Lonnie Zamora, conforme registrado no Projeto Livro Azul. Ao tentar entender o que aconteceu em que local, durante quanto tempo e em que lugar, segui a descrição primeiro para local e depois para tempo. Parte do problema que algumas pessoas podem ter em determinar os locais onde esses eventos ocorreram é que a topografia da área do avistamento mudou consideravelmente desde 1964. Para ajudar com esse problema, recorri a um mapa histórico do USGS publicado em 1960 (com fotografia de 1959).


 


A Figura 1 mostra uma parte deste mapa com locais importantes identificados. Pode-se notar que várias estruturas que agora existem ao longo da Rodovia 60, incluindo o novo Colégio de Socorro e o Hospital Geral, não existiam na época do avistamento. Também a Rodovia Interestadual 25 terminava ao norte de Socorro e a rodovia principal ao sul da cidade era a Rodovia 85. O acesso à Rodovia 85, da Rua Park com a Rua Old Rodeo, que estava disponível em 1964, foi eliminado quando a Rodovia Interestadual 25 foi estendida ao sul da cidade no final dos anos 1960. Várias estradas agora na área não existiam em 1964, como pode ser visto no mapa, e algumas partes das estradas, como a parte íngreme do que é agora a Estrada Raychester, foram realocadas e renomeadas.

 


A Narrativa

 

Os pontos principais da narrativa são diretos. O policial Zamora começou a perseguir um carro, que ele acreditava estar em alta velocidade, começando na Rua Park, onde passou entre o County Court House e a Old High School por volta das 17h45 do dia 24 de abril de 1964. Ele seguiu o carro pela Rua Spring e cerca de 200 metros ao sul da Rua Spring ele viu uma chama brilhante a sudoeste e ouviu um estrondo. Ele relatou que a chama era azulada e meio laranja; no entanto, ele estava olhando através de óculos de sol verdes. Pensando que poderia ter sido a explosão de um barraco de dinamite naquela direção, ele interrompeu a perseguição do carro em alta velocidade e seguiu para uma estrada de cascalho que virava para oeste na Rua Old Rodeo.


Ele teve dificuldade em subir a colina íngreme na estrada de cascalho, precisando dar ré e tentar novamente duas vezes, até mesmo forçando o carro para frente e para trás para obter tração para subir a colina. Quando chegou ao topo da colina, ele prosseguiu lentamente, pois não conseguia se lembrar exatamente onde ficava o barraco de dinamite. Em algum momento, ele notou um objeto brilhante (brilhante como alumínio, não cromado, e esbranquiçado contra o morro) no arroio abaixo, que ele interpretou como um carro capotado a cerca de 150 metros de distância. Perto do objeto, ele viu duas pessoas por menos de dois segundos antes que elas desaparecessem de vista. Pensando em ajudar as pessoas na cena do suposto acidente, ele dirigiu rapidamente pela estrada até um ponto a cerca de 30 metros de distância do objeto.

 

Ele chamou a central pelo rádio e disse que estava investigando um acidente e que sairia do carro. Ao sair do carro, ele deixou cair o microfone e, ao colocar o microfone de volta no slot do rádio, ouviu três pancadas altas, como o fechamento de portas de carro. Assim que ele se virou para o objeto no arroio e começou a se mover em direção ao “acidente”, um estrondo alto e uma chama começaram, o que o assustou muito. Ele novamente relatou que a cor dessa chama era azul/laranja, no entanto, ele ainda estava usando óculos escuros verdes sobre seus óculos de grau.

 

Ele se virou para correr para o norte, passando por seu carro, que estava estacionado em direção ao sudoeste, e bateu no para-lama, derrubando seus óculos. Ele continuou correndo para o norte com a intenção de descer a encosta norte da serra, mas assim que chegou ao topo da encosta, cerca de 15 metros além do carro, o barulho parou e ele se virou. Nesse ponto, ele viu o objeto em sua mesma elevação se afastando. Ele avaliou sua altura acima do solo pelo espaço entre o topo do barraco de dinamite (que tinha 2,5 metros de altura) e a parte inferior do objeto. Com base nisso, ele disse que o objeto estava se movendo cerca de 3 a 5 metros acima da superfície do solo.

 

Ele voltou para o carro e pegou seus óculos de grau, mas não seus óculos de sol verdes, e enquanto falava com a central pelo rádio, ele observou o objeto se erguer lentamente e “ficar pequeno” à distância muito rápido. A última vez que viu o objeto, ele estava indo em direção ao Cânion Box ou à Montanha do Cânion Six Mile, sobre o qual desapareceu.

