quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Microexpressões faciais socorrendo a Ufologia

 MICROEXPESSÕES FACIAIS SOCORRENDO A UFOLOGIA

Gordon Bates




Existem tantos assuntos com que muito aprendemos, e essa inesgotável fonte é encontrada também em temas como ufologia, parapsicologia e similares. Todas chamadas de pseudociências, e haja modismo na utilização de tal termo, quando inconformados da Ciência misturam argumentação válida com meras falácias. E que se saiba que as falácias não se resumem a “dizer bobagem” sobre algo, mas são figuras de linguagem classificadas por características próprias. Porque são aparentes verdades mas falsos fundamentos. Como resultado, temos um sem número de assuntos, tanto em pseudociência quanto na própria ciência, repletos de falácias e, o que é nocivo quando começam a ser utilizados na prática através de supostas técnicas eficazes, nas áreas da saúde física e mental e jurídicas.

Em ciência assistimos pela Internet afirmações completamente fantasiosas também por parte  de homens notoriamente conhecedores de ciências mas que, quando se imiscuem nas pseudociências, sentem-se à vontade para dizerem mais besteira do que ufólogos, parapsicólogos e um infinito número de “ólogos” cuja relação tornaria este comentário um tratado maior. Para nós, o grande destaque foi, até a presente data, o dito do geofisico Sérgio Sacani, de que um animal oriundo de cavernas teria aparecido em Varginha e confundido com um “ET”. O Canal João Marcelo trouxe farta entrevista com um espeleólogo que demonstrou a fantasia de tal afirmação.

Mas ciência é assim, vive de falhas e nunca procura verdades absolutas. Por isto que é por si mesma discutível, tornando-se ainda mais polêmica quando assaltada por novidades que surgem em seu próprio meio, que são passageiras. Ainda que algumas permaneçam na utilização pelo mundo, por vezes referendadas por meios legítimos e de credibilidade, como áreas da Medicina e da Justiça.

Há médicos usando a homeopatia e a ozonioterapia. Fisioterapeutas aplicam a quiropraxia. Terapeutas festejam a acupuntura. Psicólogos empregam a Terapia de Vidas Passadas. Na Justiça se usa a chamada Constelação Familiar (codificada por Bert Hellinger) e a partir disto não é de se duvidar que técnicas e instrumentos como o polígrafo e a hipnose regressiva voltem a constituir métodos paralelos ou alternativos nos processos judiciais. Não compete discutir aqui cada um desses temas.

O que fomenta o comentário é a cada vez mais cultuada, também na pseudociência da ufologia, técnica de microexpressões faciais. Que tem um nome, o Facial Action Coding System (FACS), a partir dos estudos do psicólogo norte americano Paul Ekman. Para ele, os músculos envolvidos nas expressões faciais são estudados a partir de seu movimento e a variação de sua intensidade. Microexpressões faciais são movimentos involuntários e extremamente rápidos dos músculos faciais que ocorrem quando uma pessoa tenta esconder ou suprimir uma emoção. Essas expressões duram apenas uma fração de segundo, mas podem revelar sentimentos genuínos que a pessoa não deseja ou não consegue verbalizar, diz o site da Sociedade Brasileira de Hipnose (https://www.hipnose.com.br/blog/hipnose/paul-ekman/#:~:text=Microexpress%C3%B5es%20faciais%20s%C3%A3o%20movimentos%20involunt%C3%A1rios,deseja%20ou%20n%C3%A3o%20consegue%20verbalizar).

O duro é descobrir o que possa fazer uma pessoa tentar esconder ou disfarçar um sentimento genuíno. Atualmente alguns entusiastas do FACS dizem já ter registrado cerca de 15 mil microexpressões faciais. Daquelas quase imperceptíveis, reveladoras de uma verdade ou de uma mentira, que ocorrem em uma também micro fração de segundo. Isto certamente foi um trabalho hercúleo e advindo do suporte em algum aparelho de detecção super sensível.