 

A essa altura, o sargento Chavez, da Polícia Estadual do Novo México, havia chegado. Ele notou que o policial Zamora estava suando e bastante pálido. Juntos, eles investigaram o local onde o objeto estava, onde parte do mato ainda estava queimando. O sargento Samuel Chavez apontou algumas “pegadas”. O policial Zamora, então, fez um rápido desenho do objeto.


Dimensões da insígnia estimadas em 60 cm de largura e 80 cm de altura

Se estiver correto, o objeto tinha cerca de 3 m de comprimento por cerca de 1,5 m de altura



Tempos, distâncias e tamanhos

 

Ao longo de seu relatório, o policial Zamora tentou estimar tempos, distâncias e tamanhos. Quanto ao tempo, somando todos os seus tempos estimados para os vários eventos e calculando os tempos de viagem para as outras distâncias com base em velocidades razoáveis para o local e o tipo de estrada, resulta em um tempo total de 154 segundos desde quando ele começou a perseguir o carro em alta velocidade até o objeto desaparecer, sem contar o tempo que levou para subir a colina íngreme. Se esse tempo levou cinco minutos, todo o evento ainda teria ocorrido em um total de 10 minutos. Embora os tempos reais possam ter sido maiores, está claro que suas observações não ocorreram durante um período considerável e muitas de suas lembranças são baseadas no que ele viu, na melhor das hipóteses. Em muitos casos, detalhes-chave específicos foram observados por menos de 2 segundos, de acordo com o policial Zamora.


Usando o desenho do policial Zamora e sua estimativa do tamanho da insígnia (80 cm de altura e 60 cm de largura), o objeto parece ter cerca de 3 metros de comprimento. Ele também afirmou que era de cor alumínio, o que parecia esbranquiçado em comparação com o terreno. Na Figura 2, usei uma cor tirada de uma foto de um trailer Airstream de alumínio e a sobrepus em duas formas que se aproximam do desenho feito pelo policial Zamora. Se alguém observar a figura a uma distância de 30 cm, a forma à esquerda é o que alguém veria de um objeto de 3 metros de comprimento a 30 metros de distância. A forma à direita mostra como o mesmo objeto seria visto a 150 metros de distância. Adicionei as “pernas” observadas pelo policial Zamora, mas apenas na posição em que ele disse que as viu. Ele não as viu de seu ponto de vista mais próximo.

 

A única vez que o policial Zamora viu a insígnia na lateral do objeto, com seus óculos de grau, foi durante o curtíssimo período entre quando ele se virou para ir até o local do “acidente” e a chama e o barulho começaram, de modo que ele correu para o norte. Como ele estima que o tempo desde quando ele largou o microfone até o objeto desaparecer foi de 20 segundos, o tempo que ele teve para ver a insígnia provavelmente teria sido menor que 2 segundos. Todas as vezes em que ele viu o objeto “ficando pequeno” à distância foram sem seus óculos.

 

O policial Zamora tentou estimar o tamanho da chama que viu da Rua Park. No mapa, a distância daquele ponto até o local de pouso é de aproximadamente 800 metros, como ele estimou. Ele notou que não havia nenhum objeto acima da chama e que a chama era mais estreita no topo do que na parte inferior. Ao considerar a largura da chama tendo 3 graus de visão na parte inferior, metade dessa largura no topo e tendo uma altura acima da colina quatro vezes sua largura no topo, calcula-se que a chama, a 800 metros, teria 42 metros de largura na parte inferior e 84 metros de altura. No entanto, ele mencionou que estava dirigindo o carro em perseguição ao motorista em alta velocidade e não conseguiu prestar muita atenção à chama. Ele também disse que o estrondo durou cerca de 10 segundos, assim como a chama, e ainda estava acontecendo quando ele chegou à “colina íngreme”, no entanto, medindo no mapa para que aquele tempo estivesse correto, ele teria que estar viajando a 290 km/h. Claramente ele estava tentando ser exato sem se atentar para os detalhes. O que ele lembra do primeiro estrondo é que o som era mais agudo quando ele o ouviu pela primeira vez e mais grave depois. Isso contrasta com o que ele lembra do segundo estrondo, que começou baixo e ficou mais agudo.




 

Era um balão?

 

Uma teoria é que o objeto que o policial Zamora viu voando era um balão. Isso se deve, em parte, à sua chamada para a central no final do avistamento, na qual ele descreve o objeto como se parecendo com um balão. Não está claro como ele relacionou as chamas que viu e o estrondo que ouviu ao conceito de um balão. Ele diz especificamente em seus comentários que não observou nenhum objeto associado à primeira chama que viu e da segunda chama ele afirma que estava sob o objeto.

 

Um balão semelhante aos usados para passeios tem uma tocha de propano na parte inferior que faz um barulho alto e uma chama que envia ar quente para dentro do balão. No entanto, o barulho não seria perceptível a mais de 800 metros de distância, como no primeiro avistamento, e o balão apareceria acima da chama. No segundo avistamento, um balão de apenas 3 metros de comprimento não seria grande o suficiente para suportar dois indivíduos, e se o balão fosse deixado flutuando sozinho, então surge a questão de para onde as pessoas que lançaram o balão foram, considerando que o local foi examinado imediatamente depois.

 

De acordo com o site “weatherspark.com”, a direção do desaparecimento do objeto não é consistente com uma das principais direções do vento na área durante os meses de abril e maio. Durante essa época, o vento sopra predominantemente do oeste e do sul, com vento vindo do nordeste menos de 1% do tempo. A velocidade com que o objeto desapareceu dependeria da velocidade do vento, mas a velocidade do vento em abril e maio não excede 30 km/h 95% do tempo. Se um balão estivesse viajando sem propulsão, mesmo com um vento máximo forte, o policial Zamora poderia tê-lo alcançado em seu carro.



Cor das chamas de uma explosão de 136 kg de nitrato de amônio e óleo combustível

 


Eram explosivos e um barril?

 

Outra teoria é que as chamas e estrondos foram resultado de explosivos e o “objeto ascendente” observado pelo policial Zamora no segundo avistamento foi um barril virado. Os sons e chamas são consistentes com explosivos, como evidenciado pelo que o policial Zamora pensou incialmente: um barraco de dinamite havia explodido. A cor das chamas dependeria dos explosivos envolvidos, mas o nitrato de amônio e óleo combustível produz uma chama laranja brilhante.

 

Esta explicação também tem o problema de para onde os perpetradores foram, já que o local foi examinado imediatamente após o avistamento feito pelo policial Zamora e pelo sargento Chavez.

 




Meu palpite

 

Já que todo mundo teve a oportunidade de explicar este avistamento, aqui está meu palpite.

 

A primeira coisa a se pensar não é o tempo, lugar, sons ou objeto. A primeira coisa a se pensar é a experiência humana envolvida. O policial Zamora passou por uma experiência traumática em um período muito curto de apenas alguns minutos. Quando acabou, ele tinha uma série de fatos específicos em sua mente que faziam pouco sentido. Como é característico da mente humana, ele juntou os fatos e criou uma narrativa sensata, que se tornou uma lembrança.

 

Tudo o que nós que não estávamos lá podemos fazer é tentar discernir quais dos “fatos” atendem a restrições físicas de tempo, velocidade, distância e tamanho, e também quais lembranças são consistentes dentro do registro.

 

A perseguição: O policial Zamora viu um carro em alta velocidade e começou a persegui-lo. Ele não menciona se estava com a sirene e/ou as luzes acesas enquanto corria atrás do carro. Ele identificou o carro como um Chevrolet preto novo, possivelmente dirigido por um garoto de cerca de 17 anos. O carro estava três quarteirões à frente quando ele começou a perseguição, então ele não conseguiu identificar o número da placa. Ao perseguir o carro, ele não diz a que velocidade estava indo.

 

Considerando que isso foi em uma rua da cidade, eu diria que ele estava indo a pelo menos 65 km/h, possivelmente 95 km/h. Isso significaria que, enquanto se concentrava no carro em alta velocidade à frente e dirigia seu carro em alta velocidade, o policial Zamora viu uma chama azul/laranja a sudoeste cerca de 15 a 22 segundos após iniciar a perseguição. Ele imediatamente pensou que um barraco de dinamite localizado a cerca de 1,5 km de distância naquela direção havia explodido e interrompeu sua perseguição. (A propósito, o armazenamento de explosivos geralmente não inclui explosivos e detonadores no mesmo prédio; no entanto, explosivos diferentes podem ter sido armazenados juntos.)