O fato é que nenhuma emoção realmente se expressa sem uma reação muscular. Até a língua exerce movimentos rápidos quando esboçamos algum pensamento. O que leva alguns a merecerem todas as premiações de reconhecimento científico, por terem conseguido classificar – vale dizer, dar os tipos, características, nomes ou números a cada uma – quinze mil (!) microexpressões faciais. 

O polígrafo, cultuado “detector de mentiras”, também trabalha com algo similar. É um aparelho que registra as reações fisiológicas de uma pessoa durante um interrogatório. O objetivo é identificar se a pessoa está mentindo, com base na ideia de que as reações do organismo se alteram quando alguém mente (do Google, “como trabalha o polígrafo”, em visão geral criada por IA). Contudo ele trabalha “medindo” temperatura, ritmo respiratório, umidade das mãos, ritmo cardíaco etc, enquanto o FACS se dedica à observação das microexpressões faciais. Ou seja, métodos que tentam entender a subjetividade de uma testemunha, tanto na análise laboratorial quanto nas declarações prestada nos tribunais. E, claro, métodos aplicados na subjetividade do próprio experimentador, que precisa ser treinado para aplicá-los. Para fulminar de vez o contraditório, o FACS adota o conceito de que as microexpressões são contrações involuntárias dos músculos faciais e revelam o que a pessoa está sentindo, independentemente do que está verbalizando, insistem seus adeptos.

Será que o FACS oferece uma relação completa, um catálogo que classifica todos os sentimentos humanos, correlacionando as razões, motivos e tendências de cada um deles, e a forma com que os músculos se movem, durante cada um? E melhor, que cada uma das quinze mil microexpressões faciais corresponde a cada um deles? Se já houver um material desses à disposição, o método é um sério candidato a sair da relação das pseudociências, de que faz parte sem se preocupar com fenômenos paranormais ou discos voadores. 

É óbvio que expressões corporais resultam de estados emocionais. Daí a dizer que estados emocionais correspondam a expressões corporais¬, há uma certa distância. O polígrafo foi expurgado do meio judicial (na análise de depoimentos, notadamente de réus) exatamente porque certas pessoas têm plena capacidade de disfarçar suas expressões corporais durante alterações de seus estados emocionais. Aqui é bom que um psicólogo, ou mesmo um psiquiatra, daqueles acostumados a ciências de verdade, opine sobre, por exemplo, o comportamento de um psicopata quando confrontado. Dentre outros vários motivos, a mesma linha do óbvio fez constatar que umidade das extremidades, temperatura, batidas cardíacas, frequência  respiratória, alterações de pressão etc, sempre ocorrem pelo simples fato de uma pessoa encontrar-se à frente de um juiz ou mesmo de um experimentador em um teste científico. Mesmo quando a pessoa esteja depondo sobre aquilo que em sua concepção seja a mais pura verdade.

É mais seguro procurar nas entrelinhas de um depoimento o que possa se constituir como verdade ou falsidade expressadas pela pessoa. Detectar eventuais contradições é mostra de depoimento frágil. Ou conforme uma conhecida frase de RABELAIS, “Às vezes precisamos procurar a verdade debaixo de um monte de tolices”.

Impressiona como o público é dado a prestigiar temas fantasiosos ou quase isto. Um site brasileiro do FACS tem atualmente cerca de um milhão seiscentos e oitenta mil inscritos. Seu titular diz ter analisado as expressões da mãe das então garotas conhecidas no Caso Varginha e que ela ampliou por demais a realidade para além do que as filhas – que teriam sido sinceras e dito a pura verdade – sempre declararam. E analisou as microexpressões faciais daquela senhora através de vídeos de reportagens e documentários. Dá para acreditar? Sim, tal como acreditou um também muito concorrido ufólogo, que há pouco tempo já declarara em seu próprio site que iria frequentar um curso de FACS. E que dali para a frente ninguém mais conseguiria mentir para ele. Que duas literais aventuras...


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