 

O que eu acho que aconteceu: Não vejo razão para duvidar do relato de uma perseguição de um carro em alta velocidade. Isso fazia parte das tarefas regulares do policial Zamora e ele estaria muito familiarizado com o terreno e com a velocidade que precisava para pegar o carro em alta velocidade.

 

A primeira chama e o estrondo: O policial Zamora descreve a chama como imóvel com sua base abaixo da colina do outro lado e seu topo a uma altura acima da colina cerca de quatro vezes a largura da chama em seu topo. Ele disse que a chama era duas vezes maior na parte inferior do que na parte superior e que não havia nenhum objeto acima da chama. (A dificuldade em sua tentativa de determinar a largura da chama em graus de sua perspectiva é discutida acima.) Certa “perturbação” podia ser vista perto do topo da colina na base da chama que ele conseguia ver, mas ele atribuiu isso à poeira em um dia de muito vento. Ele também notou que o carro em alta velocidade na frente pode não ter visto a chama, pois a visão teria sido bloqueada por estar muito perto da colina. Ele descreve a cor da chama como azulada e meio laranja, mas também observa que estava usando óculos escuros verdes sobre seus óculos de grau e que o sol estava a oeste, o que não ajudou sua visão. (Na verdade, naquele dia, isso foi durante o horário de verão, o sol se pôs às 19h46, então quando esse avistamento ocorreu, o sol estava 22,5 graus acima do horizonte, quase a oeste.)

 

Ele descreve o estrondo associado à chama como durando até 10 segundos, começando em um tom mais alto e terminando em um tom mais baixo. Embora em um ponto ele afirme que a chama e o estrondo ainda estavam acontecendo quando ele alcançou a parte íngreme da estrada que subia até o cume, ele também diz que não percebeu nada ao tentar subir a parte íngreme da estrada, que está localizada no ponto onde ele disse que o outro carro provavelmente não poderia ter visto a chama. O que ele lembra da duração da chama e do estrondo não condiz com a distância percorrida. No mapa da figura 1, pode-se ver que a distância entre o momento em que o policial Zamora disse que viu a chama pela primeira vez e ouviu o estrondo até o ponto onde a parte íngreme da estrada começou é de 800 metros. A 95 km/h, isso levaria 30 segundos, então ou a chama e o estrondo duraram consideravelmente mais ou ele estava confuso em suas estimativas de tempo.

 

O que eu acho que aconteceu: O que eu acho que o policial Zamora viu foi uma explosão, como foi seu primeiro instinto. Acho que a chama durou menos de alguns segundos, mas o estrondo continuou por vários segundos enquanto o som da explosão ecoava nas colinas ao redor e viajava pelo arroio, explicando o tom mais alto inicialmente e o tom mais baixo dos ecos. O fato de ele estar dirigindo em alta velocidade, concentrado em um carro em alta velocidade que estava três quarteirões à frente, significava que ele, como ele disse, “não conseguia prestar muita atenção à chama”. Acho que ao juntar o que ele se lembrar mais tarde da chama e do estrondo, ele confundiu a duração dos dois. A cor da chama é questionável e dependeria do tipo de explosivo usado e dos efeitos de ambos, vendo através de óculos de sol verdes e do ângulo do sol. Seria interessante fazer experimentos com esses parâmetros para encontrar os efeitos.


Chegando ao topo da colina: O policial Zamora descreve sua dificuldade em subir a parte íngreme da estrada. Ele diz que suas rodas derraparam na primeira vez e que ele teve que recuar e tentar mais duas vezes, incluindo forçar para frente e para trás para subir a colina. Em sua declaração, ele primeiro diz que “após o estrondo e a chama, não notei nada enquanto subia uma colina um tanto íngreme...” e então conclui dizendo: “Ao começar a terceira vez, não notei o barulho e a chama.”

 

O que eu acho que aconteceu: O policial Zamora não dá uma estimativa de quanto tempo levou para subir a colina. Acho que esse interlúdio para subir a colina durou, provavelmente, vários minutos. Isso é importante porque deixa tempo para preparar a ação que causou o segundo avistamento, seja para se preparar para lançar um balão ou detonar outra explosão.

 

Primeiro avistamento do objeto: Depois de chegar ao topo da colina e ao cume acima do arroio no lado sul da elevação, o policial Zamora dirigiu devagar porque não conseguia se lembrar onde ficava o barraco de dinamite. Embora ele diga que levou apenas 10 ou 15 segundos para chegar ao seu próximo ponto de observação, medindo a partir do mapa na figura 1, fica claro que para chegar a um ponto que corresponde à distância que ele disse estar do objeto que relatou ter visto de 140 a 180 metros, ele teria que viajar cerca de 500 metros, o que levaria cerca de 55 segundos a 30 km/h. Novamente, seu senso de tempo, após o fato, é questionado.

 

Dois avistamentos importantes ocorrem deste ponto de vista. O primeiro é o avistamento de um objeto que ele acredita ser um carro virado de cabeça para baixo — evidentemente um acidente que ele decide investigar em vez de encontrar o barraco de dinamite explodido. Ele descreve o objeto como brilhante, com duas pernas projetando-se de baixo dele, cerca de 1 metro acima do solo. Em um ponto posterior, ele diz que via a extremidade do objeto.

 

Ele afirma que o objeto parecia ter um formato de “O”, mas também como um carro apoiado sobre seu radiador ou porta-malas. Na figura 2, a imagem à direita, quando vista de 30 cm de distância, mostra o tamanho que o objeto teria parecido ter da distância que ele diz que estava observando.

 

O segundo avistamento é de duas pessoas perto do objeto que ele diz estarem vestindo macacão branco. Ele diz que só olhou para elas a uma distância de cerca de 150 metros. Ambos os avistamentos ocorreram durante um período de menos de dois segundos. Ele observa que uma das pessoas olhou diretamente para ele e se assustou. Ele nunca mais vê essas pessoas.


A viatura estava em cima da colina de frente para o objeto no arroio, 

cerca de 150 metros de distância



O que eu acho que aconteceu: Acho que o policial Zamora viu um carro que estava particularmente brilhante devido ao ângulo baixo do sol. O avistamento das “pernas” poderia facilmente ter sido os pneus de um veículo, especialmente porque ele diz que podia vê-los do ponto de vista final, mas não do ponto de vista lateral. Acho que os detalhes que ele dá mais tarde sobre o formato do objeto e as roupas usadas pelas pessoas são influenciados por sua experiência alguns segundos depois no segundo avistamento do objeto. A distância de 150 metros é muito longe para alguém ter sido capaz de discernir os detalhes que ele deu, especialmente porque o tempo da observação foi inferior a 2 segundos, de acordo com seu relatório. A figura 4 mostra as localizações relativas do carro do policial Zamora e do objeto no terreno atual.

 

Aproximando o carro: O policial Zamora conta que sua ação seguinte ao ver o que ele acreditava ser um acidente de carro foi dirigir rapidamente ao longo da estrada em direção ao local onde ele teve uma visão melhor do objeto. Durante essa ação, ele comunicou-se por rádio com o gabinete do xerife declarando sua intenção, dizendo “10-44” (acidente) e “10-6” (ocupado “fora do carro”). Ele dá essa distância em seu desenho como 32 metros, no entanto, medindo usando o Google Earth, o mais próximo que a estrada chega do local é 45 metros. Deste ponto de vista mais próximo, ele descreve a cor do carro como “alumínio - era esbranquiçado contra o fundo do morro, mas não cromado”. Depois de estacionar a viatura e terminar sua mensagem para o gabinete do xerife, ele ouviu duas ou três pancadas fortes, como se alguém estivesse fechando uma porta com força.

 

O que eu acho que aconteceu: Usando o Google Earth, o ponto onde o policial Zamora teria saído do carro enquanto ainda estava na estrada exigiria que ele viajasse cerca de 150 metros, o que levaria cerca de 8 segundos a 65 km/h. A figura 5 mostra a localização aproximada do carro do policial Zamora quando o último conjunto de observações ocorreu. Acho que as pancadas fortes que ele ouviu foram os perpetradores das explosões entrando em seu veículo. A cor do carro parece a cor de um trailer Airstream, mas também pode ser cinza ou prata, mais brilhante pelo ângulo baixo do sol.


 


A segunda chama e estrondo: O policial Zamora conta que, ao sair do carro e se virar para descer em direção ao acidente, quase imediatamente ouviu um estrondo que o assustou muito. Ele viu um objeto subindo na frente dele com chamas saindo de baixo e imediatamente se afastou do objeto e correu para o norte. Ao passar ao lado da viatura, ele bateu no carro e perdeu os óculos. Ele continuou correndo pela estrada até o topo da colina no lado norte (cerca de 15 metros) e pulou a colina. Ele pretendia continuar correndo colina abaixo, mas parou quando o estrondo terminou após apenas dois a três segundos, no entanto, ele continuou a cobrir o rosto com os braços.

 

Sem os óculos e com os braços sobre o rosto, ele diz que conseguiu olhar para trás após cerca de seis segundos e ver o objeto subir no ar até aproximadamente a mesma elevação de seu carro e, então, se afastar rapidamente dele. Ele avaliou sua altura acima do solo pela diferença em sua perspectiva entre o topo do barraco de dinamite e a parte inferior do objeto. Com base nisso, ele calculou que o objeto estava se movendo acima do solo a cerca de 3 a 4,5 metros. Ao se afastar, o policial Zamora diz que o objeto não emitiu chama, fumaça ou ruído.

 

Ele recuperou seus óculos, sem os óculos escuros, e observou o objeto se erguer lentamente enquanto viajava rapidamente para o sudoeste na direção do Cânion Box ou da Montanha do Cânion Six Mile e desapareceu. Ao mesmo tempo, ele se comunicou por rádio com Nep Lopez, na central, para pedir que olhasse pela janela e visse se conseguia ver o objeto se afastando, o que ele disse que parecia um balão. Infelizmente, ele não disse a Nep para onde olhar, então Nep não viu nada, mesmo que tivesse conseguido. Ele estimou o tempo total desde quando saiu do carro até o objeto desaparecer em 20 segundos. Isso incluiu pelo menos 6 segundos quando ele não estava usando os óculos.

 

Durante os poucos segundos entre quando chegou ao segundo ponto de observação e o  estrondo começou, ele afirma ter feito várias observações, incluindo estimar o tamanho e a forma do objeto, ver uma insígnia em vermelho na lateral do objeto, reconhecer que estava vendo a lateral do objeto em oposição à extremidade e descrever a cor da chama.

 

O que eu acho que aconteceu: Até sair da viatura e o estrondo começar, o policial Zamora acreditava estar lidando com um acidente de carro, como evidenciado por sua ligação para o gabinete do xerife dizendo isso. Não há evidências de que ele pensou que o que estava vendo pela janela do carro era algo incomum.

 

Acho que a segunda chama e o estrondo foram o mesmo tipo de explosão que o policial Zamora viu alguns minutos antes do lado norte da colina. Neste caso, um objeto foi projetado para cima pela explosão com chamas saindo de sua parte inferior; no entanto, o objeto não era o mesmo objeto que o policial Zamora viu posteriormente viajando horizontalmente. Ao fugir da explosão e perder seus óculos, o policial Zamora teve apenas vislumbres do que estava acontecendo atrás dele, que era os perpetradores fugindo da cena em seu veículo.

 

Enquanto ele estava no cume aproximadamente 8 metros mais alto em elevação do que o local da explosão, o veículo em fuga viajou para o oeste ao longo do arroio até um ponto onde uma trilha estabelecida, saindo do arroio, permitiu que ele ganhasse a estrada principal de cascalho, na qual a viatura estava estacionada, e aproximadamente na mesma elevação. A trilha pode ser vista nas figuras 4 e 5. De lá, o terreno sobe cerca de 18 metros em 800 metros antes de nivelar, conforme a estrada em que a viatura estava estacionada vira do sudoeste para quase diretamente oeste. Acho que a imagem borrada que o policial Zamora viu sem seus óculos e em vislumbres parecia ser um objeto oval que ele posteriormente misturou com o que ele avistou no começo em suas descrições subsequentes.

 


Julgando localização e elevação pela perspectiva

Acho que ele chegou à conclusão de que o veículo em fuga estava “voando” primeiro porque viu um objeto subir durante a explosão e segundo porque, de seu ponto de vista, ele viu o espaço entre o topo do barraco de dinamite e o veículo. Na verdade, os humanos não enxergam em três dimensões. Ganhamos vantagem da visão estereoscópica de nossos dois olhos, mas quando confrontados com uma cena distante, que é essencialmente bidimensional, confiamos em pontos de referência para nos dizer se algo em nossa visão está acima/abaixo ou mais perto/mais longe de outro objeto (veja a figura 6). Uma vez que ele concluiu pelo tamanho e posição do objeto em relação ao barraco de dinamite que estava de 3 a 4,5 metros acima do solo, em seus avistamentos subsequentes de um veículo dirigindo pela estrada sua mente colocou o objeto nessa altura até que ele desapareceu. Essa percepção permaneceu mesmo depois que ele recuperou seus óculos. O objeto em sua visão se levantou lentamente porque a estrada estava subindo naquela direção. E a razão pela qual o objeto desapareceu no horizonte é que o veículo atingiu o ponto plano no topo da elevação e virou, obscurecendo sua visão de baixo e mudando o ângulo em que o sol refletia no veículo em fuga. A rota de fuga do veículo é delineada na figura 7.



 


Quanto à insígnia no objeto, suspeito que havia um padrão na lateral do veículo em fuga que o policial Zamora pode ter vislumbrado pouco antes da explosão fazê-lo correr para o norte e perder os óculos. Isso poderia muito bem ter sido o contorno das portas e janelas do veículo, mas poderia ter sido a insígnia de uma empresa ou mesmo da New Mexico Tech, já que os perpetradores usaram um veículo da instituição.

 

Investigação do local de pouso: Nos últimos pontos de sua descrição, o policial Zamora observa que, embora tenha imediatamente enviado uma mensagem por rádio para Nep Lopez, na central, e para o sargento Chavez, da Polícia Estadual, para irem ao local, o sargento Chavez já havia chegado e eles foram imediatamente para o local de pouso, onde viram alguns arbustos ainda queimando. O sargento Chavez apontou os “rastros” que podem ter sido as depressões que foram posteriormente relatadas em outros lugares. Nenhuma outra pessoa ou veículo foi encontrado. O policial Zamora, então, pegou sua caneta e fez o desenho que é mostrado na figura 2.

 

O que eu acho que aconteceu: Muita coisa aconteceu com o policial Lonnie Zamora em um período de 10 minutos, algumas das quais o assustaram tremendamente. Como um observador treinado, ele imediatamente tentou dar sentido ao que viu e a narrativa que ele desenvolveu foi coerente e lógica. Alguns dos detalhes de tamanho e tempo que ele estimou não eram possíveis, mas a história geral se manteve, dado que o objeto visto deixando a cena estava “voando”. Se o policial Zamora tivesse concluído que o objeto deixando a cena estava dirigindo pela estrada, sua história interna teria sido bem diferente. Em sua tentativa de ser completo, acho que ele acrescentou alguns detalhes que não estavam lá, mas isso não foi uma ofuscação consciente. Foi simplesmente a mente dele preenchendo as lacunas para tornar uma história coerente.

 

Tendo desenvolvido essa narrativa e passado para pessoas que confiavam nele, as pessoas que o conheciam eram mais propensas a ver a cena através dessa lente. As depressões no solo devem ter vindo de um objeto voador pousando no local. As explosões e chamas devem ter sido o resultado de motores de foguete. O fato de o objeto ter desaparecido no céu tão rapidamente, mais rápido do que qualquer avião conhecido na Terra na época, significava que ele deve ter sido extraterrestre. O fato de o objeto ter formato oval quando visto saindo significava que outras descrições registradas pelo próprio policial Zamora em sua narrativa foram rejeitadas em favor de um disco voador.




 

Será que algum dia saberemos?

 

Até que outra pessoa que estava presente naquele dia apresente uma narrativa, idealmente do outro lado do arroio, o único registro contemporâneo que temos é de Lonnie Zamora. No geral, tenho que concordar com o diretor do Projeto Livro Azul, Major Hector Quintanilla, que escreveu:

 

“Não há dúvidas de que Lonnie Zamora viu um objeto que deixou uma grande impressão nele. Também não há dúvidas sobre a confiabilidade de Zamora. Ele é um policial sério, um pilar de sua igreja e um homem bem versado em reconhecer veículos aéreos em sua área. Ele está intrigado com o que viu e, francamente, nós também. Este é o caso mais bem documentado registrado e, mesmo assim, não conseguimos, apesar de uma investigação completa, encontrar o veículo ou outro estímulo que assustou Zamora a ponto de entrar em pânico.”

 

Expliquei acima por que não acho que os eventos descritos possam ser causados por um balão. No entanto, se alguém apresentasse essa história, eu gostaria de saber o seguinte para entender como tudo funcionou.

 

1. Qual rota eles tomaram para chegar ao local? Qual rota eles tomaram quando escaparam?

 

2. O que causou a primeira chama e estrondo? Foi uma explosão destinada a atrair o policial Zamora para o local? Se sim, que tipo de explosivo foi usado? Se não, de que outra forma uma chama de pelo menos 9 metros de altura (a profundidade do arroio mais alguma distância acima do topo da colina) foi gerada?

 

3. Se foi tudo uma farsa, por que uma das pessoas avistadas pelo policial Zamora se assustou ao ver o carro da polícia no cume?

 

4. Quantas pessoas foram necessárias para encher o balão e lançá-lo? O que elas estavam vestindo?

 

5. Que fonte de ar quente ou gás leve foi usada para encher o balão? Havia uma chama embaixo do balão? O que causou o estrondo que assustou tanto o policial Zamora no local do lançamento?

 

6. Como as pessoas escaparam após o lançamento do balão sem serem vistas pelo policial Zamora que estava observando na direção em que o balão estava flutuando (sudoeste) ou pelo sargento Chavez que foi ao local imediatamente vindo do leste?

 

7. Qual era a localização do barraco de dinamite em relação à estrada e ao local de pouso?

 

No momento, estou inclinado para a teoria de explosivos e um barril, mas com o objeto visto “voando” para longe do evento sendo os perpetradores em seu veículo, pois isso explica tanto o avistamento quanto a ausência de pessoas na cena após o evento. No entanto, se alguém apresentasse essa história, eu gostaria de saber o seguinte para entender como tudo funcionou.

 

1. Qual rota eles tomaram para chegar ao local? Qual rota eles tomaram quando escaparam?

 

2. Quantas pessoas estavam envolvidas? O que elas estavam vestindo?

 

3. Qual era o tipo e a cor do veículo que usaram para chegar ao local? O veículo pertencia a um dos perpetradores ou pertencia a uma empresa ou escola (New Mexico Tech)?

 

4. Que tipo ou tipos de explosivos foram usados? As cargas foram preparadas com antecedência ou montadas no local? Qual era o tamanho das cargas? Que tipo de invólucro, se houver, foi usado para conter os explosivos? Os explosivos estavam em contato com o solo? Enterrados? Suspensos?

 

5. Quantas explosões foram detonadas no total? Alguma delas envolveu o lançamento de um barril colocando explosivos embaixo dele? Que tipo de barril foi usado e do que ele era feito? Todas as explosões envolveram o barril? Eles trouxeram o barril com eles ou o encontraram no local? Eles levaram o barril com eles quando saíram?

 

6. Como as explosões foram detonadas? Fusível? Cabo de detonação? Eletricamente? Controle remoto via rádio?

 

7. Eles ficaram surpresos com a chegada do carro da polícia ou foi uma farsa intencional pregada em um ou mais policiais?


8. A última explosão foi detonada intencionalmente sabendo que o policial estava por perto? Ou a carga já estava armada e a explosão foi detonada para destruir as evidências na fuga?

 

9. Qual era a localização do barraco de dinamite em relação à estrada e ao local de pouso?

 

Para qualquer um que esteja procurando resolver esse mistério, desejo sorte. Mas, como nos foi ensinado pelo Pai do Método Científico, Galileu Galilei, eu o exorto a raciocinar a partir das evidências para chegar a uma conclusão, em vez de retroceder a partir de uma conclusão.

 


Nota de Heriberto Janosch, autor do Relatório Preliminar

 

Concordo totalmente com a excelente análise de Kevin Ashley sobre o caso Socorro e sua explicação do barril dinamitado. Embora seja verdade que ambos sabemos que um aluno que frequentou a New Mexico Tech em 1964 confessou seu envolvimento no “experimento” e forneceu detalhes de como os eventos se desenrolaram. Pelo que entendi, pelo menos dois alunos colocaram dinamite sob um barril em quatro ocasiões para ver como aquele recipiente voaria pelo ar. Zamora ouviu a terceira explosão e viu e ouviu a quarta. Até aquele ponto, ele sempre pensava em uma explosão, um veículo e duas pessoas. Mas, na quarta explosão, ele entrou em pânico, viu o barril voando e, então, sem seus óculos corretivos, viu o veículo com os alunos se afastar, o que ele viu como um borrão. Quando ele finalmente conseguiu colocar os óculos, o veículo já estava longe, subindo a estrada. É verdade que os alunos viram Zamora antes da quarta explosão, mas isso não os impediu, pois ele estava do outro lado do riacho, e eles tiveram tempo para mais uma explosão: eles ativaram o detonador, se abrigaram no carro e, por fim, pegaram o barril e deixaram a área.








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